O time Montreal tivera de passar o dia todo naquela cidade. Até que o horário da cerimônia de premiação chegasse, professor Marcos permitira que os meninos fossem se divertir no shopping da rua de trás, os buscando uma hora antes da cerimônia começar.
Tendo a ausência apenas de dois jogadores, a cerimônia fora feita e o técnico levara o time para comerem em um restaurante onde celebravam a sua vitória. Enquanto isso Theodore e Gabriel permaneceram na enfermaria ajudando Milles quando o mesmo recobrara a consciência já à noite.
Nicolas não estava por perto quando abrira os olhos, e fora necessário uma boa explicação do que havia ocorrido para um Milles confuso. Mas tudo o que importava para ele era que haviam ganho as eliminatórias e nada de grave acontecera consigo.
— Então eles foram comer fora e nem pensaram em me esperar?
— Theodore foi com o Nicolas pegar umas esfihas no Habib's pra gente comer no caminho de volta. — Comentara Gabriel arrumando sua mochila.
O time já havia retornado e estavam esperando por eles no ônibus. Só precisavam aguardar a chegada dos dois ômegas e então embarcariam de volta para suas casas.
— Ah... Que drama. Justo quando eu sou o capitão. — Murmurava o alfa observando a faixa em sua cabeça — Vai ser um saco ter que explicar isso pros meus pais. E você, como tá?
— É só um dedo quebrado. Ainda tenho energia pra jogar alguma coisa.
O sorriso malicioso do moreno não passara despercebido pelo alfa, que apenas gargalhara apesar da pontada que sentira na cabeça.
— Você não perde tempo, bobinho. Ah, quem me dera poder me animar desse jeito.
— Na verdade, seria bom você se dedicar pro teu ômega. — Dissera Gabriel jogando a mochila sobre o ombro recebendo um olhar desconfiado do amigo — Ele ficou muito mal. Pra caralho.
— Nicolas? Mal? Deve ser por causa da mordida...
— Independente do motivo, não muda o fato de que deixou ele preocupado. E mesmo que tente dizer o contrário — Apressou-se em dizer o alfa, quando Milles estava prestes a contradizê-lo — ele ficou do seu lado até quase desmaiar de fome. Foi difícil fazer ele ir junto com o Theo procurar comida.
Milles não conseguia imaginar aquele tipo de cena, de Nicolas preocupado consigo ao ponto de ficar mal. Genuinamente. Talvez fosse a mordida o obrigando a se sentir daquela maneira, já que perdera a consciência por algumas horas.
Os dois alfas logo foram para o ônibus se surpreendendo em encontrar todo o time dormindo nas poltronas, até mesmo o professor roncava com uma blusa cobrindo seu rosto. Silêncio era confortante, principalmente por alfa ainda sentir dores de cabeça. A última coisa que gostaria era ter de lidar com a bagunça dos colegas de time.
Estava a salvo por ora.
Sentando-se no último banco, Milles fechara a cortina e aproveitara o escuro do ônibus para descansar. Mas logo ficara ansioso quando o cheiro de um certo ômega anunciava a sua chegada.
Theodore se sentou ao lado de Gabriel e logo dividiram a pequena caixa de esfihas espalhando o delicioso aroma por todo o ônibus. Ainda que o cheiro fosse tentador, ninguém acordara tamanho o cansaço.
Quando sentira um movimento na poltrona ao seu lado, Milles abrira os olhos encontrando Nicolas de cabeça baixa. Geralmente ele estaria tomando todo o espaço pra se deitar, até tentaria deixar os pés no colo do loiro, mas estranhamente ele permanecia de ombros encolhidos e cabeça baixa segurando a caixa de esfiha no colo.
Era impossível ver seus olhos.
Dando a partida, o ônibus finalmente deixara o ginásio para seguir pela cidade.
Baixando-se tentando ver seu rosto, surpreendia-se com Nicolas virando a cabeça o impedindo. Milles espreitara os olhos inclinando-se mais ainda podendo ver os olhos marejados quando o ônibus passara pela avenida iluminada. Com a luz passando pelas frestas das cortinas, Milles podia notar que o ômega estava segurando suas emoções.
Deixando a mão sobre sua cabeça o alfa sorria, sentindo o calor em seu peito.
— Não quer saber se estou bem? Pode me olhar se preferir.
— Cala a boca.
— Eu enxugo as tuas lágrimas.
— E quem disse que eu to chorando?
Milles achara graça das respostas afiadas, já que a voz denunciava seu estado. Nunca ele iria admitir estar preocupado. No entanto, o vínculo que eles tinham também transparecia as emoções escondidas. Pegando a caixa de esfiha e a deixando na outra poltrona vazia, Milles segurara o braço de Nicolas o puxando em sua direção.
Lembrara-se da noite em que seu quarto fora invadido, de Nicolas sendo sincero sobre precisar sentir seu cheiro para se acalmar. Será que deveria liberar o seu cheiro para ele? Ou então sentir o de Nicolas? Não sabia ao certo... Mas tentaria.
— Ainda estou fraco e minha cabeça dói pra caralho. Preciso do seu cheiro.
Sem questionar ou reclamar, Nicolas se sentara em seu colo encolhendo-se em seu peitoral. Já haviam dormido juntos diversas vezes, mas era a primeira vez que Nicolas ficava em seu colo daquela maneira. Ainda escondia seu rosto, mas os dedos se fecharam no moletom do alfa deixando claro o seu estado de nervosismo. Milles não escondia o sorriso.
Até mesmo o seu coração começara a acelerar.
Aquilo era, definitivamente, um golpe baixo.
— Olha pra mim, Nicolas. Precisa ver que eu estou bem.
— Eu sei, cala a boca.
— Nós dois sabemos que está mentindo. Tente olhar pra mim.
— Não quero ver sua cara de bosta.
Se fosse em outro momento, talvez alguns meses atrás ou até mesmo um ano atrás, Milles já teria perdido a paciência e começado uma discussão com o baixinho de língua afiada. Contudo as coisas já não eram como antes.
Não mesmo.
Passara a compreender o modus operandi daquele ômega. Sabia quando suas palavras podiam ser uma arma de ataque ou de defesa. Quando estaria mentindo para si mesmo ou apenas fugindo de algo. Não apenas graças à mordida ou dos instintos que se chamavam o tempo todo.
Mas por Milles gostar de Nicolas.
Para onde mais fugiria? Quanto tempo iria negar aquele sentimento? Na quadra, em meio a uma partida, quase desejara que a cabeça de Maicon fosse a bola tamanho o ciúmes que sentira. Isso que fosse uma mera ideia passada em sua cabeça. Quem dirá quando deparasse com alguém que realmente estivesse afim daquele ômega.
Já foram tantas as vezes que quase perdera o controle por ouvirem palavras rudes serem direcionadas para Nicolas. Das vezes que ardera por desejá-lo ou então por sonhar com ele. Era uma loucura sentir tantos sentimentos graças a uma única pessoa.
E se Nicolas nunca tivesse o beijado naquela quadra, teria perdido aquelas sensações tão viciantes. Se embebedaria em outros corpos sem jamais se sentir completo como sentia com o ômega.
Tudo porque o amava.
Erguendo o rosto de Nicolas delicadamente, Milles finalmente pudera enxergar aqueles olhos escuros graças à iluminação da rua. Um vislumbre de preocupação e vergonha que não combinavam com o mau humor rotineiro, mas que ainda assim pertenciam a ele.
Roçando seus lábios um no outro, Milles usava sua pouca energia para conter os próprios desejos. Poderia dominar Nicolas ali mesmo, fazê-lo lhe tocar e provar o quão bem estava se sentindo. No entanto precisava de delicadeza para lidar com aquele marrento. Uma maestria sem igual.
Precisava mostrar para ele que consigo não haveria como se esconder. E que jamais riria de sua sensibilidade.
Tendo finalmente o ômega tomando a iniciativa para um beijo cálido, Milles suspirara aliviado. As mãos dele agora ganhavam calor agarrando-se em seus ombros no mais puro desespero. Mantendo a calma, o loiro acariciava as bochechas até que seus dedos tocassem as lágrimas que finalmente eram soltas.
Elas se mesclavam ao beijo trazendo o gosto salgado de um garoto adolescente que estava sentindo preocupação por outra pessoa pela primeira vez. Um garoto que sempre precisou ser forte para proteger os outros, mas que encarara a própria fragilidade naquele dia.
Milles conseguia sentir cada emoção de Nicolas e por saber que elas envolviam a sua pessoa, seu coração acelerava dentro do peito. Aquele sentimento quente e formigante só crescia quando sentia as mãos de Nicolas sobre seu rosto. Ainda que Nicolas não ousasse apertá-lo ou tocar na faixa em volta de sua cabeça.
O que poderia fazer para que ele sentisse o quão bem estava? Ou então que demonstrasse aquele sentimento que tinha em seu peito?
A resposta era óbvia.
Agora que já admitira para si mesmo os sentimentos por aquele ômega, não precisaria se conter.
Afastando-se do beijo, o alfa murmurara contra os lábios de Nicolas.
— Eu vou te morder, mas se quiser pode me afastar.
Sentira em suas mãos Nicolas petrificarem em seus ombros. Encarando-o nos olhos sem quebrar a distância, Milles percebia ser analisado profundamente. Deixando-o em meio às suas reflexões, o alfa abrira a blusa de Nicolas a baixando descobrindo seus braços. Em seguida afastara a regata do uniforme do time, deixando seu ombro esquerdo à mostra.
Acariciou sua pele macia e suave, da qual já desfrutara diversas vezes. O cheiro dele ficara um pouco mais forte, principalmente quando Milles inclinou-se para depositar um beijo na região. Nicolas estremecera, mas não se movera.
Quando Milles lambera a pele, o ouvira arfar. Os dedos compridos do ômega foram aos cabelos próximos da nuca, o apertando contra si. O sinal que Milles precisava.
E assim, afundara seus dentes naquele pele quente e pálida, transmitindo o desejo intenso de se conectar com aquele ômega que lhe pertencia. Agora, o vínculo entre eles era perfeito.