Narrador's P.O.V.
Segundas-feiras com certeza eram os dias que Ariel menos gostava. No fundo ele não se importava tanto quando as segundas chegavam porque não era como se aos fins de semana sua vida fosse muito diferente, mas aquela segunda em específico já estava sendo um porre e ele mal havia aberto os olhos. O alarme tocou às exatas nove da manhã, o fazendo despertar lentamente. O cacheado abriu os olhos com dificuldade. Sua cabeça estava dolorida... Na verdade, todo o seu corpo doía por inteiro. Com muito esforço o garoto pegou seu celular para desligar o alarme que só fazia sua cabeça doer ainda mais, parando para olhar as horas. Ele não se lembrava do horário que adormeceu. Na verdade, não sabia nem mesmo o horário em que tudo havia acontecido, muito menos quando Marcos havia ido embora.
E por falar em Marcos...
Ariel bufou completamente frustrado quando o asiático tomou sua mente. Ele se lembrou de como o mais velho havia saído de lá, e sabia que as coisas ficariam estranhas entre eles, mesmo que apenas tivesse começado a dar certo. Ele passou a mão por seu rosto, respirando fundo algumas vezes antes de fazer o que tinha em mente. O garoto discou o número de Chen, já que em algum momento o havia gravado, ligando para ele. Um toque. Dois toques. Ele aguardou por alguns instantes e, depois de diversos toques, a ligação foi encaminhado para a caixa postal. Ariel suspirou, deixando seu celular de lado. Poderia tentar um segunda vez, porém não gostava de incomodar a ninguém e com certeza Marcos era a última pessoa no mundo que ele gostaria de incomodar. Precisava acertar as coisas com ele, porém não queria deixar o outro irritado ou algo do tipo, então o deixaria quieto por enquanto.
Ele enfim se levantou. Havia ficado tanto tempo deitado enrolando que naquele momento já passavam das nove e meia da manhã, então ele enfim foi tomar banho pois precisaria estar no trabalho em pouco tempo. Ariel se sentia esgotado. Sabia que o incubus havia lhe sugado na noite anterior. Ele podia sentir que estava muito mais fraco do que antes, mesmo que tivesse dormido por horas. Seu corpo estava daquela forma, mas o que mais lhe incomodava era o fato de que aquele cansaço ia além do físico. Era como se ele pudesse sentir seu espírito mais... Fraco... Digamos assim. Enquanto passava pela sala, Ariel viu o pequeno livrete em cima do sofá. Ele pegou o objeto, se perguntando se aquilo esteve ali durante todo aquele tempo. Um sentimento de raiva o consumiu. Se tivesse achado aquele maldito livro antes, nada daquilo teria acontecido na noite anterior.
- Que inferno... - Bufou, completamente irritado.
Ele pensou em deixar o livrete no mesmo lugar, porém lembrou das palavras de Eico sobre a importância do conteúdo que aquilo continha, então voltou até seu quarto e o guardou em sua bolsa. Seria melhor se levasse ele consigo até resolver toda aquela situação. Na verdade não sabia se conseguiria "resolver", afinal, estava lidando com a porra de um demônio! Só de pensar na coisa seu corpo estremeceu, e ele chiou baixinho. As lembranças do último ataque vieram com tudo. Aquela coisa era idêntica a Marcos... Ariel sabia que precisava livrar de Barzan o quanto antes, mas sequer sabia por onde começar ou onde buscar ajuda. Não sabia como fugir, não sabia o que fazer, mas deveria tentar...
Ele iria tentar...
O cacheado olhou seu celular uma última vez. Teria pouco tempo para se aprontar e sair de casa, então precisaria correr para não acabar se atrasando. Na verdade ele nunca se atrasava porque sempre gostou de chegar mais cedo já que assim poderia falar com Marcos antes da lanchonete abrir de fato. Ariel estava se sentindo pra baixo naquele dia porque sabia que não seria como nas últimas vezes. Havia um aperto em seu peito que o incomodava. O garoto enfim deixou seus pensamentos de lado, se preparando para tomar seu banho. Ele suspirou mais uma vez.
- Você consegue, Ari... - Murmurou para si mesmo.
Ele esperava realmente conseguir...
~•~
O dia estava correndo como todos os outros dos últimos dois anos da vida do cacheado. Bom, menos pelo fato de que pela primeira vez em todo aquele tempo, Marcos não havia falado consigo uma única vez sequer. Aquilo estava acabando com sua sanidade. Desde que chegou ao trabalho, havia perdido a conta das vezes que ambos estiveram no mesmo ambiente, ou acabaram esbarrando um no outro, porém em nenhum desses momentos o asiático falou algo. Ele mal olhava para Ariel, e aquilo estava enlouquecendo o cacheado. Por não ter tanta segurança em si mesmo, ele não conseguia tomar a iniciativa de falar com Chen, afinal, desde que entrou naquela lanchonete, sempre havia sido o outro quem o procurava. Só piorava porque eles finalmente haviam ficado juntos, finalmente haviam se confessado, para do nada estarem daquela forma? Ariel estava indignado e com muita raiva de Barzan, afinal, graças aquele maldito sua relação com Marcos, esta que mal havia começado, já estava por um fio.
Ariel deu o seu melhor para seguir com seu trabalho da melhor maneira possível, afinal trabalhava como atendente então lidava diretamente com os clientes. Precisava sorrir e ser simpático a todo momento, até porque aquele era seu grande diferencial e muitos dos clientes eram fixos. Sendo assim a maioria deles já o conheciam bem, então ele precisaria fingir estar bem. Já passavam das cinco da tarde e em breve estariam no horário de fechar. O garoto observava as horas a todo momento. Ele se sentia sufocado e queria sair dali o quanto antes, mas era como se o tempo estivesse correndo cada vez mais devagar. Aquilo estava o enlouquecendo! Mais uma vez ele olhou o relógio, suspirando baixinho por ver que ainda faltava pouco mais de uma hora e meia para finalmente poder ir embora.
Por mais que o movimento naquele dia em específico estivesse um pouco baixo, vez ou outra apareciam clientes. Ariel estava no caixa quando ouviu a sineta da porta soar, o que indicava que alguém havia chegado. Ele respirou fundo, olhando para a frente e sorriu pequeno para o homem que andava calmamente até o caixa. Quando seus olhar cruzou com o do outro, Ariel sentiu seu corpo se arrepiar por inteiro. Por alguns instantes sentiu certo medo daquela pessoa, mas deu o seu máximo para não demonstrar nada. Ele observou aquele homem minuciosamente. Pele preta, cabeça raspada, olhos castanhos por debaixo de um olhar meio misterioso... Ele aparentava ser mais alto do que Ariel, além de que seu corpo também era maior. Bem maior.
- Boa tarde... Como posso te ajudar? - O cacheado falou de maneira gentil.
- Hm... Qual é o melhor? - Ele questionou, olhando calmamente para o cardápio que ficava acima deles. Ariel notou que mesmo sendo aparentemente jovem, no máximo trinta anos, aquela pessoa carregava um olhar meio vazio. Não tinha emoções em suas reações.
- Eu recomendo o combo especial de hoje, que além do hambúrguer com a carne da sua escolha, vem com diversos acompanhamentos como batata frita, nuggets, refri e uma sobremesa que você também pode escolher. - Disse simples, apontando para a imagem do combo.
- É interessante... Assim como você. - Falou de maneira meio arrastada.
Só quando o homem disse aquilo que Ariel notou que ele o encarava. Ele se aproximou um pouco mais do caixa, o que fez o cacheado engolir a seco. Por mais que algo dentro de si estivesse errado e que aquele sentimento fosse culpa daquele homem, ele não se deixava abalar. Estava em seu trabalho e ali dava o seu melhor a todo tempo, o que incluía lidar com alguns doidos que vez ou outra iam lá o assustar. O homem se aproximou o máximo, tendo apenas a bancada os separando.
- Você... Tem algo em você que me interessou... - Ele murmurou da mesma forma monótona, porém realmente era nítido que daquela vez seus olhos pareciam brilhar.
- Como assim? - Indagou.
- Posso? - Ele estendeu sua mão para o cacheado. Ariel relutou um pouco, mas acabou estendendo sua mão para o homem. Quando ambos se tocaram, mais uma vez ele sentiu seu corpo se arrepiar, quase como quando entrou pela primeira vez na loja da bruxa asiática. - Como eu imaginei... - Sorriu.
- Você... Sorriu... - Murmurou baixinho, mantendo seus olhos focados nos olhos do maior.
- Me chamo Gabriel. É um prazer. - Ele beijou a mão do cacheado. - Qual o seu nome?
- Ariel. Me chamo Ariel.
- Seu nome está dentro do meu, sabia? Ariel é um dos anagramas presentes em Gabriel. - Sorriu mais uma vez. Ariel acabou rindo, afinal, havia percebido que na verdade ele não era tão... Vazio...
- Isso é interessante. Literalmente nunca pensei isso antes. - Riu mais uma vez.
- Você tem um sorriso lindo, Ariel. Sabia disso? - Por mais que tentasse, o cacheado não conseguiu evitar de se sentir envergonhado. Não era acostumado com atenção alheia sobre si, principalmente de um homem como aquele.
- Posso ajudar com algo? - A voz de Marcos soou atrás de ambos, fazendo o mais novo se assustar. Ele puxou sua mão com pressa, ficando completamente desconcertado pelo outro tê-lo visto naquela situação inusitada.
- Ele... E-Ele vai...
- Eu vou querer o combo especial de hoje. Ariel me recomendou esse, então vou levar ele mesmo. - Gabriel interrompeu o mais novo, respondendo a pergunta do asiático.
- Ótimo! Já vou começar o preparo. - Chen murmurou, se virando e indo para a cozinha sem dar tempo de alguém falar mais qualquer coisa.
- Hm... Ele gosta de você, né? - O outro questionou, deixando Ariel um pouco tímido.
- É... Eu acho que sim. - Suspirou.
O cacheado apenas terminou de registrar o pedido do mais velho, recebendo o pagamento e, pouco tempo depois, lhe entregando seu pedido que Marcos havia preparado em tempo record. A todo tempo Gabriel o olhava, porém aquilo não o incomodava mais. Na verdade havia simpatizado com aquele homem estranho e misterioso, o que de certa forma o intrigava, mas devido a tudo que havia passado nos últimos dias nada mais o surpreendia. Mais uma vez Gabriel sorriu para ele, saindo da loja sem dizer mais nenhuma palavra. Ariel respirou fundo, passando a mão por seu rosto. Estava se sentindo tão aflito que tinha vontade de chorar. Ele queria muito chorar...
Mais uma vez a lanchonete ficou vazia. Já estava ficando tarde e, depois de mais um tempo esperando, sua chefe decidiu liberar os funcionários um pouco mais cedo, mandando que já fechassem o estabelecimento. Ariel agradeceu aos céus por aquilo, afinal, estava louco para ir para sua casa. Na verdade talvez não fosse direto para lá e sim procuraria Eico, mas ainda não havia se decidido. Haviam tantas coisas se passando em sua mente que se tornava difícil tomar até mesmo pequenas decisões. Ele estava se sentindo confuso, mas tinha que agir de alguma forma para acabar com todo aquele pesadelo o quanto antes. Ele só precisava pensar!
Ariel foi até a porta, puxando a porta de enrolar para trancar a lanchonete. O garoto passou a chave, trancando todo o lugar. Ele voltou para o balcão, arrumando todas as suas coisas que deixava ali debaixo, tudo de forma lenta. Em dado momento ele pegou o livrete, olhando para o objeto completamente confuso, afinal sequer se lembrava de tê-lo tirado de sua bolsa, muito menos de tê-lo posto ali. O cacheado abriu o pequeno livro, folheando algumas páginas de maneira rápida, e então se deu conta de que ali haviam diversos tipos de orações, todas para afastar entidades e espíritos malignos. Algumas curtas, outras bem longas, mas todas tinham esse mesmo propósito. Ele sentiu seu peito se encher com um pouco de esperança. Ariel colocou o pequeno livro em seu bolso traseiro, terminando, daquela vez, de forma rápida de arrumar todas as coisas.
Como tinha sido liberado mais cedo, decidiu por tomar banho ali mesmo. O garoto rumou até a parte de trás da lanchonete, que era onde ficavam os vestiários, já se preparando psicologicamente para o caso de encontrar Marcos ali. Talvez naquele dia em específico o asiático poderia ter decidido ir direto para casa, afinal, ele estava evitando Ariel a todo custo, então não seria surpresa alguma para o menor. Assim que atravessou a porta do cômodo, o menino suspirou mais uma vez. Ele caminhava olhando para o chão, e se sentia tão frustrado e triste que não tinha forças sequer para levantar sua cabeça. Não precisava ver o caminho até seu armário, afinal já o havia feito tantas vezes que conseguia andar de olhos fechados, porém quando se aproximou de onde ficavam os armários um par de pés entrou em seu campo de visão. Ele sentiu seu coração acelerar.
- Quem é aquele cara? - Ariel levantou seu olhar e se deparou com Marcos ali, de braços cruzados e com um olhar bem irritado.
- Quem? - Questionou confuso.
- Aquele cara que estava falando com você.
- Falando... Comigo...? - Ele enfim se lembrou, se dando conta de quem Marcos estava falando. - Ah... O Gabriel? Não conheço ele, ele só...
- Não conhece ele?! - Riu.
- Não, eu...
- Como não conhece ele, Ariel? Por que caralhos ele estava segurando sua mão? Ele até te beijou, porra! - Ele falava de maneira bem irritadiça. Marcos estava tão bravo que sequer o deixava terminar suas frases.
- Você viu aquilo? - Sussurrou, coçando a cabeça por estar sem jeito.
- Por quê? Não era pra eu ver? - Debochou. Ariel nunca o havia visto debochar. Aquilo com certeza havia o irritado, então decidiu apenas ignorá-lo a partir daquele momento.
- Ok, Marcos. Não vou discutir com você, eu tô cansado demais pra isso. - Murmurou.
Ariel passou por Marcos, ignorando sua presença ali, o que irritou o mais velho. Chen se virou, puxando Ariel pelo braço e o prendendo contra si com força. Por ter sido um ato tão repentino, o cacheado não reagiu, apenas deixando que Marcos o guiasse até seu corpo tocar os armários. Chen o soltou, apenas para por ambos os seus braços aos lados do mais novo, o encurralando. Seu olhar era raivoso. Ele estava com raiva, isso era fato, e não se deixaria ser ignorado pelo outro. A respiração de ambos estava pesada. O clima no vestiário ficou meio tenso, afinal, eles nunca haviam brigado, e nos últimos anos uma situação como aquela era algo inimaginável. Ariel o encarava completamente confuso, até porque não entendia porquê ele estava agindo daquela forma ríspida consigo. Não foi Marcos quem passou o dia o ignorando? Daí quando finalmente lhe dirigiu a palavra, era daquela forma tão bruta?!
- Me diz. Quem é ele? - Aquilo estava começando a irritar o mais novo.
- Não. - Respondeu seco.
- Como?! - Marcos o olhou incrédulo.
- Não vou dizer o que eu não sei, porra! Eu não sei quem caralhos é aquele cara, e não sei porque ele me beijou! Foi só a porra de um beijo na mão, Marcos! Por que você não acredita em mim? - Sua voz começou a embargar.
Ele queria chorar, mas seu orgulho era maior. Contudo ainda assim não conseguiu se conter. Estava se sentindo decepcionado por estar sendo tratado daquela forma justamente por quem menos esperava. Ariel já havia sido tratado daquela mesma maneira por diversas pessoas durante sua vida, então estava acostumado. Havia se adaptado aquilo, então já não era algo que o abalava, porém por ser Marcos... Aquilo tinha um peso diferente por ser ele. Doía muito mais. O quebrava absurdamente mais. Ele virou seu rosto na tentativa falha de esconder suas lágrimas que lutavam para sair. Não iria chorar. Não se deixaria ser fraco mais uma vez, e não iria chorar na frente do asiático!
- Eu não quero que você seja de mais ninguém além de ser meu, Ariel. Você não percebe que eu tô com ciúmes de você? Quando eu chego tem um cara segurando sua mão, beijando sua mão, e a forma como ele te olhou... Como você acha que eu vou reagir? An? - O mais novo se calou porque não sabia como responder àquilo. - Me diz, Ariel!
- E-Eu... Eu não sei... - Sussurrou, finalmente deixando suas lágrimas rolarem. Não aguentava mais segurar.
- Pois é, você não sabe. Você nunca sabe. Você não sabe o quanto eu amo você, e não sabe o quanto aquilo me irritou! - Ralhou.
- Mas... Mas você não... Não falou comigo o dia inteiro... - Murmurou baixinho
- Porque eu estava com vergonha do que eu fiz. Eu te fiz mal ontem, e pra melhorar acabei de te fazer chorar... - Marcos bufou, secando gentilmente as lágrimas que molhavam o rosto do cacheado.
Chen suspirou. Estava se sentindo frustrado. Ele encostou sua testa na de Ariel, acariciando seu rosto gentilmente. Aos poucos os ânimos de ambos foram se acalmando, e a tensão entre eles foi se dissipando. Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes, apenas olhando um nos olhos do outro. O asiático sentiu seu coração se partir ao notar a maneira como Ariel parecia estar quebrado, se xingando mentalmente diversas vezes por não ter notado, e além disso, por tê-lo deixado ainda pior. Foram poucas as vezes que havia visto Ariel chorar, e saber que o mais novo estava daquela maneira vulnerável por sua causa enchia seu peito de culpa. Ele se sentia o maior idiota do mundo por tê-lo feito chorar!
- Me desculpa... Eu só... Eu perdi o controle de novo... - Sussurrou.
- Não foi culpa sua. Me desculpe também.
- Você não tem nada pra se desculpar. Já eu... - Ele limpou uma lágrima solitária que ainda escorria pelo rosto do outro, aproveitando para acariciar sua bochecha. - Eu te amo tanto que tô perdendo o controle. Você tá me deixando doido, Ari... - Ariel soltou uma risada baixinha, o que o deixou confuso. - Por que está rindo?
- É a primeira vez que você diz que me ama. - Falou meio tímido, sorrindo largo para o maior.
- Eu deveria ter dito isso há muito tempo. Eu te amo demais, Ariel. Me desculpa pelo que eu fiz, por favor... Eu te amo tanto que não consigo controlar minha raiva quando vejo alguém te tocar daquela forma... - Admitiu.
- Eu realmente não sei quem ele é. Acredita em mim. Eu também te amo demais, e juro que só tenho olhos pra você... - Ariel diz de forma meio manhosa, o que fez o asiático rir. Marcos apertou sua bochecha e o puxou para perto, depositando um beijo rápido em seus lábios.
- Você é tão fofo, sabia?
- Sabia. Você sempre me disse isso. Literalmente sempre! - Frisou.
- É porque sempre te achei muito fofo. E sabe como você ficaria ainda ainda mais fofo?
- Como?
- Sendo meu namorado. - Aquela frase o deixou sem reação.
- Seu... Namorado? - Ele arregalou os olhos.
- Sim. Você quer namorar comigo? - Sorriu.
O garoto ficou em silêncio por alguns instantes. Não porque estava hesitante ou algo do tipo, mas sim porque estava tão surpreso que não sabia como reagir. Ele apenas sorria enquanto olhava Marcos sorrindo de volta para si. Seu coração estava tão disparado que parecia que ia pular para fora de sua boca. Ele estava tão feliz com aquilo que pensava até mesmo estar sonhando. Quando se deu conta de que estava demorando demais para responder, Ariel apenas murmurou um pequeno "sim", o que fez o mais velho pular de alegria, o abraçando com força e beijando seu rosto diversas vezes...
~•~
Algum tempo depois, o casal deixou a lanchonete junto com seus outros colegas de trabalho. Eles se despediram de todos, seguindo juntos rua acima. Por terem brigado e se acertado, as coisas entre ambos estavam tão bem que eles decidiram seguir direto para a casa do asiático. Iriam aproveitar o resto da noite para comemorar, afinal estavam oficialmente namorando! O casal andava de mãos dadas enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios, se esquecendo por um momento de tudo que estavam enfrentando e o que ainda estava por vir. Naquele momento aquilo não importava... Apenas queriam aproveitar mais um do outro e seu novo status de relacionamento. Estavam felizes por finalmente estarem juntos como tanto queriam!
Depois de certo tempo, os garotos viraram em uma esquina que dava para uma pequena praça. Por ainda não passar muito das seis da noite, não estava tão escuro, porém a iluminação dos postes já se fazia presente, o que lhes dava uma perfeita visão do lugar. Ambos quase não notaram que além deles dois havia mais uma pessoa ali, só se dando conta quando ouviram alguém chamar por Ariel. O cacheado se virou e viu que era Gabriel ali. O homem estava escorado em um brinquedo, calmamente fumando um cigarro. Ele sorriu para o mais novo, acenando para ele se aproximar.
- O que caralhos ele quer? - Marcos perguntou já bravo, segurando o menor.
- Calma, amor. Ele é legal. - Disse simples, praticamente tendo que puxar o maior até o outro homem.
- Ariel, você nem conhece o cara. E se ele for um doido?!
- Eu sei que não é. Algo me diz que eu preciso falar com ele. - Disse, até que por fim o mais velho se deu por vencido.
O casal se aproximou do homem, este que sorria para eles. Ariel notou que ele havia trocado suas roupas. Horas antes Gabriel estava usando roupas simples, calça jeans e camiseta, por mais que ainda parecesse bem arrumado mesmo estando simples. Porém daquela vez ele estava usando um sobretudo preto, que cobria até quase seus pés, enquanto por baixo usava uma camisa social também preta e calça social preta. Totalmente diferente do que usava antes! E o pior: nem estava frio, porém ele estava completamente coberto!
- Oi, Ariel. Oi, cara que gosta do Ariel. - Gabriel sorriu, o que deixou Chen ainda mais irritado.
- Eu tenho nome. O que você quer com meu namorado? - A forma como Marcos frisou a palavra "namorado" fez o menor rir.
- Ciumento demais... - Ariel sussurrou baixinho, em seguida se voltando para o maior. - Aconteceu algo, Gabriel?
- Aconteceu. Você. Você tem algo que me interessou desde que pus meus olhos em você, e depois de te tocar eu tive ainda mais certeza. - Falou de forma simples, apagando seu cigarro contra a madeira do brinquedo que estava encostado.
- O que você quer com ele, cara?
- Relaxa, Marcos. Eu sei que ele é seu namorado, e eu não estou flertando com ele. - Riu.
- Como sabe meu nome? Não me lembro de ter te dito. Você é algum tipo de stalker doido? - Indagou.
- Eu me chamo Gabriel Vallini, e eu sou médium. Bom... Quase isso...
- Como assim? - Ambos perguntaram em uníssono.
- Eu senti a presença de um demônio enquanto passava em frente à sua lanchonete. Quando eu passei pela porta pude ver ele colado em você. Literalmente grudado em você. Um incubus... Tô certo?
Aquilo deixou o casal simplesmente atônito. Ambos nem mesmo sabiam o que dizer. Realmente estava certo. Ele realmente sabia sobre o demônio...
- Sim... Está... - O cacheado respondeu.
- Então. Quando eu te toquei foi pra ter certeza do que eu estava vendo e sentindo, e realmente. Você precisa se livrar desse sanguessuga o quanto antes, porque ele está te drenando feito louco. Seu espírito já está muito fraco, e talvez você não sobreviva mais aos ataques. - Falou.
Gabriel se levantou, indo até o cacheado. Ele fez o símbolo da cruz na testa de Ariel e em seguida colocou sua mão sobre ela, o que fez o garoto quase desmaiar. Quando Vallini o tocou, o garoto sentiu sua consciência sumir, mesmo que apenas por alguns instantes. Foi apenas por um breve momento, como se ele tivesse ido para longe e voltado num piscar de olhos. Ariel encarava o homem com certo receio, mas algo dentro de si dizia que a solução que tanto buscava havia literalmente o encontrado.
- Isso afastou ele por um tempo. O que você sentiu foi o demônio sendo arrancado de cima do seu corpo espiritual, por isso você foi pra longe e voltou. - Gabriel explicou.
- Você pode ajudar ele? - Era possível notar a esperança transbordando através da voz do asiático.
- Posso. Tô aqui pra isso, é meu trabalho. - Disse simples, tirando um maço de cigarros de seu bolso. Gabriel levou um dos cigarros até sua boca, o ascendendo em seguida com um isqueiro que tinha uma cruz entalhada. - Vem, vamos até minha catedral. Lá eu posso fazer o exorcismo.
Sem dizer mais nada, Gabriel começou a andar, se afastando do casal em completo silêncio. Os garotos se entreolharam, dando suas mão e logo seguindo o misterioso homem...