Após ela sair, ficou um clima meio estranho devido à minha timidez. Já fazia tanto tempo que não falava com a Lisa, e estava meio envergonhado por isso.
Ela, como se entendesse, cortou o silêncio e começou a falar: "Kuroto, não te vejo há muito tempo", disse ela, levando sua mão até meu rosto e acariciando-o lentamente. "Você mudou bastante, ficou um lindo garoto. Vai arrasar corações, menino", ela disse, rindo baixinho.
Meu rosto se moldou em um pequeno sorriso sincero, e respondi: "Pois é, as meninas que me aguardem."
Ambos rimos baixinho, e a tensão rapidamente se dissipou. Ela logo me olhou com aqueles olhinhos azuis curiosos e perguntou: "Então, como veio parar aqui?"
Dei de ombros, meio que dizendo: "Imagina como se fossem férias do intercâmbio." Menti para ela, não queria preocupá-la, e parece que ela notou.
"Olha só, com o tempo começou a virar mentiroso, mocinho", ela disse, beliscando minha bochecha.
"Ah, está bom, eu posso ter meio que dado uma fugida de leve", disse, enquanto segurava minha bochecha, agora vermelha.
Ela arregalou os olhos e segurou meus braços: "Você fez o quê?!"
"Olha, eu não fugi, fugi. Meio que eu estava lá, e agora estou aqui", disse, sorrindo bobo para ela.
Ela franziu a testa, claramente não comprando minha resposta evasiva. "Kuroto, você sempre foi péssimo em esconder coisas de mim. O que realmente aconteceu?"
Suspirei, percebendo que não poderia escapar de seus questionamentos. "Estava cansado de tudo aquilo, as cobranças, as expectativas, o 'tudo por um bem maior'. Eu só quero ter uma vida normal, sabe? Por exemplo, preocupar-me apenas com o que vou comer amanhã, ou algo do tipo. Não quero ter que me preocupar todo santo dia se vou ter que ir para algum lugar e não voltar mais."
Ela olhou para mim, seus olhos azuis profundos transbordando empatia. "Kuroto, desculpe, desde pequeno você foi arrastado para isso tudo. Eu não imagino como deve estar se sentindo, pequeno. E é injusto que você tenha que carregar tamanha responsabilidade tão jovem."
"Isso é o pior, Lisa. Eu não quero ser responsável por nada. Só quero... uma infância normal, sabe? Uma chance de ser um garoto normal", confessei, sentindo um nó na garganta.
Ela acariciou meu rosto, seus olhos se enchendo de lágrimas. "Oh, Kuroto, eu sinto muito. Eu deveria ter impedido o bispo de te levar de mim, te protegeria de tudo isso. Você merece todo o amor e felicidade do mundo."
Baixei a cabeça, sentindo a vergonha de meus sentimentos. "Tudo bem, você só estava querendo um futuro melhor para mim, eu agradeço por isso. Eu só queria que alguém entendesse, que visse que por trás do 'Kuroto' existe um garoto assustado que só quer uma infância normal."
Ela me puxou para um abraço, e eu me permiti ser envolvido por seus braços reconfortantes. "Eu vejo, Kuroto. Eu sempre vi. E vou fazer de tudo para te proteger."
Ficamos assim por um tempo, encontrando conforto na presença um do outro, até que ela se afastou e me olhou seriamente. "Mas você precisa me prometer uma coisa."
Engoli seco, perguntando: "O que?"
"Prometa-me que não vai sumir igual fez com o Vaticano, sem me contar ou sem ao menos deixar um recado. Eu me preocupo com você, e não suportaria pensar que algo de ruim poderia ter acontecido contigo", disse Lisa, com uma seriedade rara em seu rosto.
Hesitei por um momento, lembrando de todas as razões pelas quais havia fugido da igreja, ainda em dúvida sobre o que realmente aconteceu. No entanto, olhando nos olhos de Lisa, percebi que não podia deixá-la na escuridão, preocupada. "Tá bom, prometo. Mas você também tem que prometer que não vai me esconder nada. Precisamos ser sinceros um com o outro."
Lisa assentiu, "Prometo. Sem segredos entre nós." Ela fez uma pausa, olhando profundamente em meus olhos. "Kuroto, independentemente das circunstâncias, quero que saiba que estarei sempre ao seu lado. Você é e sempre será meu pequeno menininho", ela disse, com um sorriso gentil, e afagou meus cabelos.
Um sorriso tímido surgiu em meus lábios. "Obrigado, Lisa. Isso significa muito para mim ouvir isso."
Ela sorriu de volta, um sorriso caloroso e reconfortante único dela. "Venha, deve estar faminto. Vamos comer algo."
Acompanhei Lisa pelos corredores da Paróquia de Santa Maria, sentindo uma onda de familiaridade e conforto me envolvendo. Mesmo diante de todas as adversidades e desafios que a vida jogou contra mim, eu sabia que, tendo Lisa ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.
Caminhamos juntos, e eu não pude evitar de me perder em pensamentos sobre tudo que havia acontecido e o que ainda estava por vir. Mas, por um breve momento, permiti-me absorver a paz e o amor que a presença de Lisa emanava. No meu coração, senti uma renovada esperança de que, juntos, encontraríamos uma maneira de superar os obstáculos e viver a vida que tanto desejávamos.
...
...
...
Já se passou algum tempo, algumas semanas na verdade, e não houve nenhuma notícia da igreja, o que é surpreendente, eles são geralmente bem competentes nessa parte. Se considerarmos o que aconteceu, eles podem pensar que estou morto... se esse for o caso, já deveriam ter vindo verificar Lisa, a menos que estivessem apenas observando Lisa, isso realmente começou a me preocupar.
"Garoto, são R$15,00!" a atendente do mercadinho exclamou, olhando-me com um olhar furioso enquanto uma longa fila esperava.
"Me desculpe, acabei me distraindo." Saquei o dinheiro que Lisa me deu para as compras, paguei a atendente, peguei o troco e os itens comprados. Agradeci rapidamente e saí, tentando não atrair mais atenção.
Caminhando pelas ruas da cidade, senti um crescente desconforto e preocupação. O silêncio da Igreja era ensurdecedor. Eles não são de desistir facilmente, e a falta de qualquer movimentação deles me deixou nervoso.
Ao chegar à Paróquia, Lisa estava me esperando na entrada. Ela olhou para as sacolas em minha mão e sorriu. "Conseguiu comprar tudo? Da última vez você levou a lista e ainda assim comprou errado", ela disse, me olhando com um olhar afiado e, em seguida, apertou minha bochecha.
"Eu segui a lista direitinho dessa vez," respondi, tentando me livrar do aperto de sua mão. "Eu sei que da última vez confundi o leite desnatado com o integral, mas isso não vai acontecer novamente."
Lisa soltou uma risada e liberou minha bochecha. "Só estou brincando, Kuroto. Fico feliz que você esteja tentando. Mas o que te deixou tão distraído no mercado? Você demorou mais do que o habitual."
"Estava apenas... pensando," comecei, hesitante em compartilhar meus temores e preocupações. "Sobre a Igreja, sobre por que eles não vieram atrás de mim ou de você."
Lisa suspirou, seus olhos mostrando uma sombra de preocupação. "Eu também estive pensando nisso."
Tenho tido sonhos estranhos ultimamente, mas não é algo que devo compartilhar para não preocupar a Lisa. O sonho basicamente se resume a eu ouvindo a voz dela e, quando finalmente a alcanço, ela está deitada em uma poça de sangue, sem vida. Isso tem sido constante, o que está me deixando cada vez mais tenso.
Ela me levou para dentro da Paróquia e se sentou em um dos bancos, indicando para que eu me sentasse ao seu lado. "Kuroto, sei que está preocupado, e eu também estou," ela disse.
Olhei para ela e a abracei. "Relaxa, está tudo bem, é só uma preocupação boba."
Ela nada disse, apenas afagou meu cabelo por alguns segundos e então, com sua voz gentil, disse: "Me preocupa que esteja tentando carregar um fardo tão grande."
Olhei para o rosto dela com um pequeno sorriso sincero e disse: "Não existe fardo pesado o bastante quando estou com a melhor pessoa do mundo," e a abracei novamente, enterrando minha cabeça em seu colo.
"Ora, seu pestinha," ela disse, tentando me fazer cócegas.
Os dias passaram suavemente, e eu rapidamente comecei a esquecer a rotina exaustante do instituto e da igreja, voltando à monotonia de uma vida comum, embora isso não ajudasse a melhorar meus sonhos.
A frequência diminuiu, mas com o tempo, pareciam cada vez mais realistas e recorrentes. Comecei a ter crises de sono onde realmente não conseguia distinguir o que era sonho ou não. E toda vez que via aquela cena, percebia que era um sonho, mas eles estavam se tornando mais realistas a cada noite.
Acordei novamente após outro sonho como aquele, suado e aterrorizado. "Que merda de sonho, porra," disse a mim mesmo, colocando o travesseiro sobre o meu rosto.
Quando olhei para a janela, vi que ainda estava escuro e decidi levantar para esfriar a cabeça. Fui até o pátio; estava fresco. Sentei-me em um banco e fiquei ali, admirando o céu estrelado. "Que vidinha mais ou menos," respirei fundo e relaxei meu corpo no banco frio.
Foi então que ouvi um bater de palmas e, surpreso, rapidamente tentei me levantar, mas correntes de luz saindo de um círculo mágico aos meus pés me prenderam, queimando minha pele e rasgando minhas roupas.
"Ah, Kuroto, pensou que não iríamos te achar? Você foi idiota o bastante para voltar aqui," disse uma voz odiosa.
"Manuel! Que merda pensa que está fazendo? Me solte!" gritei, tentando me libertar das correntes.
Manuel se aproximou com um sorriso arrogante. "Kuroto, você realmente pensou que poderia fugir da Igreja?"
"Para alguém que está um passo à frente, demorou muito, hein, velhote!" disse, rindo ao ver seu sorriso arrogante desaparecer.
Ele fez um gesto, e uma lança de luz perfurou minha barriga, fazendo-me cuspir e arregalar os olhos. "Você continua o mesmo prepotente e insolente moleque de antes," Manuel disse, aproximando-se.
"O que você quer, Manuel?" perguntei, tentando controlar minha raiva.
"Quero você, Kuroto. Você pertence à Igreja, e vamos fazer você se lembrar disso," ele respondeu com um sorriso cruel.
"Eu nunca pertenci à Igreja. Eu sou livre!" gritei, debatendo-me contra as correntes.
"Você é especial, Kuroto, e tem um destino a cumprir," disse Manuel, aproximando-se.
"Eu só quero viver minha vida em paz com Lisa!" exclamei, sentindo lágrimas de raiva e frustração.
Manuel sorriu, tocando meu rosto com a mão. "Ah, Lisa. Ela é uma distração, Kuroto. E você vai aprender isso da maneira mais difícil."
"O que você fez com ela?!" gritei, tomado pelo terror.
Ele riu novamente, se afastando. "Você verá em breve."
De repente, a porta da igreja se abriu e vi Lisa ser arrastada para fora por dois guardas da Igreja. Ela estava amordaçada e amarrada, com os olhos cheios de medo e preocupação.
"Lisa!" gritei, tentando me libertar das correntes que me prendiam. "Soltem ela, seus monstros!"
Manuel se virou para mim, com um sorriso cruel. "Te darei uma escolha, Kuroto. Se você se entregar e aceitar seu destino, eu a libertarei. Mas se resistir, bem, não posso garantir sua segurança."
Olhei para Lisa e nossos olhos se encontraram. Ela estava assustada, mas havia uma determinação em seu olhar que eu nunca tinha visto antes. Ela balançou a cabeça, me dizendo para não ceder.
"Eu não vou desistir de você, Lisa," murmurei, as lágrimas escorrendo. "E não vou desistir de nós."
Manuel bufou. "Muito bem, então. Se é assim que você quer, é assim que será."
Com um aceno de sua mão, os guardas começaram a arrastar Lisa para longe. Eu gritei e tentei me libertar, mas as correntes me mantinham firme. Manuel veio até mim, seu rosto cheio de desdém.
"Você fez sua escolha, Kuroto. E agora vai viver com as consequências."
Ouvi Lisa gritar enquanto era arrastada. Em um último olhar de desespero, seus olhos encontraram os meus. Tentei com todas as minhas forças me libertar, mas as correntes eram fortes demais.
Manuel se aproximou, seu olhar fixo no meu. "Você é um tolo, Kuroto. Poderia ter tudo, mas escolheu sacrificar-se por ela."
"Eu faria qualquer coisa por ela," respondi, o amor por Lisa ardendo em meu peito. "Eu nunca vou me curvar a você ou à sua maldita Igreja."
Ele riu, um som frio e cruel. "Veremos."
"Você devia tomar cuidado quando chega perto de mim, seu merda!" A energia amaldiçoada explodiu, me envolvendo. Em segundos, as correntes que me prendiam começaram a derreter devido ao atributo de degeneração da energia amaldiçoada. Rapidamente, tentei agarrar Manuel.
No momento em que minha mão estava prestes a alcançá-lo, uma lança de luz apareceu entre nós. Levantei o olhar e vi um batalhão de 5 anjos caídos prontos para me parar. "Vejo que trouxe um monte de corvos... acha que eles vão salvar seu rabo, seu velho filho da puta?"
Manuel me olhou, a arrogância ainda presente, mas com um traço de cautela. "Estes são os melhores anjos caídos de Grigori, Kuroto. Você pode ser forte, mas enfrentá-los todos de uma vez? Seria suicídio."
Soltei uma risada amarga. "Você realmente acha que eu tenho medo da morte? Depois de tudo o que passei, da vida que você e sua maldita Igreja roubaram de mim? Não tenho nada a perder."
Um dos anjos caídos, uma mulher com asas negras e olhos dourados, deu um passo à frente, sua mão irradiando uma energia sombria. "Então, por que não nos mostra do que você é capaz?"
"Sabem como minha técnica funciona?" Uma lança de chamas negras com bordas avermelhadas se formou em minha mão. "Minhas lanças são semelhantes à projeção de lança de luz de vocês, basicamente uma cópia melhorada. Minha energia tem um atributo específico de degeneração, então tudo que toco com ela..." toquei a ponta da lança no chão, que rapidamente se deteriorou até derreter.
Ela pareceu confusa. "Por que está nos dizendo isso?"
A lança parecia irradiar mais intensamente e ficar mais forte; avancei em um segundo, reduzindo a distância o bastante para atacar. Ela tentou se afastar e se defender com sua lança, porém lancei a minha que atravessou a sua lança de luz, atravessando seu corpo e indo em direção aos outros anjos atrás dela.
Eles logo voaram, fugindo da lança. A anja segurou seu peito enquanto tentava se recuperar, mas o buraco ficou envolto da minha energia amaldiçoada, e como se estivesse a consumindo, como uma chama a envolveu, e logo a carne do corpo dela começou a derreter, como se fosse exposta ao ácido, e em poucos segundos ela caiu, consumida pela chama negra carmesim.
Manuel olhou aterrorizado com a cena grotesca e brutal. "Seu moleque abominável!"
Sorri de forma malévola para ele e disse: "O que foi, Manuel, tá com medo, velhote? Não se preocupa, teu fim vai ser pior que o dela."
Várias lanças foram lançadas em minha direção, porém, com um movimento simples, algumas adagas de energia amaldiçoada se formaram e foram arremessadas até as lanças, parando-as e causando uma pequena explosão ao se atingirem. Corri até uma das paredes, me apoiando e me impulsionando para avançar em cima de um anjo.
Assim que o alcancei, agarrei suas asas; ele tentou me afastar. Com um riso diabólico, agarrei firmemente suas asas e revesti minhas mãos com energia amaldiçoada, e em um som brutal de dilaceração e gritos, suas asas foram arrancadas na força bruta, enquanto, rapidamente, lancei uma lança em direção ao anjo que caía, matando-o instantaneamente.
Os outros anjos usaram a oportunidade enquanto eu caía para lançar suas lanças em mim, porém, com as asas do caído em minhas mãos, usei-as como escudo, que serviram perfeitamente, parando as lanças e arremessando as asas em direção a eles.
"Já foram dois, quem é o próximo?!"
Os anjos restantes hesitaram por um momento, observando horrorizados as carcaças de seus companheiros caídos. O poder de Kuroto os fez questionar suas próprias habilidades e a decisão de enfrentá-lo.
Um deles, o mais jovem e audacioso, voou em direção a Kuroto em alta velocidade, sua lâmina de luz pronta para atacar. Kuroto, por sua vez, já estava preparado e, com um movimento rápido de sua técnica de esgrima, desviou do ataque e cravou sua lâmina carregada de energia amaldiçoada no abdômen do anjo. O jovem anjo soltou um grito agonizante, e seu corpo começou a se desintegrar sob o efeito da energia de Kuroto.
O último anjo, mais experiente, sabia que um ataque direto seria fatal. Ele começou a entoar um feitiço, circundando Kuroto com círculos mágicos. Kuroto sentiu a pressão da magia contra ele, mas não sentiu a dor, graças à sua habilidade de supressão da dor.
"Você acha que magias simples me afetarão?!" Kuroto gritou, enquanto concentrava sua energia amaldiçoada. Os círculos mágicos começaram a tremer e logo se romperam sob a pressão da energia negra.
O anjo, em um ato de desespero, lançou todas as lâminas de luz que poderia conjurar, tentando abater Kuroto com uma rajada. Kuroto, com sua habilidade em esgrima, desviou de todas as lâminas e, em um movimento fluido, apareceu atrás do anjo, cravando sua espada diretamente em suas costas. O anjo soltou um grito de dor antes de cair, incapacitado.
Manuel, observando a cena, estava pálido e tremendo. Ele recuou, percebendo que havia subestimado o poder de Kuroto.
"Chegou a hora da vingança, seu merdinha," disse Kuroto, caminhando lentamente em direção a ele, sua energia amaldiçoada envolvendo-o como um manto negro.
Manuel, em sua última tentativa, invocou um escudo de luz ao redor dele. Kuroto, com um sorriso malicioso, concentrou sua energia amaldiçoada e atirou diretamente no escudo. A energia começou a corroer o escudo, fazendo-o tremer e rachar.
"Você pode tentar ganhar tempo como um verme que é, ou morrer com honra, seu lixo; no final, essa merda de escudo não vai te salvar," rosnei para ele, furioso.
Manuel, olhando desesperadamente ao redor em busca de uma saída, percebeu que não tinha escapatória. Com o escudo se desintegrando rapidamente sob a força da energia amaldiçoada, ele fechou os olhos, esperando o inevitável.
Uma lança se formou em minha mão, apontada para o rosto daquele velho desgraçado. "Saiba que vou gostar muito de fazer isso," murmurei com ódio fervendo em minhas veias.
No momento em que estava prestes a arremessar a lança, senti minha força esvair por um momento. Olhei para baixo e vi várias lâminas de luz atravessando meu peito. "Que?!" gritei, enquanto meu corpo se ajoelhava, perdendo força exponencialmente.
Um caído com três pares de asas se aproximou de mim, olhando para Manuel. "Que ridículo, como pode perder para um garoto, deixando meus irmãos serem destruídos por esse ser insignificante chamado Manuel," disse ele com desdém.
Manuel, recuperando um pouco da cor e da confiança, olhou para o anjo caído poderoso. "Lorde Kokabiel, você chegou a tempo. Eu subestimei o garoto, mas parece que você conseguiu lidar com ele."
Kokabiel, com um olhar frio e distante, observou meu corpo fraco e ferido. "Nunca subestime seus inimigos, especialmente aqueles com tanto poder quanto este," ele advertiu, se aproximando e curvando-se para olhar nos meus olhos.
Apesar da dor e da fraqueza, reuni minha força para falar, meus olhos ardendo de raiva enquanto encarava o anjo caído. "Ah, parece que mais uma putinha veio te ajudar, Manuel... Vai acabar igual aos outros, seu merda," rosnei com todo o desprezo que pude reunir.
Kokabiel sorriu friamente, sua presença emanando uma aura opressora. "Palavras ousadas para alguém à beira da morte. Mas eu gosto disso, faz a vitória parecer mais doce," ele zombou, enquanto eu cuspia sangue, olhando para ele com olhos cheios de ódio e desprezo.
"Relaxa, corvinho, mesmo nessa condição só preciso de um golpe para te mandar para junto dos seus irmãos," ameacei, enquanto minha energia amaldiçoada explodia do meu corpo, fazendo as lâminas de luz presas ao meu corpo começarem a derreter instantaneamente, e a explosão quase atingiu Kokabiel e Manuel.
Porém, no último momento, em uma ação rápida, Kokabiel pegou Manuel e afastou-se rapidamente o suficiente, apenas para ter parte de sua manga atingida, dando uma ideia do que minha energia era capaz. "Realmente interessante essa energia do garoto, parece energia demoníaca," ele observou, intrigado.
Manuel, ainda se recompondo do movimento brusco, ajustou sua postura. "Precisamos acabar com isso agora, Kokabiel. Ele é perigoso demais para ser deixado vivo," ele disse, enquanto Kokabiel assentia, me observando com um olhar calculista.
Tentei me recompor, queimando uma quantidade absurda de energia amaldiçoada apenas para me manter de pé, até que vi Manuel se levantar e olhar para mim com um tom malévolo, indo em direção à paróquia, o que fez meu sangue ferver de fúria. "Nem pense em fugir, seu verme!" gritei, arremessando uma adaga feita de energia amaldiçoada em sua direção.
Mas, antes que a adaga atingisse seu alvo, Kokabiel moveu-se com uma velocidade estonteante, interceptando e desviando a adaga com um simples movimento de mão. "Você realmente acha que pode se levantar contra mim, garoto?" ele zombou, enquanto eu era lançado contra a parede, cuspindo uma grande quantidade de sangue antes de cair ao chão.
"Bata suas asas enquanto pode, farei questão de te depenar, seu pássaro de merda," respondi, tentando me levantar, mas meu corpo começava a não responder, e a supressão de dor me ajudava a obrigar meu corpo a se mover.
No momento em que consegui me levantar, ouvi Manuel dizer, "Acabou, moleque!" Olhei para ele, e ele estava com Lisa em seus braços, com uma adaga direcionada ao pescoço dela. "SOLTE ELA AGORA, MANUEL!" gritei, cambaleando em sua direção, o ódio queimando em meu peito.
Manuel, com um sorriso cruel e vitorioso, pressionou a adaga um pouco mais contra a pele de Lisa. "Parece que você não está em posição de fazer exigências, Kuroto," ele zombou, com raiva e desespero transbordando em meus olhos. "Mas, se você se ajoelhar e implorar, talvez eu considere poupar a vida dela."
Kokabiel estava atrás, observando com indiferença, curioso para ver como eu lidaria com a pressão emocional.
Respirei profundamente, tentando controlar a tempestade de raiva dentro de mim. Meu corpo estava fraco, mas a vontade era forte. Encarei Manuel diretamente e rosnei: "Você vai pagar por cada lágrima que ela derramar, eu juro."
"Palavras vazias," Manuel provocou. "Agora, ajoelhe-se."
Com enorme esforço, forcei-me a ajoelhar, mantendo meu olhar fixo em Lisa, transmitindo silenciosamente uma promessa de resgate. Eu não permitiria que ela fosse machucada por minha causa.
Lisa estava pálida e tremendo, mas quando nossos olhos se encontraram, uma compreensão silenciosa passou entre nós. Ela sabia que eu estava dando o meu melhor e estava pronta para lutar. Com um movimento rápido, ela chutou Manuel, fazendo-o vacilar, e conseguiu se afastar dele.
Movido pela fúria, meu corpo criou um objeto pequeno e afiado, uma agulha, e a projetei com velocidade surpreendente em direção a Manuel, que foi atingido na perna, caindo no chão com um grito de dor.
Kokabiel parecia prestes a intervir, mas hesitou. Lisa correu em minha direção, os olhos cheios de lágrimas e determinação. Kokabiel, com um sorriso maligno, lançou uma espada de luz contra Lisa, atingindo-a brutalmente no peito.
Kokabiel riu, um som cruel e desprovido de empatia. "A garota foi corajosa, mas no fim, ainda é apenas uma humana frágil."
Tremendo, arrastei-me até Lisa, segurando-a em meus braços. "Não, Lisa, você vai ficar bem," eu disse com a voz embargada de desespero, enquanto lágrimas, sangue e sujeira misturavam-se em meu rosto.
"Ku-Kuroto," ela sussurrou, sua voz fraca, mas seus olhos brilhavam com uma luz suave e amorosa. "Seja grato... por viver em um mundo tão belo assim... e uma benção viver."
"Lisa, não fale vai ficar tudo bem," eu disse, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mesclando-se com o sangue e a sujeira. "So se mantenha acordada eu vou dar um jeito de salvar voce."
Notificações do sistema começaram a piscar, obstruindo minha visão com alertas vermelhos. Desesperado, limpei-as da minha visão, incapaz de entender as palavras em meio ao caos.
╔─━━━━━━━━━━━░★░━━━━━━━━━━─╗『AVISO』
ALERTA TENTATIVA FORÇADA DE ROMPIMENTO DO SELO
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Um sorriso triste e doce cruzou os lábios dela. "Seja forte... Viva... seja feliz, é tudo que te peço, pequeno", disse, tocando meu rosto suavemente antes de sua luz se apagar, deixando seu corpo sem vida em meus braços.
O mundo ao meu redor começou a se distorcer, a realidade pareceu se romper diante da morte de Lisa. Uma fúria inimaginável surgiu dentro de mim, uma tempestade de ódio e poder incontrolável. Soltei um urro de desespero e raiva que sacudiu as fundações da igreja, fazendo com que as janelas estilhaçassem e as paredes tremessem.
Algo dentro de mim pareceu vibrar, estilhaçando-se; meus olhos começaram a arder intensamente, senti algo viscoso e líquido escorrendo deles e do meu nariz, enquanto mais janelas apareciam sobre minha visão.
╔─━━━━━━━━━━━░★░━━━━━━━━━━─╗
『ALERTA』
ALERTA: RESTRIÇÕES EM ESTADO CRÍTICO, RESTRIÇÕES LIBERADAS
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╔─━━━━━━━━━━━░★░━━━━━━━━━━─╗
『ALERTA』
LIBERAÇÃO FORÇADA - MANA SACRED GEAR - FORÇADAMENTE ATIVADA
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Uma sensação de estar envolto em um conforto indescritível tomou conta de mim por um segundo, enquanto meu corpo parecia se energizar de uma forma que nunca havia sentido antes.
Meus olhos pareciam queimar como o inferno, enquanto uma estranha energia me envolvia. Olhei para meus braços, vendo uma chama arco-íris se formar, envolvendo-me como um manto. A energia era demais para ser contida em meu corpo, ela não parava de vir, como se estivesse sido acumulada durante muito tempo e agora se libertava de uma vez só.
Emiti um grito de fúria e desespero. Aquela energia, reverberando sobre meu ser, formou um pilar gigantesco com as chamas arco-íris, que se estendeu além das nuvens, como um gigantesco farol de luz chamando a atenção de tudo.
"VOU MATAR CADA UM QUE ESTIVER AQUI! NENHUM DE VOCÊS VAI EMBORA!" exclamei, enquanto minha visão se turvava e escurecia de forma gradual. Comecei a enxergar não mais as cores do mundo, mas algo mais etéreo, como se eu estivesse vendo o fluxo de energia em si.
Meu corpo brilhava com uma força intensa, enquanto via fluxos de energia saindo do corpo do caído e de Manuel. Era muito para processar, meus olhos estavam doendo, eu simplesmente não sabia o que fazer com toda aquela informação e energia chegando ao mesmo tempo.
Manuel, com um tom de pânico, tentou recuar, mas parecia apenas se arrastar para longe. "O que... o que é isso?!" ele exclamou, tentando em vão se arrastar para longe.
Kokabiel, no entanto, demonstrava um tom de euforia e entendimento em sua voz, mas sua expressão, para mim naquele momento, era simplesmente inexistente, pois eu conseguia ver sua silhueta envolta de energia, mas não mais suas feições. "Este poder... Essa energia, essas cores! HAHA, agora tudo faz sentido, você é o descendente daquela vadia!"
Kokabiel continuava a rir loucamente, seu corpo sendo consumido por uma energia escura e sinistra, alimentando-se da desgraça que impregnava o ambiente. "É inútil resistir, Kuroto! Mesmo com todo esse poder, você não pode desfazer a morte! Ela já se foi!"
Tudo ao meu redor estava imerso em um oceano de cores etéreas, energias circulando como rios invisíveis. Eu podia sentir o poder dentro de mim, um vulcão prestes a entrar em erupção, mas, ao mesmo tempo, uma clareza surpreendente invadiu minha mente. "Vocês... Vocês vão pagar," rosnei, minha voz ecoando como o rugido de um dragão, fazendo o espaço vibrar com a intensidade do meu ódio.
Tentando controlar a imensa energia que me inundava, procurei absorvê-la ao liberar minha energia amaldiçoada, e funcionou. A energia amaldiçoada parecia consumir a chama arco-íris como combustível, e o pilar logo adquiriu a cor da minha energia amaldiçoada, desaparecendo rapidamente.
Avancei num piscar de olhos e acertei o rosto de Kokabiel com um soco, fazendo-o voar pelos escombros da igreja, atravessando várias de suas paredes até sumir de vista. O impacto criou uma onda de choque que reverberou pelo ar, fazendo os destroços se moverem e as estruturas restantes da igreja tremerem.
Manuel, ao ver Kokabiel sendo lançado para longe, tentou se levantar, o terror estampado em seu rosto. Ele sabia que seria o próximo.
"Você... O que você é?" ele gaguejou, olhando para mim com olhos repletos de terror. A energia que emanava de mim era sufocante, uma pressão avassaladora que parecia distorcer o espaço ao meu redor.
"Eu? Sou apenas a criança que você intimidava," respondi, minha voz profunda e ressoante, ecoando pelos escombros da igreja.
Caminhei até Manuel, cada passo ressoando com o poder que fluía em mim. A energia amaldiçoada emanava das minhas mãos; impiedosamente, esmaguei a perna ferida de Manuel, encarando-o com desprezo.
Seus gritos de agonia intensificaram-se enquanto meu rosto, inexpressivo e furioso, o encarava. Abaixei-me para ficar à sua altura e disse: "Não pense nem por um momento que sua morte será rápida."
Manuel tremia, suor e sangue misturavam-se, escorrendo por sua face contorcida de dor. "Você não é... humano", ele conseguiu murmurar, olhos arregalados, consumidos pelo terror.
"Humanidade?" Eu ri, uma gargalhada profunda e amedrontadora que ecoou pela igreja em ruínas. "A humanidade foi arrancada de mim quando vocês a tocaram, quando a luz em seus olhos se extinguiu. Não, Manuel, agora sou algo além, algo que sua mente frágil jamais poderá compreender."
Minha mão apertou-se com mais força ao redor da perna ferida de Manuel, deixando a energia maldita fluir através dele, atormentando cada fibra de seu ser com dor excruciante. "Vou fazer você sentir cada átomo de dor que ela suportou, cada instante de terror", prometi, minha voz uma tempestade de raiva gelada.
E assim, liberei ainda mais da minha energia obscura, permitindo que a maldição consumisse lentamente seu corpo, cada célula sendo aniquilada por minha fúria. Manuel gritou, um grito torturado que reverberou pela igreja, mas não recebei nenhuma misericórdia. Este era seu castigo, a retribuição por sua maldade.
Os céus pareciam ecoar minha fúria, nuvens negras aglomerando-se, relâmpagos rasgando os céus. A realidade em minha volta parecia oscilar, energias de universos distintos fluindo através de mim, alimentando minha vingança.
Depois de longos minutos de tortura, abandonei Manuel, seu corpo semi-consciente e trêmulo jazendo no piso sujo da igreja. Virei-me na direção onde Kokabiel havia sido arremessado, com a intenção gravada em cada passo de caçar e destruir qualquer inimigo que ousasse cruzar meu caminho.
Kokabiel estava lá, tentando se recompor, loucura ainda residindo em seus olhos. Ele olhou para mim, um sorriso torcido adornando seu rosto. "Então, o que vai fazer agora? Vai espalhar o caos como a puta de quem descende? Vai mergulhar o mundo na escuridão com seu novo poder?"
"Vou me vingar pela morte dela", declarei, apontando para o corpo inerte de Lisa. "Mas você não merece nem um segundo de misericórdia."
Nossos olhares se cruzaram, e o silêncio que veio a seguir era ensurdecedor. Apenas os sons dos destroços se assentando e os gritos distantes de Manuel rompiam aquela quietude.
Kokabiel, com um sorriso no rosto, fez surgir em suas mãos duas lâminas feitas de energia escura. Era óbvio o que ele queria. "Vamos ver do que você é feito, descendente."
Com uma velocidade ridícula, Kokabiel lançava seus golpes contra mim. Com passos precisos, desviava de cada um, mantendo os olhos fixos nele e sem sequer piscar. A energia de Kokabiel, seu estilo de luta, tudo parecia nítido para mim, como se eu estivesse enxergando em alta definição.
Eu podia antecipar cada movimento que ele fazia. Era como se eu tivesse acesso a um mar de informações. A energia de Kokabiel era intensa, mas parecia desordenada. Ele confiava apenas em sua força bruta e em sua velocidade, mas eu tinha algo mais a meu favor.
Meus olhos, agora capazes de perceber o fluxo de energia em sua forma mais pura, davam-me uma vantagem. Sempre que Kokabiel se preparava para atacar, eu notava um padrão específico de energia em seu corpo. Era como se eu pudesse ler seus movimentos antes mesmo de ele executá-los.
Em um dado momento, prevendo seu próximo movimento, desloquei-me rapidamente e segurei seu pulso, impedindo que sua lâmina de energia escura me atingisse. Com minha outra mão, canalizei minha energia amaldiçoada diretamente nele, fazendo Kokabiel soltar um grito de dor.
Ele tentou escapar, mas a firmeza do meu aperto era implacável. A energia maldita devorava sua mão e braço, dissolvendo pele e carne com sua corrosão brutal. Seus olhos, antes transbordando de loucura e arrogância, agora estavam inundados de terror e desespero.
"Você... Como...?" Ele gaguejou, a voz vibrando com a agonia que consumia seu ser.
"Você vai pagar por tê-la matado," murmurei, permitindo que cada palavra permeasse o ar com a promessa de uma vingança sombria. "Acha mesmo que por ser um caído, você é superior?"
Intensifiquei a pressão em seu pulso, sentindo os ossos cedendo e triturando-se sob o poder da minha mão. Kokabiel soltou um grito estridente, a última resistência despedaçando-se. Com um movimento violento e impiedoso, arranquei seu braço. "Lá se vai uma das suas penas, corvo," falei, olhando-o com um desprezo glacial. Ele, num ato desesperado, virou-se, asas abertas, tentando fugir da iminente tormenta.
Com um salto ágil, alcancei-o, segurando firme um par de suas asas. "Eu te disse, vou te depenar, seu corvo de merda," vociferei, e com um puxão brutal, despedacei as asas que segurava, e um grito ensurdecedor rasgou o silêncio.
Ele despencou, um amontoado de dor e desespero, sangue manchando o solo, enquanto eu avançava, cada passo um eco de minha intenção cruel. O caído, outrora um monumento de poder e vaidade, agora jazia quebrado e destroçado, um joguete aos pés da minha vingança.
"Por favor... poupe-me, pelo amor de Deus!" Ele suplicou, arrastando-se pateticamente, tentando fugir da minha ira.
Parei, contemplando-o com um desdém cortante. "Você ousa pedir a misericórdia de Deus? O Deus que você traiu? Que irônico," retruquei com um gelo mortal na voz.
Ele se arrastava, um rastro de súplicas patéticas e desesperadas enchendo o ar, tentando escapar do julgamento dos meus olhos. "Eu... Eu estava errado," ele admitiu, a voz um murmúrio trêmulo de remorso. "Por favor, permita-me viver."
Moldando uma lança da energia amaldiçoada, apontei-a para ele, os olhos fixos com uma determinação sombria. "Peça misericórdia ao seu pai, não a mim," declarei.
No instante em que me preparei para desferir o golpe final, um círculo mágico surgiu sob ele. Um sorriso torceu seu rosto. "Nos encontraremos novamente, garoto, e eu arrancarei sua cabeça," ele prometeu.
Meus olhos se alargaram, e com um movimento feroz, lancei a lança em sua direção. Uma explosão de poeira eclipsou a visão, e quando a cortina se dissipou, Kokabiel havia desaparecido. "SEU COVARDE FILHO DA PUTA! EU VOU TE MATAR!" gritei, cada palavra impregnada com a promessa de uma vingança inabalável.
Após o desaparecimento de Kokabiel, um silêncio pesado e furioso envolveu o local devastado. O som do meu coração batendo retumbava como um eco sombrio em meus ouvidos. Fiquei lá, com a lança impregnada de minha energia amaldiçoada firmemente em minhas mãos, o ar ao meu redor pulsava com o poder não liberado, com a fúria insaciável.
A atmosfera parecia compartilhar da minha raiva, as nuvens no céu se revolviam com uma violência aumentada, e os ventos uivavam freneticamente. Meus olhos se fixaram no espaço vazio onde Kokabiel havia escapado, uma promessa silenciosa de vingança ardendo em meu olhar.
"Você não vai escapar, Kokabiel", murmurei para mim mesmo, sentindo cada palavra carregada da promessa de retribuição. "Vou te caçar até os confins deste universo e além. Você vai pagar pelo que fez."
Respirei fundo, lentamente, tentando recuperar algum controle sobre as energias caóticas que tumultuavam dentro de mim. Ainda via o mundo em camadas de energia, sentindo o resquício do poder corrupto de Kokabiel, a poluição de sua presença maligna.
Voltei meu olhar para onde Lisa repousava. Uma onda de desespero inundou meu peito, a dura realidade de sua ausência começava a se instalar. Caminhei até ela, sentindo uma dor surda a cada passo.
Ajoelhei-me ao lado de seu corpo, meus olhos deslizando por seu rosto tranquilo, uma expressão de paz que contrastava com o caos e a violência que nos rodeavam. Toquei seu rosto delicadamente, sentindo uma tristeza avassaladora me consumir.
"Lisa", sussurrei, minha voz embargada pela emoção, "eu prometo, eles vão pagar. Todos eles." Lágrimas inundaram meus olhos, e eu a abracei, permitindo que a dor tomasse conta, chorei como uma criança que acaba de perder a mãe.
Fiquei lá por um tempo, até que sirenes distantes começaram a invadir meus ouvidos. Recordando do caos que havíamos causado, percebi que tínhamos atraído a atenção não apenas das autoridades. Levantei, limpando meus olhos, e dei um último beijo na testa de Lisa, prometendo vingança. "Saiba que eu te amo... e não descansarei até exterminar aquele desgraçado. Eu sei que você queria que eu fosse feliz, mas só permitirei isso a mim mesmo quando tiver vingado você."
Com dificuldade, me levantei e corri para longe da igreja, buscando refúgio. Após me distanciar alguns quarteirões, me abriguei sob uma ponte, sentindo meu corpo à beira do colapso. A exaustão e o choque das energias me dominavam, cuspindo sangue enquanto tentava manter-me de pé. Encarei meu reflexo numa poça de sangue, e a única coisa que consegui perceber, além do meu estado deplorável, foram meus olhos "Azuis...", murmurei, antes da escuridão me consumir novamente.