MEU PASSADO PART.1
Lembro-me como se fosse hoje, senhor Jorge. Seu nome ecoava em minha mente, envolto em mistério e uma aura enigmática. Ele foi a figura paterna que me criou até meus 15 anos, mas sua presença deixou uma marca indelével em minha alma. Após decidir viver por conta própria, ansiava por respostas que desvendassem a teia intricada da minha própria existência. As palavras sombrias de Jorge ecoavam em minha mente, como um lembrete constante de minha sina trágica.
Ele costumava dizer que eu era uma criança destinada a sofrer, condenada por uma marca sinistra que carregava em meu ser. Era uma maldição que corroía meu destino e afugentava até mesmo aqueles que me amavam. Jorge alegava que minha mãe me abandonou por causa dessa terrível carga, revelando o abismo oculto em minha herança.
Contrariamente às expectativas, nunca senti a falta de minha mãe. Sob os cuidados de Jorge, tive todas as minhas necessidades atendidas. Ele me proporcionava alimento, vestimentas e afeto, suprindo qualquer lacuna deixada por uma ausência materna. No entanto, uma angústia latente me assombrava, uma voz interior que clamava desesperadamente por ajuda. Cada dia, seu grito ressoava mais alto em meu ser, mergulhando-me em uma aflição inexplicável.
Ao longo dos anos, minha busca incessante por respostas levou-me a uma revelação aterradora. Descobri que a maldição que carregava era muito mais sombria e complexa do que eu imaginava. Nascido sob a luz sinistra de uma lua azul, herdei a terrível maldição da Lua Azul. Era um fardo que continha um poder oculto, um relógio-tique-taque prestes a explodir a qualquer momento. No âmago da minha existência, uma pergunta persistente ecoava: seria possível encontrar um caminho para a normalidade? Ansiava desesperadamente por essa possibilidade, mesmo sem saber ao certo o que ela significava.
Após uma prolongada busca por respostas, decidi voltar a Birmingham, meu lar de infância, onde Jorge me criou. Recordava vividamente o caminho até sua casa, as ruas familiares que me acolheram em tempos passados. À medida que me aproximava, notei as mudanças ocorridas ao longo dos anos. As sombras do tempo haviam transformado o cenário, mas ainda restava uma chama de nostalgia em meu coração. Chegando à porta da casa que um dia chamei de lar, deparei-me com uma senhora que se aproximava com um olhar brilhante nos olhos.
"Você é o Ray? Filho de Jorge?", indagou ela. O tom de sua voz carregava uma mistura de admiração e assombro. Surpreendido por ser chamado de filho, respondi com uma mistura de incerteza e curiosidade: "Sim, sou eu mesmo." Em resposta, a senhora proferiu palavras que me perfuraram como adagas: "Ele falava muito de você, dizia que te amava como ninguém." A afirmação despertou em mim um redemoinho de emoções complexas, misturando-se em um emaranhado de conexões e perguntas intrincadas. Porém, um detalhe inquietante pairava no ar: o uso do passado naquela afirmação. O que teria acontecido a Jorge? Por que sua presença havia sido apagada de minha vida?
Com um nó na garganta, reuni coragem para questionar a senhora. "O que aconteceu com ele?", indaguei, minha voz carregada de angústia. As palavras que se seguiram fizeram meu coração se congelar em agonia. "Você não soube? Ele morreu há dois anos", ela respondeu com um tom de pesar. O impacto da notícia atingiu-me como um golpe devastador, roubando-me o fôlego. Jorge, o único pai que conheci, havia partido para além dos véus da existência. Uma solidão inquietante começou a se insinuar dentro de mim, preenchendo o vazio que sua partida deixava para trás.
A senhora, chamada Ana, gentilmente me convidou a entrar na casa, repleta de memórias e vestígios de uma vida compartilhada. As paredes exibiam fotografias que contavam histórias de momentos felizes que vivenciamos juntos. Sentado na sala, absorvendo o ambiente familiar, um turbilhão de sentimentos me envolveu. Uma mistura complexa de tristeza e gratidão impregnou minha alma. Jorge havia sido mais do que apenas um guardião. Ele me acolheu quando estava desamparado e me amou como um pai verdadeiro, apesar da ausência de laços sanguíneos.
Enquanto Ana compartilhava detalhes sobre a vida de Jorge, um véu de mistério começou a se dissipar. Ele foi um homem bom e generoso, dedicado a ajudar os necessitados em sua comunidade. No entanto, havia algo mais, algo que Jorge havia guardado como um segredo bem oculto. Ele possuía uma conexão singular com a lua azul, uma ligação transcendental que moldava sua existência e sua relação comigo. Jorge acreditava que sua missão era cuidar de mim e proteger-me dos perigos que a maldição poderia desencadear.
Enquanto as palavras de Ana se entrelaçavam em minha mente, uma intriga profunda se instalou em meu ser. A maldição da Lua Azul, minha própria sina, permanecia envolta em enigmas. Por que minha mãe me abandonou? Qual era o verdadeiro propósito dessa maldição em minha vida? E como Jorge se envolveu nessa teia complexa? Compreendi que, apesar de minha busca incessante por respostas, estava apenas na superfície de minha própria existência.
A tristeza pela perda de Jorge transformou-se em uma determinação renovada. Era imperativo descobrir a verdade por trás da maldição que me assombrava. Eu precisava compreender seu significado mais profundo e encontrar uma maneira de preencher o vazio dentro de mim. A esperança de alcançar uma existência plenamente significativa ardeu intensamente dentro de mim.
Com a partida de Jorge, uma nova jornada se desenrolava à minha frente. Era hora de mergulhar nos segredos ocultos da maldição da Lua Azul, desvendar os enigmas que rodeavam minha origem e encontrar um propósito para minha existência. Um destino entrelaçado à minha essência clamava por revelação, e eu estava disposto a enfrentar qualquer desafio que surgisse em meu caminho. Pois a resposta para minha busca interior estava mais próxima do que jamais imaginei.
Continua...