```
Memórias inundaram a mente de Raze, como um torrente de emoções, emoções que ele havia trancado há tanto tempo. Eles o deixavam nauseado toda vez que os revisitava.
"Quando tudo começou, minha vida terrível? Foi meu pai? Me vendendo para aqueles homens... toda noite? Não, isso não foi o que me quebrou. Foi..."
Entretanto, as vivas memórias logo foram superadas por algo mais: rostos que ele não reconhecia, lugares onde nunca estivera e nomes que tinha certeza que nunca ouvira antes.
De repente, seus olhos se abriram, a visão embaçada momentaneamente.
"Por quê... por que estou em dor? Meu pescoço dói, e parece que... não consigo respirar!"
Conforme sua visão ficou mais nítida, parecia escurecer simultaneamente. Eventualmente, um par de olhos esbugalhados se tornaram claros, encarando-o diretamente. Agora, ele reconhecia a sensação de dedos apertados ao redor de sua garganta.
"Eu já escapei da morte antes, e agora isso? Estou sendo estrangulado, enfrentando a morte novamente!", pensou Raze. "Se eu fosse morrer, eu nunca escolheria algo tão doloroso! Eu não vou morrer novamente!"
Ele viu seu atacante: um homem vestido com roupas negras, seu rosto obscurecido, deixando apenas seus olhos visíveis, reminiscente de um ninja.
Lutando, Raze pressionou suas mãos contra o estômago do homem.
"Vamos ver como você gosta de ter suas entranhas arrancadas!"
Raze empurrou, mas nada aconteceu. Nenhuma explosão, nenhuma reação de seu agressor, que continuou apertando o aperto no pescoço de Raze.
"Eu esgotei toda a minha magia usando aquele feitiço? Droga... Eu realmente vou morrer..."
A escuridão invadiu sua visão, e ele sentiu a consciência se esvaindo. No entanto, ele sentiu a força do homem enfraquecer por algum motivo.
"Parte do meu feitiço surtiu efeito? Esta é a minha chance."
Vendo um caco quebrado de um prato pelo canto do olho, ele o agarrou, enfiando-o no lado do homem. O homem grunhiu, seu aperto enfraquecendo.
Sangue escorreu de onde o caco também cortou a mão de Raze, mas a adrenalina anestesiou a dor. Ele retirou o caco, esfaqueando repetidamente até que a força do homem falhasse completamente e ele colapsasse sobre Raze.
"Eu consigo respirar!" Raze ofegou, mas o peso em seu peito se sentia opressivo. Ele esperou a força retornar antes de empurrar o homem para o lado e se levantar com dificuldade.
Exausto, Raze bufou e respirou com dificuldade, sentindo como se pudesse desmaiar. Após alguns momentos, a dor desvaneceu, e ele avaliou seus arredores.
O homem imóvel de preto ostentava lesões além das feridas infligidas por Raze. Raze tinha visto corpos suficientes para saber que este homem estava realmente morto.
"Arghh!" Uma dor aguda atingiu sua cabeça, memórias entrando, mais claras desta vez. Examinando suas mãos, a pele lisa contava uma história. Eram lisas, suas mãos eram responsivas quando as abria e fechava.
"O feitiço... ele realmente funcionou. Eu renasci!"
Pela aparência, ele parecia habitar um corpo jovem. De um adolescente ou de um jovem adulto pelo menos. Era difícil dizer sem se olhar em um espelho. "Eu tinha minhas dúvidas sobre aquele livro, mas funcionou!", refletiu Raze. "Graças a Deus, estou jovem. Quem sabe como teria sido se eu tivesse envelhecido de novo? Ou no corpo de um homem acamado!"
Sua alegria foi temperada pela sombria realidade ao seu redor. Sua primeira experiência nesse novo corpo havia sido um encontro com a morte, nada auspicioso.
Vasculhando o quarto, Raze tentou juntar os eventos. O modesto quarto tinha tábuas do chão danificadas pela água e paredes mofadas. Utensílios de madeira grosseiros e comida pela metade indicavam uma era passada. Sentindo-se como se tivesse voltado no tempo.
"Eles estavam no meio de uma refeição," Raze notou.
Por "eles," ele queria dizer os outros três corpos: um homem adulto, uma mulher e um adolescente, cada um com ferimentos fatais. As memórias sugeriam que eram a família do seu novo corpo. Uma pontada de tristeza surgiu, embora Raze tentasse suprimi-la.
"Eles foram assassinados, provavelmente pelo homem que tentou me matar. Mas por quê?"
Suas novas memórias eram fragmentadas. Ele se lembrou de sobrenomes, o que parecia inútil, mas não de suas vidas ou experiências. Contudo, ele se lembrou do seu nome: Raze.
"Talvez seja coincidência este corpo ser chamado Raze," ele ponderou. "Ou talvez o feitiço tenha garantido isso. De qualquer forma, eu tive sucesso."
Erguendo um punho, ele tentou canalizar magia. Seus olhos estavam fixos, ele estava se concentrando, e se concentrando, As veias estavam saltando ao lado de sua cabeça, mas não havia nada. Deixando-o mergulhar profundamente em si mesmo. Depois de alguns momentos, começou a fazer sentido.
'Agora faz sentido, por que meu feitiço falhou antes,' Raze refletiu. 'É porque este garoto não possui um núcleo de mana. E isso significa que ele também não escolheu um atributo!'
No início, Raze se desanimou. Habitar o corpo de uma pessoa sem núcleo de mana significava que ele estava desprovido de magia, e ele teria que embarcar na longa e árdua jornada do zero. Os anos meticulosos que ele investiu para ascender como um mago de 9 estrelas pareceram evaporar num piscar de olhos. Era como se ele tivesse sido reiniciado ao ponto de partida.
Ainda assim, à medida que investigava mais profundamente as implicações, ele percebeu que poderia ser uma bênção. Se ele tivesse habitado um corpo com um núcleo de mana pré-existente, esse indivíduo teria, sem dúvida, um atributo mágico inato.
Em sua vida anterior, Raze tinha uma predisposição natural para a magia do vento, tornando-o adepto a dominar seus feitiços. Mas com o passar do tempo, ele se inclinou para o Atributo das Trevas. Era uma forma arcaica de magia, perseguida por poucos magos. Ele se tornou um enigma como o único mago de 9 estrelas que se dedicou exclusivamente à Magia das Trevas, ganhando um nome sussurrado em reverência e medo, o Mago Negro.
Sua inclinação inata para a magia do vento, no entanto, garantiu que sua proficiência em Magia das Trevas sempre ficasse um pouco aquém. Mas agora, com essa tábua rasa, ele poderia corrigir as inadequações do passado.
Seu olhar se fixou no corpo inerte adjacente a ele. Sorrindo de orelha a orelha, Raze assumiu uma postura meditativa no chão frio. Usando o sangue que escorria de um ferimento em sua palma, ele meticulosamente esboçou um círculo mágico ao seu redor.
'Por eônios, acreditava-se que a afinidade de alguém pelos atributos era meramente um ato caprichoso do destino. Ao criar seu núcleo - o alicerce de toda magia - o núcleo brilharia em uma cor baseada na afinidade mágica de alguém.'
'No entanto, conforme a história se desenrolava, foi descoberto que certos atos poderiam direcionar a formação do núcleo de mana. Contanto que ainda não tivesse sido feito. Consumir pratos picantes poderia acender o fogo, enquanto uma queda perigosa de uma grande altura poderia despertar a magia do vento. Mas para o enigmático Atributo das Trevas, o caminho para um núcleo de mana preto como o carvão era pavimentado com um ato mais sinistro... assassinato.'
"HAHAHA!" O riso desvairado e maníaco de Raze reverberou pelo ar. "É este o próprio desígnio do destino? É como se o próprio cosmos estivesse direcionando meu caminho!"
Com o toque final em seu círculo mágico, a concentração de Raze se aprofundou. A energia ambiente parecia dançar, girando e enrolando-se ao redor dele, gradualmente sendo absorvida.
Ele sentiu pequenas esferas de poder se contorcendo dentro de si, convergindo perto de seu coração - o berço do núcleo de mana de um mago. A energia coalesceu, condensando-se em uma esfera potente.
Após o que pareceu horas, o processo alcançou seu clímax. Aninhado dentro de Raze estava um núcleo de mana preto profundo, envolvendo seu coração.
Seus olhos se abriram de repente, cintilando com triunfo.
"O Mago Negro, retornou."
```