A visão diante dela era tão vívida quanto o dia e ela não pôde deixar de rir baixinho diante desse milagre. A montanha de itens que coletara secretamente ao longo dos anos estava exatamente como a última vez que a vira. Aquele divindade tinha feito algo digno de seu louvor, afinal de contas.
"Obrigada, divindade antiga." Ela juntou as mãos em uma posição de oração e disse.
"De nada, e pare de me chamar de velho." A voz da divindade ressoou em sua mente.
"E pare de bisbilhotar meus pensamentos." Ela reclamou.
Quando não ouviu resposta, ela acessou seu espaço e encontrou um par de botas marrons empoeiradas, mas novas. Pegou também um jeans e uma camiseta larga. Já que tinha sido informada que possuía zero de força mental, portanto sem proteção contra qualquer um que pudesse atacar sua mente, ela foi à moda antiga e escondeu um revólver comum e uma adaga da Terra na sua cintura.
Riana já estava fora há algum tempo e provavelmente não tinha planos de voltar com aquela água tão cedo. Ela estava irritada, mas tinha garrafas de água fresca empilhadas em seu espaço. Pegou uma, arrancou o rótulo caso alguém quisesse observá-la de perto e então saiu do quarto.
Neste planeta, seu pai gastou noventa por cento de suas economias para consertar esta velha casa grande. Era inclinada em algumas áreas, os pisos eram marrons. Ou estavam sujos ou eram os azulejos de mais baixa qualidade que existiam. Não havia decorações, as luzes piscavam e todos os utensílios que viu eram velhos ou quebrados.
"Scarlet Su, você realmente arruinou a vida de sua família." Ela disse baixinho para si mesma.
Ao observar mais a casa, seu coração ficou pesado. Sua mente lembrou dos belos prédios que vira na capital e ela suspirou.
Ao menos ela tinha seu espaço; ela poderia usar os materiais lá para dar um up na casa, pouco a pouco.
Seu estômago roncou, lembrando-a de que precisava comer e ela pegou um pedaço de carne seca do seu espaço e mastigou enquanto andava.
Seguindo as memórias da antiga Scarlet, ela encontrou a sala de estar e era tão decepcionante quanto o resto da casa. As cadeiras eram em xadrez e surradas; alguém poderia pensar que ela tinha vindo para um mundo muito desolado, em vez de um interestelar.
Sua mãe estava lá, assistindo alguém cantar na tela da televisão enquanto massageava sua barriga.
Ela tossiu duas vezes para notificá-la de sua presença.
Sua mãe, Mega Su, virou-se e a viu. Então pôs um sorriso hesitante no rosto e disse, "Scarlet, você acordou."
A maneira como ela disse isto era tão casual que se pensaria que ela tinha estado dormindo normalmente em vez de estar em coma por algum tempo.
"Olá, mãe," ela a cumprimentou sem emoção, ela soava como um robô de certa forma. "Você viu o Justin?"
Justin era seu filho, o filho que Scarlet ignorou porque ele era inútil para ela. A divindade antiga tinha dito, 'seja gentil com essa criança.' Ela só podia presumir que Justin era essa criança e ir atrás dele.
Mega Su ficou surpresa e não pôde esconder sua surpresa que Scarlet estava perguntando por Justin.
"Ele foi para a estação de coleta de lixo com seus irmãos para ver se encontram algumas coisas para consertar e vender na rede estelar por dinheiro."
Um momento de silêncio constrangedor entre mãe e filha seguiu. Mega estava esperando que Scarlet dissesse alguma coisa. Desde que chegaram a este planeta, os humores de Scarlet oscilavam entre a raiva e a insanidade.
Eles todos lhe davam uma ampla margem quando a viam se aproximando porque você sabia quem receberia o peso de sua raiva em qualquer dia dado. Uma vez que ela terminava com a raiva, as lágrimas seguiam. Mega não sabia mais como se entender com sua filha.
Scarlet sorriu e disse, "Okay, obrigada, vou ir encontrá-lo."
Ao se afastar, Mega sussurrou para si mesma, "Ela acabou de me agradecer e sorrir? Ela está planejando algo nefasto? Tenho que avisar os outros." Ela usou o terminal em sua mão para chamar seu filho mais velho e alertá-lo.
Enquanto isso, Scarlet estava grata por estar fora de casa e longe da Mega. Mesmo que ela tivesse ocupado o corpo da Scarlet original e tivesse suas memórias, ela não herdou automaticamente o amor e a proximidade familiar.
Talvez fosse porque a Scarlet original desprezava sua família e não tinha amor por eles. Para ela, eles eram como troncos pesando-a e impedindo-a de alcançar o sucesso. Scarlet acreditava que deveria ter nascido princesa na família real. Se não, então talvez para um duque ou um visconde. A nobreza de alto escalão, para ela, era a única que importava; seu pai, um barão, não era nada especial. Não importava o que sua família fizesse para ajudá-la ou agradá-la, ela era desagradecida e condescendente com eles. Não admira que desistiram dela!
Como a nova Scarlet, ela não pôde deixar de julgar a antiga. "Ela realmente era uma pessoa terrível."
Embora ela tivesse muitos estragos a reparar, a sensação acolhedora do sol batendo em seu rosto e o ar fresco arrancaram um sorriso dela. Avidamente, suas narinas sugaram o oxigênio como se ele fosse escapar dela a qualquer momento.
Ela pegou uma caixa de suco do seu espaço, o tipo de caixa de suco que era popular entre as crianças antes de o mundo ir para o brejo. Com paixão, ela sugou o suco da caixa através do canudinho sem se importar se alguém a visse.
Este era o seu planeta; ela poderia fazer o que quisesse. A família real tinha dito que era um presente de casamento para ela e seu marido para encobrir o fato de que eles a tinham banido. No entanto, ela ainda tinha que pagar impostos ao império assim como todos os outros planetas do império.
O Império Estelar do Sol controlava nove planetas e este planeta estrela azul era um dos nove. O Planeta Central, onde morava a família real, era a cidade capital do império.
A estrela azul era um lixão para o excesso de lixo de outros planetas. Os habitantes eram poucos e pobres. Tinha uma população de cerca de duzentos mil habitantes e metade deles trabalhava na reciclagem de lixo.
Scarlet tinha uma pergunta em mente, como ela deveria pagar os impostos assim?