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Chapter 47 - Vencedor é o rei e perdedor é o vilão

Zed e Jéssica entraram na sala de aula, de mãos dadas. Jéssica corou, nervosa. Era a primeira vez que ela tinha um contato tão próximo com alguém do sexo oposto, especialmente alguém que acabara de conhecer. Ela sabia que ele segurou a mão dela para dar coragem, e não por outro motivo, mas ainda assim a fez se sentir tímida.

"Chegamos," as palavras de Zed tiraram Jéssica de seus pensamentos. Ele soltou a mão dela agora que estavam na entrada. Ele não tinha pensado muito em oferecer a mão.

"Ah, sim," Jéssica concordou com a cabeça.

A sala de aula era na verdade um grande salão com carteiras de estudos para três alunos cada. As carteiras embutidas com computadores que também serviam como blocos de notas.

Zed caminhou em direção à carteira onde Felicidade estava sentada.

"Você está atrasado," Felicidade disse, com um toque de irritação na voz. A exibição de "lágrimas de alegria" de Zed no refeitório mais cedo a decepcionara, e agora isso.

"Minha ligação durou mais do que o esperado," Zed respondeu com um sorriso. Ele se sentou ao lado de Felicidade e colocou a mão direita sobre a carteira. Uma luz verde escaneou suas impressões digitais, e uma tela virtual materializou-se.

"Presença registrada," uma voz mecânica anunciou da tela virtual.

"Não é aquela a garota da bolsa de estudos?" Felicidade perguntou, notando Jéssica se aproximando de sua carteira.

"Hm?" Zed também ficou surpreso.

"Zed, obrigada por me ajudar," disse Jéssica. Mais cedo, ela estava tão nervosa que havia esquecido de agradecê-lo.

Felicidade estava confusa, enquanto Zed apenas sorriu. Ele não tinha considerado o apoio a ela como uma ajuda de fato, mas vendo o rosto sério dela, ele disse, "Você se ajudou, não a mim."

"S-sim, mas..." Jéssica começou, mas Zed a interrompeu com um aceno de mão.

"Se ainda acha que ajudei, pode me retribuir com um café," acrescentou Zed com um sorriso.

Jéssica aceitou de bom grado. Por algum motivo, a maneira de Zed fazer as coisas a deixava feliz.

"Vou me retirar," Jéssica se virou para sair.

"Você pode sentar ao nosso lado. Há um assento vazio," Felicidade de repente disse, surpreendendo tanto Jéssica quanto Zed.

Enquanto Felicidade não sabia exatamente como Zed havia ajudado Jéssica, ela podia fazer um bom palpite. Ela tinha visto Jéssica sofrendo bullying dos colegas e assumiu que estava relacionado.

Felicidade não era de intrometer, mas uma vez que considerava algo como seu assunto, ela não recuava. Uma vez que Jéssica agora se familiarizou com Zed, Felicidade achou que deveria ajudar. Os problemas dele eram dela, em sua mente.

"N-não, tudo bem. Eu tenho um lugar lá atrás," Jéssica declinou nervosamente da amável oferta de Felicidade. Ela tinha ouvido rumores de que Zed e Felicidade eram "próximos" e não queria se intrometer. Ninguém mais na classe se atrevia a sentar ao lado de Felicidade, além de Zed.

"Você tem um assento nos fundos, mas certamente este não é pior," Felicidade afastou a recusa de Jéssica.

Desconhecendo os rumores sobre ela e Zed, Felicidade teria rido se soubesse. Para ela, Zed não passava de um irmão mais novo irritante que ela tinha que cuidar.

"Claro que não, mas," Jéssica gaguejou, tentando pensar em uma desculpa.

"Bom. Sente-se aqui," Felicidade disse firmemente. Desta vez Jéssica não protestou e sentou-se ao lado de Felicidade. Ela não queria irritar a "rainha demônio" da Academia Coração Real.

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A maioria dos estudantes homens olhava para Zed com inveja. Como não? Lá estava ele, ladeado por não uma, mas duas garotas lindíssimas! Jéssica, apesar de sua origem humilde, possuía uma beleza que parava corações. Não era surpresa que ela enfrentasse bullying das fêmeas invejosas.

Então havia Felicidade, a rainha incontestável da Academia Coração Real. Sua beleza deslumbrante só era combinada por seu talento incrível. Ela reinava suprema tanto nos acadêmicos quanto nos esportes.

"Esse sortudo só fica cada vez melhor!" um estudante loiro e bonito xingou baixinho. Esse era Alex, e a situação atual de Zed estava queimando suas entranhas.

"Calma aí, Alex," um estudante rechonchudo ao lado dele chamado Jaime disse, mastigando uma barra de chocolate. "Lembre-se, uma estrela brilha mais forte antes de se apagar. O mesmo vale para o Zed."

Alex zombou. "Ah, claro. Esse escória do gueto não passa de um sapo de olho no prêmio de um cisne!" Ele fechou os punhos. "Mesmo assim, ver esse rato de esgoto se aconchegar com Felicidade faz meu sangue ferver!"

Jaime suspirou, sentindo a fúria irradiando do amigo. Alex sempre acreditou que merecia Felicidade. Claro que Felicidade vinha de uma família poderosa – seu pai era senador, afinal de contas – mas Alex considerava seu próprio contexto, como filho do chefe de polícia da Cidade Delta, igualmente impressionante.

Felicidade, no entanto, nunca sequer lhe lançou um olhar. Em vez disso, ela parecia se sentir atraída por Zed. Verdade, Zed tinha dinheiro, mas era só. Sem pedigree, sem história familiar. Apenas um rato de gueto com sorte. Um leopardo não muda suas manchas, não importa quanto se exiba! Como se atreve um ninguém como Zed sequer pensar em roubar o que por direito pertence a Alex?

"Ei, Alex," Jaime disse com um sorriso malicioso, "que tal outra caça hoje?"

"Caçar aquela escória do gueto de novo?" Alex perguntou, com um brilho de interesse em seus olhos.

"Exatamente! E desta vez," Jaime continuou, seu sorriso se alargando, "vamos convidar o Zed para a brincadeira."

A surpresa inicial de Alex se transformou em uma risada cruel. Ele entendeu perfeitamente o plano de Jaime. "Genial! Mal posso esperar para ver a cara desse bastardo."

Enquanto isso, as estudantes femininas eram um turbilhão de inveja voltado diretamente para Felicidade e Jéssica. A visão dessas belezas impecáveis ao lado de Zed era simplesmente insuportável. Como elas, a elite autoproclamada, poderiam tolerar um trio tão perfeito?

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"O Senhor George está aqui!" Uma voz aguda cortou a sala de aula, chamando a atenção de todos para a entrada.

Um homem de meia-idade, George, entrou, segurando um tablet. Os alunos levantaram-se de má vontade, um sinal de respeito pelo qual a maioria não se incomodava.

"Sentem-se," George ordenou, tocando seu tablet. As luzes se apagaram, substituídas por uma Terra holográfica girando no centro da sala.

"A aula de história de hoje," George anunciou, "é uma viagem pela memória. Vamos revisitar quem éramos e quem nos tornamos." Uma pausa dramática. "Vamos relembrar os sacrifícios de nossos heróis caídos revivendo o passado."

Uma onda de gemidos irrompeu da sala escura. George, não surpreso, identificou os culpados em sua mente. Mas ei, ele conhecia seu público – crianças ricas mimadas que não reconheceriam uma luta mesmo que ela os mordesse.

"Aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo," suspirou George. "Uma pessoa sem história é como uma árvore sem raízes, à deriva e sem direção. Ainda não está interessado?"

Silêncio. Um silêncio pesado e grávido que dizia muito.

"Seu silêncio fala mais alto do que palavras," observou George.

Rostos sérios preenchiam a sala, uma fachada de atenção.

Exceto por um.

Zed.

"História? Um monte de mentiras tendenciosas tecidas pelos poderosos para controlar as massas!" Zed zombou internamente. "Melhor ser uma árvore sem raízes do que um escravo do narrativo de alguém."

Ele fingiu interesse enquanto George, com um floreio, inciou a simulação virtual.

Uma voz mecânica retumbou: "[[Simulação Virtual Ativada]]"

A holográfica Terra se expandiu, engolindo a sala de aula. Os estudantes se sentiram transportados, imersos em um mundo ao mesmo tempo real e irreal.

Imagens piscavam: palácios imperiais, símbolos do poder absoluto. Os estudantes "viram" as vidas opulentas da realeza, um contraste gritante com as duras realidades do povo comum. Fomes assolavam a terra, enquanto a elite banqueteava.

A simulação mudou, retratando guerras, lutas políticas e sofrimentos inimagináveis. Era o povo que suportava o peso desses conflitos, forçado a lutar e morrer enquanto a classe alta lucrou.

O ano de 1900 chegou, marcado por um cometa estranho visível de todos os lugares.

Teorias giravam – um prenúncio de mudança?

Quando o cometa desapareceu, uma chuva de meteoritos caiu, banhando o planeta com um toque do extraordinário. Superpoderes surgiram, mudando para sempre a paisagem humana.

Nem todas as transformações foram bênçãos. Alguns meteoritos desencadearam devastação, deixando desertos em seu rastro.

A simulação se intensificou.

As dinastias dominantes, cegas pela ganância, usavam o povo como cobaias em sua busca para entender essas mutações. Os recursos minguavam, canalizados exclusivamente para desvendar os segredos da evolução. Os estudantes sentiram uma onda de raiva em relação a esses líderes insensíveis.

Justo quando o desespero ameaçava consumir o mundo, surgiu um farol de esperança.

"Os Nove Soberanos!" os estudantes exclamaram em uníssono.

Esses nove mutantes extraordinários surgiram das cinzas, liderando rebeliões contra as dinastias tirânicas. Unidos, eles derrubaram os regimes corruptos.

O ano de 1935 viu o nascimento do Governo Mundial.

Os Nove Soberanos, por meio de suas famílias aristocráticas, estabeleceram um governo justo e imparcial para todos. A democracia reinou, com as nove famílias atuando como membros permanentes do Conselho Mundial.

Os estudantes presenciaram uma era de progresso.

A opressão desapareceu, substituída por desenvolvimento e igualdade. Direitos foram concedidos independentemente do status de mutante. A tecnologia floresceu, e o Governo Mundial tornou-se um campeão dos direitos humanos. A aliança com a raça do mar em 1971 solidificou ainda mais seu sucesso.

"Que farsa!" Zed pensou, revirando os olhos. "Esta parada de propaganda disfarçada de história. Orgulho, patriotismo, medo – eles estão tocando todos como um violino barato."

Ele sabia o suficiente para reconhecer as lacunas na narrativa. O Governo não era nenhum santo.

Zed escarneceu.

Ele morou nos guetos pela maior parte de sua vida, um contraste gritante com a imagem cor-de-rosa do governo. A escravidão, um segredo bem guardado, ainda prosperava até mesmo em áreas desenvolvidas. Eva tinha contado-lhe sobre o direito legal das nove famílias aristocráticas de possuir escravos.

A simulação continuou, mostrando os avanços sob o governo do Governo Mundial.

A simulação virtual continuou, exibindo os avanços iniciados pelo Governo Mundial.

[[Na era atual, a maior ameaça ao nosso mundo pacífico é a 'Nação do Terror'. Os Nove Soberanos, em sua infinita misericórdia, pouparam um punhado desses malignos dinásticos. Mas sua bondade foi recebida com nada além de malícia.]]

Estes remanescentes do passado, esses tiranos, fugiram para o sul e formaram sua própria nação renegada. Mesmo após a ascensão do Governo Mundial, essa ferida purulenta se recusou a cicatrizar.

[[Essa 'Nação do Terror' semeia discórdia pelo globo com seus atos bárbaros! Eles anseiam por caos, mas jamais prevalecerá seu reino de terror! Eles se proclamam lutadores pela liberdade, mas não são nada além de covardes desprezíveis!]]

"Sim!" os estudantes rugiram em uníssono.

Zed, no entanto, permaneceu em silêncio durante toda a apresentação.

Essa nação era realmente a encarnação do mal que as notícias retratavam?

Ele tinha visto em primeira mão como a mídia torcia as narrativas para se adequarem à sua agenda.

Como ele poderia julgar essa nação baseando-se apenas no ponto de vista distorcido de alguém?

A maioria das pessoas estava felizmente alheia ao fato de que o Governo Mundial controlava rigidamente qualquer informação a respeito da Nação do Terror.

"O vencedor vira herói, o vencido vira vilão," Zed refletiu com um sorriso sarcástico. "História é uma peça, não é? Os vencedores escrevem o roteiro, pintando-se como heróis nobres enquanto demonizam os caídos."

"O vencedor é o rei e o perdedor é o vilão!"