A resposta foi algo surpreendentemente nojento para Kowalsk.
_ Eu estou preparando algo para nós comermos.
_ Nós quem? Eu não vou comer isso daí.
Disse Kowalsk fazendo cara de nojo.
_ Velho soldado, se eu fosse você comeria ao menos um pedacinho porque tão cedo, não vai haver mais nada de sólido e comestível para nos alimentarmos. Além do mais em breve teremos mais companhia e já não poderemos mais sair daqui nem que quiséssemos.
Kowalsk olhou para o estranho soldado e perguntou:
_ Mas do que é que você está falando? A comporta só está emperrada por causa desse monstro aí, mas há espaço mais que suficiente para sairmos daqui ou você não pode se abaixar uns sessenta centímetros?
Piotr ainda encarou Kowalsk por alguns segundos sem nada dizer. Depois gesticulou para que ele fizesse silêncio e prestasse atenção ao barulho que vinha lá de fora.
Kowalsk ficou assustado, reconheceria aqueles sons selvagens em qualquer lugar.
_Mas o que está acontecendo aqui Piotr?
_O que foi velho soldado, ainda não percebeu? Será que eu vou ter que lhe explicar quantas vezes que a nossa rota de fuga está bloqueada?
_O que quer dizer com isso?
Perguntou Kowalsk sem querer acreditar e cada vez mais assustado.
_ Se você olhar por baixo dessa porta para confirmar o que eu estou lhe dizendo, vai perceber umas criaturas aí fora só esperando que nós coloquemos os pés pra fora dessa sala.
_Eu não acredito numa coisa dessa, como elas entraram?
Perguntou Kowalsk inconsolável com a ideia de ter que ficar trancado ali por mais algum tempo.
_Por acaso você já esqueceu o tamanho da abertura que você deixou para trás? Se entrou um bicho desse tamanho que está bem à sua frente que dirá outros menores do que ele. A propósito que bicho é esse?
Dessa vez foi Kowalsk e ficou surpreso com a ingenuidade daquele estranho soldado.
_Isso meu caro é um dragão ou vai dizer que você não sabia?
Mal Kowalsk terminou de falar e o dragão que parecia estar inconsciente abriu os olhos e escancarando sua bocarra, urrou de dor.
Kowalsk levou um susto e deu um pulo tão grande que até Piotr começou a sorrir.
_Ei velho soldado, estou vendo que eu me enganei muito a seu respeito. Pois achei que você era mais valente.
E meio sem jeito Kowalsk respondeu:
_Mas eu sou valente, só me assustei porque esse bicho gritou de surpresa. Por que será?
De repente a parte do chão do lado de dentro da sala que eles estavam se encheu de um líquido viscoso e grosso quase roxo.
Era o sangue do dragão que ainda estava prensado pela porta de metal.
Kowalsk sem perceber, ainda queria ver o que estava acontecendo lá fora no corredor, mas com um gesto Piotr o impediu.
Nos segundos que se seguiram, Kowalsk percebeu o quanto Piotr tinha razão em impedi-lo.
Sons de Guinchos e grunhidos que vinham do corredor eram de dois ou mais dragões que disputava a carne do dragão preso e tudo que podia fazer era gritar de dor por ter pedaços de suas pernas arrancados com tanta selvageria.