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Chapter 3 - Os Irmãos Valentine II

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"Monstro?" Damon fez eco de mim, um fantasma de sorriso pendendo de seus lábios. Ele deixou a arma cair no chão com um estrondo antes de passar por cima do corpo de Lydia, tratando-a como nada mais do que uma parte dos escombros e destroços. "Minha querida, você só pode imaginar."

Os seixos estalavam sob seus pés. Ao nosso redor, eu ainda podia ouvir a sinfonia de caos ininterrupta. Haviam gritos de terror e gritos de guerra de todas as direções. O sangue banhava as ruas do território da matilha, cobrindo-o com mais vermelho do que eu jamais havia visto na minha vida.

"Não se engane, minha coelhinha, eu não sou nenhum anjo." 

Ele se ajoelhou em um joelho, correndo o dorso do seu dedo indicador pela minha bochecha. Cada centímetro que ele tocava queimava como se estivesse em chamas. Era estranho ― a sensação era agradável e reconfortante mas sabendo de quem vinha, só fazia minha pele se arrepiar de nojo.

Foi só quando ele retirou a mão que eu percebi que estive chorando.

"Ela era minha amiga," eu disse, com a voz rouca e sem fôlego. "Você matou minha única amiga."

"Amiga?" A risada que saiu dos lábios de Damon não tinha nenhum traço de alegria ou humor. Era completamente irônica. "Não existem coisas como amigos neste mundo. Apenas aliados e inimigos. Ela pode ser uma aliada agora mas se ela viver, poderá haver um dia em que ela se torne a ruína da sua existência."

"Agora eu nunca saberei, não é?" Eu retruquei entre lágrimas. Meus olhos desviaram para onde Lydia jazia, parada e imóvel.

"Melhor pelas minhas mãos do que pelas suas, coelhinho," foi tudo que ele disse. Ele se levantou. "Vamos. Partiremos para casa."

Ele ficou calado, seu olhar fixo ao longe. Não havia nada na direção em que ele olhava, então eu simplesmente assumi que ele devia estar se comunicando pelo elo da matilha. 

Alguns segundos se passaram antes que os gritos e choros parassem. Parecia que o mundo inteiro tinha silenciado com apenas um comando. A quantidade de poder que esse homem tinha era simplesmente aterradora.

Não havia como eu ficar com um homem assim ― ele poderia fazer até mesmo demônios se encolherem de medo.

"Eu não irei com você," Eu disse. "Mate-me se for necessário."

"Claro que você vai," ele disse. Se não fosse pela situação, eu pensaria que ele estava sendo brincalhão. "Você é minha companheira."

"Então eu te rejeito."

No momento em que essas palavras foram ditas, eu imediatamente me arrependi. A expressão de Damon escureceu em uma fração de segundo, a luz em seus olhos extinta e substituída por uma tempestade. Ela eclipsou qualquer brilho elétrico que ele tivesse anteriormente. Até o ar parecia alguns graus mais frio que antes.

"O que você acabou de dizer?"

"Eu disse, eu te rejeito," Eu repeti. Não havia volta agora. Ele definitivamente tinha ouvido da primeira vez e não adiantava ficar andando em círculos. "Eu, Harper Gray, te rejeito, Damon Valentine, como meu―"

Eu nunca tive a chance de terminar de falar.

A mão de Damon se fechou sobre minha boca mais rápido do que um olho podia piscar. Ele forçou as palavras de volta para minha boca, me tornando incapaz de me mover. Sem esforço, ele me levantou até que eu estava novamente de pé ― apenas desta vez, eu estava na ponta dos meus pés, lutando para manter o peso do meu próprio corpo.

Ele me deixou pendurada literalmente pelo aperto e eu arranhei inutilmente sua mão. No entanto, minha força, claramente, não era páreo para o dele.

"Rejeição anulada," ele disse displicentemente. Ainda assim, a casualidade de seu tom não fazia nada para esconder a ameaça e a insanidade que fervilhavam e rodopiavam em seus olhos. "Quem você pensa que é para me rejeitar?"

Esse era o ponto. Eu não era alguém especial, ninguém de quem ele deveria se importar. Não havia motivo para ele ficar tão obstinado comigo quando poderia facilmente me liberar e encontrar outras mulheres melhores para tomar o meu lugar.

Com certeza mulheres como Aubrey seriam uma escolha melhor. Elas eram ambas lunáticas famintas por poder. A Deusa da Lua deve ter cometido um erro me pareando com ele.

"Vamos esclarecer uma coisa, coelhinha, não tem como você sair do meu lado enquanto eu ainda estiver respirando. Se eu ouvir mais uma palavra sobre isso de você, eu quebrarei suas pernas e te amarrarei na cama. Entendeu?" Um rosnado baixo saiu dele, provocando um gemido de mim. 

Lágrimas já haviam começado a escorrer pelo meu rosto, um misto de dor e medo. Eu não podia ficar com ele. Se eu ficasse, seria um destino pior que a morte.

Eu precisava escapar. Eu tinha que―

Só que meus planos nem sequer começaram a florescer quando foram rapidamente esmagados de novo. Eu senti um golpe forte na parte de trás do meu pescoço e a próxima coisa que eu soube, foi a escuridão que me saudou.

***

Minha cabeça parecia pesar mil quilos. Ainda estava latejando de dor, a parte de trás do meu pescoço latejando dolorosamente de onde eu havia sido atingida.

Atingida. Isso mesmo, eu quase havia esquecido na minha névoa.

Damon Valentine havia atacado a matilha e ele, de todas as pessoas neste mundo horrível, havia sido meu companheiro. Ainda assim, onde ele estava agora?

O quarto cheirava a ele. Não se precisava de um nariz de lobisomem para perceber isso. Eu podia sentir o cheiro fraco do seu perfume pairando no quarto, o mesmo cheiro amadeirado e almiscarado que ele tinha por baixo das camadas de sangue e sujeira. 

Sentei-me na cama, olhando ao redor para ter uma noção melhor da minha situação atual. No entanto, havia uma queimação nos meus pulsos, me fazendo sibilar de dor ao olhar para baixo. Algemas de metal e correntes haviam sido conectadas às minhas mãos. Elas eram apertadas demais, deixando marcas vermelhas e irritadas na minha pele quando puxavam e trancavam o meu braço.

"Aquele maldito bastardo," eu xinguei baixinho. Ele estava tentando me manter como um pássaro enjaulado!

"De quem você está falando?"

A voz me fez olhar para cima em choque. Eu não tinha visto mais ninguém no quarto quando acordei.

Um homem lentamente saiu das sombras, e no momento em que ele o fez, eu percebi que o perfume que eu vinha sentindo não vinha de Damon Valentine afinal, mas do homem que estava diante de mim. Só que ele tinha quase as mesmas características, tão bonito quanto o homem que era meu companheiro. A única diferença era que ele não tinha a mesma cicatriz marcante no rosto de Damon.

Apenas... este homem... Era difícil acreditar, mas eu podia sentir a mesma atração por ele que sentia por Damon.

"Quem é você?" A pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter. 

O homem apenas sorriu, charmoso e galante, mas assim como Damon, esse sorriso não tinha calor nenhum.

"Parece que Damon trouxe um novo brinquedo para casa. Que divertido," ele especulou. "Olá, passarinho. Permita-me pedir desculpas pelo manuseio brusco do meu irmão. Ele não é muito bom com mulheres."

Eu respirei fundo um ar gelado de choque.

"Blaise Valentine," ele se apresentou, "às suas ordens."```