"É arriscado voltar pro mercado e principalmente não posso confiar em quem tá lá, vou ver se encontro um...."
Hector parou o carro lentamente, estava no meio da esquina, na sua frente a rua que se não fosse por alguns carros parados em posições não convencionais, estaria completamente vazia
a noite fria parecia esconder sua real intenção, estava quieto demais, mas seu instinto gritava perigo, como se algo o estivesse puxando
ele travou a porta do carro e colocou o cinto de segurança, o medo ainda persistente pelo susto anterior deixava o ambiente mais macabro, o jovem decidiu seguir lentamente pela rua, voltar não é uma opção
Lojas e mais lojas se espalhavam em sua visão, os espelhos vazios refletiam manequins que cobertos pela sombra da noite se tornaram assustadores
"SOCORRO SOCORRO"
uma mulher saiu desesperada de uma das lojas atrás do carro, seu cabelo estava amarrado em tranças, vestia um conjunto de legging preta com uma jaqueta igualmente preta, uma adaga estava amarrada em sua perna, seguido dela, uma criatura de pele branca perseguia lentamente
como se a possibilidade da sua presa escapar não existisse
Hector pode notar um sorriso crescente nela, quando seus olhares se cruzaram
" HECTOR ME AJUDA SOCORRO"
Ela rapidamente se aproximou e começou a tentar abrir a porta do carro trancado
"HECTOR ABRE POR FAVOR"
não conseguia segurar as lágrimas, parecia que ela poderia morrer a qualquer momento
ele a olhou atentamente, algo não parecia certo, como se aquilo fosse uma atuação mal feita, tinha completa certeza que não conhecia ela
"como ela sabe meu nome?"
cochichou baixinho enquanto voltava sua visão para o monstro que agora estava parado o observando, seu profundo olhar parecia uma pesada chuva que o cobria sem escapatória
"NAO ME DEIXA MORRER, ABRE ABRE"
pego por um lapso de coragem ele acelerou e trocou a macha
"ESPERA NAO NAP"
percebendo a intenção dele, ela fechou o punho e o tacou na janela
plow
o simples golpe carregado pelos braços magros da garota desferiu-se de um poder inimaginável que parecia imparável
sua mão agarrou a vidraça quebrada e a segurou como se sua vida dependesse disso
"AHHHHHHHHHH"
o carro partiu em alta velocidade junto dele a mulher agarrada que gritava
Hector levantou a arma enquanto controlava o volante com uma mão
"AHHHHHHHHHH PARA PARA"
" cala a boca"
ele virou a cabeça para ela enquanto segurava a arma em uma mão e o volante na outra, tentou mirar na mão agarrada mas a dificuldade de controlar o volante com uma mão não permitiu a precisão exata
olhou rapidamente para o lado para ajeitar a mira e apertou o gatilho
tich tich
para sua surpresa a arma estava descarregada
nunca que em uma situação normal ele esqueceria de fazer essa observação, mas pelo acúmulo do medo implantado e a correnteza de acontecimentos, fizeram com que ele esquecesse de averiguar, mesmo tendo pegado munição reserva
a mulher se ainda agarrada gritava a plenos pulmões
" AHHHHHHHHH"
"droga droga"
antes que pudesse pensar em outra saída um barulho de impacto soou em cima do carro
BUMM
no topo da janela ao seu lado uma mão branca segurava, suas garras negras prendiam na lataria do carro se prendendo ao mesmo
na outra janela a garota que não aguentando mais se soltou, sendo levada para trás por conta da pressão
pela falta momentânea de atenção, Hector não percebeu o carro parado na sua frente
" mais que mer-"
BOMMM
o impacto fez com que sua cabeça batesse no volante, desacordando-o por alguns segundos
" anh"
ele levantou fracamente a cabeça pesada, ainda estava na em posição sentada, felizmente a vidraça da frente do carro pareceu aguentar bem o impacto, mesmo tendo formado uma teia que parecia tão frágil que qualquer toque o terminaria de quebrar
" e-eu tenho que sair"
retirou o cinto e se virou para abrir a porta amassada que estava presa pelo impacto
com um pouco de dificuldade conseguiu empurrar um espaço pequeno mas suficiente para passar, vendo o caminho livre ele se virou e pegou sua bolsa e arma
" anh"
sentia seu corpo pesado, estava dolorido pela batida, uma fina linha de sangue descia de sua cabeça, revelando a pequena lesão sofrida
"vamos mais um pouco"
ele se colocou no espaço e com um pouco de dificuldade conseguiu sair do carro
respirava profundamente, por sorte não sofreu danos maiores, olhando melhor ele conseguiu ver o estrago feito
seu carro estava com a frente afundada para trás enquanto o outro carro apresentava a sua lateral amassada com líquido vazando por baixo
" tenho que sair daqui"
Hector se levantou e olhou ao redor à procura de um lugar seguro, mas estava cercado por lojas
apesar da correria, não parecia ter se distanciado muito da esquina de outrora
pegou um carregador no bolso da bolsa e colocou na arma, desta vez tendo certeza de carrega-la
sua visão parou na rua mais a frente aonde uma estatueta estava parada o olhando
" tá de brincadeira"
o zumbi de antes parecia intacto mesmo após ser jogado longe, apresentava o mesmo sorriso zombeteiro de antes, como se tudo estivesse em seu alcance
sem esperar uma reação o monstro seguiu em sua direção, seu olhar vidrado escurecia tudo ao redor
carregava a noite e o breu escuro a cada passo que dava, como uma divindade maligna em busca de sangue mortal
Hector deu um passo para trás, sentiu-se mais e mais pressionado a cada momento que passava
como uma lâmina afiada ele atravessava seu caminho até o garoto, passando como uma miragem imparável que aumenta e se espalha a cada momento
estava silencioso, tão quão é possível de ser, o que tornava as batidas de seu coração notáveis, o qual acelerava tentando fugir de seu peito, com batidas mais e mais fortes, o sangue em seu corpo corria rápido, alerta ao movimento a sua frente
de repente uma mão agarrou seu ombro
" agora é comigo garoto"
ao seu lado o mendigo que lhe pediu ajuda antes pareceu aparecer do nada, sua figura surrada com trapos rasgados e barba grande o tornavam uma figura lesada pelas ruas
Hector se perguntou como ele conseguiu chegar até aqui, estava pelo menos a alguns quilômetros do mercadinho, não havia como ele ter chegado tão rápido e mais como sabia que ele estaria em perigo?
porém voltou seu foco para o perigo real a sua frente, olhou novamente para o zumbi, ele parecia ter trocado de alvo, seu sorriso ainda zombeteiro estava impregnado, agora interessado pelo novo aperitivo, parecia ainda mais contente
o velho misterioso tinha um olhar sereno, como um sábio sem medo da morte, pronto pra dar sua vida em batalha
sem que o jovem perceba, um chute voador o acerta nas costas
"SEU DESGRAÇADO"
a mulher de antes exalava ódio, e o chute certeiro carregava o mais profundo de seu sentimento
Hector pego de surpresa, quase infarta de susto
" sai maluca"
ele se virou para ela enquanto rosnava, suspeitando que ainda poderia estar hipnotizado
" EU PAREÇO UM ZUMBI PRA VOCÊ RETARDADO? TU ME DEIXOU PRA MORRER SEM PENSAR DUAS VEZES, QUEM FAZ ISSO COM UMA DAMA? ARROBADO"
ela tentou chutar novamente mas dessa vez preparado ele segurou o pé dela enquanto rodava um rasteira em arco, a derrubando, dando espaço para que ele levantasse
" fiz o que tinha que fazer"
Hector observou o braço ferido dela, que parecia mais fraco ainda, além de ter um claro corte na mão por conta dela ter agarrado o vidro quebrado
ela olhou para ele com os olhos pesados que logo derramaram lágrimas
" tá doendo"
a mulher que antes gritava agora parecia uma criança chorona
" a-achei que ia morrer, por que não me ajudou?"
parecia ter desistido da fachada durona, derramava cada vez mais lágrimas
" fica quieta"
Hector apontou para o monstro que começou se aproximam
" ele tá vindo"
a mulher parecia não perceber o perigo, continuava chorando como se estivesse sido injustiçada
o velho ao lado começou a sorrir
" ele é forte, mas se for só um acho que dou conta"
o mendigo começou a se aproximar do zumbi, tão lentamente quanto o mesmo, seu olhar frio se assemelhava ao da criatura
não tinha medo em sua face e seu movimento lento era ainda mais preciso que o de um equilibrista treinado
" todo seu"
Hector não queria ficar para ver o vencedor, se levantou e começou a sair o mais rápido que suas feridas permitiam, dando as costas pros dois monstros que estavam prestes a travar uma batalha épica
após dar alguns passos ele ouviu um rugido vindo do velho
" RA-DU-KEN"
ele virou rapidamente a cabeça
viu o mendigo parado com uma perna mais a frente, suas mãos estavam juntas formando uma concha enquanto apontavam para o zumbi a frente
o silêncio reinou após o grito do homem, mas se forçasse um pouco conseguiria ouvir o grito ainda ecoando
a mulher ao lado que por um momento parou de chorar voltou a berrar
" NÓS VAMOS MORRER"
longe dali, o mercadinho estava fortemente fechado, na frente dele uma pequena multidão de zumbis o cercava enquanto batiam nas grades que não pareciam que iriam aguantar por muito tempo
" santo seja seu nome, Cristo rei"
as idosas se juntaram em um canto enquanto oravam por ajuda divina
João Lucas e Odete com muito esforço conseguiram empurrar algumas prateleiras e balcões para ajudar na defesa, porém não parecia que duraria
o jovem olhou para Odete, estava sério, o medo anterior parecia ter fugido de sua face
" acho que deve ter uma saída de emergência nos fundos, pega uma mochila e vai guardando suprimentos caso aconteça o pior "
ele se levantou enquanto apontavam para uma coleção de mochilas de promoção ao lado, e correu para o fundo, onde ficava o açougue
passou pelas carnes ainda refrigeradas e seguiu para mais fundo até chegar em uma porta de ferro que parecia muito resistente
" droga tá trancado"
João Lucas virou assustado quando ouviu um barulho seco atrás
prum
no canto da sala um velho gordo com camiseta branca e calça jeans, totalmente pálido, estava olhando para ele, com a cabeça levemente inclinada e os olhos pintados pelo mesmo preto do monstro que ele enfrentou antes
ele ficou atônito quando percebeu a presença da criatura
o gordo psicopata e sorridente pulou em sua direção com as mãos mirando a cabeça do jovem
" MORRE FILHA DA PUTA"
João Lucas gritou em raiva, enquanto que por instinto levantou a mão como se segurasse uma espada
sem que ele percebesse, sua tatuagem de espada com folhas no pulso, produzia um leve brilho, sumindo repentinamente de seu lugar de origem e com isso uma grande espada semelhante apareceu em sua mão
pétalas de folhas de árvore caiam ao redor
com um corte rápido ele passou a lâmina pelo corpo do zumbi, o dividindo instantaneamente ao meio
" jovem você tá bem?"
Odete correu preocupa após ouvir o grito, quando ela chegou na sala percebeu o corpo do monstro caído e o garoto com a mão abaixada com uma leve fumaça saindo da tatuagem em seu pulso
ela estava com uma mochila de suprimentos nas costas, parecia já ter arrumado tudo lá na frente
" o que aconteceu"
olhando novamente o corpo, Odete percebeu que o zumbi estava cortado ao meio, e parecia ter sido um corte limpo
João Lucas olhou para ela também em dúvida
" não sei, ele me atacou, aí senti como se uma parte de mim quisesse sair e uma espada de repente apareceu na minha mão"
parando para perceber o que tinha falado o jovem pensou que estava ficando louco
ela olhou duvidosa para ele
"espadas não aparecem do nada"
ele apontou para o corpo dividido
" então explica isso, além disso monstros também não são reais"
Odete ainda descrente desistiu de discutir com o garoto
BRUNM
um som alto veio da frente do mercado junto dele os gritos das idosas que rapidamente se juntaram aos dois
"AHHHHH ELES INVADIRAM ELES INVADIRAM"
"AHHHHHH MEU DEUS"
Odete empurrou o jovem da sua frente e mirou na maçaneta da porta
POWW
o tiro quebrou a trava da porta liberando o caminho de fuga para eles
" vamos vamos"
os seis rapidamente correram do mercado
do outro lado havia um beco escuro, com um caminho levando para a rua e outro para uma grade de um prédio atrás
Odete apontou para a grade
" vamos pular"
João Lucas correu para frente enquanto juntava as mãos criando uma base para ajudar as idosas a pular
" uma de cada vez"
elas se juntaram e cada uma com dificuldade conseguiu passar para o outro lado
foi quando João Lucas olhou para trás e viu o grupo de zumbis saindo rapidamente da porta
" droga"
ele rapidamente subiu e pulou para o outro lado, por pouco não sendo agarrado pelas mãos famintas
" conseguimos..."
antes que pudesse comemorar ele notou as idosas com as mãos levantadas
mais a frente cinco homens apontavam armas para eles