Cronos cambaleou, sua mão gigante pressionando o estômago como se pudesse conter o caos que se agitava dentro dele.
O Titã, que uma vez derrotara o próprio Céu, estava agora à mercê de algo tão inesperado e rudimentar que sua mente, por milênios acostumada a lidar com forças cósmicas, não conseguia compreender completamente.
Era uma dor de barriga.
A pressão aumentava, uma sensação ardente que subia por sua garganta. Ele tentou resistir, mas o incômodo era como uma maré crescente, impossível de ignorar. Suas pernas, antes tão firmes como montanhas, cederam. Ele caiu de joelhos, fazendo a terra tremer sob seu peso colossal.
— O que... é... isso? — Cronos arfou, sua voz reverberando pelo vazio.
E então, veio o clímax.
— BLERGH! — um rugido profundo saiu de sua garganta enquanto ele vomitava.
Uma torrente avassaladora de líquido ácido irrompeu de sua boca como uma cachoeira de destruição.
O chão onde o ácido caiu começou a derreter instantaneamente, a terra se desfazendo em um vapor cáustico que subia em espirais para o céu.
O Titã vomitou o que parecia ser o conteúdo de eras, uma quantidade impossível que parecia desafiar as leis da física.
Finalmente, quando a última gota de ácido saiu, Cronos parou, arfando. Ele sentiu um alívio imediato, mas o gosto amargo da humilhação permanecia.
— O que... em nome de Erebo... foi isso? — ele murmurou, a voz grave e entrecortada pela exaustão.
Como um Titã, uma entidade tão poderosa e misticamente avançada, Cronos nunca havia experimentado algo tão banal quanto vomitar.
Ele passou a mão pelo rosto, recompondo-se, tentando recobrar sua dignidade. Afinal, ele era Cronos, o Titã do Tempo. Um deslize como aquele não poderia quebrar sua compostura.
Mas algo estava errado.
Ele percebeu a sensação de um desconforto persistente, mas não em seu corpo. Algo mais o incomodava, algo que não deveria estar ali.
Seus olhos se fixaram no chão onde o ácido começava a esfriar, e então ele viu: uma pequena esfera de gelo, intacta, flutuando em meio à poça corrosiva. Ela brilhava com uma luz gélida, como se zombasse de sua fraqueza.
— Que tipo de feitiçaria é essa? — murmurou Cronos, franzindo o cenho enquanto observava a estranha esfera.
Crack!
Um som seco ecoou, e a superfície da esfera fendeu em seu topo. Da rachadura, um ar gélido começou a escapar, envolvendo a área em uma névoa branca.
A temperatura despencou, e o chão ao redor começou a gelar. Gemidos baixos, quase de alívio, misturavam-se ao som do frio que se espalhava.
Crack. Crack. Crack.
As fissuras aumentaram, ramificando-se como teias de aranha. Rachaduras cobriram toda a esfera, e um leve tremor percorreu o solo. Cronos deu um passo atrás, instintivamente alarmado.
BOOM!
A esfera explodiu em uma onda de gelo e frio, congelando tudo ao redor em um instante. Mesmo o ácido corrosivo do Titã foi transformado em um bloco de gelo esverdeado.
Cronos ergueu os braços para se proteger da rajada, mas não conseguiu evitar os estilhaços congelados que ricocheteavam ao seu redor.
— Ah... finalmente livre. — uma voz feminina, jovial e vibrante, ressoou na nuvem de gelo.
— Minhas costas... estão me matando. — uma segunda voz, masculina e firme, lamentou, com um tom de leve exasperação.
— Nunca mais faça isso! — outra voz masculina, rouca e grave, soou como um trovão irritado.
— Eu admito que não foi o melhor dos planos, mas funcionou. Falando nisso, obrigado pela ajuda, irmã. — a primeira voz masculina respondeu com calma.
— Não há de quê. — uma voz feminina, mais madura e tranquila, respondeu.
— Finalmente! Estou livre daquele fim de mundo... Agora posso, finalmente, ter minha vingança contra Cronos! — uma terceira voz feminina, desta vez carregada de fúria, rugiu.
A nuvem de ar frio começou a se dissipar, revelando cinco figuras no centro da destruição. Cada uma delas exalava um poder avassalador, o tipo de força que fazia até mesmo o próprio Titã estremecer.
Hestia, a primeira a ser revelada, era uma jovem de feições gentis e calorosas. Seus longos cabelos escuros caíam em ondas suaves, e seus grandes olhos azuis brilhavam com uma serenidade quase ingênua, contrastando com a intensidade do momento.
Hera surgiu ao lado, uma mulher mais madura com cabelos de um profundo tom de vinho. Sua expressão era marcada por frustração e cansaço, com rugas e linhas de expressão que realçavam sua aura de autoridade inabalável.
Deméter, a terceira figura, era uma senhora de idade avançada, mas não menos atraente e charmosa. Seus longos cabelos brancos como neve fluíam ao redor de um rosto que carregava uma beleza atemporal. Seus olhos azuis eram profundos como o inverno, mas havia algo de feroz em seu olhar.
Hades ergueu-se com imponência, um homem gigantesco com músculos esculpidos e uma barba longa e escura, entrelaçada com mechas vermelhas que brilhavam como fogo. Seu semblante estoico e autoritário sugeria que ele estava acostumado a liderar.
Por fim, Poseidon emergiu, de estatura média, mas com uma presença avassaladora. Seu cabelo loiro curto balançando com o vento, seu porte definido e seu semblante perpetuamente frio e imutável davam a impressão de que nada no mundo poderia abalá-lo. Ele parecia alheio à grandiosidade da cena, como se tudo fosse apenas um aborrecimento passageiro.
Cronos encarava as cinco figuras, sua expressão congelada entre o choque e a incredulidade.
— Como... como vocês... estão vivos? — a voz de Cronos finalmente rompeu o silêncio, carregada de surpresa, mas também de hesitação.
Ele nunca os tinha visto antes, mas não precisava. Reconhecia aqueles rostos, aquelas presenças. Sangue do seu sangue, herdeiros de sua linhagem. A mera visão deles confirmava o que ele temia: o inevitável retorno de sua profecia.
Hera foi a primeira a avançar, um sorriso arrogante e debochado se formando em seus lábios enquanto cruzava os braços.
— Talvez você devesse ter mastigado melhor antes de nos engolir. — disse ela, a voz transbordando provocação.
Embora fosse a única a falar, os semblantes dos outros diziam tudo: raiva, frustração e determinação queimavam como brasas vivas em seus olhos.
Cronos os analisava com olhos semicerrados. Por um momento, parecia incrédulo. Mas, então, uma risada grave e sombria irrompeu de seus lábios.
— Vocês estão vivos... Isso é, de fato, surpreendente. — A hesitação em sua voz deu lugar a uma confiança ameaçadora. — Mas não importa. Apenas significa que poderei corrigir meu erro agora, como fiz com seu irmão. Desta vez, de forma definitiva.
As palavras de Cronos fizeram Hera hesitar. Sua expressão confiante se desfez ligeiramente enquanto ela franzia o cenho.
— Espera... irmão? O que quer dizer com isso? — perguntou, seu tom agora mais cuidadoso.
Em resposta, Cronos apenas apontou para trás deles, um gesto quase casual.
Os deuses se viraram ao mesmo tempo, e foi então que viram: o corpo de Zeus jazia no chão, imóvel, espatifado como uma marionete quebrada.
— Ele... ele é nosso irmão? — Hera murmurou, perplexa.
— Desde quando existe outro? — questionou Hades, o tom carregado de desdém, mas havia uma centelha de interesse genuíno em sua voz.
Poseidon soltou um leve suspiro, cruzando os braços. — Bom saber que não sou mais o caçula.
Mas foi Hestia quem reagiu de forma mais emocional.
— Irmãozinho! — gritou ela, correndo em direção a Zeus sem hesitar, as lágrimas já começando a marejar em seus olhos.
Cronos observava a cena com um sorriso cruel.
— Entenderam agora? Seu irmão, que treinou por eras para tentar me derrubar, foi esmagado como um inseto. O que faz vocês pensarem que podem me derrotar?
As palavras de Cronos eram como lâminas cortantes. Até mesmo a confiança de Hera pareceu vacilar por um instante.
Poseidon e Hades permaneceram imóveis, os rostos tão inexpressivos quanto pedra, mas havia uma tensão evidente em seus corpos.
— Já chega de palavras. — A voz de Cronos reverberou como um trovão. — Quanto mais cedo eu acabar com vocês, mais tranquilo será meu sono eterno.
Ele ergueu seu imenso pé, a sombra colossal engolindo os deuses enquanto descia para esmagá-los.
— Fujam! — gritou Poseidon, estendendo sua mão para o alto.
Em resposta à sua vontade, a água começou a surgir, gotejando primeiro, depois se acumulando rapidamente em um volume colossal que pairava no ar. Ela se solidificou em um escudo translúcido, curvando-se sobre os deuses como um domo de proteção.
O pé de Cronos atingiu o escudo com uma força devastadora. Por um momento, o escudo resistiu, mas rachaduras começaram a se formar rapidamente, espalhando-se como teias de aranha.
— Corram! — insistiu Poseidon.
Sem hesitar, os deuses correram o mais rápido que puderam, Hestia carregando Zeus com cuidado nos braços.
BAM!
Cronos pisou novamente, criando uma cratera que enviou ondas de choque por toda a área. Felizmente, os deuses conseguiram evitar o impacto por pouco.
— Ele é forte demais. Não há como derrotá-lo. — disse Demeter, seu tom carregado de pavor.
— Precisamos fugir e nos preparar para lutar outro dia. — Hades declarou, a voz grave, mas firme.
— Fugir para onde?! Este é o domínio dele! Não há lugar para nos escondermos! — gritou Hera, a tensão em sua voz evidente.
Poseidon, correndo ao lado de Hades, fechou os olhos por um momento.
— O oceano... — murmurou ele. — Ele fala de um lugar. Uma ilha chamada Creta, ao norte daqui. Foi onde Zeus se refugiou.
— Tem certeza que pode encontrá-la? — perguntou Hades.
— Talvez. Se chegarmos perto o suficiente, o mar pode me guiar.
— Então é para lá que vamos. Não temos outra escolha. — respondeu Hades.
Mas antes que pudessem avançar mais, o estrondo dos passos de Cronos ressoou novamente. Ele estava se aproximando, cada movimento seu parecendo uma sentença de morte iminente.
— Estamos condenados! — exclamou Hera. — Eu sabia que sair de dentro dele era uma péssima ideia!
— Cale-se, Hera. Sua voz me irrita. — respondeu Poseidon com frieza, ignorando o olhar furioso que ela lhe lançou.
Ele trocou um rápido olhar com Hades, e os dois irmãos chegaram a uma decisão silenciosa.
Hades parou abruptamente e se virou para Cronos.
— O que você está fazendo?! — gritou Hera, alarmada.
— Ganhando tempo. — Hades respondeu simplesmente.
Ele ergueu a mão, e com um estalar de dedos, murmurou uma única palavra:
— Escuridão.
Ao som da palavra de Hades, o mundo ao redor mergulhou em trevas profundas.
Uma nuvem negra e sufocante cobriu tudo, densa como o véu da morte, exalando gases quentes e tóxicos, similares aos vapores letais de um vulcão ativo.
Hades com seus poderes, cobriu o mundo em um véu de escuridão, impedindo que Cronos seja capaz de perceber o mundo ao seu redor.
— Um truque barato, apenas adiando o inevitável. — Cronos rugiu, sua voz reverberando como um trovão.
Com um movimento brusco, ele golpeou o ar ao seu redor, criando ventos poderosos que dispersaram a escuridão.
As trevas cederam, dissipando-se como fumaça ao vento. Quando a visão do titã se restaurou, ele percebeu que os deuses não estavam mais lá.
Os olhos colossais de Cronos brilharam com um fogo dourado enquanto ele vasculhava o horizonte.
Foi então que os viu: uma gigantesca onda atravessando o oceano distante, carregando sobre si os deuses fugitivos.
Poseidon, com o poder das águas, havia criado a maré que os levava para longe. Hades, ainda olhando para trás, mantinha uma postura de desafio.
Cronos sorriu levemente, um sorriso que misturava desprezo e diversão.
— O deus do submundo... Hades. O deus do mar... Poseidon. Vocês estão se tornando dignos de nota.
Ele permaneceu onde estava, sem mover um único músculo em perseguição. A força de seus passos poderia facilmente alcançá-los, mas ele escolheu não agir. Ao invés disso, virou-se, seu imenso corpo fazendo o chão tremer.
— Muito bem. Eu vou deixar vocês viverem por mais alguns anos. — Sua voz era carregada de desdém, mas havia algo mais profundo: uma semente de respeito.
Cronos olhou uma última vez na direção do oceano, sua expressão agora quase contemplativa.
— Quando vocês estiverem prontos. Espero por um desafio à altura. — E com isso, ele caminhou para longe, desaparecendo na vastidão de seu domínio.
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<2073 palavras>
E o vilão com seu ego superior, deixa dos heróis fugirem para treinar e ficarem mais fortes para então voltarem para o derrotar.
Isso demonstra como a maior perdição desses seres divinos, são eles mesmo, e seu próprio orgulho.