Embora não houvesse Raze no templo, o resto das crianças tinha que continuar o dia como de costume. Em vez de ter Raze como parceiro na cozinha, Simyon tinha Safa lá no lugar.
"Você não é ruim!" exclamou Simyon, olhando para Safa descascando as batatas. "Mas seu irmão tem bastante habilidade nisso. Ele sempre cozinhava em casa para a sua família?"
Safa parou por um momento e olhou diretamente nos olhos de Simyon. Ela ficou um pouco surpresa com as palavras dele, porque Raze nunca tinha cozinhado em sua casa. No entanto, ela supôs que talvez Simyon estivesse apenas tentando ser gentil sobre o irmão e puxar conversa. Com esses pensamentos, um silêncio constrangedor os envolveu.
"Ah, certo, você não pode falar. Eu sou tão idiota," Simyon disparou ao bater na própria testa com a palma da mão, esquecendo que estava segurando uma faca. Uma dor aguda imediatamente seguiu, e ele percebeu que tinha se cortado acidentalmente. Era pequeno em tamanho e não muito profundo, mas ardendo como um corte de papel.
Virando a cabeça rapidamente, Safa saltou para encontrar algo para limpar o ferimento. Havia toalhas de cozinha disponíveis, que ela molhou com água limpa que havia sido fervida e depois usou para dar leves batidinhas na lesão de Simyon.
"Erghhh, obrigado," disse Simyon. "Sabe, você é muito mais gentil que seu irmão. Imagino que se isso acontecesse entre nós dois, ele apenas diria algo como, 'Nunca se cortou antes?' e continuaria a descascar batatas como se nada tivesse acontecido. Ou talvez ele zombasse, 'Espero que não vá usar essa faca para continuar a descascar batatas.'"
Safa riu da imitação que Simyon fez de Raze, pois ela podia facilmente imaginar seu irmão reagindo dessa maneira. Pelo menos a nova versão dele.
A dupla retomou suas tarefas. No silêncio prevalecente, que era incomum para alguém tão falante quanto Simyon, ele sentiu a necessidade de falar.
"Sabe, é bom que você tem Raze, e ele têm você. Vocês dois podem cuidar um do outro neste lugar. E se vocês saírem, pelo menos não estarão sozinhos."
Simyon olhou para as chamas dançando sob a panela, fervendo a água. Isso estava trazendo de volta certas memórias para ele, especialmente quando pensava em família. "Eu costumava ter uma irmã, e claro, um pai e uma mãe," ele começou. "Mas houve uma quebra de portal em nossa vila. Monstros surgiram, matando todos, incluindo minha família. No final, fui salvo por um guerreiro Pagna errante, e fui trazido para cá.
"Você pensaria, com uma história de fundo como a minha, que eu seria o personagem principal de algum programa ou história," Simyon acrescentou, cerrando o punho tão forte que tremia. Ele estava lutando para conter suas emoções e teve que engolir seus sentimentos antes que algo mais saísse de seus olhos.
"Eu pensei que poderia usar a determinação de perder minha família para me tornar um forte guerreiro Pagna, para prevenir que o que aconteceu comigo acontecesse com outros. Mas como você pode dizer pelas minhas habilidades em artes marciais, eu não sou material para personagem principal. Pelo que parece, nem seu irmão."
Então ele olhou para Safa.
"Safa, acho que pode ser você. Talvez você seja a pessoa que precisa proteger seu irmão, então se mantenha forte, tá bom?"
Enquanto outros poderiam ver Raze como fraco, Safa não concordava, especialmente não com o Raze transformado. Mesmo assim, ela assentiu em resposta a Simyon, sem querer chateá-lo. Ela apreciava sua presença e lhe ofereceu um sorriso reconfortante.
Quando os preparativos para o café da manhã estavam quase concluídos, Safa arrumou a mesa com pratos e talheres, enquanto Simyon era responsável por servir os pratos. Ele ouviu a porta se abrir atrás dele.
"Ah, Sr. Kron, estará pronto em cerca de dez minutos," Simyon anunciou enquanto servia batatas e vegetais fervidos em uma tigela. As refeições eram simples, mas Simyon supôs que mesmo que o Sr. Kron não fosse pobre, alimentar dez crianças não era tarefa fácil.
"Cheira bem," veio uma voz.
Ao ouvir a voz, a irritação incomodou Simyon. Virando-se, seus medos foram confirmados: era Gren, acompanhado pelos dois gêmeos.
"Você nunca faz trabalho de cozinha. Não tem motivo para estar aqui," Simyon apontou.
"Você está certo. Só queríamos ajudar por uma mudança," Gren respondeu nonchalantly, encolhendo os ombros e pegando uma tigela de comida.
"Você sabe, recentemente demos boas-vindas a uma aluna especial. Ela é incrivelmente talentosa. Todo mundo está comentando sobre ela, especialmente as outras crianças," Gren comentou, recebendo algo de Giyo.
Em suas mãos, ele segurava um cogumelo roxo adornado com manchas verdes. Com cuidado, ele começou a esfarelar o cogumelo, tornando sua cor distintiva menos perceptível.
"Uma aluna única merece comida única, você não concorda, Simyon?" Gren sorriu maliciosamente, espalhando os pedaços de cogumelo sobre uma única tigela. "Vamos reservar isso para a nossa convidada especial."
Simyon olhou para o chão, evitando o olhar de Gren. O riso de escárnio do trio e seus sorrisos anteriores reviravam seu estômago. Ainda assim, a causa mais proeminente de seu desconforto eram seus próprios sentimentos de inadequação.
'Gren está tão confiante que acredita que pode fazer isso diante de mim sem consequências?' Simyon ponderou, finalmente levantando os olhos para confrontar o trio. 'Acho que em seus olhos eu sou tão fraco... da última vez, eu também não disse nada. Se eu fizer o mesmo agora, será que a mesma coisa acontecerá contigo.'
Uma conversa surgiu na cabeça de Simyon, quando falava com Raze e conversava com a irmã, sua resposta para toda essa situação de antes.
'Se Raze não vai defender você, então acho que cabe a mim,' ele pensou.
"Gren, eu queria fazer isso há tempos!" Simyon gritou.
Avançando, ele esticou o punho e errou Gren completamente. Gren desviou do golpe, olhando para Simyon com desprezo.
"Você tentou me bater, seu verme inútil!" Gren retrucou, contra-atacando com um soco potencializado por Qi que fez Simyon voar para trás, sangue jorrando do seu nariz.
"O que deu em você? Foi lavagem cerebral feita por aquela garota?" Gren zombou. "Desde que ela chegou, as coisas têm estado estranhas. Ela terá que ser tratada. Quanto a você," ele continuou, agarrando Simyon pela camisa, "precisamos que isso pareça um acidente, ou o Sr. Kron pode se envolver. Você vai ficar calado, não vai?"
Vasculhando o cômodo, os olhos de Gren se fixaram na panela de água fervente. "Perfeito," ele refletiu, arrastando Simyon em direção à panela. Seus sapatos raspavam contra o assoalho de madeira. "Se isso te escaldar, justificará suas lesões."
De repente, as portas duplas se abriram. Quando Gren girou para identificar o intruso, um soco rápido estava se aproximando dele, muito mais rápido que o soco de Simyon.
'Não consigo desviar!'
Gren recebeu o impacto total do golpe, sua cabeça virando para o lado, desviando parte da força. Quando ele levantou o olhar, raiva distorcia suas feições, veias saltando do lado de sua cabeça.
"É você! Sua vaca, eu vou te matar!" Gren gritou para Safa.
Largando Simyon, sua visão embaçada enquanto avaliava a situação. 'Droga... Ela está em desvantagem numérica. Ela não vai conseguir lidar com Gren e os gêmeos. Eu tenho que parar isso de alguma forma, antes que ela seja realmente machucada. Eu não posso deixar Raze perder a irmã dele como eu perdi a minha!'