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Chapter 7 - Capítulo VI - Supremacia

Ilana não sabia quanto tempo havia passado desde que acordou, já tinha contado quantos degraus havia na escada acima de sua cama, nomeou cada planta presente no cômodo e tentou adivinhar as diferentes formas das vasilhas que preenchiam os armários, talvez se estivesse andando, não teria se entediado tão facilmente.

Cogitou até mesmo em chamar pelo nome do homem tagarela, para ele ao menos aliviar sua mente dos pensamentos do passado. Mas não foi preciso, logo mais Andras descia as escadas com uma cesta de palha em mãos.

Ilana tenta ver o que tinha dentro, mas sua curiosidade passa assim que Andras diz o que é.

⎯ Trouxe comida pra você, aqui temos um guisado de peixe, suco de maçã e algumas pêras ⎯ Andras dizia enquanto tirava a comida da cesta. O aroma do guisado toma conta do ambiente fazendo a barriga de Ilana roncar.

⎯ Quero somente as pêras ⎯ contendo a vontade de se deliciar com tudo o que Andras trouxera, Ilana nega o restante da comida, precisava ser cuidadosa, afinal não sabia se o alimento poderia estar envenenado ou não, com as frutas, a probabilidade diminuiria.

Andras dá de ombros e entrega as pêras, e observa Ilana comer como um animal faminto, e em questão de segundos, acabar com as frutas.

⎯ Se mudar de ideia e quiser comer o guisado, vou deixá-lo aqui ⎯ Andras pega um dos bancos próximo ao balcão, deixando o objeto ao lado da cama em que Ilana estava. ⎯ Aconselho você a comê-lo ainda quente, frio não fica tão saboroso.

Ilana olha algumas vezes para o guisado e depois para Andras, ele estava sendo gentil demais com ela. O que afinal ele queria?

⎯ Acho… ⎯ Ilana dá uma pigarreada antes de falar. ⎯ Acho que vou querer tomar um pouco daquele remédio.

A dor estava insuportável o suficiente para a garota não poder suportar por mais algum tempo, então, deu o braço a torcer.

Andras sorri, e Ilana jura pra si mesma não deixar ser enganada por aquele conjunto de dentes bem enfileirados, que acompanhava uma covinha que se formava junto ao movimento.

⎯ Vou preparar outro, aquele eu joguei fora.

Andras vai para trás do balcão, onde põe água para ferver e mistura novamente os ingredientes. Em poucos minutos, a mistura já estava pronta.

⎯ É bom beber de uma vez por conta do sabor, e o remédio causa um pouco de sonolência, mas nada que vá te apagar.

Ilana cheira o líquido na tigela, tinha o cheiro adocicado, talvez o gosto fosse semelhante, porém, decidiu não se arriscar.

Bebeu tudo de uma vez, e sentiu o amargor instantaneamente, o que resultou em uma careta.

⎯ Isso é horrível! ⎯ a garota passa a costas de sua mão na língua para retirar o excesso do medicamento.

⎯ Não reclame, é o que tem pra hoje ⎯ Andras diz gargalhando. ⎯ Não sou um feiticeiro curandeiro, então é o máximo que consigo te ajudar.

⎯ Se não é um feiticeiro curandeiro, então o que é?

⎯ Sou um feiticeiro elemental ⎯ Ilana franziu o cenho, não sabia de muita coisa sobre os feiticeiros, o único que ela havia conhecido era Olozor. ⎯ Eu posso controlar tudo aquilo que é proveniente da natureza, as águas, a terra, o fogo, consigo controlar o crescimento das plantas, mudar o clima… E por aí vai.

A feição de Ilana se ilumina, há muito tempo que algo a instigava tanto.

Percebendo que o humor de Ilana mudou, Andras dá uma breve demonstração de sua capacidade, ele olha para um dos vasos de plantas, onde uma muda de moréia estava quase morrendo, o feiticeiro ergue uma de suas mãos, e movimentando a ponta de seus dedos faz a planta acelerar o seu crescimento, transformando-se em uma bela flor.

⎯ Isso é fascinante!

Andras se alegra com a cara abobada que Ilana fazia, ela ainda não havia visto um terço do que ele era capaz de fazer.

⎯ Disse que controla o clima, não é mesmo? ⎯ o olhar de Ilana encontra-se ao de Andras, ele acena positivamente com a cabeça. ⎯ Então foi você quem criou todos aqueles raios que destruíram aqueles seres malignos?

⎯ Fui eu sim.

⎯ E foi você que acertou o raio naquela árvore que quase me matou! ⎯ Ilana ironiza com uma falsa euforia. ⎯ Agora está pagando de bom moço tentando me ajudar…

⎯ Eu não tentei te matar, eu acabei perdendo o controle por alguns milésimos de segundos.

⎯ Você tentou me matar sim! Só está querendo amenizar o peso da culpa.

⎯ Não sou um assassino!

⎯ Mas por pouco não se tornou um.

⎯ Eu nunca mataria ninguém!

A futura briga é interrompida quando os dois notam uma terceira pessoa no cômodo, Téça chegou silenciosamente, pegando um pouco da conversa.

Se antes a pele de Ilana estava formigando, agora o incômodo aumentou, a presença de dois feiticeiros era forte demais para ela.

⎯ Podem continuar o que estavam fazendo, só vim aqui avisar que cheguei ⎯ Téça mantinha uma postura fina e elegante, ela trajava um longo vestido azul acinzentado, somente seu antebraço e o colo do peito estavam nus, revelando uma pele clara e levemente rosada. Seus cabelos chegavam ao comprimento de seu busto, a luz que refletia destacava o castanho avelã das mechas encaracoladas.

Ilana se questionava se todo feiticeiro tinha a cara emburrada, ou provavelmente fosse só impressão devido as maçãs das bochechas de Téça serem salientes e as sobrancelhas bem marcantes.

⎯ Mãe, que bom que voltou! ⎯ Andras caminha até a feiticeira lhe dando um longo abraço. ⎯ Aquela garota ali não consegue andar.

⎯ Garota ali? Com quem você pensa estar falando? ⎯ Ilana se exalta.

⎯ Eu nem sei o seu nome.

⎯ Você nem ao menos me perguntou!

⎯ Parem vocês dois! ⎯ Téça se intromete. ⎯ Parecem dois gatos briguentos.

Enfim os dois se calam. Téça se aproxima de Ilana, lhe oferecendo um singelo sorriso.

⎯ Prazer, me chamo Téça. Como você se chama, querida?

⎯ Ilana.

⎯ Se me der licença, posso ver o que aconteceu com você? ⎯ Ainda se sentindo receosa, Ilana decide confiar, não tinha para onde correr, e pior do que já estava, não poderia ficar.

Téça afasta o fino lençol que envolvia as pernas da garota, aparentemente nada havia acontecido, não tinha nenhum hematoma e nem arranhão. A feiticeira aperta firmemente a coxa e segue até os pés em busca de algum osso quebrado, Ilana geme durante todo o processo, o remédio havia diminuído a dor, não cessado completamente.

⎯ Aqui está!

Téça finalmente encontra a origem da dor ao perceber que Ilana demonstrou um desconforto maior onde tocou, a tíbia da jovem ainda permanecia quebrada, a feiticeira recita algumas palavras estranhas enquanto alguns fios dourados saem das pontas de seus dedos, a dor vai sumindo gradativamente.

⎯ Enquanto a paralisia de suas pernas… ⎯ Téça afaga seus dedos entre os cabelos de Ilana, a garota sente um cheiro levemente adocicado de pêssego vindo da mulher. ⎯ Vamos ter que investigar melhor sobre isso. Certamente foi algum trauma na sua medula espinhal. Seu cérebro não deve estar conseguindo enviar os receptores para sua pernas, iremos trabalhar isso ao longos dos dias.

⎯ Longo dos dias? Isso significa que não irei para casa tão cedo, não é? ⎯ A voz de Ilana falha. Talvez eles não fossem tão bons assim, talvez nem fosse voltar para casa.

Téça se cala, e isso serve como uma confirmação para a jovem.

⎯ Eu só… Queria saber o que querem comigo, por que estavam nos perseguindo?

Andras olha para Téça, um esperava a iniciativa do outro para revelar a verdade para a garota.

⎯ Você estava com um objeto que não pertencia a você ⎯ Téça começa.

⎯ Nada lá me pertencia ⎯ a garota deixa escapar.

⎯ Sim, mas essa orbe em especial, tinha algo poderoso dentro dela. ⎯ Téça é cuidadosa com as palavras, tentando ser o mais clara possível. ⎯ E estando em mãos erradas, seria capaz de causar estragos irreversíveis.

⎯ E onde ela tá? A única coisa que eu tenho comigo é um colar e essa camisola que nem minha é.

⎯ A orbe se esmigalhou ⎯ Andras abre uma das portas dos armários, pegando um saco e jogando cada uma das partes quebradas da orbe em cima do balcão. Até mesmo o dourado brilhante havia desaparecido, restando apenas uma peça sem graça e quebrada.

⎯ Se a orbe quebrou, o poder se foi, mas pra onde?

⎯ Isso que queremos saber ⎯ Andras volta a recolher os pedaços da orbe, devolvendo para o saco. ⎯ Estamos em dúvidas se essa entidade "evaporou", ou se está dentro de você…

⎯ Andras! ⎯ Téça chama a atenção de seu filho, ele havia revelado mais do que deveria, mas agora era tarde demais.

⎯ Dentro de mim? Que história é essa?

⎯ É só uma hipótese, não temos certeza de nada ⎯ Andras tenta amenizar, mas de nada adianta. Ilana estava assustada e não fazia um pingo de questão de esconder isso.

⎯ Por isso estão me mantendo aqui. Me sequestraram por causa dessa coisa e não me deixarão em paz tão cedo. Seria bem melhor se tivessem me deixado morrer.

⎯ Não é isso que queremos fazer com você, querida. Não iremos fazer nenhum mal. ⎯ Téça dizia com calma, entretanto, Ilana estava confusa demais para interpretar.

⎯ Preciso ficar sozinha. ⎯ A voz de Ilana soa rouca. Eram turbilhões de pensamentos que passavam em sua cabeça naquele momento.

Os feiticeiros se entreolham, decidindo deixar Ilana só.

Fynera, província de Indifell

Embora tivessem saído para espairecer, Ravish e Sigrid ainda estavam com o pensamento sobre a missão que o imperador havia lhes dado. Não queriam conversar diretamente com Zomungard sobre o acontecido, mas adiar não faria muita diferença.

Antes de iniciarem seus trabalhos, o comandante e o capitão se dirigiam até a sala do trono, onde o imperador já se encontrava a postos para resolver os conflitos de seu império.

⎯ Essa dor de cabeça ainda vai me matar um dia ⎯ Ravish coloca os dedos em suas temporas realizando movimentos circulares, tentando amenizar o incomodo.

⎯ Não deveria ter bebido tanto como ontem. Eu bem que te avisei que não seria boa ideia.

⎯ O importante é ter se divertido.

⎯ Vou achar bem mais importante se seus homens não estiverem no mesmo estado que você para o treinamento de hoje.

⎯ Como você é chato! Por isso vive de mau humor o tempo todo, fica vinte e quatro horas por dia pensando em trabalho, estratégias de guerra, trabalho, batalhão, trabalho, posse do trono e mais trabalho.

⎯ Você precisa levar a vida mais a sério!

⎯ E você bem menos a sério, afinal, não vamos sair vivos dela mesmo! ⎯ Ravish ri sem humor. ⎯ Já sei o que você precisa. Deveria tentar encontrar alguém para se casar… Aquela garçonete da taverna parecia estar interessada em você.

⎯ Primeiramente que eu não tomaria como esposa uma mulher que trabalha em um prostíbulo, segundamente, não tenho tempo para romance, meu foco agora é outro. Não quero me perder assim como você…

A última frase havia escapado dos lábios de Sigrid, voando aos ventos e nunca mais poderia ser revertida, mesmo que o arrependimento tivesse batido à porta logo em seguida.

⎯ O que foi que disse?

Aquele seria motivo o suficiente para gerar uma confusão entre os irmãos, porém, por estarem em frente a sala do trono a discussão seria deixada para mais tarde.

As portas de madeira se abrem com o auxílio dos guardas imperiais, dando a visão de um salão amplo e bem iluminado por conta das inúmeras janelas de vidro. Em direção a porta, se estendia um tapete cor marfim que ia em encontro aos tronos de estofado de couro preto e entalhes arredondados por toda extensão do assento, estes, pertencentes ao imperador e imperatriz de Indifell. Acima do trono, havia uma cabeça de um javali empalhado e fincado a um escudo de madeira, símbolo presente no brasão do império de Indifell que carregava o significado de coragem e ferocidade.

Zomungard se encontrava em pé na pequena elevação que dividia o espaço dos tronos e do salão, seu tamanho era capaz de assustar qualquer um.

⎯ Soube que queriam conversar comigo, sobre o que seria? ⎯ A voz do imperador reverbera por todo o ambiente, mesmo calmo, seu tom ainda era forte e alteroso.

⎯ É a respeito da orbe. Sabemos que a vossa alteza direcionou essa tarefa exclusivamente a nós… ⎯ Sigrid começa a falar, entretanto, é interrompido.

⎯ E se eu soubesse que falhariam na missão, designaria outros guerreiros mais competentes e responsáveis.

⎯ Pedimos desculpas pelo ocorrido. ⎯ Sigrid responde envergonhado.

⎯ Desculpas não irá me trazer a orbe de volta, ações irão. ⎯ Zomungard desce as escadas indo em direção aos rapazes, dando volta em círculos ao redor deles. ⎯ Deixei os dois livres para tomar alguma atitude e reparar o dano causado, mas me envergonhei tanto com os dois correndo atrás de mim igual duas crianças desamparadas. Não sei como foram nomeados como coronel e capitão, e nem sei como me propus a anunciar ao público que um dos dois irá me suceder. Vocês me decepcionaram.

⎯ Me desculpe pai… ⎯ a voz de Ravish vacila por um breve segundo.

⎯ Estou falando como imperador, não como seu pai.

⎯ Perdão vossa alteza. ⎯ ele se corrige.

⎯ Iremos agora mesmo atrás dessa orbe. ⎯ Sigrid promete, mantendo um olhar firme ao de Zomungard.

O imperador continua a encarar Ravish e Sigrid, que ainda estão paralisados a sua frente.

⎯ Vossa alteza poderia ao menos explicar a importância desse objeto? ⎯ Sigrid pede. ⎯ Se não quiser dizer ao coronel e ao capitão a quem tanto se envergonha, poderia responder aos seus filhos.

Zomungard para de caminhar ao redor dos rapazes, seus passos eram a única coisa que minimizava o silêncio.

⎯ Não quero que nenhum dos dois saiam espalhando o que eu disse aqui, é um assunto estritamente confidencial.

Zomungard prossegue.

⎯ Mastert Lili veio até mim, portando uma mensagem do deus Indifell. Nosso deus anunciou que alguém encontrou essa orbe e pediu-me para intervir, resgatando-a o mais rápido possível, pois isso poderia prejudicá-lo.

⎯ A santa trindade que me perdoe, mas o deus Indifell está com medo de uma bolinha? ⎯ Ravish se espanta diante da notícia.

⎯ Não é uma "bolinha". ⎯ O olhar de Zomungard é perfurante, fazendo com que Ravish se arrependesse de suas palavras. ⎯ Essa orbe está nos protegendo de uma entidade maligna, capaz de dizimar impérios e destruir até mesmo um deus, e relembrando que sem um deus não somos nada. Por isso, estabeleci essa missão a vocês, e espero tê-la em minhas mãos o mais breve possível.

⎯ Estamos cientes vossa alteza ⎯ Sigrid diz com firmeza, sem ao menos ter ideia de como cumpriria sua missão.

Os rapazes saem da sala do trono apressados, deixando qualquer compromisso para trás, com apenas o objetivo de encontrarem a bendita orbe.

⎯ Precisamos ir atrás da Mastert Lili. ⎯ Ravish sugere.

⎯ Lembra que é um assunto confidencial, não podemos sair espalhando para qualquer um.

⎯ O que não é confidencial para essa garota? Aliás, foi ela quem deu o recado para o imperador, se lembra? Não tem ninguém que saiba melhor sobre a orbe como Mastert.

Por fim, o mais novo concorda, e juntos vão ao encontro da jovem.

(...)

Como altaneira, Mastert preparava os cultos de adoração a Indifell, baseando-se nas orientações que o deus lhe passava durante seus encontros.

Naquela semana não seria diferente, a jovem garota acendia velas no altar dedicado ao deus, onde também possuía donativos do agrado de Indifell, como flores, alimentos e pedras preciosas.

Apesar dos indifilenos terem tido uma guerra contra seu próprio deus, eles ainda se viam reféns do poder que Indifell os concediam em troca de adorações. A maldição era muito mais forte do que imaginavam, unir o deus a suas criações foi um golpe de má sorte. Agora ambos estavam dependentes um do outro.

E no meio disso tudo estava Mastert Lili, a intermediadora entre o deus e suas criaturas. A qual não passava de uma garota perdida e assustada, tentando ponderar a amargura que sentia de seu deus por ter escravizado seu povo. E buscando a melhor forma de manter a paz entre criatura e criador, unânimes em ter seus desejos atendidos.

No momento em que se preparava para entrar em contato com o deus, seus pensamentos são interrompidos por Ravish e Sigrid alvoroçados, invadindo o santuário.

⎯ Vocês dois conseguem ser ainda mais inconvenientes ou já chegaram no limite? ⎯ em um tom ácido, Mastert dirige a palavra aos dois. ⎯ Será que não perceberam que estou ocupada?

⎯ Mil perdões irmã, não notamos que estava em adoração ⎯ Sigrid diz. ⎯ Se não for te incomodar, precisamos da sua ajuda.

Mastert Lili dá um profundo suspiro, se levanta de onde estava ajoelhada e para frente a frente a seus irmãos.

⎯ Vão direto ao assunto, sem rodeios.

⎯ Precisamos das suas majestosas e preciosas mãos ⎯ Ravish segura as mãos da garota delicadamente, depositando beijos sob ela.

Mastert Lili dá risada, trazendo suas mãos de volta para si.

⎯ Para que exatamente? Posso saber?

⎯ Meu pai me contou sobre a mensagem do deus Indifell. ⎯ Ravish começa a dizer. ⎯ Sobre a orbe que porta um poder grandioso. Queríamos que fosse conosco até o local onde fomos atrás do objeto, deve haver algum resquício do paradeiro da mulher que roubou a orbe.

A altaneira pensa por um momento, não poderia recusar ajuda, já que estava indiretamente envolvida naquela história.

⎯ Tudo bem, eu ajudo vocês.

Os irmãos se alegram, com ajuda de Mastert Lili já seria meio caminho andado.

⎯ Preparem suas vestimentas mais quentes, pois retornaremos para Montuália ⎯ Ravish anuncia.

(...)

Os portais criados por Sigrid foram necessários para que o trio chegasse em segurança a Montuália, cortando qualquer empecilho que pudesse atrapalhá-los e indo diretamente ao local da pequena batalha.

Apesar da nevasca dos dias anteriores ter coberto boa parte da cidade de Vallos, ainda havia resquícios de destruição pelo caminho, entretanto, pegadas com certeza não iriam encontrar, precisavam de outras pistas que os levassem até quem eles procuravam.

⎯ Estava tudo muito escuro quando aconteceu, me lembro vagamente para onde o casal havia corrido ⎯ Sigrid caminha na frente de seus irmãos, observando cada detalhe para não deixar passar batido.

⎯ Pensei que quando você possui alguém, também tinha posse das habilidades. Pelo o que eu sei, vampiros enxergam muito bem no escuro ⎯ Ravish rebate.

⎯ Já expliquei que estava difícil controlar a mente deles, mas lembro muito bem que consegui manipular um deles para atirar uma lança. Não é possível que não tenha acertado um dos dois que estávamos perseguindo.

⎯ Está falando desse aqui? ⎯ Mastert Lili avança em direção a uma pequena elevação naquele monte de neve. Ao se aproximar, a garota segura pelos cabelos do cadáver para observar melhor a fisionomia. Seu corpo nu estava preservado devido ao gelo que o cobria.

Ravish se aproxima com o cenho franzido. Admirava a coragem de Mastert em tocar no cadáver. A lança permanecia fincada em seu tórax, e pelo visto, ninguém havia dado falta do rapaz.

⎯ Não devemos estar muito longe ⎯ Mastert Lili sibila no mesmo momento em que bate uma palma contra a outra para se livrar da neve em suas luvas.

O trio permanece marchando por um bom tempo, até irem encontrando aos poucos pistas que os deixariam ainda mais próximos de seu objetivo, haviam roupas rasgadas pelo caminho e mais alguns troncos de árvores destruídos, até então, encontrarem uma árvores de em média 15 metros caída no chão.

Seguindo sua intuição, Mastert Lili se abaixa próximo a árvore destruída, retira suas luvas e escorrega o polegar do dedo mínimo até o dedo indicador.

⎯ Acho que não vou conseguir muita coisa ⎯ a garota avisa antes de enterrar suas mão por completo na neve, retirando um punhado e segurando entre seus dedos.

Uma brisa fria envolve seu corpo como um abraço, Mastert se sente leve e deixa aquela sensação guiá-la como uma dança, sua mente pouco a pouco se desconecta de seu corpo, a guiando até o dia do ocorrido.

As visões que tivera eram frenéticas e um tanto confusas, no entanto, foi se acalmando aos poucos.

Com passos cuidadosos, a tal pessoa se aproximava da árvore caída, onde se encontrava um corpo abaixo dele. Utilizando de seus poderes telecinéticos, ele ergue a árvore, se deparando com um corpo inerte.

⎯ Acho que ela está morta ⎯ uma voz masculina reverbera na mente em que Mastert Lili estava tendo a visão, não fazia a mínima ideia de quem pertencia.

Uma silhueta feminina se aproxima do cadáver, colocando o dedo indicador e médio sob a carótida, verificando a pulsação.

⎯ Não podemos deixá-la aqui ⎯ a mulher vira seu rosto em direção ao do homem.

Mastert Lili tenta gravar cada detalhe de sua fisionomia, aquela informação poderia ser importante.

Como havia dito anteriormente, Mastert não conseguiria muita informação, e logo mais estava sendo puxada para a realidade.

⎯ Só eu que acho pavoroso isso que ela faz? ⎯ Ravish se referia ao fato de quando Mastert Lili utilizava seus poderes, ela adotava uma "postura" estranha, com os braços completamente esticados para lados opostos de seu corpo, o peito estufado, e a cabeça tocando sua coluna, mas nada disso se comparava aos seus olhos, que comumente possuía as íris brancas, se enegrecia e pareciam querer saltar de suas órbitas a qualquer momento.

⎯ Já vi coisas piores. ⎯ Sigrid continua a encarar sua irmã. ⎯ Conseguiu ver alguma coisa?

Mastert Lili olhava para baixo, sentindo algo duro entre a neve em seus dedos, ela limpava em seu vestido, revelando uma peça metálica e rija.

⎯ Não o suficiente ⎯ a mais nova agarra as luvas com pressa, suas mãos já estavam ficando vermelhas e doloridas.

⎯ Era só o que faltava!

Ao longe, se aproximava um tahaguleno, aparentemente estava só e, certamente não havia aparecido em busca de novas amizades.

⎯ Quem autorizou a entrada de vocês nessas terras? ⎯ o vampiro se aproximava cada vez mais rápido. ⎯ O imperador Colomano não permite nenhuma entrada e nem saída sem sua aprovação.

⎯ Colomano? ⎯ Ravish torce o nariz ao ouvir o tal nome. ⎯ Tinha que ser! Nunca vi uma pessoa tão histriônica igual a ele!

⎯ Cadê a autorização de vocês? ⎯ o homem exige mais uma vez.

⎯ Deixa que eu resolvo ⎯ Sigrid toma a frente, queria resolver o assunto de forma mais pacífica possível. ⎯ Não viemos atrás de briga, e muito menos com a intenção de invadir suas terras…

⎯ São bisbilhoteiros. ⎯ o vampiro cruza os braços na altura do peito, analisando o rosto de cada um dos três a sua frente. ⎯ Sinto muito, mas terão que me acompanhar, agora não devem mais satisfação a mim, e sim para o imperador.

⎯ Ou você pode nos deixar embora em paz e ninguém se machuca ⎯ sugere Ravish.

Sigrid revira os olhos e bate em sua própria testa, Ravish estava fazendo o total oposto do que ele estava planejando.

O vampiro ri da afronta que o demônio a sua frente fizera.

⎯ Tenho ordens para matá-los se for preciso, e vocês tem sorte de seu sangue ser impuro, caso contrário, virariam prato principal para os meus soldados.

⎯ Ele não faz ideia com quem está mexendo ⎯ Ravish balbucia.

Prevendo que seu irmão não ficaria quieto com o que ouvira, Mastert Lili segura o pulso de Ravish, porém ele se solta avançando para cima do tahaguleno.

⎯ Vejamos bem, meu caro, não viemos com a intenção de arrumar briga ou invadir a terra de vocês. Por mim que engulam esse lugar com neve e tudo. Só estamos de passagem e se puder ser compreensivo e nos deixar ir, posso te recompensar por isso.

⎯ Acha que eu preciso de um favor vindo de um indifileno? ⎯ a cara do vampiro é de puro desprezo. ⎯ Não deveria nem ao menos estar conversando com vocês.

⎯ Se não vai conversar conosco, conversa com a minha mão ⎯ Ravish aponta em direção ao chão. O vampiro permanece sem entender nada, até observar duas mãos desabrochar do solo segurando seus tornozelos o impedindo de correr atrás do trio, que desaparece em questão de segundos através de um portal.