Chereads / Me apaixonei pelo aluno transferido / Chapter 99 - Saudades insanas

Chapter 99 - Saudades insanas

— Que mau humor é esse?

Gabriel olhara de canto para Milles, mas logo voltando a fitar a maldita tabebuia que estava sem o ômega. Rosnando baixo, o alfa bagunçara os próprios cabelos levantando-se da fonte para deixar a roda de amigos.

Fazia uma semana que não conseguia conversar com Theodore.

Uma semana que não conseguia ver sua sombra, seu sorriso ou até mesmo sentir o seu cheiro. Quando uma oportunidade surgia, o ômega desaparecia em um piscar de olhos.

Ficar longe dele era simplesmente doloroso e insuportável. Fingir que não tinham nada era horrível, pois tinha que ficar calado quando ouviam as pessoas falarem mal de Theodore. Era ainda pior vê-lo perto de outros alfas e betas, como se fossem grandes amigos.

Talvez até fossem, Gabriel sempre lembrava-se de que a menina do primeiro ano poderia ter feito uma ponte para Theodore conhecer novas pessoas. O alfa recriminava o próprio instintos de agir possessivamente com aquele ômega, só por não estar colado na sua pele como gostaria de estar.

Chutando uma pedra com força, Gabriel tornava a rosnar alto ao se encostar no muro atrás da escola. Na sua frente Milles o olhava curioso com as mãos no bolso.

— Que foi?

— Eu é que pergunto. Ultimamente não pode nem te olhar que já é grosso desse jeito. O que tá rolando? Brigou com a loira do banheiro?

Milles erguera as mãos em um pedido de desculpas silencioso quando Gabriel espreitara os olhos para si. Aquela reação era mais exasperada do que o habitual, percebia Milles. Gabriel sempre brigava consigo quando apelidava Theodore de alguma maneira, apesar de não haver a mesma malícia de antes e ser mais um hábito. Entretanto naquela semana suas represálias pareciam mais grosseiras.

Encostando a cabeça na parede, Gabriel jogava os cabelos para trás tentando afastar a nuvem negra que pairava sua mente. Se é que fosse possível resolver as coisas tão facilmente.

— Não brigamos, na verdade a gente nem se falou essa semana.

— Por quê?

— Aconteceram umas coisas e o Theo achou melhor a gente ficar mais quieto, pelo menos aqui na escola. Mas eu tenho a impressão de que ele tá fugindo de mim.

— Theodore fugindo de você? Não tá pensando demais não?

O alfa rira com a desinformação de seu melhor amigo. Milles parecia mais ocupado em sair correndo depois do treino para ir na casa de Nicolas, que ainda cumpria sua suspensão. Ele nem saberia o que estava acontecendo direito, já que tinha que cuidar do seu ômega.

Simpatizando com sua situação, Gabriel respirara fundo tentando se acalmar. Não descontaria sua frustração em Milles quando ele estava preocupado consigo. E como um bom amigo, seria a pessoa ideal para ajudá-lo.

E então Gabriel finalmente contara sobre sua conversa com Sadie e com Theodore. O aviso que recebera, a história do infame Jake e a reação do ômega em relação aquilo tudo. Milles o escutara atentamente sem interrompê-lo, porém o via ficar sério como jamais vira. Sem ser assustador, apenas estranho quando se estava acostumado com sua aura carismática do alfa loiro. Ao terminar de contar sobre o aviso recebido, ouvira Milles suspirar alto e relaxar os ombros.

— Então foi coisa da minha irmã? Isso é um saco.

— Theo parece preocupado com alguma coisa, sei lá. Eu não tô entendo o que tá rolando. Tipo, sou muito grato pela sua família ter dado oportunidade aos meus pais, mas... Interferir na minha vida pessoal?

— Minha família é chata pra caralho, isso nem é novidade. Minha irmã deve estar desesperada pra ficar usando nossos pais desse jeito. Nem esquente com isso.

— Eu só preciso de um tempo pra conversar com ele. Os meninos do time tem me cercado que não consigo me aproximar do Theo durante os treinos. Na sala, é tua irmã.

— Dê o fora nela.

— Eu já dei! — Gritava Gabriel exasperado, logo cobrindo a boca pedindo desculpas pro amigo. — Por que raios estão tentando afastar o meu ômega de mim, Milles?

O loiro cruzava os braços arqueando a sobrancelha para o amigo, sem esconder o sorriso ladino.

— Esconder quem? Foi mal, acho que tossi na hora e não escutei direito. — Recebendo um olhar reprovador, Milles então soltara um riso baixo. — Está puto desse jeito por que está longe do teu ficante?

— É o meu ômega! — Rosnava Gabriel.

— Como sabe?

— Porque no cio dele a gente criou um vínculo. — Desabafara Gabriel, relaxando os ombros derrotado ao se encostar na parede novamente. Cabisbaixo, fechava os dedos em punho. — Ele é minha alma gêmea, Milles.

Recebendo um afago em seu ombro, Gabriel erguera a cabeça tendo o conforto de seu amigo. Naquela infame troca de olhares, o moreno soltara um riso.

— Tamo na merda, não é?

— Totalmente. — Ria Milles em resposta. — O meu ômega é o próprio capeta fingindo ser humano, e o seu... É um ratinho que adora se esconder. Mas me conta, chegou a morder o Theodore?

— Claro que não! Foi um grande esforço, admito, porque ele tava muito... Aah, ele tava lindo pra caralho e eu queria marcá-lo como meu. Mas não seria justo. Sei lá, Theodore não parece saber que a gente é...

— De nós, o Theodore é o mais bem resolvido. Duvido muito que ele não tenha notado que vocês são almas gêmeas. Ou ele percebeu e por isso esteja te evitando.

Seria aquele o caso? Bem... Se assim fosse, era compreensível. Afinal descobre-se que é uma pessoa que nasceu para ser o seu par, para compartilhar a vida. Não haveria pessoa melhor no mundo do que a sua alma gêmea. Encontrar uma era raridade.

E Gabriel havia encontrado a sua.

Fora naquele momento em que estava na sua casa e ouvira Theodore chamá-lo de seu alfa. Fora naquele instante em que Gabriel soubera o motivo daquele ômega sempre estar diante de seus olhos, sempre presente em sua vida.

Todo o tempo em que conhecera Theodore desvencilhara dos avisos de permanecerem afastados. Dissera não se importar com os boatos que rondavam seu nome, e muito menos com o que diriam dele caso amigassem. Todos aqueles momentos em que acreditava estar apenas buscando uma amizade seriam os seus instintos o fazendo se aproximar da própria alma gêmea.

Perceber tudo aquilo era assustador.

Muito assustador.

Os sinais estavam claros.

Óbvios, para ser mais exato.

— Olha vamos deixar claro a situação então. O que você quer fazer?

— Sei lá. — Murmurava Gabriel já mais calmo — Só não aguento ficar longe, isso me mata.

— E o que tá te segurando?

Erguendo os olhos castanhos para Milles, o alfa ponderara silenciosamente. Respeitara o pedido de Theodore para que ficassem menos próximos durante a escola, apesar de não saber que resultaria em um completo afastamento. Só estava fazendo aquilo por acreditar ser vontade do ômega.

Sinceramente... O que ele gostaria de fazer?

— Talvez eu não queira que ele vá embora, e por isso eu tenha aceitado tudo isso. Se eu for atrás dele, será que não coloco em risco a nossa relação?

— Olha, o Gabriel que eu conheço ignora todos os avisos e faz aquilo que quer sem se importar com os outros. — Dissera Milles se encostando na parede ao lado do amigo. — Ele é tão sincero consigo mesmo que até me inspira de vez em quando. Mas só de vez em quando.

— Deveria voltar a ser esse Gabriel então?

Inclinando a cabeça, Milles abria um sorriso brincalhão para o amigo.

— Ele é teu ômega, afinal de contas. Não pode esconder dele quem você é.

Conversar com Milles era sempre agradável, nunca tivera uma amizade onde pudesse ser sincero e receber sinceridade de volta. Fora um alívio que o alfa loiro dissesse aquilo, e ainda se propusesse a ajudá-lo no que fosse possível. Poderia ser por ele também ter problemas com Nicolas, ou apenas simpatizassem um com o outro, fato era de que a amizade era verdadeira. E em momentos como aqueles que Gabriel tinha certeza.

Quando o sinal para o início das aulas tocara, Gabriel seguira para o vestiário onde pudesse trocar o uniforme para a aula de educação física. Como sempre, Theodore era o único a não entrar no vestiário até que todos os rapazes tivessem se trocado.

No instante em que pegara seu uniforme de educação física, o alfa sentira um cheiro. Não o seu, certamente. Um aroma adocicado exalava do tecido o agraciando, ignorando por completo os odores misturados de seus colegas de classe.

Era o cheiro de Theodore.

Por que o seu uniforme de educação física estava com o cheiro dele? Teria alcançado o nível de loucura tendo uma alucinação olfativa?

Discretamente Gabriel aproximou o rosto de sua camisa e sentira o cheiro tipico do ômega.

Queria procurá-lo naquele mesmo momento.

Precisava sentir o cheiro de Theodore.

A saudade já estava o enlouquecendo.

Fora necessário um bom tempo para se acalmar e recuperar sua compostura. Continuar fingindo para os seus colegas de classe e observar Theodore de longe sem poder tocá-lo. Que tortura era aquela? Por que raios tinha que passar por aquilo?

O seu amigo tinha razão, nunca havia dado ouvidos para os rumores sobre Theodore, e não seria esse o motivo dele se separar do seu ômega. Principalmente agora que sabia de Theodore ser a sua alma gêmea.

Fora tolo de aceitar aquela ideia estapafúrdia.

Fora tolo de deixar o ômega fugir de si.

Justamente por ansiar encontrar um tempo para conversar com Theodore, Gabriel fora torturado pela demora. As aulas se arrastavam, os meninos do primeiro ano cercaram o ômega durante o intervalo assim como Sadie ficara tagarelando sobre festas, e mais uma vez fora castigado pelas aulas enfadonhas.

Aguentaria esperar pelo final do treino?

Já estava impaciente demais.

Sua consciência apertara o botão vermelho, desligando-se das regras convencionais.

O sinal da saída tocara findando as aulas, os alunos se dispersavam e Theodore estava prestes a deixar a sala para seguir até o ginásio. Gabriel misturou-se entre os demais estudantes de sua classe sem deixar sua presença ou cheiro denunciarem sua fuga. Entre eles, seguira Theodore até o ginásio sem chamar atenção enquanto se escondia.

Observara Theodore entrar no ginásio, passar pelos jogadores que já se aqueciam se preparando para iniciar o treino. Ainda escondido, Gabriel sorrateiramente dera a volta pelo ginásio coberto alcançando a janela de um corredor onde pudera passar por ela. Somente daquela forma pode entrar sem ser visto.

Aproveitando o apito do começo do treino, o alfa esgueirou-se agachado até chegar no vestiário e trancar a porta. Teria, pelo menos, três horas para conversar com Theodore e garantir que as coisas voltassem a ser como eram.

Girando sobre os calcanhares prestes a procurar o ômega, Gabriel sentira todo o seu corpo se arrepiar quando um aroma característico sobressaíra naquela saleta. Farejando o ar ele andara na surdina em busca da origem daquele aroma, podendo finalmente encontrar Theodore em frente ao seu armário segurando sua camisa de educação física.

A visão daquele loiro segurando tão fortemente sua camisa e a cheirando fora o suficiente para o sangue pulsar e se concentrar num único ponto. Gabriel conseguira ver um leve rubor nas bochechas de Theodore quando afastou a camisa por um segundo.

Um sorriso terno despontara de seus lábios.

No final das contas, ele não era o único a estar sofrendo com a distância.

Pé ante pé, Gabriel aproximou-se das costas de Theodore sem deixar de vislumbrá-lo tão ocupado sentindo seu cheiro. A alegria de poder finalmente tocá-lo mal cabia dentro de si.

Aproximando os lábios de seu lóbulo, sussurrara o mais baixo que conseguira.

— Saudades do seu alfa, Theo?

O ômega dera um pulo no susto, abraçando a camisa com força ao se virar contra os armários e fitar o alfa. Cruzando os braços, Gabriel inclinara a cabeça infantilmente sem deixar de admirar aquela cena tão excitante. Theodore estava ainda mais envergonhado, tendo até suas orelhas ficando avermelhadas. Mas de maneira alguma ele soltara a sua blusa.

— Gabriel! N-Não está no treino?

— Estou aqui, como pode ver.

Apoiando um dos braços ao lado da cabeça de Theodore o encurralando contra o armário, Gabriel se aproximou do ômega abrindo um sorriso malicioso, que só aumentava na medida em que o via apertar a blusa contra seu peito.

— O que estava fazendo com a minha camisa, Theo?

Baixando os olhos para a camisa, Theodore mordia os lábios incapaz de retribuir o olhar. Desamassando a camiseta, o ômega pigarreara tentando se recompor.

— Tava vendo se precisa de algum remendo. Eu já ia devolver.

— Não foi essa a impressão que tive. — Passando a ponta do nariz pelo pescoço do ômega, Gabriel inalava o seu aroma — Está todo corado, e consigo sentir o seu cheiro escapando.

— Gabriel alguém poderá nos ver aqui.

Segurando o queixo de Theodore, Gabriel o obrigara a retribuir o olhar. Não permitira sua escapatória, nem que pensasse em alguma outra coisa que não ele. Pelo menos não agora.

— Sinto muito Theo, mas eu já estou no meu limite. E te ver segurando minha camisa desse jeito não ajuda pra que eu me segure.

Antes de ouvir uma resposta, Gabriel beijara Theodore delicadamente. Ainda o mantendo preso contra o armário, e ainda sentindo o seu cheiro escapar, aquele alfa sanaria a saudade que sentia do loiro e deixar claro que absolutamente nada o manteria longe do seu ômega.