Jack não sabia o que fazer nessas noites, as noites que sua mãe bebia demais e já não se importava o que os homens que ela trazia, faziam quando saiam do quarto. Ele aprendeu cedo a se esconder com as portas batendo ou ao sentir o cheiro de bebida, mas infelizmente mesmo 3 anos sendo pouco, ainda foi tarde demais e entendeu que todas as cicatrizes e hematomas que homens bêbados e entediados causassem, não foram culpa deles e sim de sua mãe.
Sua mãe era prostituta, decidia que era mais fácil trabalhar assim, onde podia beber e comer sem pagar nada toda noite, ela era bonita então a pagavam bem, mas não se via reflexo disso em Jack, era magro e pequeno para sua idade, não falava, sorria ou brincava, parecia um boneco com sua pele branca, olhos grandes e bochechas fundas.
Jack sempre soube que sua mãe não gostava dele, ela mesmo nunca tentou esconder, sabia disso, mas ainda amava ela pois não teve qualquer outro contato decente com pessoas, claro, além dos homens que sua mãe trouxe, mas ele viu na TV que eles eram animais e não seres humanos.
Um dia Jack teve uma surpresa, sua mãe voltou com um homem, algo normal, mas dessa vez ela estava sorrindo e foi caminhando até Jack com o homem um pouco afastado observando-o. "
Jack, meu amor, saia daí e venha aqui, alguém quer te conhecer."
Ele não entendeu o que estava acontecendo mais ainda sim foi até lá, sua mãe nunca havia falado de forma tão mansa com ele. Caminhou devagar e chegou perto dela olhando seu grande sorriso enquanto ela dizia.
"Oh Jack, não tenha medo, seu pai quer te conhecer."
Jack nunca ficou tão surpreso assim, sua mãe disse "pai", ele só havia escutado na TV e a única e última vez que perguntou sobre ele para sua mãe, ele sente arrepios em lembrar. Olhou para aquele homem no fundo como se nunca o tivesse percebido ali em pé, tinha cabelos negros, olhos fundos e era alto, vestido em roupas pretas que ele só viu na TV.
Ficou observando o homem até que sua mãe deu um breve empurrão nas costas em direção ao homem e ele chegou mais perto. O homem ainda sorrindo chegou em frente a Jack.
"Oi Jack, você não se lembra de mim, mas eu me lembro de você, eu sou seu pai."
Jack ainda tentando entender que ele havia ganhado um pai em algumas frases quando sua mãe foi até ele.
"Não é ótimo, Jack? Seu pai veio te buscar para viver com ele e compensar os anos que ele não passou com você."
Sua mãe falava com o maior sorriso do mundo enquanto se virou ao homem.
"Vocês vão sair agora, certo? Preciso arrumas as coisas dele?"
O homem respondeu:
"Não há necessidade, o que precisarmos eu compro depois e sim, estamos saindo agora. Jack, venha comigo, vou te levar para a sua nova casa."
O homem caminhou em direção a Jack e o segurou pelo braço com firmeza, mas sem machucar, olhou para sua mãe e a viu sorrir, Jack se sentiu triste, nunca havia visto sua mãe tão feliz e sabia que era pela partida dele. Se deixou ser puxado pelo braço e aos 3 anos, Jack aprendeu a abrir mão.
Ao passar pela porta ainda era dia, Jack não saia de casa há muito tempo, o homem o levou pelo braço até um carro preto e cumprido que ele nunca havia visto antes, foi até a porta traseira do carro e abriu para Jack entrar, tinha cheiro de novo, o homem entrou no carro e olhou pelo espelho para Jack e então disse.
"Gostou do nosso carro, Jack?"
'Nosso', Jack se fixou naquela palavra e gostou de como soou, sempre havia escuto 'seu' e 'meu' quando sua mãe falava. Aquele homem, não, seu pai parecia diferente dela. Após um segundo de silêncio se recuperando desse breve momento acenou com a cabeça devagar indicando que sim. Seu pai sorriu, ligou o carro e colocou alguma música que Jack nunca escutou.
Olhando pela janela, Jack viu muitas pessoas nas ruas, altos, baixos, gordos, magros e tantas outras características que fascinou ele, olhou para o seu pai e percebeu que estava distraído com seu olhar distante.
O carro continuou por tempo suficiente para que Jack quase cochilasse, quando se deu conta estava em frente a uma grande e bela casa, seu pai saiu do carro e logo abriu sua porta para que Jack pudesse sair também, segurou sua mão e de frente para a grande casa diz.
"Aqui estamos, Jack, essa agora é a sua casa. O que acha dela?"
Jack olhou para sua nova casa atentamente, tinha dois andares com um gramado entre a calçada e a porta da casa, inteiramente branca com um portão onde deveria haver uma garagem, claro que Jack não percebeu muitas coisas, mas ele bem simples com seus gostos, achava a casa perfeita.
Seu pai, ainda segurando sua mão, o levou até a porta da casa e tocou a campainha, segundos depois apareceu uma outra mulher, mais jovem que sua mãe e essa mulher abriu um sorriso ao ver seu pai ali, mas quando ela olhou para Jack, seu sorriso não diminuiu nem um pouco, mas seu olhar era diferente e Jack sabia o onde estava a diferença, não sabia como, mas conseguiu reconhecer, ela não gostava dele, assim como sua mãe e os homens que ela trazia.
"Jack, essa é Lina, minha esposa. Lina, esse é Jack, o garoto que te falei e meu filho." Seu pai disse.
"Oh Jack, estava ansiosa para conhecê-lo, claro, não mais que Edward estava." Lina respondeu.
'Edward', esse era o nome de seu pai, após esse fato o atingir, Jack olhou um pouco confuso para ela, aquela sensação que ele havia sentido sumiu tão rápido que ele logo descartou e parou para olhar de fato a mulher em sua frente. Era mais alta que sua mãe, cabelos castanhos cacheados e claros, tinha os olhos azuis e a pele clara, era bonita. Seu pai o esperou tomar nota.
"Vamos entrar, Jack. Lina, traga suco e biscoitos para ele enquanto eu vou ao banheiro, depois de comer nós vamos ter de conversar."
"Vamos, Jack. Venha comer enquanto esperamos seu pai." Lina disse.
Eles entraram na casa e Jack ficou espantado, era grande, clara e limpa, tão diferente de sua casa que se sentiu deslocado, se sentia mais sujo e mal-vestido do que estava. Por um momento, Jack sentiu aquela sensação estranha de novo e olhou para Lina em um susto, ela estava de costas quando ele olhou para ela, fazia uma bandeja de biscoitos e pegava uma jarra de suco, apesar disso tudo, Jack sentiu ver um longo sorriso quando se virou, do tipo que ele odiava, do tipo que sua mãe fazia quando o olhava e encontrava um hematoma novo que ela não havia feito.
Se sentiu desconfortável e rezou para que seu pai voltasse logo, sentia que ele era diferente. Quando Lina colocava os copos na mesa, onde já havia os biscoitos e o suco, Edward voltou.
"Voltei, pequeno. Temos que conversar sobre nossa vida agora, mas antes de tudo, coma à vontade, me parece que está com fome."
Jack olhou rapidamente para os biscoitos e sentiu a fome surgir agora que se sentia mais tranquilo com seu pai ao lado.
"Venha cá, pequeno. Vou te ajudar a subir na cadeira." Eduardo disse.
Com Jack tendo 3 anos e sendo menor devido a desnutrição, apreciou a ajuda e finalmente perto dos biscoitos e suco, começou a comer.