A primeira coisa que ele observou foi o silêncio absoluto. Um vazio imenso, envolvente, onde nenhum som ou luz ousava penetrar. Ele não conseguiu lembrar como havia chegado ali, nem se estava deitado, em pé ou flutuando; apenas sabia que boiava em uma escuridão densa, impenetrável.
De repente, um som distante começou a tomar forma, como a sugestão de palavras em uma lÃngua antiga. As palavras aumentaram de volume, e uma figura apareceu à sua frente, emergindo da escuridão como uma chama que não iluminava. Era uma mulher — ou pelo menos tinha a aparência de uma. Sua pele era de um cinza, quase preto, e seus olhos cintilavam em um vermelho profundo, como carvões incandescentes. Ele sentiu a presença dela como um peso em sua alma, algo que drenava a própria vida de sua pele.
A entidade falou, mas ele não compreendeu. As palavras dela eram como um feitiço, reverberando no vazio e ecoando dentro dele. Antes que ele pudesse tentar reagir, ela se inclinou para frente e segurou sua mão esguia e afiada, levando o dedo até seus lábios. Ela o cortou levemente e uma gota de sangue negro escorreu até a ponta. Com um movimento rápido, perfurou o centro do peito dele, deixando que o sangue escorresse para dentro do seu corpo.
Ele mal teve tempo de gritar. A dor explodiu em seu peito como fogo lÃquido, pulsando e espalhando-se pelo corpo em ondas avassaladoras. Não houve fuga, nem ruptura, apenas uma agonia implacável que parecia arrastar-se por horas, destruindo-o por dentro. Sentia cada músculo encolhendo, os ossos mudando e estalando em um processo aterrorizante que parecia desconstruÃ-lo e reconstruÃ-lo ao mesmo tempo.
Quando finalmente a dor começou a diminuir, ele descobriu que algo estava profundamente diferente. As mãos que agora tremiam à sua frente eram pequenas e fracas. Sua respiração ofegante era de uma criança, e não de um homem. Com horror, veja que seu corpo havia regredido a uma aparência infantil. Seus cabelos, outros escuros, agora eram brancos, um sinal do trauma que o atravessara. Seus olhos também não eram os mesmos; um brilho roxo, vibrante e inquietante, agora ocupava o lugar do velho olhar.
A mulher observava-o com um sorriso enigmático, satisfeita com o resultado de sua transformação. Antes de desaparecer na escuridão, deixou apenas uma palavra, dita com um tom que ele nunca esqueceria — o começo de uma nova vida, ou uma sentença.