Desde pequeno, sempre tive o sonho de me tornar um advogado. Acredito que com essa profissão, poderia ajudar pessoas inocentes a se livrarem de acusações falsas. Desde a infância, sempre soube que nem todo advogado é bom.
Estava prestes a concluir o ensino fundamental 2 e, durante todo esse tempo, sentia como se houvesse alguém observando-me, mesmo que de longe, mas essa pessoa nunca veio conversar comigo. Seu nome é Rika Suzuki, uma garota reservada, porém sempre rodeada de pessoas.
"Yukimura! Não vem lanchar conosco?" perguntou Satoru, um amigo sempre animado que sempre se preocupava comigo e perguntava como eu estava. No entanto, eu sempre respondia da mesma forma, dizendo que "estou bem" todas as vezes. Mesmo assim, ele continuava a perguntar, como se pudesse realmente compreender o que estou sentindo. No entanto, ele sempre respeitou o meu espaço.
"Sigam à frente, vou ao banheiro." Estou enganando.
"Você é mesmo um mijão, cara!" Todos do grupo riram. "Não demore!"
Sempre dizia que ia ao banheiro, mas na verdade sempre ia ao terraço. Ao abrir a porta para o terraço, sou sempre acolhido pela suave brisa e pelo aconchego do perfume das árvores que cercam a escola. No entanto, essa liberdade do vento se espalhar livremente me deixava cada vez mais melancólico.
Sempre me apoio nas grades e baixo a cabeça para chorar, algo que já me acostumei. O motivo do meu choro? Meus pais brigam todos os dias, sem pausas, e me colocam no meio de suas discussões. Às vezes, os vizinhos precisam chamar a polícia ou até mesmo invadem minha casa para acabar com a briga.
Mas aquela sensação que sempre vinha, havia alguém me observando como se quisesse me auxiliar, mas nunca apareceu.
Alguns anos mais tarde, terminei o ensino médio e logo me tornei um adulto.
Enquanto seguia em direção à saída da escola pela última vez, senti alguém me procurando, como se eu estivesse abandonando alguém.
"O que estou fazendo? Por que parei de repente como se estivesse esperando alguém vir me ver?" Virei as costas para a escola e segui para casa.
Dias depois, consegui um emprego no qual dedicaria minha energia para ter um bom futuro, enquanto cursava a faculdade em busca de melhores oportunidades.
Entretanto, o emprego no qual eu estava era explorador e foi extremamente desagradável trabalhar lá. Pedi demissão, mas nunca aceitaram, e a única opção que me restou foi continuar trabalhando para sustentar minha faculdade. Por causa disso, acabei falecendo devido ao excesso de trabalho.
Quando acordei novamente, eu senti algo estranho, não é a mesma brisa que sinto normalmente. Era diferente, e eu tinha razão absoluta sobre isso.
"Você, é o próximo herói que trará a paz e a felicidade para o povo da minha terra, deixo as responsabilidades do mundo, em sua mão, grande salvador." Essas palavras ecoaram dentro da minha cabeça e jamais saíram.
"O quê?!"
Aquela voz, que ressoava como superior, estava gradativamente sumindo.
Meu coração acelerou, como se estivesse pedindo para ele esperar para escutar minhas ambições e desejos, porém, jamais ouvi aquela voz novamente.
Quando abro os olhos mais uma vez, vejo duas pessoas fitando-me fixamente. Uma mulher, trajando roupas que remetem à era medieval, e ao seu lado, um homem cujos olhos estão arregalados.
"Não posso acreditar nisso!"
"Gorfred, nosso filho possui a aura sagrada!"
"Sim... Tenho certeza. Ele é a reencarnação de um herói."
Eles estavam cheios de empolgação e surpresa por algo que estava acontecendo, mas eu não conseguia entender qual era o motivo para tanta animação. Foi somente algum tempo depois que percebi que, de repente, eu me tornei um bebê, até que finalmente caí na realidade de que reencarnei, ou melhor, tive uma segunda chance.
Conforme fui crescendo, sempre notei algo diferente em mim, algo que não parecia estar presente nos outros habitantes da vila. Possuo uma quantidade absurda de mana, fazendo com que a força dos meus golpes seja algo sobre-humano, e por causa disso, mais uma vez me afastei de um desejo que eu almejava.
Eu sempre ambicionei ser apenas uma pessoa comum, trabalhadora, que conquistasse títulos por meio do meu esforço próprio. No entanto, nesse novo mundo, isso é algo que não irei alcançar novamente.
Permaneci firme em relação a essa decisão, mesmo que fingisse estar feliz perante aos desejos que meu pai me outorgava.
Minha mãe neste mundo, faleceu antes dos meus dez anos. Meu pai, ficou para baixo por meses, e demorou para se recuperar totalmente e voltar a trabalhar como chefe da vila. Nesse meio tempo, meu corpo só ganhava mais e mais poder sem parar e me tornando cada vez mais distante do que eu queria.
Após completar doze anos, recebi de presente a permissão de meu pai para adentrar a floresta habitada por monstros e feras perigosas.
Na floresta, passei inúmeras noites lutando sem descanso. Derrotar as feras era uma tarefa fácil para mim. Monstros e feras pareciam não ter diferença alguma aos meus olhos.
"Quantos monstros e feras já cacei? Duzentos e trinta e três..." Indagava-me. Nem um sopro de cansaço me afetava. Comecei a me questionar se eu, talvez, não fosse nem humano.
De longe, avisto pássaros desesperados voando em minha direção, fugindo de algo terrível. Ao levantar o olhar, deparei-me com chamas e trovões negros caindo sobre um determinado local da floresta. Com agilidade, dirijo-me até o ponto onde os raios atingem e presencio uma jovem prestes a ser atacada por um muflão, uma fera temível.
Nesse instante, meu corpo se moveu por si só e, com um único impulso, minha lâmina afundou-se no pescoço do animal, decapitando-o.
Foi naquele dia que minha vida mudou completamente.
"R-Rika?!" Exclamei, atônito.
Me deparei novamente com alguém que aparenta estar constantemente vigilante a mim, ou melhor, foi essa a sensação que tive naquele instante ao olhar para os olhos arregalados dela.