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Chapter 2 - Renascimento

A voz que ressoou na minha mente não era somente similar a do jogo. Eu tinha certeza que ela era realmente a voz do sistema de Vangloria.

Após alguns segundos aguardando, não consegui escutá-la mais. O incomum evento não se repetiu outra vez. Com isso, continuei vagando pelo espaço infinito, mas aquele muro na minha frente me atraia cada vez mais.

Algo me dizia para tentar atravessar. Um sentimento incomum me percorreu, indicando que, o que estava na minha frente, era o meu objetivo. Não conseguia entender o porquê, contudo senti uma forte presença vinda daquele gigantesco muro espectral.

Comecei a pensar em mover meu corpo para frente. Como eu realmente não tinha um "corpo", apenas concentrei-me em avançar e, para a minha surpresa, deu certo. Minha consciência voou em direção a parede.

A força de vontade começou a me consumir. Comecei a ver aquela parede como uma Missão, assim como no jogo, e elas deveriam ser cumpridas.

Continuei forçando minha consciência em direção a parede e, após muito tempo perdido nesse lugar, o meu sentido de tato retornou. Eu conseguia sentir o muro.

Ele era estranho, uma mistura de sólido e liquido. Quanto mais força de vontade eu colocava na tarefa, mais fácil era passar por ele. Contudo, quanto mais passava por ele, mais difícil se tornava prosseguir.

Passei mais de um dia tentando atravessá-lo e percebi que, apesar de todo o esforço que coloquei, havia passado por apenas um décimo dele. Notei também que, além de mim, havia outras dezenas de almas flutuando dentro daquele muro.

Mais de um milhão de pontos brancos cobriam meus arredores. Cada ponto era uma alma que tentava a todo o custo passar por esse lugar. Algumas das almas moviam-se com rapidez, mas outras pareciam ter desistido e estavam apenas paradas, aguardando pela morte que se aproximava devagar.

Reforcei minha força de vontade, continuei seguindo em frente e, após mais dias do que eu poderia sequer contar, cheguei a apenas um terço do muro que era apenas um eufemismo para a verdadeira magnificência daquela muralha impenetrável.

Os milhares de pontos brancos tornaram-se uma centena e muitos deles sequer se moviam mais. Tentei voltar de onde eu vim, mas não resultou em nada.

Talvez eu fique preso aqui para sempre?  Mas que coisa infeliz, não?

Pensamentos de desistência já me consumiam por inteiro. Não conseguia enxergar uma maneira de escapar dessa infernal posição. Fui encurralado por completo; jogado contra a parede e, em minha mente, apenas lembranças.

Até naquele momento ainda conseguia visualizar-me sentado no meu trono, no ponto mais alto da minha masmorra e contemplando o mundo abaixo. Ao meu lado, estavam os meus queridos subordinados que, apesar de serem apenas máquinas, ainda era leais.

Eu e aqueles milhares de monstros, demônios e criaturas passamos por muitas coisas juntos. Desde a primeira vez que enfrentei aventureiros que tentavam invadir meu lar; até a ofensiva em direção ao continente.

Cuidei de cada um deles, os evolui, os alimentei e os comandei em batalha, criando estratégias e, afinal, fazendo o que eu mais gostava, vasculhar por espólios das batalhas em busca de coisas raras.

Essas lembranças me deram forças e, usando-as, prossegui com dificuldade.

Continuei em frente numa velocidade surreal até para os meus padrões e, em pouco tempo, alcancei metade do caminho. No entanto minha alegria durou pouco, pois, a partir daquele ponto, mover-se tornou-se uma tarefa quase impossível.

Mesmo com tudo me impedindo, persisti, avançando lenta e continuamente. E acabou que anos passaram, mas não havia o que ser feito, até porque eu não tinha nada melhor para fazer.

Anos passaram apenas para atravessar mais metade do caminho; décadas para chegar ao que se equivalia a uma fina folha de papel do final. Era um espaço tão curto, mas ao mesmo tempo, impenetrável. A distância era mais fina que um fio de cabelo; mesmo assim, eu me sentia preso contra uma parede de tijolos.

Naquele espaço, o tempo passava de maneira diferente, até de forma engraçada, e, após um tempo que nem dava mais para contar, talvez milênios, não consegui atravessar o maldito muro.

Percebi que algo estava errado. Talvez não fosse realmente possível atravessar, ou houvesse um truque. A confusão me abalou e acabei por olhar para trás, vendo, ao longe, os milhares de pontos isolados uns dos outros.

É impossível alcançar qualquer coisa sozinho. Antes, possuía meus monstros e, agora, preciso de novos companheiros!

Lembrei-me de cada criatura que um dia passou pelo meu caminho. Cada monstro que me ajudou a chegar aonde cheguei, conquistando o topo do mundo.

— Me deem as suas forças! Iremos passar por isso juntos! — Nem uma alma moveu-se. Eu realmente nunca fui alguém carismático, mas possuía algo melhor.

Sim, eu realmente recebi muita ajuda, mas... o mérito ainda é meu e somente meu!

Para alcançar meus objetivos, não dependeria dos outros e sim os faria depender de mim.

— Ei! Almas malditas! — Minha voz ressoou por todo o espaço. Aquele era um lugar movido pela força de vontade e, vamos ser sinceros, eu era o que mais tinha isso. — Quantos anos vocês estão aqui? Centenas? Milhares? Milhões? Ou até mesmo bilhões?! Não estão cansados?! Presos contra esse muro; obrigados a medir a sua própria força de vontade! Se esse maldito lugar deseja testar nossas forças, então vamos mostrar para ele!

Um segundo de silêncio... e, logo em seguida, o que desejei ocorreu. Elas estavam agitadas, mesmo aquelas que haviam desistido, lutavam como loucas. De súbito, elas começaram a brilhar e uma mensagem ressoou em minha mente.

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[Absorvendo energia das almas...]

[Absorvendo almas ao redor]

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Os pontos brancos foram desaparecendo um a um e, toda vez que um sumia, conseguia sentir o meu próprio espírito se tornar mais forte. Até o ponto que todos sumiram e só eu sobrei, transbordando de poder!

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[Absorção completa]

[Almas absorvidas poderão ser usadas posteriormente]

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Encarei a parede na minha frente uma última vez e, com um leve movimento, ela quebrou por completo. Apenas o simples processo de quebrar o muro, resultou em uma liberação de energia de proporções cósmicas, criando rachaduras e distorções no espaço. Por conveniência do destino, fui absorvido por uma delas.

Dentro daquela fenda espacial, vi que toda a energia que transbordava do meu corpo se tornou uma esfera azul um pouco maior que uma bola de basquete que era toda feita de cristal.

Um núcleo de masmorra!

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[Núcleo da Masmorra completo]

[Fusão com o Sistema completo]

[Iniciando renascimento]

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Em um plano superior, dois seres astrais, que tinham formas indescritíveis para a visão humana, discutiam sobre assuntos diversos.

— Uma alma atravessou do infinito quântico para o infinito mágico, isso foi surpreendente.

— E qual o problema? Isso não ocorre o tempo todo?

— Ele demorou apenas um minuto para atravessar a barreira. Normalmente as almas ficam ao menos alguns milênios presos nela. No entanto a coisa mais interessante é o fato de que, depois dele passar pela barreira, milhares de almas terem desaparecido junto dele. Aliás, ele foi parar no mundo sob sua supervisão

— Que interessante. Ele com certeza é alguém a ser visto. Vou observá-lo com cuidado.

— Ah! Deixa eu observar também. Ele veio do meu mundo finito, me deixa olhar apenas alguns séculos!

— Desapareça! Agora ele é meu. Você nunca me deixou ver a sua tão gloriosa "terra", não lhe deixarei ver o caminho dessa alma!

— Hã?! Por favor! Eu imploro!

Os seres superiores tratavam aquilo tudo como entretenimentos. Uma alma com a energia de milhares havia atravessado a barreira entre mundos.