Naoya se aproximou de Mayumi, juntando toda a coragem que tinha.
— Mayumi… — ele começou, sua voz um sussurro carregado de nervosismo.
Mayumi, com uma expressão furiosa, ergueu os olhos para ele enquanto desarrumava sua mala.
— O que foi, Naoya?
Sua voz cortante deixava claro que não estava interessada em papo.
— Precisamos conversar, Mayumi — disse Naoya, tentando encontrar alguma firmeza em suas palavras.
Mas Mayumi respondeu com frieza: "Não temos nada para conversar, Naoya." Sua voz era tão gélida quanto o olhar que dirigia a ele.
— Eu posso explicar.
Ao ouvir aquelas palavras Mayumi se virou e se aproximou de Naoya fazendo com que ele fique contra a parede.
— E o que você tem para explicar? Vai explicar o quê?
Algumas horas antes…
Enquanto Naoya estava indo em direção ao local do encontro com os agentes do governo, ele não deixou de pensar sobre como explicaria a relação dele com Naomi e também como o mal entendido que rolou ao explicar sobre o relacionamento com Mayumi, sendo sincero, ele não sabia o que realmente sentia por Mayumi e nem conseguiria cumprir a promessa com Naomi.
Enquanto Naoya se aproximava do local do encontro com os agentes do governo, ele sentia um peso crescente em seus ombros. A confusão em seu coração e mente parecia se intensificar a cada passo. Ele sabia que teria que enfrentar não apenas os agentes, mas também suas próprias emoções e a confusão que havia criado.
Naoya tentou organizar seus pensamentos enquanto caminhava. Ele sabia que precisava ser honesto, tanto consigo mesmo quanto com os outros. Mas como explicar a complexidade de seus sentimentos? Como explicar a conexão com Naomi e a incerteza em relação a Mayumi?
À medida que se aproximava do local do encontro, Naoya sentiu uma mistura de nervosismo e determinação. Ele sabia que teria que enfrentar essas questões de frente. Não podia continuar evitando ou fingindo que tudo estava bem.
Com um suspiro profundo, Naoya adentrou o local do encontro, pronto para enfrentar o que quer que viesse pela frente.
Naoya chegou à estação K com um coração pesado e uma mente tumultuada. Ele avistou Mayumi de longe, conversando com alguns outros agentes do governo. Seu coração se apertou ao vê-la, lembrando-se das palavras não ditas e das promessas não cumpridas.
Com determinação, Naoya se aproximou dela, pronto para esclarecer tudo, mas quando tentou chamar sua atenção, Mayumi o ignorou completamente, como se ele fosse invisível. A raiva borbulhou dentro dele, misturada com a frustração de ser tratado com tal indiferença.
Mesmo assim, Naoya não desistiu. Ele tentou novamente, chamando o nome de Mayumi mais uma vez, mas ela continuou a conversar com os outros agentes como se ele não estivesse ali. Cada tentativa frustrada só aumentava a raiva e a confusão dentro dele.
Naoya sentiu-se como se estivesse preso em um turbilhão de emoções, incapaz de fazer com que Mayumi o ouvisse, incapaz de explicar a verdade por trás de seu relacionamento com Naomi. E enquanto a tensão entre eles continuava a crescer, ele percebeu que teria que encontrar uma maneira de romper esse muro de silêncio antes que fosse tarde demais.
Quando a palestra começou, os casais foram organizados em pares e, em seguida, iniciaram com uma breve explicação sobre o que era o "fio vermelho" e como os casais eram unidos por ele. Após essa breve apresentação, um vídeo foi exibido em um telão.
— Naoya, é sério isso que ele estão passando p*rno para adolescentes?
— Isso de alguma forma é estimulante, será este o motivo deles?
Enquanto Naoya tentava conter seus impulsos juvenis, ele deu uma rápida olhada pelo auditório e notou que todos os outros casais estavam se beijando, exalando uma paixão ardente. Ele olhou para Mayumi, corado, e percebeu que ela estava inquieta.
— Naoya... eu... você quer?
— Mayumi, querer o quê?
Mayumi se aproximou lentamente de Naoya, colocando sua mão sobre a dele, e se aproximou lentamente. Ele fechou os olhos, apenas consentindo. Quando seus lábios estavam a centímetros de se tocarem, seu telefone tocou. Uma ligação havia interrompido o momento.
Mayumi se afastou desapontada, mas tentou disfarçar a frustração.
— Pode atender se quiser, eu não me importo.
— Me desculpe, Mayumi.
Naoya então ligou o visor e notou que Naomi estava ligando para ele. Ele resolveu atender.
— Alô?
— Nao-kun, podemos sair juntos em um encontro neste fim de semana?
Aquela pergunta fez com que Naoya corasse e ficasse sem jeito para responder; ele então respirou fundo.
— Desculpe, Naomi, eu não posso sair com você em um encontro.
Ao dizer estas palavras, Naoya sentiu uma aura assassina vindo de suas costas. O medo o dominou por alguns momentos. Quando Naoya olhou para Mayumi, ela deu um sorriso, e um arrepio percorreu seu corpo. Sua atenção foi tomada por Naomi, que o estava chamando constantemente do outro lado da ligação.
— Naoya Akagawa, você está me ignorando de propósito?
— Me desculpe, Naomi, eu realmente não quis te ignorar, mas estou em um acampamento com a Mayumi.
— Então me desculpe, eu não quis atrapalhar.
Quando Naoya estava prestes a responder, a chamada foi encerrada, cortando o que ele estava dizendo. Ele ficou com medo de olhar para Mayumi novamente, mesmo sentindo a aura assassina que ainda emanava dela. Ele tentou esperar um pouco para tentar um diálogo ou uma explicação.
Naoya sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto tentava encontrar as palavras certas para quebrar o silêncio tenso entre eles. Com coragem, ele finalmente se virou para Mayumi e disse:
— Mayumi, eu…
Antes que Naoya pudesse continuar, um agente do Ministério tomou o microfone, preparando-se para dizer algumas palavras. Naoya sentiu-se interrompido, mas decidiu esperar até que o agente terminasse para continuar sua tentativa de esclarecer as coisas com Mayumi.
— Olá a todos, é uma imensa satisfação conhecer todos vocês, futuros casais, assim como seus pais e seus ancestrais estavam sentados nesta mesma cadeira ouvindo estas palavras.
O sistema de casamento intitulado 'O Fio Vermelho', implantado pelo governo, começou há muitos anos, quando o Japão enfrentou sua primeira grande crise: a queda na taxa de natalidade. Esse evento levou a uma redução na taxa de natalidade para níveis críticos. Preocupado com a população, o governo decidiu criar o Ministério da Saúde e Bem-Estar, que consistia em unir casais com base nos resultados de vários estudos e exames. Utilizando tecnologia de última geração, o governo transformou essa nova modalidade em lei, surgindo assim os 'avisos de casamento'.
Com o passar dos anos, o sistema de casamento "O Fio Vermelho" se tornou uma parte fundamental da sociedade japonesa. Os avisos de casamento eram emitidos pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar, baseados em uma análise complexa de dados genéticos, perfis de personalidade e compatibilidade emocional.
Inicialmente, houve resistência por parte de alguns setores da sociedade, que viam a intervenção do governo em assuntos pessoais como uma violação dos direitos individuais. No entanto, à medida que as taxas de natalidade começaram a aumentar e a estabilidade social melhorou, muitos começaram a aceitar o sistema como uma solução pragmática para um problema demográfico grave.
Os casais que receberam os avisos de casamento eram incentivados a se encontrarem e se conhecerem antes de tomar uma decisão final. Alguns encontravam amor genuíno e conexão profunda, enquanto outros enfrentavam desafios para se adaptarem a um relacionamento forçado pelo governo.
No entanto, à medida que as gerações cresceram sob o sistema "O Fio Vermelho", surgiram questões sobre a liberdade individual e a autodeterminação. Alguns jovens começaram a questionar se o sistema realmente levava em consideração seus desejos e aspirações pessoais, ou se era apenas uma maneira de garantir a continuidade da sociedade japonesa.
Essa tensão entre tradição e modernidade, entre o bem-estar coletivo e a liberdade individual, criou um cenário complexo e fascinante para a sociedade japonesa do futuro. A partir daqui, vocês terão agora um momento para definirem o que irão fazer, sendo sincero, terão sua primeira noite juntos.
Após estas palavras, o agente deu uma pequena risada e encerrou a palestra, dispensando todos para seus quartos, mas um em específico foi chamado para uma conversa. Naoya não havia entendido porque havia sido chamado por eles.
— Então, Akagawa-san, como está indo a convivência com sua esposa?
Diante da repentina pergunta daquele agente, ele não teve como responder de imediato e preferiu manter-se em silêncio. O agente, percebendo o silêncio, deu um pequeno sorriso e se levantou do sofá em que estava sentado. Ele deu alguns passos até próximo a uma gaveta e retirou de lá um arquivo. Enquanto folheava aquele documento, ele manteve sua atenção no mesmo.
— Akagawa-san, você sabia que tem como cancelar o aviso de casamento? Mas você tem apenas uma única chance.
Quando Naoya ouviu aquelas palavras, seus olhos se arregalaram e ele se virou na direção do agente.
— Como assim cancelar? Existe uma possibilidade?
— Então você se interessou por este assunto. Isso é interessante.
Naoya se levantou de sua cadeira ainda cambaleando. Suas pernas pareciam não responder; ele estava tão chocado que suas pernas tremiam muito e ele não conseguia pensar com clareza.
— Como, como isso é possível? O que tenho que fazer para conseguir cancelar este casamento?
O agente guardou o documento que estava em suas mãos e se virou para Naoya.
— Para cancelar o casamento, você tem que fazer…
Enquanto o agente estava falando, a porta se abriu e cortou o que ele estava falando. Sua atenção foi tomada pela mulher que estava vestindo um blazer e estava entrando na sala.
— Sasayaki-san, está na hora. Vamos?
— Ok então. Até breve, Akagawa-san.
O agente se afastou da sala, deixando Naoya em transe. Sua mente estava atordoada por muitos pensamentos, enquanto estava sentado no sofá olhando para o vazio e tentando controlar seu nervosismo e agitação.