Todos os participantes da premiação foram devidamente recompensados e agora formavam uma longa fila em frente ao imperador no tapete vermelho, ajoelhados um atrás do outro, como se tivesse chegado ao fim do caminho assim que entraram, com a mão no peito e esperando as palavras de seu imperador. Tal visão era magnífica, todos os chefes de guerra estavam em tal posição apenas para uma pessoa, assim como os nobres preparavam-se para o final da cerimônia e prestar seus respeitos após as últimas palavras do imperador para agora, para quem a visse.
O imperador estava em pé em frente ao trono, com as estátuas dos Deuses atrás de si, com os olhos de todos sobre si, enquanto seu rosto permanecia sério e inalterado, digno da mesma maneira que entrou e ficou a cerimônia inteira. Um verdadeiro chefe de estado, majestoso e admirável. As medalhas em seu casaco balançaram quando deu os primeiros passos e começou seu discurso.
"A cerimônia de premiação chega ao fim e a honra é dada aos heróis de nosso império. Hoje é o dia em que suas conquistas se tornam reconhecidas por todos, aos olhos do povo e dos Deuses. Que Trian brilhe e os guie em seu futuro." Com suas palavras, todos exclamaram 'Glória ao império. Glória aos Deuses.' em uníssono.
O imperador vendo isso assentiu e dispensou a todos com um levantar de mão, dando alguns passos para trás e virando-se por onde entrou, sendo seguido pelos chefes principais do templo e pela realeza. Ele sequer deu uma olhada para trás e não participaria da festa que haveria depois, ainda tinha coisas a fazer e detalhes a ver para o banquete da noite e o pós-efeito da guerra. Além disso, sua presença só atrapalha os nobres e seus convidados interagirem com os premiados e entre si, criando uma tensão que nem ele e nem os outros gostam.
O público logo levantou-se de seus assentos e foram rumo à grande porta do salão principal, indo direto para a sala ao lado onde ocorreria a festa pós-cerimônia. Os convidados dos nobres foram os primeiros a discutirem entre si para criar conexões, conversando sobre os mais diversos assuntos, desde aqueles que acabaram de ser premiados, até as grandes estátuas dos Deuses do templo e toda sua decoração, com os assuntos atuais do império e criações acadêmicas. Os magos entre eles eram os mais requisitados, alguns para cavarem e outros apenas para terem o contato.
A família Miller não era muito diferente deles. Eles estavam na sala da festa e o conde e a condessa logo saíram para socializarem com os velhos amigos e conhecidos assim que chegaram à sala, deixando James para Brandon cuidar. O casal de noivos e Irvin naturalmente também se espalharam com os mesmos propósitos. Os únicos que ficaram em um canto foram os dois, apenas porque James não gostava e não estava habituado a essas festas, a gravata em seu pescoço estava irritante e consumindo sua paciência, e Brandon não era muito fã de sorrir e interagir com todos esses nobres e convidados ilustres.
Era diferente quando ele estava na mansão e tinha que receber e conversar com aqueles que visitam a propriedade, mas, neste caso, ele não é obrigado e não faz muita parte de seus deveres. Caso alguém venha conversar, ele irá dialogar da mesma maneira, mas não irá tomar a iniciativa. E o bom de ficar com James é que ele tem alguém que possui a mesma opinião que ele.
"Esta gravata irritante." James bufou, um pouco zangado, depois de mais uma vez tocar na gravata em seu pescoço. "Irmão, não posso tirar isso mesmo? Nem que seja por um segundo."
"Se quiser enfrentar a senhora." Brandon sorriu para ele, sabendo que o mesmo não teria coragem. Assim como pensou, viu o menino se frustrar e riu um pouco. "Por que não aproveitamos que estamos aqui e comemos alguma coisa? Há comida e bebida na mesa ali perto." Sugeriu para ele.
James virou a cabeça e viu a mesa que Brandon disse e concordou com a sugestão do outro. Ela estava recheada de sobremesas para a ocasião que poderia ser dito e tinha alguns doces favoritos que ele fazia questão de comer toda vez que pudesse. Por isso, não demorou para ele ter alguns deles em seu prato e comer com todo o gosto que podia ter.
"Isso está delicioso." Comentou, lambendo os lábios. "Experimente o bolinho de calda de chocolate, não vai se arrepender." Apontou para a sobremesa redonda, com um creme por cima e um biscoito quadrado de chocolate por cima.
A decoração era linda e delicada, trazendo quase um arrependimento por querer dar uma mordida e comê-la do mesmo tanto que parece delicioso. Brandon levou a boca e deu uma mordida, experimentando os sabores gostosos dançando em sua língua.
"Isso está realmente bom." Deu mais uma mordida. Brandon gosta de doces e ele tem que dizer que esse é um dos melhores que já comeu.
De repente, ele vira a cabeça e olha para uma direção, não vendo ninguém, apenas o pessoal conversando entre si, mas nada que o levasse a sentir algo observando ele. James notou sua estranheza e o encarou com os olhos estranhos e o cenho meio franzido.
"O que foi?" Indagou.
"Nada." Balançou a cabeça, mordendo mais um pouco. James ignorou e pegou um doce.
"Poderia me passar um? Parece bom." Alguém falou ao seu lado ao se aproximar e era alguém que ambos conheciam. Os olhos de James brilharam e Brandon sorriu para aquele que veio falar com eles. "Por favor."
"Irmão!" James sorriu para o homem com a mesma roupa da cerimônia, sem notar a mancha de chocolate no canto de sua boca.
"É claro." Brandon respondeu, pegando outro bolinho e o entregando. "É uma recomendação de James, ele tem muito bom gosto."
Ferion riu de seu irmão e acariciou seus cabelos, desarrumando-os, pegou o bolinho e comeu. Ele também gostou um pouco, embora não seja muito fã de doces. Seu irmão realmente tinha um bom gosto, deveria ter puxado a mãe deles, já que ele nunca viu o pai comendo doces por iniciativa própria, sem ser dado por sua mãe.
"É bom." Falou, animando seu irmão.
"Bem, meus parabéns pela premiação." Brandon disse, sorrindo amigável para ele. James rapidamente se afastou quando ouviu a parabenização de Brandon.
"Verdade! Irmão, parabéns, você estava incrível lá." Exclamou para seu irmão. Era verdade, ele o achou ótimo, do visual ao andar.
"Obrigado aos dois. Isso é muito importante para mim." Respondeu com um pouco de orgulho de si mesmo.
"E como se sente, depois de ser recompensado pelo imperador, irmão?" O jovem perguntou curioso. "Estava com a barriga fria no momento?"
"Admito que estava. Mas estou bem agora." Disse ao irmão mais novo. "Vocês viram a mãe e o pai? Não vi eles ao entrar."
"O senhor e a senhora disseram que viram alguns conhecidos e foram conversar. Não sabemos para onde eles foram."
"E Phillip? Ele não veio com Johannes?"
"Também saíram. Acho que para ele apresentar ela aos outros nobres."
"Certo." Ele assentiu. É bom que a noiva de seu irmão se acostume com a vida de classe alta, já que tais eventos acontecem quase todo mês e que Phillip esteja fazendo o mínimo como noivo. "Vocês estão bem aqui? Querem alguma coisa? Posso pedir a algum dos sacerdotes por uma sala para ficarem caso não queiram se envolver na festa."
"Irmão, não tem nenhum problema. Ninguém vai vir incomodar. E nós não vamos sair da mesa." James falou, com o castanho de seus olhos passando confiança.
"E eu estarei cuidando de James. Não se preocupe." Brandon disse.
Ambos tinham uma ideia de que ele estaria ocupado por conta da festa e de ter participado da premiação como um dos capitães de destaque. Ainda que não fosse tão famoso quanto os três primeiros que entraram, alguém que era um capitão reconhecido pelo próprio imperador era algo que levasse ao destaque e aumentasse o status e influência, bem como sua fama em toda a corte. Então, não queria incomodá-lo, além de que a socialização é importante em seu meio.
Ferion olhou para os rostos de cada um e assentiu. "Tudo bem." Disse, antes de dar as costas e sair.
Com a saída de Ferion, Brandon deu um último olhar e virou-se novamente para uma direção, ele tinha certeza que sentiu algo o observando. Mas era fraco e, novamente, não viu nada demais na cena, como se fosse apenas uma impressão sua. E o que quer que fosse estava assistindo eles conversarem com Ferion. Esse pode ter sido o motivo, afinal o herdeiro Miller chamava muita atenção. Não seria incomum se fosse alguma garota que estivesse encarando o cavaleiro de forma enamorada, já que até Brandon admite que ele é bonito e a roupa que Ferion veio no dia está ressaltando sua beleza.
'Ferion está realmente chamando tanta atenção. Me lembro de ter visto algumas garotas suspirando quando ele entrou.'
Quanto mais pensava nisso, mais parecia lógico. A sensação que sentiu deve ter sido alguma garota que olhava para o capitão recém-premiado de forma discreta e tímida que ele captou por acaso. Se for mesmo da maneira que ele está pensando, as propostas de noivado para o conde e a condessa verem vão chegar todo dia.
"O irmão realmente é demais." James disse e viu Brandon soltando um riso baixo. "Está rindo do quê?"
"Nada, só…" Prolongou o final, abaixando-se para James. "Imaginei a cara de Ferion quando ver as cartas de casamento na pilha de seu escritório."
James imaginou e riu também. "Com certeza será engraçado."
A imagem composta dos dois era do escritório de Ferion, com ele sentado em sua cadeira acolchoada verde, vendo a pilha de cartas de todas famílias ou damas propondo casamento com um rosto preto e olhos caídos. O cansaço dentro de seus olhos e a expressão habitualmente séria, com exceção de quando estava com a família, arrasada pelo incômodo de ter que ver isso novamente. Com certeza, na visão deles, será um pouco cômico, já que não é o habitual dele.
Tanto Brandon quanto James sabiam que não iam ser aceitas pelo conde e a condessa, se não fosse desejo de Ferion, por isso, ele que teria que decidir se aceitava ou não.
E eles riram novamente ao se entreolharem, com Brandon entregando um pedaço de bolo para o jovem de cabelos roxos.
*
Os olhos negros estavam assistindo a cena do sorriso deslumbrante do ruivo e os olhos esmeraldas brilhando naquele rosto branco e bonito para a criança de cabelos roxos e olhos castanhos de maneira analítica e fria, estudando aquele que despertou sua curiosidade com a marca que continuava um pouco quente a cada instante que permanecia olhando.
Ele estava concentrado, focado, tentando entender ou captar algo que sua investigação ou sua mente deixou de fora para que explicasse o porquê da Marca Celestia, um símbolo dado por um Deus ao seu escolhido, pode ficar quente toda vez que o vê. Sua busca nada resultou, por mais que olhasse. A investigação o determinou que era uma pessoa normal e seus sentidos não sentiam nada demais sobre ele e definitivamente não tinha algo de especial.
'Isso não anula o fato de poder ser um candidato.'
Um candidato é chamado aquele que pode vir a ser escolhido por um Deus para se tornar um Celestia e não se diferencia muito de uma pessoa comum. Geralmente são pessoas com ótimos físicos, talentos excepcionais, uma personalidade muito compatível com o Deus, sem marcas e poder divino, mas podendo exercer outras forças, até ser escolhido. Eles chamam a atenção do divino de alguma forma que os torna especiais e, por isso, não é possível distinguí-los inteiramente.
Sua teoria chegou a esse ponto, como se estivesse se concentrando que poderia ser o mais provável, mas nem isso pode explicar o porquê de sua marca ficar desse jeito e isso o está incomodando, como se algo tivesse algum efeito sobre si que ele não pudesse controlar ou ter algum controle, além de não saber o que é exatamente, só uma ideia de que é algo com ele. Era uma sensação ruim ter algo fora de seu alcance e com pouco conhecimento para alguém de seu cargo e que leva em consideração a ordem e controle de seu ambiente de vida. Para alguém como ele, de seu status como nobre e capitão a estilo de vida, isso é, de fato, perturbador.
No entanto, infere que o ruivo, mesmo podendo ser um candidato, não está fazendo por vontade própria, ou seja, é de maneira inconsciente. Se estivesse ciente de seu efeito sobre ele, teria olhado para ele algumas vezes durante o tempo da celebração, mas nem isso ocorreu, sendo como se ele não existisse. Com exceção de quando deixou óbvio que o olhava, nunca lhe direcionou outro olhar em um momento algum.
Isso, por algum motivo, o deixa um pouco desconcertante, enquanto a marca continua seu efeito. E, claro, não passou despercebido na visão de um certo príncipe que é amigo dele desde a infância.
Príncipe Aiden afastou-se de um marquês que conversava com ele educadamente e aproximou-se de Cédric, com um sorriso no rosto mostrando todos os dentes. O Noir o viu, mas o ignorou, tomando um gole de sua bebida, um champanhe, para distraí-lo.
"Por que meu amigo está assim hoje?"
Aiden perguntou, ficando ao seu lado, olhando para tantos nobres. Ele não desgostava da visão, mas não adorava. Para ele, eles, em sua maioria, buscam apenas benefícios para encher seus bolsos e ignoravam suas responsabilidades, com apenas poucas exceções.
"Não se arrependeu de ter recusado a proposta, não é?"
"Não." Cédric falou firme.
"Então, o que há? Não te vejo aborrecido por ter que participar de agora." Aiden o observou atentamente.
Sob a fachada indiferente que cria uma barreira de todos de Cédric, ele percebeu o desconforto de longe, mas o que seria? É realmente algo se isso pode deixar seu amigo de infância afetado de alguma maneira. Geralmente, ele não deixa nada transparecer.
Cédric o ignorou e continuou sua observação sobre o ruivo. Ele somente o via interagir com James, mantendo-se distante daqueles que puxavam uma conversa com um dos dois. E Aiden seguiu sua visão, até se separar com Brandon ao lado de James comendo mais um pedaço de bolo.
"Eu não me lembro dele entre os nobres. É um convidado?" Seu olhar se direciona para James. "O garoto é James Miller. Aquele ao lado é um de seus convidados. Parece que ambos têm um bom relacionamento."
Cédric desviou sua atenção pela primeira vez desde que Aiden se aproximou e encarou. A frieza em seu rosto era expressa para seu amigo que o olhava curioso. Ele obviamente sabia o porquê dele estar entrando no assunto de seu alvo de investigação, de forma tão natural, e Aiden não tinha nenhum constrangimento pelo outro saber suas intenções.
"Por que está olhando para ele?"
"Por nada." Cédric disse, hesitando um pouco antes de continuar. "Você sente algo quando olha para ele?"
"Sentir? O quê?" Aiden não entendeu o propósito da pergunta. Isso o confundiu e o pegou um pouco de surpresa.
"Sua marca age de maneira diferente? Ela arde e dói."
"Não."
Cédric o analisou e concluiu que ele de fato não mentiu. Isso significava que era só com ele?
"Por quê? Com você isso ocorre?"
O Grão-Duque não responde, mas isso não é necessário para o príncipe, já que é uma afirmativa silenciosa para ele. O loiro coloca a mão no queixo, como se pensasse em algo e olhava para o indiferente Noir, em uma tentativa de pegar mais algum detalhe. Se isso realmente afetava a marca de Cédric, então é motivo o suficiente para ele estar assim.
"Então é por isso que está olhando para ele."
Cédric nada diz novamente e Aiden solta um suspiro. Seu amigo não compartilhava as coisas e mesmo sabendo que isso é parte de sua personalidade, o irritava um pouco. O bom era que ele, ao menos, lhe perguntou, isso quer dizer que ele confiava nele o bastante para conseguir informações e conselho de maneira velada.
"Não sei o que está acontecendo com você. Mas sugiro pergunte a algum sacerdote. Eles são obcecados por tudo o que é divino e tem conhecimento sobre fatos dos Celestias mais do nós." Aiden colocou a mão sobre o ombro do outro e deu dois tapas. "Se me der licença, irei continuar meu trabalho."
Cédric o viu se afastar com o sorriso no rosto e toda a aura sociável que um príncipe herdeiro tem que ter. Ele não entendia como ele consegue conversar tanto com a corte mesmo não gostando de agir assim. A atuação de Aiden era realmente a melhor.
O príncipe que atua mas odeia atuação, irônico ele acha.
Com o olhar em sua bebida, sua atenção caiu mais uma vez em Brandon, pensando que ir perguntar a um sacerdote era a última opção, mas parece que teria que ir mesmo assim.