A/N: (Algumas partes podem não ser do agrado para alguns leitores, portanto sintam-se a vontade para pular, ou apenas estejam avisados.)
---
Em uma ala de celas numa instalação de alta tecnologia, um cela continha um tanque cheio de líquidos conservativos, ricos em proteínas de alta absorção.
Contido no tanque, um garoto caucasiano estava entubado com grandes aparelhos alojados em seu crânio, coluna e pélvis. Seus quatro membros severamente corroídos e deliberadamente destruídos.
Seus olhos negros estavam turvos e entre abertos dentro do líquido. Sua alma já havia mergulhado na insanidade, não dando ouvidos até para as vozes que o chamavam do outro lado.
No entanto um homem apareceu em sua frente através do vidro. Um doutor, como os outros.
Seus olhos borraram por um momento até que voltaram, dessa vez olhando diretamente para o garoto miserável. Suas mãos deslizaram pelo painel de controle, liberando substâncias na corrente do garoto, acordando-o.
— Isso pode ser o destino decidindo sorrir para você ou somente alguém resolvendo acertar as coisas por egoísmo. Mas saiba que tudo apartir de agora é por você.
A voz do doutor misteriosamente entrou nos ouvidos do menino, agora semi-lúcido.
Rapidamente outros pensamentos invadiram sua mente, sua pálpebra tremia por seus olhos virarem agressivamente de um lado para o outro, até que eles rolaram para trás, voltando com uma sombra mais escura que o espaço.
Múltiplas pupilas brancas se espalharam pelo globo negro dentro das pálpebras e seu corpo tremeu em adrenalina. Veias negras se formaram por seu corpo e com movimentos vorazes seus braços e pernas se debateram dentro do tanque.
Sua mão rasgou revelando os ossos deformados das mãos, transmutando em novos. Ele agarrou os cabos em seus corpo e uma membrana, negra e cheia de veias cobriu os cabos como raízes.
Em segundos o metal, e material sintético dos aparelhos e cabos foram sugados pela membrana e raízes de carne até o corpo do rapaz que tinha olhos alucinados.
Ele arrancou o tubo em sua boca e com um corpo parcialmente recomposto ele nadou até a parede de vidro. Suas mãos apalparam a placa e raízes negras se espalharam.
Seus lábios se mexeram falando uma palavra.
O vidro começou a rachar e convergir para suas palmas, sumindo em poeira ou se quebrando, liberando o líquido junto do garoto.
O doutor havia a muito sumido.
Alarmes soaram pela instalação e esquadrões de soldados desciam os corredores e afastando os cientistas e doutores, atrás da cela comprometida.
Na ala, alguns cientistas foram para averiguar a situação e se alarmaram com o estado da cela. O tanque estava vazio.
De repente eles ouviram um sussurro fraco vindo de trás. Uma voz rouca de um garoto.
— Fome... Raiva... Fome... — ele murmurava.
Quando eles se viraram uma mão pequena havia agarrado o pulso de um dos cientistas e com uma entonação, o cientista sentiu sua força ser sugada pela mão que o agarrou.
Sangue, massa, energia, tudo foi usurpado pelo garoto que parecia estar se recompondo. Seus olhos negros agora com uma pupila central em meio às milhares que dançavam por seus olhos, como se olhassem curiosamente os arredores.
Ansiosos...
Ele gritou, mas os outros rapidamente se afastaram sem remorso, prontos para fugir e deixar os soldados lidarem com a cobaia.
Mas eles não esperavam por um som grotesco de algo se rasgando, e um dos seus gritarem e cair no chão. Uma costela estava fincada em seu tornozelo.
Eles olharam para trás paralisados, a criança carregava o cadáver do cientista com um buraco na costela, agora seco como uma múmia, e suas mãos ensanguentadas, ele sorria como um lunático.
Quando os soldados chegaram no corredor da cela, viram um garoto sair nu e ensanguentado em sangue fresco carregando um braço arrancado em mãos enquanto comia um osso como um pirulito.
Seus olhos negros com múltiplos pontos brancos reluzentes foram atraídos pelos guardas. Lentamente a pupila central se moveu até o esquadrão, e, com ofegantes suspiros sua boca salivou novamente. Seu corpo demandava mais, ainda estava fraco demais.
— E-eu... sinto, FOME/RAIVA!! — duas linhas de vozes ecoaram, uma do garoto, e uma cacofonia de vozes de homens e mulheres de todas as idades saíram da boca do garoto ao mesmo tempo.
Os soldados abriram fogo sem hesitação, transformando o frágil corpo do garoto em uma esponja cheio de poros.
---
Na remoção do corpo, ele foi ensacado e transportado pelos corredores por dois soldados, o resto se dispersou verificando as celas e o local do incidente.
A sala antes branca ficou pintada em grandes poças vermelhas, cadáveres secos e outros mutilados a mordidas com partes faltando não importa onde procurassem.
O saco sendo transportado pelos de repente se mexeu... E uma série gritos com um único som de gargalhada ecoou pelos corredores que misteriosamente pararam de soar o alarme.
Longas veias negras se alastrando pela instalação.
— Um nascimento digno da maior abominação do universo. Mas é engraçado essa coisa ser um humano. O mesmo planeta natal que o Abantesma... — uma figura enigmática disse ao longe numa montanha, seu chapéu negro e sua mão na bengala constratando com o vibrante verde da vegetação.
— Como uma anomalia como essa pôde alterar a história? Eu não me recordo desse evento.
Com essas palavras a figura desaparecia do local e tempo, retornando ao vazio.