Nenhuma outra partida fora tão tensa quanto aquela. Enfrentar times fortes era completamente diferente do que Gabriel sequer imaginara em toda a sua vida.
O grito que vinha das arquibancadas mostrava um número maior de torcedores para o time de Montreal. Mesmo a partida ocorrendo na cidade vizinha, eles se deslocaram só para marcar presença. Para o time de vôlei era o energético social necessário para manter sua moral.
A final das regionais estava intenso. Montreal se encontrava no set point que poderia levar à sua vitória. O adversário parecia tenso e nervoso, ansiando por um ponto que lhes entregassem a chance de virar o placar.
O apito soara. A bola fora sacada.
O rally começara frenético, tendo os jogadores se movimentando na quadra de acordo com a liderança de seu capitão. Vindo em sua direção, Gabriel se posicionara erguendo a bola para Milles que cortara, mas a recepção do adversário fora boa e eles conseguiam revidar.
Milles e Gabriel se uniam na rede formando um bloqueio duplo que retardara a força da bola. Nicolas a recebia e logo Boyle cortava para o outro lado da rede.
O movimento daquele rally tornara-se frenético em segundos. Nenhum dos lados cedendo a sua vitória. A adrenalina cumpria com o seu trabalho, tendo o foco aquela esfera que ia de um lado para outro. Gabriel não tirava os olhos dela, assim como se atentava ao movimento de seus colegas de time.
Tendo a bola vinda do outro lado e recebida, Gabriel correra para o fundo da quadra e levantara diretamente na rede onde Nicolas já saltava na sua espera. A bola fora colocada diretamente na mão do capitão, que cortara fortemente.
Havia um jogador prestes a receber a bola, mas a força de Nicolas fora maior do que esperado. Por ter tocado o jogador que recebera, o ponto fora dado para Montreal garantindo a sua vitória.
O ginásio fora preenchido pelos vivas e euforia da arquibancada. Todos os jogadores de Montreal se reuniam na quadra em um abraço de grupo, gritando incrédulos pela vitória conquistada. Logo em seguida a cerimônia de premiação fora feita, tendo cada um dos jogadores exibindo a medalha dourada em seus peitos.
Gabriel olhava para aquele ginásio sentindo a euforia cobrir-lhe o peito. Jamais esqueceria a sensação de estar em quadra conquistando algo junto com seus colegas de equipe. Participar das regionais fora difícil já que agora tinha outras responsabilidades.
Apesar de conciliar estudos, treino e trabalho, Gabriel pedira ao professor de educação física para retornar a jogar só no ano seguinte. Afinal, tinha que ajudar o seu ômega.
— Biel! Tá na hora cara, corre! — Avisava Milles com um cutucão em sua costela.
— Hora do quê? — Questionava Boyle curioso.
— Nada que interessa, vamos comemorar! — Gritava Nicolas, apesar de já parecer sonolento. — Aceito pizza, e o professor paga!
— Não me lembro de ter dito que pagaria...
— Nada mais justo que o técnico pagar uma pizza já que trabalhamos tão duro!
Despertando do devaneio, Gabriel puxara o pulso do técnico verificando as horas em seu relógio. Arregalando os olhos, o rapaz pegara a sua bolsa que estava com o técnico e saíra em dispara sem se despedir dos demais. Precisava chegar o mais depressa possível ou seria tarde demais.
O fluxo de gente saindo do ginásio era intenso. Gabriel ficara nas pontas dos pés na procura do velho carro sem encontrá-lo. Pegando o celular de sua bolsa esportiva, discara o número rapidamente sem deixar de procurar o dito veículo.
— Já saiu? — Dissera a voz feminina do outro lado da linha.
— Já sim, mas não estou te vendo.
— Ah, tive que estacionar do outro lado da rua. Estou na frente de um pet shop.
— Ok, sei onde fica.
Desligando o telefone, Gabriel se enfiara entre as pessoas tendo dificuldades até de atravessar a rua. Por que raios a cidade estava tão movimentada, justo naquele dia?
Em meio à pedidos de desculpas por esbarrar numa pessoa ou pisar no pé de outra, Gabriel conseguira finalmente chegar no dito pet shop encontrando o carro de sua mãe. Logo entrara nele suspirando pela segunda vitória do dia, que parecia tê-lo feito correr uma maratona das olimpíadas.
— Oh está todo suado e sem casaco, vai pegar friagem. Veste uma blusa!
Antes de jogar a bolsa no banco de trás, Gabriel vestira o moletom como pedido e se ajeitava no carro. Miriam logo criara coragem em dirigir o carro pela cidade, tentando buscar atalhos para chegar até a rodovia o mais depressa possível. No entanto o congestionamento parecia se alastrar até mesmo para as ruas mais simples e escondidas.
Tendo finalmente chego na rodovia, Miriam estendia uma sacola com lanche para Gabriel.
— Pensei que iam sair mais cedo hoje.
— A intenção era essa, mas os caras conseguiram empatar dois sets com a gente. Se eu soubesse que ia dar nisso nem ia jogar.
— Bem que o Theo avisou que a partida seria complicada.
Encolhendo-se no banco, Gabriel mordia o lanche concordando em silêncio. Obviamente Theodore sabia que o jogo seria complicado, fora ele quem montara toda a estratégia da partida, o que garantira os dois primeiros sets para Montreal. Mas o ômega não sabia que o time adversário também reunira informações sobre eles e conseguira montar uma estratégia que virasse o jogo.
Se o ômega estivesse presente no ginásio, certamente ele teria percebido e dado orientações de última hora que impediriam aquele rally frenético.
Mas não adianta pensar sobre aquilo naquele momento. Haviam ganho, Gabriel já retornava para sua cidade e comia um delicioso X-Bacon.
O retorno para a cidade demorara algum tempo, e para chegar até o hospital então fora uma tortura. Principalmente quando Gabriel recebera a ligação de sua sogra avisando que não poderiam esperar por mais tempo. O alfa já estava ansioso ao ponto de não parar quieto no banco, e sua mãe só ria na mais pura paciência.
Mal estacionara o carro em frente do hospital, e Gabriel saltara do veículo sob tropeços. Correra para a entrada do hospital sem nem precisar falar com o atendente, indo direto para a ala da maternidade.
Somente quando chegara é que pedira o quarto de um certo ômega, recebendo o crachá de visitante. Com o passe liberado, ele seguira as orientações das enfermeiras, encontrando sua sogra e Pete no corredor.
— Oh, Biel finalmente chegou!
— Desculpem o atraso, e o Theo? E o Kauã? Já nasceu?
— Calma rapaz — Ria Pete tirando um pedaço do pão no queixo de Gabriel. — Entrou agora na sala de cirurgia. Logo ele é liberado, pode terminar de comer.
Gabriel descera os olhos para o sanduíche que ainda estava pela metade. Suspirando aliviado por ter chego, o alfa se sentou em uma cadeira terminando de comer enquanto esperava em frente à sala de cirurgia.
O parto havia sido agendado para aquele dia apesar de haver o conflito da partida das finais. Gabriel até tentara fazer mudar a data ou não participar do jogo, mas Theodore insistira que tudo ficaria bem. Até tentaram ver se poderiam adiantar a data da cirurgia, porém a posição do bebê não davam muitos indícios de que seria um bom momento.
Kauã queria nascer justo naquele dia.
Mal dormira devido a ansiedade. Desejava ficar o tempo todo com Theodore, do seu lado o acalmando. Mas o ômega tinha certeza de que o jogo terminaria a tempo. E olha só, estava uma hora e meia atrasado!
Seus instintos haviam acertado naquele quesito.
Agora que a adrenalina finalmente se dissipava, o alfa se sentia sonolento. Encostava a cabeça na parede, cruzava os braços e mantinha os olhos fechados só pra descansar um pouco. Apesar de que o mero movimento no corredor o fazia abrir os olhos na esperança de ser o médico liberando a sua entrada.
Fora mais uma hora até que tal anseio se concretizasse.
O médico saíra da sala de cirurgia abaixando a máscara no mesmo instante em que Gabriel pulara da cadeira.
— O papai chegou então. — Ria o médico, recebendo um sorriso envergonhado de Gabriel.
— Como eles estão?
— Ocorreu tudo bem, o bebê parece saudável. Assim que transferirmos para um quarto poderão vê-los.
Um suspiro de alívio não somente fugia de Gabriel como também do outro casal que aguardavam as notícias. Logo a mãe de Gabriel também se ajuntava a eles, felicitando o filho pela chegada de Kauã.
Pete e Aline tinham de voltar ao trabalho, e Gabriel permanecera com a companhia da mãe. Por ela não ter almoçado, o alfa a acompanhou até a praça de alimentação onde puderam se acalmar.
— Ah, eu preciso dormir.
— Esquece isso. Agora noites bem dormidas não te pertencem mais.
— Eu sei, mãe. — Ria o alfa, massageando os olhos que ardiam.
Apesar do cansaço batendo à porta, Gabriel não sossegara até voltar para o corredor e ser notificado que Theodore e Kauã já estavam no quarto. Correr para encontrar o carro de sua mãe mais cedo não seria comparada com o seu caminhar apressado pelos corredores até chegar no dito quarto.
Abrindo a porta, seus olhos se encontraram com aquelas pérolas azuladas e o sorriso gigante mostrando as presinhas. Só ali, Gabriel sentira todo o seu cansaço abandonar seu corpo.
— Você chegou! — Sussurrava o ômega estendendo a mão para o namorado, que se apressou em entrar no quarto para segurá-la. — E nem tirou o uniforme do time.
— Que fique registrado o quão desesperado eu estava pra chegar.
E então, os dois desceram os olhos para o pequenino ser embrulhado em uma manta que se encontrava nos braços de Theodore. Afastando a coberta, usando uma toquinha pequenina estava Kauã dormindo quietinho.
Gabriel tocara sua bochecha com a ponta do indicador com leveza, observando o recém nascido encolher-se nas cobertas e soltar um bocejo em seguida. Rindo bobo, observara que o presente de Lilian havia sido escolhido como a primeira roupa daquela criança.
— Ele é lindo! — Dizia o alfa abobalhado. — E tão pequenininho.
— Não é? Bem levezinho, aqui segura ele pra ver.
Theodore estendia os braços para o namorado pegar a criança, e quando fizera tivera o vislumbre mais belo em toda a sua vida. O sorriso mais genuíno surgia ali junto do olhar mais caloroso. Gabriel olhava para o próprio filho com tamanha emoção, que era difícil evitar de lacrimejar.
— Oh campeão, tá reconhecendo a voz do papai? Falei muito contigo enquanto estava no forninho, não é?
O ômega não deixara de rir, enxugando rapidamente a lágrima que escorria em seu rosto. Mas fora pego em flagrante pelo namorado. Movendo-se na cama, Theodore dera batidinhas no acolchoado para Gabriel se sentar ao seu lado.
Tendo ele tão pertinho, os dois eram incapazes de tirar os olhos daquele pequeno bebê. Ainda assim houvera um momento em que Gabriel erguera a cabeça pegando Theodore no flagra em admirá-lo silenciosamente.
— Já disse que te amo?
— Talvez? Não me lembro...
Gabriel depositara um selar rápido nos lábios de Theodore, o calando.
— Eu te amo, Theodore.
Abrindo um sorriso envergonhado, o ômega corava levemente em ouvir aquelas palavras. Elas pareciam um sonho ainda.
— Eu te amo também, Gabriel.
Segurando o rosto de Gabriel, Theodore depositava outro selar em seus lábios. Dessa vez mais demorado e singelo, provando a si mesmo que aquilo não era um mero sonho.
Ele havia conquistado o aluno transferido.