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Chapter 7 - Capítulo 7

O oceano é um vasto corpo de água, em todos os sentidos, um vasto azul inacavel, lindo.

Às vezes, é calmo e receptivo, um ventre de prosperidade que nutre e sustenta a vida. Outras vezes, é furioso e destrutivo, com ondas gigantes que varrem tudo em seu caminho, uma força implacável da natureza.

Apesar de suas inúmeras facetas e mistérios insondáveis, para uma certa pessoa, o oceano não é apenas um espetáculo ou uma ameaça. Para ele, o oceano mais é simplesmente sua casa.

Para Poseidon, o mar é seu porto seguro, seu mais leal companheiro, sua mãe, seu pai, seu filho, sua alma gêmea.

Quando Poseidon tocou a água do mar pela primeira vez, não encontrou palavras para descrever o que sentiu.

Uma energia imensa e calorosa percorreu seu corpo, mas havia algo mais. Era também refrescante, quase como uma saudação de boas-vindas.

Aquele toque parecia despertar algo profundo em sua essência. Ele sentiu sua mente expandir de forma incompreensível, transcendendo o espaço físico.

De repente, ele podia sentir tudo ao seu redor e além. Ele não apenas viu esse oceano; ele viu praticamente toda a água do mundo e tudo o que nelas tocava.

Então, vieram as vozes. Fracas no início, quase inaudíveis. Ainda assim, ele as compreendeu.

Era a linguagem da vida marinha, os peixes, as algas, até mesmo os microscópicos plânctons, incrivelmente, até mesmo os corais tinham sua própria voz.

Cada forma de vida estava sussurrando, conversando, discutindo, brigando, cantando, contando histórias do mundo submerso desde sua criação.

Quanto mais tempo ele permanecia em contato com a água, mais sua perspectiva mudava.

Ele não era mais apenas Poseidon, filho de Cronos e Réia. Em frações de segundos, ele transcendeu sua mentalidade "mortal" e ascendeu ao que sempre esteve destinado a ser: um rei. O verdadeiro soberano do mar.

Era um poder incomparável. Poseidon sentiu que poderia moldar oceanos, erguer ondas ou criar calmarias apenas com um pensamento.

Mas junto com essa força veio algo que ele nunca havia experimentado antes: um profundo senso de responsabilidade.

Ele percebeu que cada ação sua reverberaria pelas profundezas e pela superfície, afetando incontáveis vidas.

No entanto, uma dúvida persistia: como o deus dos mares, destinado a governar e compreender tudo sobre eles, esteve privado de tal conexão por tanto tempo?

A resposta estava em sua infância. Desde o momento de seu nascimento, Poseidon nunca havia visto o verdadeiro mar, quanto menos interagindo com ele.

Ele havia sido lançado nas profundezas do estômago ácido de Cronos, onde foi mantido cativo.

Aquele lugar, chamado de "mar de ácido" em metáfora, não passava de um poço de tormento, uma paródia cruel do que o mar deveria ser.

Assim, o oceano, sua verdadeira alma gêmea, seu parceiro eterno, permaneceu distante. Mesmo assim, o mar nunca o esqueceu.

Ele esperou pacientemente, acumulando presentes para o momento em que finalmente pudesse encontrar seu Poseidon.

Agora, livre das garras de Cronos, Poseidon e o mar se reencontraram.

O oceano não era apenas um domínio para ele governar. Era um lar que o acolhia com todo o seu poder e mistério, selando para sempre o vínculo entre o deus e as águas.

Eles haviam sido separados por forças além de sua compreensão, mas agora estavam juntos novamente. E, dessa vez, nada mais os separaria.

Era um momento tão carregado de emoções que beirava o romântico, como a história de dois amantes, separados por circunstâncias cruéis, mas que, após inúmeros desafios, finalmente se reencontram. Poseidon sentia o oceano ao seu redor como um abraço antigo, reconfortante e pleno.

Ele queria parar. Queria mergulhar mais fundo naquele sentimento, deixar-se levar pela união recém-restaurada, mas a realidade não permitia luxos. A situação era urgente.

Hades, com seus poderes sombrios, havia comprado a eles um pequeno intervalo, um instante precioso para escapar. Era pouco, mas era o suficiente para Poseidon e o oceano agirem em sincronia, como se tivessem ensaiado para esse momento por eras.

Poseidon não precisou falar ou ordenar; o oceano já o compreendia.

Nas profundezas do mundo, onde o calor da terra e a pressão esmagadora dominavam, placas tectônicas colidiram em um único instante. A energia gerada foi monumental, um tremor que poderia, em circunstâncias normais, desencadear tsunamis capazes de devastar continentes. Mas não foi isso que aconteceu.

Toda aquela energia foi canalizada e concentrada em um único ponto. Em vez de destruição indiscriminada, ela tomou forma: uma pequena onda.

A onda, apesar de não atingir o tamanho de sua potência máxima, movia-se com uma velocidade absurda, beirando o impossível.

Em questão de segundos, Poseidon e os outros deuses, antes cercados por ameaças e incertezas, encontravam-se a milhares de quilômetros de onde estavam originalmente.

A velocidade era tamanha que nenhum deles teve tempo de compreender totalmente o que estava acontecendo.

A onda era uma extensão do próprio Poseidon, movendo-se com a precisão e o propósito que apenas o rei dos mares poderia alcançar.

Quando finalmente a onda desacelerou e os deuses perceberam que estavam seguros, uma onda diferente tomou conta deles: o alívio.

Suspiros de gratidão e respirações pesadas preencheram o ar.

Poseidon, entretanto, não estava focado no alívio de seus companheiros. Seus olhos fitavam o horizonte, onde o mar continuava se expandindo em sua vastidão infinita.

Ele sabia que aquela fuga era apenas o começo, o começo de uma guerra, que abalaria as estruturas desse mundo.

Mas agora, ele não estava mais sozinho. Ele tinha o oceano, e o oceano o tinha. Juntos, eram uma força imparável, prontos para enfrentar o que viesse.

...

Com a velocidade impressionante da onda de Poseidon, não demorou para que os deuses avistassem Creta no horizonte.

A princípio, a ilha era apenas um ponto indistinto no horizonte, mas cresceu rapidamente até que suas formas e detalhes se tornassem claros.

A ilha de Creta, em toda a sua glória paradisíaca, parecia um pedaço de terra abençoado, como se os próprios deuses a tivessem moldado.

Suas margens eram bordadas por praias de areias douradas que reluziam sob o brilho do sol.

As águas ao redor, de um azul profundo e cristalino, pareciam refletir até as estrelas, mesmo em plena luz do dia.

O interior da ilha revelava colinas suaves e montanhas imponentes, envoltas em tons verdes vibrantes.

Riachos de águas puras serpenteavam pelos vales, alimentando campos férteis repletos de oliveiras e vinhedos.

Um perfume doce e natural pairava no ar, mesclando-se com a brisa fresca que vinha do mar.

Era um lugar que embora primitivo, tinha um charme natural tão forte que o tornava digno que abrigar um deus.

À medida que se aproximavam, a onda perdeu velocidade gradativamente, até que, ao alcançar a margem, depositou os deuses com suavidade na areia.

Hera foi a primeira a romper o silêncio, seus olhos percorrendo a paisagem ao redor com uma mistura de admiração e melancolia.

— Que bonito... Agora que não estamos em perigo e posso realmente observar, o mundo aqui fora é tão belo.

Deméter concordou, seu tom carregado de um leve pesar.

— É uma pena que não tenhamos crescido em um lugar como este. Confesso que sinto um pouco de inveja de Zeus.

Hestia olhou ao redor, mas sua mente já estava além da beleza da ilha. A preocupação era clara em sua voz.

— O que fazemos agora? Alguém tem um plano?

O grupo ficou em silêncio.

Eles queriam acreditar que poderiam agir, fazer algo para mudar seu destino.

Mas a realidade era dura e implacável. Contra Cronos, suas chances nem chegam a ser mínimas, mas completamente nulas.

Apenas pensar em Cronos fazia os corações dos deuses vacilarem, como se o simples peso de sua presença fosse suficiente para esmagar qualquer esperança.

Então, enquanto estavam imersos em seus pensamentos, algo começou a mudar. Uma nova presença estava se manifestando, poderosa e inconfundível.

O mundo ao redor deles começou a se torcer de forma literal. O céu parecia oscilar, como se não pudesse sustentar aquela força crescente.

As árvores dobravam-se em direções impossíveis, folhas caíam, mas em vez de tocarem o chão, elas flutuavam em direção a um único ponto. Rochas se desprendiam do solo, girando lentamente no ar, enquanto a areia das praias formava redemoinhos.

Era como se um buraco negro estivesse se formando diante deles, sugando todos os elementos da natureza para seu centro. Água, terra, vento e até a luz pareciam obedecer a um chamado ancestral, convergindo em um único lugar.

No epicentro dessa tempestade de criação, uma forma começou a surgir. No início, era apenas uma massa caótica, mas aos poucos ela ganhou uma silhueta reconhecível.

A figura de uma mulher estava sendo moldada, lentamente tomando forma a partir dos próprios elementos.

Seu cabelo era uma cascata de cipós entrelaçados, decorados com flores que desabrochavam em ritmo constante. Sua pele, de um verde vibrante como a grama fresca, parecia viva e pulsava com a energia da terra. Um manto de folhas e flores, ainda em transformação, envolvia seu corpo.

Seus olhos, de um verde profundo como esmeraldas, cintilavam com uma sabedoria que parecia atravessar eras. Ela não era apenas uma entidade; ela era a própria personificação da natureza, da vida e do equilíbrio.

Quando o processo terminou, a mulher ergueu a cabeça, sua presença imponente e serena preenchendo o espaço. A natureza ao redor se aquietou em uma reverência silenciosa.

— Gaia... — murmurou Deméter, com uma mistura de surpresa e reverência.

A primordial da terra, mãe de tudo que é natural e vivo, estava diante deles.

Sua simples presença exalava autoridade, sabedoria e uma força ancestral que parecia capaz de desafiar até mesmo os titãs.

Mesmo sem dizer uma palavra, Gaia preenchia o espaço com um poder que fazia os deuses sentirem-se pequenos.

Por alguns instantes, todos ficaram em silêncio, completamente tomados pela grandiosidade do momento.

Até que Poseidon, quebrando o clima de veneração, inclinou a cabeça levemente e soltou:

— Espera aí... Tá dizendo que essa planta é nossa vó?

O silêncio reverente se desfez em um instante.

Pa!

— Tenha respeito quando estiver falando com sua avó! — ralhou Hestia, aplicando um tapa bem dado na nuca de Poseidon. Em seguida, virou-se para Gaia, inclinando-se respeitosamente. — Perdão, senhora Gaia. Ele não sabe o que está dizendo.

Gaia, que até então mantinha uma expressão serena, soltou uma risada suave, quase como o sussurro de uma brisa passando entre as árvores.

— Fufu~ Está tudo bem, querida. — Sua voz era gentil, mas carregada de um eco profundo, como se a própria terra estivesse falando. — Eu fico feliz em saber que meu netinho está bem e são.

Poseidon esfregou a nuca, olhando de soslaio para Hestia, ainda que não parecesse realmente ofendido.

— Tá, tá... Mas sério, ninguém acha meio estranho? Quero dizer, ela literalmente se montou de folhas e pedras na nossa frente... — Ele balançou as mãos, como se tentasse descrever o que havia acabado de testemunhar.

Vendo Poseidon agindo dessa maneira, seus irmãos não conseguiram não suspirar de vergonha.

'Ele continua o mesmo de sempre.'

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<1899 palavras>

Para quem estiver confuso, esse Poseidon tem a mesma aparência do Poseidon de Shumatsu no Valkrie, apenas com pontas azuis no fim do cabelo.

Assim como Hades tem a mesma aparência do Hades, pai do Zagreu, no jogo Hades, apenas com mechas vermelhas aqui e ali.

Zeus tem a mesma aparência do Zeus jovem que apareceu brevemente em God of War 3... eu acho que foi o 3, talvez tenha sido o 2.