Yukimura questionou com expressão de surpresa: "O que está fazendo aqui?!'
"E-E-Eu é que deveria perguntar!!"
Será coincidência mais uma vez?! Sorte?! Meu Deus!! Afinal, por que é que sempre nos encontramos?! Qual é o motivo disto?!
"'O que aconteceu contigo, Rika? Por que está neste mundo?"
"Eu... Acabei morrendo..."
"HÃ?! COMO?!"
"Trabalho excessivo..." Evitei o olhar.
Yukimura suspirou e estendeu a mão, dizendo: "Levanta."
Aceitei a oferta de ajuda, colocando a minha mão sob a dele para me levantar. Pela primeira vez... Estou tocando no Yukimura.
"O que acontece com esse gato na sua cabeça?", ele indagou.
"Ah... esse é o Yuk—"
"Yuk? Por que você parou de falar de repente?"
"Não é nada..."
Ele me olhou desconfiado e soltou um suspiro.
"Entendi, tudo bem. Vamos para minha casa e conversamos com calma", ele disse.
"O quê?! Na sua casa?!"
"Sim, eu moro em uma vila próxima à capital."
"Ah, entendi. Vamos fazer isso."
Admito que acompanhar o garoto que eu amo é realmente embaraçoso. Meu coração ainda bate freneticamente, incapaz de se acalmar. Minha pele está transpirando de uma maneira que nunca experimentei antes e não consigo evitar desviar o olhar dele o tempo todo, como se tentasse resistir ao impulso de olhar. No entanto, eu desisto. É simplesmente impossível.
"Mas, sério, nunca pensei que encontraria uma garota da minha turma do ensino médio."
"S-Sim. De alguma forma, nos esbarramos sempre."
"É uma coincidência assustadora." Ele coçou as têmporas.
"Apesar de renascermos, nossa aparência não muda, mas parece que você... ficou mais bonita de repente."
"V-V-Você acha?!!" O que ele está dizendo? Vou ter um ataque cardíaco.
"V-Você também..." Eu disse gaguejando.
"Sério?! Obrigado por isso." Ele ficou sem jeito.
"Ah, ali é a minha vila."
"Mmm, você é filho de um camponês nesta vida, Yukimura?"
"Meu pai é dono da vila."
"Mmm, que sorte. De onde eu vim, meu pai era dono de uma fazenda, mas ele só morava com sua esposa antes de eu chegar. Afinal, fui encontrada abandonada na floresta."
"Que jeito pior de renascer, hahaha!"
"Não é para rir, Yukimura!!!"
"Ahahaha, sinto muito. Não pôde me segurar." Ele suspirou. "Fico feliz em ter encontrado alguém que conheço, eu estava prestes a me sentir solitário neste mundo."
Enquanto ríamos durante o trajeto até a pequena vila, Yukimura e eu desabafamos sobre nosso trabalho anterior. No entanto, logo paramos de conversar porque não queríamos relembrar algo desagradável.
"Pai, esta é uma velha amiga minha", ele me apresentou ao seu pai, que estava prestes a montar em um cavalo, aparentemente de partida.
"Muito prazer, meu nome é Laila", cumprimentei.
"Que moça linda!! Você tem uma excelente pretendente, Yukimura!" exclamou o pai.
"Evite comentar isso na presença dela, sério! Desculpa mesmo, Laila... Por que você está envergonhada?!!"
"E-Eu estou com calor!" Qual reação você esperava de mim, seu imbecil?
Eu não esperava que o nome dele do mundo anterior fosse o mesmo neste mundo. Uma informação adicional! Farei questão de obter mais informações.
"Me chamo Gorfred, prazer em conhecê-la", disse o pai. Era um homem que aparentava estar em seus trinta e poucos anos.
"Yukimura, cuide bem dela enquanto estou fora", pediu o pai.
"Para onde está indo, pai?" perguntou Yukimura.
"Irei resolver alguns assuntos na capital. Portanto, cuide da vila por mim", respondeu o pai.
"Certo!", concordou Yukimura.
"Seu nome é Laila? Um nome diferente do seu nome original", comentou Yukimura.
"Então... Eu ainda acho meu nome atual mais bonito que o anterior", respondi enquanto caminhávamos em direção à porta de sua casa.
"Esta é a minha casa." Ele abriu a porta para eu entrar primeiro.
"Uau! Que casa enorme."
"Fique à vontade."
"É muito diferente da minha." A casa dele possuía mais objetos que a casa dos meus pais. É uma casa bem quentinha.
Me sentei no sofá e em seguida, Yukimura me trouxe chá verde; Yuki pulou para o sofá e logo se acomodou.
"Obrigada."
"O que você vai fazer de agora em diante neste novo mundo?" Perguntou Yukimura enquanto se sentava ao meu lado.
"Serei uma aventureira."
"Sério?! Que legal, eu sempre quis também. Porém, eu não posso contrariar o sonho de meu pai. Ele sonha em herdar o seu vilarejo para mim, então meio que isso me bloqueou contra os meus desejos." Ele ficou cabisbaixo olhando para a fumaça do chá.
"Eu te entendo. Porém, você deve contar a ele como você se sente. Você tem seus próprios objetivos, ele deve saber disso de alguma maneira. Não deixe de dizer o que quer, só por que você sentiu pena de seu pai."
"Eu... Farei isso..." Ele tomou um gole ainda cabisbaixo.
"Você está mentindo, correto?" Era evidente. O Yukimura confiante que eu conheço nunca esteve abatido na presença dos outros.
"Hã?! Eu não..."
"Não adianta, há quantos anos acha que te conheço? Você não pode mentir para mim, está me ouvindo?"
"Eu... Tenho uma razão para ser o futuro dono desta vila." Ele deslizava o polegar na borda do copo.
"Motivo? Qual seria?"
"Eu... Reencarnei como um herói..."
"HERÓI?!! VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO..." Elevei o tom involuntariamente e ao olhar nos olhos de Yukimura, percebi que era verdade. "...É sério?..."
"Antes de minha visão ser obscurecida pela escuridão, eu renasci em um lugar completamente preenchido por branco", ele relatou.
"Branco?", questionei.
"No meu caminho, havia um homem cujo olhar eu não conseguia enfrentar de frente; a luz que emanava daquele ser poderia me cegar num instante. Ele me disse: Você renascerá como o herói, pois o que está por vir será apenas trevas", explicou.
"T-Trevas? Isso soou como..."
"Sim, ele mencionou uma sepultura que habita nas profundezas da terra e logo se quebrará. No entanto, mesmo sendo capaz de renascer com força, eu tentei recusar o pedido daquele Deus. Eu disse que só queria viver uma vida comum no novo mundo, mas, no mesmo instante, eu nasci." Explicou Yukimura com tristeza, seus olhos tremendo como se estivesse prestes a chorar. E continuou: "Eu queria viver normalmente... Eu desejava... Ter uma vida pacífica, sem me intrometer na vida dos outros... Estou cansado de causar confusão." Yukimura levava as mãos à cabeça como um insano.
No instante em que ele se encontrava em pânico, eu o abracei como se fosse um impulso natural que me dominava.
"Rika?!"
"Yukimura, você tem a possibilidade de desfrutar de uma vida serena. Pouco importa se você é considerado um herói ou não. Você renasceu, nenhum ser divino tem o poder de obrigar você a carregar um peso que você não deseja. A decisão é sua." Agarrei-o com carinho, como se estivesse abraçando uma criança.
"Neste mundo, eu nasci com um poder raro, a magia negra. Você não está só, lembra-se? Estamos unidos, mesmo que relutantemente. Onde quer que você vá, irei contigo." Não posso parar! "Então... Não suporte esse fardo sozinho. Juntos, seremos mais capazes do que separados, concorda?"
Ele apenas fungou e começou a chorar como um bebê enquanto eu o envolvia em um abraço.
"Te conheço por um período muito mais longo do que você possa imaginar, meus olhos sempre estiveram fixados em você... Nunca tive coragem... Amo você mais do que qualquer outra pessoa... É o que eu sinto, Yukimura..."
O que estou dizendo?! Maldição, não consigo me controlar! Sinto que estou prestes a derramar lágrimas.
"… Apesar de sorrir perante os outros, eu te encontrava secretamente no terraço, chorando... É incrível como parece bem, mas, no fundo, você sofria... E eu, nada pude fazer."
Deixei de abraçá-lo e coloquei minhas mãos em sua bochecha, elevando sua cabeça.
"Faça aquilo que lhe agrada, não se prive de sua felicidade em detrimento da felicidade alheia. Somos livres, não é mesmo? Nenhum ser divino pode ditar o que seu coração verdadeiramente anseia, apenas converse com seu pai sobre seu desejo genuíno... Não tenha medo." Pressionei minha testa contra a dele.
"Agradeço, Rika..."