Uivos arrepiantes preencheram os ouvidos de Evie assim que a porta da carruagem foi fechada. Seus olhos ainda estavam arregalados e sua mão ficou suspensa no ar numa tentativa falha de impedir que seu marido partisse. Ela sabia apenas pelos sons monstruosos que as bestas haviam chegado. Por quê? Ainda nem era noite!
A garganta de Evie secou. Seu rosto ficou ainda mais pálido ao perceber que os sons estavam se tornando mais altos e mais próximos. As bestas estavam se aproximando e parecia que não eram apenas duas ou três delas. Soava como se toda uma tribo viesse atrás deles. Suas mãos voaram para seu coração enquanto o medo se espalhava por todo o seu corpo. O que iria acontecer? Ela iria morrer ali?
Sons abafados do que parecia ser uma espada cortando carne preencheram o ar, e os grunhidos se tornaram mais violentos. Ela sentiu os trovões sacudindo a terra que faziam a carruagem tremer. Ela queria ouvir a voz de Gavriel, mas tudo que podia ouvir eram os esmagadores sons da batalha que ela nunca quis ouvir. "Por favor, não se machuque! Você não pode me deixar aqui sozinha! Me avise que você ainda está aí!" Evie murmurou enquanto tremia no chão da carruagem.
Ajoelhada no chão, Evie arrastou-se em direção à porta com o pouco de força que conseguiu reunir. Sua mente e corpo estavam adormecendo tanto pelo medo quanto pelo frio. Tudo que ela queria naquele momento era saber que seu marido ainda estava vivo. Os ruidosos e bárbaros barulhos desvaneceram em segundo plano em sua mente turva à medida que ela se concentrava em chegar à porta para procurar seu marido.
Com as mãos trêmulas, Evie alcançou a porta, mas antes que pudesse tocá-la, a carruagem chacoalhou novamente devido ao impacto de algo grande - esperançosamente uma besta morta - batendo contra ela, fazendo com que fosse lançada de volta à parede oposta.
Evie soltou um grito ao se chocar contra a parede. Parecia que seu pior pesadelo voltara à vida - o pesadelo mais aterrador que ela já tivera. Anos atrás, Evie foi atacada por vampiros enquanto viajava e, após essa experiência, ela reviveu aquele momento muitas vezes em seus pesadelos. Mas naquela época, sua mãe estava com ela e muitos guardas viajavam com eles para proteção. A luta naquela ocasião foi feroz e Evie estava aterrorizada, mas sua mãe a segurou em seus braços o tempo todo, assegurando-a de que os guardas eram soldados incríveis e que ficariam bem, até que a luta terminasse.
Desta vez era completamente diferente. Ela não tinha ninguém para se agarrar. Ninguém estava com ela nessa situação horrível dizendo que ela ia ficar bem, que derrotariam seus inimigos e ainda mais aterrorizante era saber que eles não tinham guardas. Mesmo que seu marido fosse um príncipe vampiro, será que ele realmente poderia enfrentar tantas bestas e sobreviver? E se… e se seu marido já estivesse…
O medo em seu coração era demais e estava cada vez mais difícil para ela respirar. Ainda assim, ela rastejou em direção à porta novamente, mas no momento em que tocou a porta, percebeu que seu mundo se tornou estranhamente silencioso. Tremores sacudiram o corpo de Evie e ela engoliu em seco. O que aconteceu? Acabou? Ele está bem?
Evie mordeu os lábios trêmulos e empurrou a porta para abri-la. O vento gelado a recebeu, mas ela não congelou por causa do frio, ela congelou ao ver o que jazia diante dela.
Bestas enormes, peludas, sangrentas e de cor cinza-escuro estavam espalhadas pelo chão. Pareciam lobos gigantescos. Partes dos corpos das bestas estavam espalhadas pela neve branca pintando o chão de vermelho onde jaziam. Evie também avistou uma perna de homem que ela supôs, e até rezou para que fosse do cocheiro e não de seu marido, próxima à cabeça de uma das bestas. A visão fez a já pálida Evie ficar quase tão branca quanto uma folha de papel. O horror espalhado diante de seus olhos a fez sentir o corpo completamente adormecido a ponto de não saber se ainda estava respirando.
E então, lá estava ele, o príncipe vampiro que ela tanto queria ver. Ele estava em pé no meio de três grandes bestas que haviam caído ao seu redor. Ele estava imóvel como uma pintura, o peito arfando pelo esforço enquanto vasculhava os arredores, segurando a espada ereta diante dele. Sua espada estava pintada de escarlate e seu casaco preto dançava ao vento atrás dele.
Quando ele se virou e olhou para ela, o mundo parou abruptamente. Seus olhos, que antes pareciam um par de calmas luas prateadas, desapareceram. Foram substituídos por um par intenso e vermelho-sangue. Aqueles eram os olhos dos monstros tanto em sua realidade quanto em seus pesadelos. Ela sentiu como se o deus da morte a estivesse encarando e seu corpo caiu para trás no chão da carruagem.
Quando ele se moveu em direção a ela, o corpo de Evie recuou instintivamente até que suas costas batessem na parede oposta da carruagem. Ela estava como uma coelhinha tremendo de medo porque um lobo selvagem a avistara e agora estava se aproximando para dilacerá-la e fazer dela sua refeição.
O homem parou por alguns segundos ao ver sua reação, mas continuou se aproximando da carruagem, parando ao lado da porta. Evie estava com o rosto enterrado nos joelhos, como se não vê-lo pudesse diminuir seu medo. Ela se abraçou em posição fetal, tremendo incontrolavelmente.
Gavriel olhou para ela e a visão dela fez com que ele pensasse que ela era como uma pequena coelhinha branca encolhida de medo porque um lobo faminto a havia encurralado para sua derrota. Ele apertou as mandíbulas, mas manteve a calma enquanto limpava silenciosamente e embainhava sua espada.
Ele permaneceu de pé junto à porta. "Evielyn," ele chamou. Sua voz era gentil. "Já acabou. Não precisa mais ter medo. Estou aqui, não fique assustada."