— Eu não vou te liberar da suspensão antes do tempo. Segunda-feira você volta às atividades do time. Ponto. Sem discussão.
— Manhê!
— Eu disse sem discussão, Nicolas.
Aquele tipo de discussão já era tão corriqueira que Theodore nem se sentia desconfortável. Vira o seu melhor amigo ficar de castigo e tentar barganhar para jogar video game tantas vezes, e a o resultado era sempre o mesmo. Ele nunca conseguia fazer a sua mãe mudar de opinião.
Dessa vez ele tentava revogar a sua suspensão para jogar. Um tanto quanto inesperado que o assunto da vez fosse algo tão sério e maior do que um reles console.
Por que imaginaria Nicolas sentado na arquibancada sem jogar? Deveria saber que ele tentaria fazer alguma coisa.
— Porra...
— Olha a boca Nico — Repreendia o ômega loiro pro amigo, sem tirar os olhos da mãe dele. — Sabe que quanto mais palavreado fala na frente dela, menores são suas chances de conseguir o que quer.
Nicolas bufara bagunçando os cabelos tentando ao máximo não perder o controle. Bebericando o suco que fora oferecido pela mulher ômega, Theodore voltara a ser um mero expectador daquela discussão.
Quando recebera a ligação de Nicolas avisando pra passar em sua casa mais tarde, fora bombardeado por suas ideias mirabolantes para convencer sua mãe a deixá-lo participar da final das eliminatórias. Theodore ficara a escutar seu plano o resto da tarde, até perceber que aquilo se arrastaria por mais tempo do que imaginava.
No final das contas, já era sábado de manhã e ele ainda não havia convencido sua mãe a deixá-lo participar dos jogos. Até tivera de ligar para Lilian e pedir para que ela cuidasse de alguns preparativos pro time. Sua sorte é de a garota primeiranista enxergar aquilo como uma chance para ganharem votos no dito concurso de beleza. Caso contrário, Theodore teria de deixar o melhor amigo no meio do seu plano ardiloso.
Certamente isso renderia em discussões e um Nicolas birrento consigo.
— Theodore, fala pra ela!
— Não adianta, se eu disse que não é não. Faltam dois dias pra terminar a suspensão, o que te custa ficar quieto?
— O time é uma bosta sem mim. Não é motivo o suficiente?
A mulher revirara os olhos e os direcionou para Theodore, que sabiamente balançara os ombros sem ousar concordar com nenhum deles naquele quesito. Apesar de Nicolas ter um ponto, o time estava ruim sem ele. Mas jamais tomaria seu partido cem por cento em uma discussão contra a mãe dele. Seria loucura.
— Ou será que é por ter mordido aquele rapaz e você quer apenas ficar perto dele?
— Uau — Sussurrava Theodore sem acreditar que a mãe de Nicolas soubesse do assunto.
Ou ainda melhor, sem acreditar que Nicolas tinha as bochechas levemente rosadas. Por acaso o mundo estaria girando em sentido anti horário? Perdera alguma coisa naqueles dias em que seu melhor amigo teria ficado em casa?
— Não preciso ficar grudado nele 24 horas, eu já dei um jeito nisso.
— Ah, então passou a noite na casa dele, mocinho? Pelo menos usou proteção?
— Manhê!
— Você passou a noite na casa do Milles? — Cuspira um Theodore surpreso, tendo novamente o vislumbre de Nicolas envergonhado, apesar da pitada de raiva. — Uaaaaaaaau.
— Você acredita nisso, Theo? Quando chego em casa só tem um bilhete dizendo que vai passar a noite fora.
— Não fui porque quis. Pode apostar que se dependesse 100% de mim eu só chegaria perto dele pra matá-lo.
— Falou o cara que deixou o vestiário de baixo d'água.
— Você tá do lado de quem? — Rosnava Nicolas.
— Quando sua mãe está por perto é claro que do dela.
— Viu só, deveria ser igual a ele. — Sorria a ômega entregando um bombom para Theodore — Aqui querido, guardei pra ti.
— Obrigado tia!
— Puta merda eu devo ter sambado em cima da mesa da santa ceia, não é possível.
Theodore rira do amigo enquanto abria o bombom e o mordia se deliciando com o chocolate. Não fora uma perda de tempo ir na casa de Nicolas sábado de manhã. Definitivamente não fora. Ganhara um docinho afinal de contas.
Entretanto, o ômega sabia muito bem que o seu melhor amigo estava completamente desesperado pra participar da partida. Preocupação com Milles ou com o time? Ou seria a sua sede de jogar contra Maicon finalmente? Seria a Terceira Guerra Mundial se fossem os três motivos em um só.
Terminado de comer o bombom, Theodore suspirou baixo apoiando-se na bancada da cozinha para conversar com a ômega.
— E se vocês trocarem os dias da suspensão apenas?
— Ah não, Theo. Pensei que o suborno tinha funcionado.
— Meu melhor amigo nunca será subornado por um bombom — Dizia Nicolas abraçando o amigo por trás. — Talvez por dois, mas um só jamais!
A mãe de Nicolas fizera uma careta ao balançar a cabeça. Suspirando enquanto se apoiara na bancada, ela olhara para Theodore com uma paciência, da qual certamente não era usada com seu filho.
— Explique melhor.
— Já que sábado ele ainda estaria em suspensão e ela terminaria segunda, então que tal somente no sábado ele sair pra participar da partida e a suspensão terminar na terça?
— Só pra participar do jogo?
— Prometo lavar roupa por um mês! — Barganhara Nicolas.
— Você já faz isso, Nico.
— Merda, odeio ser um ótimo filho espontaneamente.
Literalmente Nicolas estava em seu modo birrento com sua mãe. Sempre tentava barganhar as coisas para sair dos castigos, apesar de dessa vez parecer ainda mais desesperado. A cena por si só era engraçada. Theodore olhara de relance para a mulher, que suspirou pesadamente antes fitar seriamente o próprio filho.
— Sua suspensão envolvem as aulas e as atividades do clube, que também ocorrem em finais de semana quando estão em período de campeonatos. Isso significa que são quinze dias contando os finais de semana. — Explicara a mulher. — Sua suspensão termina hoje ao meio dia, nesse caso.
— Então.... Depois do meio-dia eu posso jogar?
— Se a partida estiver acontecendo nesse horário, pode.
O pulo que Nicolas dera assustara Theodore, assim como o seu grito eufórico. Imediatamente o ômega saíra correndo pela casa indo até seu quarto, tendo o loiro rindo divertido de sua reação. Ele adorava jogar, sempre notara isso, mas aquela vez estava sendo diferente.
Talvez para Nicolas as partidas estivessem mais interessantes por causa de uma pessoa especial.
— Se esse menino tivesse a mesma energia para os estudos...
— Ele é inteligente, tia.
— Fica de olho nele, Theo. — Pedia a ômega, abrindo os armários para pegar alguns pacotes de salgadinhos e guardá-los em uma bolsa térmica. — Ultimamente ele tem brigado demais e eu estou preocupada com isso. Não quero arranjar problemas em outra cidade.
— Agora ele tem um alfa que pode cuidar dele, tia.
— Isso me preocupa ainda mais, já que é Milles... Ah, aqueles dois são farinha do mesmo saco.
Theodore abrira um sorriso torto. Ela tinha razão, os dois eram farinha do mesmo saco. Sua preocupação era compreensível. Principalmente quando ambos já trocaram socos algumas vezes. Não tinha como confiar neles.
— Vou fazer o meu melhor, tia.
— Desculpa por ele ter atrapalhado a sua rotina. Você já deveria estar no ginásio cuidando do time.
— Ah tudo bem! Pedi ajuda para alguns amigos e por enquanto não recebi ligação de socorro. — Verificando as horas em seu relógio de pulso, o ômega assentia — Eles já devem estar se aquecendo agora.
A conversa fora interrompida por Nicolas de uniforme e mochila, energético e motivado apesar das olheiras e cabelos despenteados. Uma mistura de aura preguiçosa e sede de vitória que Theodore nem sabia se ria ou sentia pena do seu melhor amigo.
— Muito bem. Eu levo vocês pro ginásio.
— Valeu mãezinha!
— Você é tão falso quanto uma nota de três reais. Puxou a quem, hein?
— Óbvio que você, sou seu filho.
Theodore ria seguindo os dois para o carro. Adorava a dinâmica daqueles dois, cujo vínculo era tão forte quanto uma corrente. Lembrava-se de como se relaciona com a própria mãe, apesar de não ter coragem de falar palavrões quando está em casa. Sua mãe era um doce de pessoa, emanando florzinhas rosas dela.
E quando ele tivesse sua própria família, como seria? As bochechas de Theodore imediatamente esquentaram. Balançando a cabeça, o ômega entrara no carro e colocara o cinto.
E fora dessa forma que Nicolas conseguira chegar ao ginásio à tempo de participar da partida. Theodore não esperava que ele realmente conseguisse entrar em quadra, mas quando Nicolas queria algo ele conseguia nem que fosse na base do cansaço.
Sentia orgulho de seu melhor amigo.
Enquanto estavam no carro saindo da cidade e pegando a rodovia, o ômega começara a ficar ansioso. Queria ver Gabriel jogando uma partida como aquela, provavelmente estaria tão concentrado que esqueceria o mundo em sua volta. O alfa sempre fazia aquela carinha quando seguia a bola, ansiando tocá-la e vencer.
Se vencessem, ficaria orgulhoso é claro. O desempenho de Gabriel aumentara na medida em que criara uma conexão com o time e se acostumara com os demais jogadores. Theodore simplesmente amava assisti-lo treinar, pois era fascinante. Poderia dizer que enxergá-lo concentrado era a sua parte favorita dos treinos.
Além de... Certo, todos ficavam suados e fadigados, mas Gabriel era simplesmente sexy. Theodore engolia em seco só de imaginar o alfa naquele estado.
No instante em que pisaram no imenso ginásio onde a partida estava ocorrendo, Theodore já notara a tensão escaldante emanada dela. O loiro fora rápido em anunciar a sua chegada com um jogador reserva e garantir o passe para ir até o banco onde o seu professor estaria. E quando ali alcançaram... A forma como Montreal estava posicionado encarando o time adversário deixava claro que o jogo estava acirrado.
Mas o seu coração parou mesmo quando vira Gabriel segurar fortemente sua mão e o jogo ser pausado.
Suas pernas ficaram bambas podendo sentir todo o seu sangue sumir do seu rosto. Vê-lo sentir dor fizeram suas pernas se moverem sozinhas em direção da quadra.
Apenas olhava para o alfa, sem piscar. Desejando internamente ficar ao seu lado, estendendo os braços em sua direção. Mal notara que o técnico já havia percebido a sua chegada, pois no instante em que seus olhos se encontraram nada mais importava.
— Leve-o pra enfermaria!
Gabriel viera em sua direção, e Theodore só engolira em seco o puxando pelos ombros para fora da quadra. Precisava se acalmar, já que não parecia nada grave.
— Está pálido, Theo. — Murmurava o alfa abrindo um sorriso melancólico. — Até parece que viu um fantasma.
— Muitas sensações em uma pancada só. Acabo de chegar e te vejo se machucar, é claro que vou me preocupar.
— Desculpa por te preocupar, queria que me visse jogar mais um pouco.
Theodore olhara para Gabriel e suspirava pesadamente. Afagando seus cabelos escuros, o ômega sorria na esperança de trazer calma tanto para o ficante quanto para si mesmo.
— Tudo bem, vamos vencer de qualquer jeito. E então iremos para a regional.
Virando o corredor, encontrara Nicolas retornando do vestiário. O ômega baixinho apenas fitara Gabriel segurando a própria mão e abrira um sorriso malicioso.
— Tá certo, chegamos a esse nível. To entrando, Theo!
— Boa sorte, e nada de brigas.
Assistindo o ômega passar pelas portas que o levaria para a quadra, Theodore conseguia se sentir mais calmo. Apertando os ombros de Gabriel, o ômega respirara fundo e continuara a seguir seu caminho para a enfermaria.
Tudo ficaria bem.
Confiava no time.
— Eu pensei que o capitão estivesse suspenso.
— Quando se tem um adversário formidável, aquele bicho preguiça consegue ter energia o suficiente para batalhar. — Murmurava Theodore, dando batidas na porta da enfermaria. — Mas agora, vamos cuidar da sua mão.
Antes da porta ser aberta, Gabriel depositara um selar na bochecha do ômega, o vendo corar imediatamente. Seu sorriso largo se abrira instantaneamente, vitorioso mesmo com os olhos claros arregalados para si.
— Dependendo do resultado, eu aceito uma celebração da vitória ou um prêmio de consolação. Mas infelizmente não poderei usar uma mão.
Estaria ele o paquerando naquele momento? Tentando deixá-lo desconcertado? Droga, estava conseguindo. Theodore sentia o seu rosto esquentar, contudo não entregaria os pontos tão facilmente. Retribuindo o sorriso ladino, o ômega arqueava a sobrancelha sedutoramente.
— Tudo bem, eu te ensino a usar a outra.
Ter um ômega loiro dos olhos claros, cabelos bagunçados com brincos nas orelhas o olhando daquela maneira... A derrota viera para Gabriel. Ele definitivamente enrubesceu até as orelhas, sem conseguir responder.
Theodore era uma arma letal para aquele alfa.