Chapter 2 - No subterrâneo

Kowalsk demorou alguns segundos para perceber o que havia acontecido e por alguns instantes achou que tinha morrido.

O lugar onde estava era escuro como breu, e o cheiro de podre estava presente em todo o local.

Com muita dificuldade conseguiu levantar-se permanecendo em alerta e esperando seus olhos a se acostumarem com a escuridão do lugar.

Dez longos minutos lhe mostrou que definitivamente ele não iria conseguir enxergar nada naquela escuridão e que precisava encontrar algo que acendesse nem que fosse uma tímida tocha para iluminar ao menos uma rota de fuga ou uma corda para que retornasse a superfície.

Anos como soldado do exército não havia deixado seu cérebro vazio, e nem mesmo a dor que sentia por todo o seu corpo o impedia de pensar com clareza.

Pelo cheiro que havia por ali, acender qualquer coisa significava que ele iria sim para a superfície, voando e aos pedaços, porque o lugar estava infestado de gás.

Felizmente o mesmo saía pela abertura que ele havia fabricado ao entrar na marra.

Logicamente que seu cérebro não estava vazio, isso era um fato constatado, mas entre pensar e agir ainda havia uma longa distância a percorrer e isso Kowalsk constatou ao perceber que não deveria ter ficado em pé alguns minutos atrás, pois em decorrência disso, tinha respirado grande parte daquele gás fedido.

E agora ele sentia um estranho efeito em todo o seu corpo, começando com tonturas, tremedeiras por todo o seu corpo e por fim um colapso nervoso.

Ferido, cansado, com frio e com muitas dores, seu corpo finalmente cedeu ao sofrimento e desligou-se como se fosse uma máquina.

E agora inconsciente, sonhos e visões de seu glorioso passado como soldado exímio que fora, lhe cobrava ações impossíveis de serem realizadas no momento.

_ Um passo à frente soldado Kowalsk, demonstre como você desarmaria um grupo de recrutas inimigos.

_ Sim senhor tenente.

E dez segundos depois, cinco jovens recrutas estavam no chão desarmados e nocauteados.

_ Mas que patifaria foi essa Kowalsk? Eu falei pra você desarmar e não matar os recrutas.

_ Eles não estão mortos senhor, apenas desacordados.

Um batalhão ao lado não se conteve e começaram a rir ao mesmo tempo que alguns ensaiavam um tímido aplauso.

_ Está bem pessoal, vamos nos conter ou vão deixar Kowalsk animado demais para a próxima demonstração... E adivinhem só quem serão os próximos voluntários a representar os pobres recrutas destreinados.

De repente tudo se silenciou e Kowalsk estava só novamente em meio a escuridão.

Ainda zonzo, levantou-se vagarosamente apoiando-se na parede enquanto instintivamente tateava a procura de um interruptor ou algo parecido.

Encontrou um pequeno relevo que em nada lembrava um botão, mas, assim que encostou seu dedo, alguns maquinários foram ligados e muitas luzes se acenderam.

_ Geradores ainda funcionando!?

Resmungou enquanto esfregava seus olhos por causa da luminosidade súbita de tantas luzes acesas.

A sua frente vários monitores começavam a funcionar e mostrar várias salas daquele lugar, com equipamentos e maquinários que certamente não era conhecido por Kowalsk.

Em um dos monitores viu uma capsula na vertical, com uma figura provavelmente humana dentro dela, o que causou espanto e um pequeno arrepio no velho soldado.

_ O que será que faziam nesse lugar?

Perguntou mesmo sabendo que não teria nenhuma resposta.

Mais a sua frente e ao lado de outo tanto de monitores, uma alavanca vermelha lhe chamou a atenção, e sem pensar muito nas consequências, destravou-a e a puxou para o lado oposto, na marcação que indicava que alguma porta ou similar havia sido aberto.

Kowalsk ouviu um barulho ao longe, mas, não deu muita importância até ouvir um velho e conhecido bater de asas que vinha aproximando-se cada vez mais.

Ele não teve dúvidas e antes que a temível criatura colocasse a cabeça pela abertura que ele tinha passado, e o alcançasse, decidiu sair dali correndo, abandonando temporariamente suas descobertas.

A sorte estava ao seu lado, pois assim que ele correu para o lado oposto de onde estava e seguiu para o corredor logo a sua frente, a pesada e alada criatura adentrou com sua enorme cabeça pela entrada danificada do bueiro.

E como o bicho tinha um pescoço comprido, teria alcançado e devorado Kowalsk se ele não tivesse fugido correndo.

Já com um pouco de suas forças recuperadas, Kowalsk nem mesmo se dava ao trabalho de olhar para trás, pois tinha receio de que o restante do piso onde a criatura estava pisando, desabasse, trazendo a criatura por completo para o subterrâneo.

Mesmo manquejando, Kowalsk percorreu os primeiros cem metros daquele lugar com facilidade, até passar ao lado de uma porta de aço que lhe chamou atenção, já que vinha alguns ruídos de dentro dela.

_ Me tirem daqui por favor! Me tirem daqui!

Imediatamente Kowalsk retornou para a frente da porta de onde vinha o pedido de ajuda e começou a procurar alguma chave, alavanca ou trava que pudesse liberar aquela sólida porta.

_ Estou preso aqui há meses. Então por favor, alguém ou qualquer um me tire daqui!

Insistia a voz acompanhada de pancadas repetitivas.

Kowalsk sentiu-se compelido a ajudar, quem quer que fosse naquele lugar e começou a procurar alguma coisa para abrir a porta.

Finalmente encontrou alguma coisa que certamente iria destrancar aquela porta, mas antes que ele pudesse acionar, ele sentiu seu corpo tremer e não era medo.

Sua previsão estava correta, o piso que a medonha criatura havia pousado não aguentou seu peso e desabou.

As causas talvez fossem por falta de manutenção ou pela ação do tempo, no entanto nada disso interessava para Kowalsk, que insistia em abrir aquela porta o quanto antes, para fugir daquele perigo cada vez mais próximo dele.

_Abre porcaria! Abre logo!

Berrava ele em meia voz para não chamar a atenção da fera que estava a sua procura.

E do lado de dentro alguém igualmente impaciente torcia para ver aquela porta se abrindo e libertando o finalmente:

_Vai porta, abre logo! Abre logo!

A porta finalmente destravou, fazendo um pequeno barulho, mas que chamou a atenção da monstruosidade que vinha andando com a cabeça raspando no teto.

Kowalsk sabia que não teria muito tempo de vida se não entrasse logo para aquela sala desconhecida, também tinha consciência de que poderia existir alguma coisa perigosa lá dentro, mas não seria nada que ele não desse conta, ao contrário da criatura que bafejando vinha ao seu encontro.

A porta abriu com uma certa facilidade, como se tivesse alguém ajudando pelo lado de dentro e Kowalsk sem titubear se jogou para dentro da sala ou melhor tentou, já que alguém também estava tentando sair com a mesma afobação que ele.

O choque foi violento, cabeça com cabeça e ambos caíram sem cumprir seu objetivo, Kowalsk sem conseguir entrar e o desconhecido igualmente desesperado sem conseguir sair.

Deixando um faminto intruso com água na boca, afinal não era sempre que conseguia duas refeições graúdas daquele jeito, talvez até sobrasse um pouquinho para mais tarde, mas o desejo do momento era comer até fartar.