Dezembro de 2007
O verão já havia começado e o natal de um brasileiro era recheado de céu azul e ondas de calor. Por esse motivo que a cerimônia ocorreria no entardecer, onde a temperatura abaixaria anunciando a noite deixando um clima gostoso para celebrar um casamento.
Usando um terno azul bebê, o ômega ajeitava a gravata da mesma cor ao redor do pescoço do pai. Naquela pequena saleta da igreja da cidade, pai e filho compartilhavam um silêncio que mascarava a ansiedade. Apenas ouviam o falatório dos convidados no lado de fora.
— Pronto. — Dizia Theodore sorrindo satisfeito ao ajeitar a gravata do pai. — Combinou bem com o terno preto.
— Definitivamente não gosto de usar isso. — Rosnava Bill baixo, um tanto quanto desconfortável.
— É só por algumas horas, aguenta aí. — Olhando o pai, Theodore fazia uma leve careta — Não raspe a barba de novo, por favor.
— Maggie disse a mesma coisa. Estou bem?
Dando alguns passos para trás, Theodore olhara para o pai de cima à baixo. Definitivamente era estranho vê-lo em um terno e sem o seu costumeiro chapéu. Ou então sem o seu jeans e camisa xadrez clara. Até mesmo seus cabelos acinzentados estavam penteados!
A ausência da barba rejuvenescia a fisionomia de Bill. Theodore não escondera o sorriso ao pensar que seu pai era um alfa muito bonito.
— Deslumbrante.
— Hm... Isso é bom. Você também está bonito. Parece feliz.
— E eu estou. — Sorria Theodore olhando para a mão esquerda onde a aliança prateada brilhava. — Estamos felizes.
Batidas na porta interrompiam a conversa, tendo na porta Gabriel usando um terno escuro segurando um bebê de três meses. Kauã tinha cabelos castanhos e fisionomia parecida com Gabriel, mas os olhos eram tão azulados quanto de Theodore e sua personalidade era doce como o pai.
— A noiva chegou, já podemos começar. — Entrando na sala, Gabriel ficara ao lado do namorado olhando o sogro com um sorriso nos lábios. — Ficou bonitão hein sogro.
Bill abrira um sorriso nervoso, prestando atenção no neto que o olhava tão atentamente quanto os pais. Estendendo as mãos para a criança, sua felicidade aumentara quando o pequenino estendera os bracinhos o deixando pegar no colo.
— Tem gente mais bonita aqui. Não é rapazinho?
— Ele tá estranhando o vô sem barba. — Comentara Theodore segurando o riso.
— Já entendi, não vou tirar mais.
A mão do menor tocara a boca do vô e rira preso na diversão de seu mundinho, mas roubando suspiros dos outros três. Poderiam ficar mais tempo só apreciando aquele pequenino, mas um casamento precisava acontecer.
Devolvendo-o para o colo de Theodore, Bill respirara fundo deixando a saleta indo para a entrada da igreja.
Havia uma quantidade considerável de convidados, dado que a maioria eram da cooperativa que torciam intensamente pelo casal. A família de Maggie também era grandinha, e Theodore não reconhecera muitos familiares por parte do pai.
Quer dizer, os que o reconheceram já ficavam surpresos em saber que o ômega era pai, tendo o bom senso de não tecerem comentários na sua frente. Afinal, como poderiam dizer qualquer coisa quando aquele pequenino alfa usava uma camisa branca e jardineira preta estava na sua frente? Tão chique quanto qualquer outro convidado.
O casamento logo começara quando os músicos tocavam os hinos cerimoniais. Theodore estava na primeira fileira observando a entrada de seu pai acompanhado da futura sogra. Dificilmente um filho assiste o casamento dos pais, e por isso o ômega loiro se permitira emocionar ao contemplar a chance de seu pai ser feliz novamente.
A entrada da noiva fora deslumbrante! Mesmo que o vestido fosse simples, Maggie estava linda com aquele sorriso contagiante. Theodore até espiava seu pai, pegando em flagrante o sorriso dele.
Sentando Kauã em seu colo, Theodore assistira a cerimônia deslumbrado. Já havia ido em casamentos quando era criança, mas parecia que aquele era especial. Emocionara-se em vários momentos, especialmente nos votos.
Até Gabriel o abraçara de lado beijando seu rosto.
A recepção fora feita em uma churrascaria. Fotos foram feitas seguido de discursos e brindes. O jantar fora servido com rodízio de carne do jeito que um peão gosta e Theodore precisou de um momento para dar mamadeira para Kauã, que enchia as bochechas de leite.
Logo após o jantar as mesas foram afastadas para o casal dançar sua primeira valsa. Somente depois de deslumbrar aquela cena, Theodore fora para a recepção da churrascaria onde tinha um banco de madeira perto da porta para se sentar.
De olho no luar visível pela porta, Theodore sentava o filho sobre suas pernas rindo baixo com aqueles olhos claros voltados para ele.
— Olha que menino bonito. Foi todo paparicado hoje, mais que os noivos.
Kauã ria abafado com a chupeta, estendendo as mãos para tocar o rosto de Theodore e esfregar o nariz no do pai. Deixando-o em pé sobre suas pernas, o ômega aproveitava o carinho recebido do filhote sentindo aquele cheirinho gosto de bebê e ouvi-lo rir graciosamente.
Gabriel logo chegava também, carregando na mão alguns docinhos que foram liberados. Se sentando do lado do ômega, o moreno colocara em sua boca um brigadeiro sem deixar de rir baixo com a felicidade de Theodore em comer doces de novo.
— Ah, eu precisava disso.
— Foi difícil aguentar todo esse tempo sem chocolate, não é?
— Maldita dor de barriga. — Rosnava o ômega, abrindo a boca para receber outro brigadeiro.
— Milles ligou agora que eu tava pegando doces. — Dizia o alfa depois de comer um doce de chocolate branco. — Ganhou a bolsa naquela universidade e já recebeu convite pra jogar no time deles.
— Vai ser difícil ele ter que pegar a estrada todos os dias pra ir estudar. É perigoso.
— É isso ou Nicolas abandona a escola pra ir morar com Milles na outra cidade. — Sussurrava o alfa pegando mais um doce prestes a dar à Theodore, mas percebera outro par de olhos claros focados nele — Olha isso, Theo...
Os dois reprimiam o riso com Kauã olhando tão atento o brigadeiro. Gabriel mexia o doce para cima e para baixo tendo aqueles pequeninos olhos claros seguindo piamente o doce. A concentração do garoto fazia Theodore lembrar de Gabriel concentrado quando joga vôlei.
Tal pai tal filho.
— A vocês estão aí. Já pegaram doces?
— Gabriel trouxe agorinha. Mas tem alguém querendo roubar eles de mim.
Bill e Maggie aproximaram-se do casal, rindo divertidos com o bebê fitando atentamente o doce ainda. E quando o brigadeiro fora comido por Gabriel, Kauã choramingou estendendo os braços para o pai.
— Oh pecado, fica fazendo vontade na criança! — Ria Maggie.
— Ele já não pode comer doce?
— Não! — Respondera Theodore categoricamente. — Preciso ir no banheiro, fica com ele um pouquinho.
Entregando o bebê para Gabriel, Theodore logo entrara na churrascaria novamente, e Maggie também entrara indo buscar o fotógrafo para tirar fotos de Kauã. Aproveitando a ausência, Bill se sentou do lado de Gabriel mostrando os docinhos que trouxera escondido.
— Aqui, fica passando vontade não rapazinho.
— Sogro... Theo vai brigar.
— É só não contar, não seja molenga.
Bill tirou a chupeta da boca de Kauã e pegara um micro pedaço do brigadeiro, sem granulado, dando na boca da criança. Os dois alfas olhavam aquele pequenino chupar o doce enfiando a mãozinha na boca e em seguida estender a mão para o restante do brigadeiro.
Parece que puxaria Theodore. Outra formiguinha.
Antes de dar mais um pedaço, Bill olhara em volta averiguando que Theodore não voltaria antes para pegá-lo no flagra. Mas também não abusara da sorte, devolvendo a chupeta a Kauã antes mesmo de Theodore retornar.
Gabriel guardara em segredo a artimanha de seu sogro.
O fotógrafo logo chegara registrando naquela noite uma família feliz. Principalmente um bebê feliz por ter experimentado, pela primeira vez, chocolate.
「 • • • 」
Theodore e Gabriel eram pais babões. Não tinha como não serem, Kauã era lindo e encantador. Só não esperavam que ele roubasse atenção até mesmo de dois briguentos.
Enquanto se deliciavam da pizza que comiam, o casal observava divertido Nicolas e Milles brincarem com a criança sobre o sofá da sala. Nicolas segurava Kauã que ria alto com as palhaçadas de Milles. E como se não bastasse, o pequenino virava para os pais com quem perguntasse "estão vendo isso aqui?".
— Ah eu quero comer essas bisnaguinhas, nham nham nham. — Milles roçava os lábios nos pezinhos de Kauã, que gargalhava puxando o pézinho das cócegas.
— Chuta a cara dele, Kauã.
— Para de ensinar essas coisas, baixinho.
— Não briguem na frente do meu filho. — Avisava Theodore ao pegar outro pedaço de pizza. — Vocês tem que ser exemplo pra ele.
— Exemplo do que não fazer, só se for. — Ria Gabriel, tendo uma almofada voando em sua direção da sala, a pegando imediatamente. — Olha o perigo!
Era difícil Nicolas evitar ser violento quando Kauã estava por perto. Principalmente quando Milles aproveitava daquele momento para atormentá-lo.
Quando o celular de Milles tocara, os dois se sentaram direito tendo Nicolas ajeitando a criança em seu colo. O ômega conversava com Kauã ignorando qualquer outra pessoa em sua volta. Fosse por isso que ele nem notara quando Milles passara o braço em sua cintura o abraçando, ou do beijo que recebera no topo da cabeça.
Em compensação, Gabriel e Theodore ficavam boquiabertos tentando pegar o celular para uma foto daquela relíquia.
— Gente, quando vão assumir que estão namorando?
— Eles estão. Ouvi Milles dizendo que ia comprar aliança. — Sussurrava a mãe de Nicolas para Theodore sem tirar os olhos daquela cena.
— Já comprou — Afirmava Gabriel puxando o queijo da pizza — A gente comprou junto.
Theodore erguia a própria mão com sua aliança, em seguida observou o outro casal arqueando a sobrancelha.
— Será que a gente precisa dar um empurrãozinho pra eles admitirem?
Os três assistiam Kauã olhar para Milles e sorrir mostrando as gengivas banguelinhas graciosamente, desconcentrando o alfa de sua ligação. Como uma lâmpada acendesse sobre a cabeça de Theodore, o ômega limpara os dedos no guardanapo.
— Ei, Nico você é bem cuidadoso com o Kauã... Será que agora você tem vontade de ter filhos algum dia?
A pergunta fora tão simples que Nicolas nem olhava para Theodore, mantendo sua atenção na criança. Mas a resposta viera com sinceridade apesar da objetividade.
— Mas é claro!
Milles engasgara com a saliva desligando o celular.
Gabriel e a mãe de Nicolas tinham os olhos esbugalhados para o ômega baixinho, que finalmente se dava conta do que falava. Diferente do esperado, ele não aparentava estar envergonhado e nem tentara se explicar.
— O que estão olhando?
— Tu respondeu sem saber o que te perguntaram, não é?
— Theo perguntou se eu mudei de ideia sobre ter filhos.
Milles virou-se para o ômega, apoiando o braço no encosto do estofado.
— Tá falando sério?
Nicolas baixara os olhos para Kauã, apertando suas bochechas gordinhas.
— Ah... Se nascer uma coisinha bonitinha dessa, até ignoro o fato de ter o teu sangue.
Fora a vez de Theodore engasgar, dessa vez cuspindo a coca e tendo um acesso de tosse. Estendendo o guardanapo para o namorado, Gabriel só assistia Milles ficar envergonhado.
— Tá dizendo que quer ter um filho comigo?
Nicolas virou-se para o alfa arqueando a sobrancelha.
— Deveria ter com outra pessoa então?
— Nem fodendo! — Gritara o alfa, tendo a criança o olhando assustada. Milles cobrira a boca tendo toda a face avermelhada de vergonha.
Nicolas abria um sorriso ladino e malicioso para Milles, sem tecer comentários sobre aquela conversa.
— Uuuuh! — Kauã reclamava segurando o rosto de Nicolas para olhá-lo.
— É! Seu tio tá achando que vai fugir de mim, vê se pode Kauã. Ele fez essa mesma cara quando eu disse que ele era meu namorado.
Fora a vez de Gabriel engasgar. E a cozinha se tornara uma verdadeira bagunça de guardanapos.
— Qual é a de vocês? Não sabem beber direito, não?
— É o choque. Nico vocês estão... Finalmente?
Nicolas olhara para Milles e então para Theodore concordando com a cabeça. O casal de namorados nem escondiam a surpresa, ou fingiam ser algo natural. Quer dizer, Nicolas havia tomado a iniciativa de fazer um pedido? Era novidade!
Os dois viraram-se para Milles que coçava a nuca sem ter coragem de retribuí-los. Fingia prestar atenção na parede só pra esconder a vergonha sentida.
— Mas desde quando? E você nem me conta! Como foi o pedido?
— Não foi um pedido. — Murmurava Milles formando um bico nos lábios — Foi uma intimação.
— Como se eu fosse perder meu tempo fazendo pedido. Se é meu então é meu e pronto. Não é Kauã?
A criança que tocava a estampa da camisa de Nicolas erguera a cabeça para o padrinho e a inclinara inocentemente.
Theodore e Gabriel terminaram de comer e se juntaram ao outro casal no estofado, tendo Kauã querendo voltar para o colo do pai loiro. Estando os quatro unidos, Theodore se encostava no peitoral do namorado e logo iniciou-se todo o interrogatório sobre como tinha sido a tal intimação de namoro.
A mãe de Nicolas aproveitara a distração dos mais jovens para pegar sua câmera digital e tirar uma foto deles discretamente. Nunca imaginaria que seu filho estaria rodeado de bons amigos e sorrindo daquela maneira. Até mesmo se sentia orgulhosa de ver Theodore alegre depois de ter enfrentado tantos problemas por causa de sua classe.
Tudo graças a chegada de um aluno transferido.