Os atletas se reuniram para almoçar nas mesas dispostas no lado de fora, onde acontecia uma pequena feira artesanal com barraquinhas de lanches para os esfomeados e entediados. Apesar do time ter se reunido para almoçarem juntos, Theodore ficara mais afastado logo após entregar a bolsa do almoço dos jogadores.
Segurando o seu próprio lanche, o loiro suspirava novamente ao lembrar-se do pedido audacioso do seu ficante. Agora ficaria nervoso o restante da semana, contando os dias, as horas e os segundos para o momento em que ele e Gabriel teriam a primeira vez intimamente.
Deveria se preparar ao longo da semana? Tinha a impressão de que Gabriel poderia não saber o que fazer muito bem, precisando ser guiado. Se bem que tratava-se do seu cio, provavelmente eles perderiam suas consciência e os instintos tomariam conta da recado.
Balançando a cabeça, o ômega desembalava o lanche dando a primeira mordida.
— Theo.
Erguendo os olhos claros, o ômega engolira apressadamente dando pulinhos para o lado dando espaço ao melhor amigo.
— Senta aí e come. — Inclinando-se para mexer na bolsa ao seu pé, Theodore pegara um sanduíche embalado e entregara ao amigo.
Nicolas segurou o lanche e sorriu o balançando em agradecimento silencioso. Daquele sorriso preguiçoso o loiro já pudera se sentir mais aliviado.
— Como está se sentindo agora?
— Bem melhor, é claro. — Murmurava o outro ômega, mordendo o lanche esfomeado.
— Vocês se resolveram?
— De algum jeito.
Theodore arqueara a sobrancelha com o jeito evasivo do seu amigo responder, e seus olhos foram direto para a mesa onde os meninos do time almoçavam. Milles chegava perto acenando para eles, e os olhares intercalados entre Nicolas e o alfa não passaram despercebidos pelo loiro.
— Parece que ele brigou com alguém — Murmurava Theodore ao notar o hematoma no canto da boca de Milles, logo arregalando os olhos para Nicolas — Vocês brigaram?
Balançando os ombros sem parecer incomodado, Nicolas abocanhava o lanche.
— Ele ficou com uma qualquer, precisei aliviar meu estresse. A boca dele era a única coisa que alcancei na hora.
— Nico... Justo hoje?
— Ele me deixou pior, não lembra? — Arregalava os olhos Nicolas, e Theodore apenas concordara com a cabeça desistindo de contra argumentar.
— Sobre isso... Me desculpa por ter guardado segredo.
Nicolas não o olhava estando ocupado demais em comer, mas Theodore sabia que ele prestava atenção em suas palavras. Havia prometido contar tudo mais tarde, e provavelmente era aquele momento. O loiro comera mais um pouco antes de começar a entrar no assunto que o deixara nervoso.
— Naquele dia já imaginava que você iria faltar aula, mas quando cheguei na escola o Milles veio me pedir desculpas. — Percebendo Nicolas virar a cabeça em sua direção, Theodore soltara um riso abafado — Também fiquei bastante surpreso, até imaginei que ele estava pedindo desculpas porque gostava de você.
— E o que te faz pensar que aquele crápula tem coração?
— Me pareceu preocupado quando eu disse que você estava com febre. Saiu logo depois de eu ter mencionado que ficava sozinho em casa.
Nicolas suspirara ao terminar de comer, amassando a embalagem antes de jogar na lata de lixo ao lado do banco.
— E então ele entrou na minha casa enquanto eu estava doente e sem consciência alguma? E eu o mordi?
— Não faço a menor ideia de como aconteceu, na verdade. — Comentara Theodore remexendo na bolsa novamente para pegar uma garrafa pequena de suco de laranja natural e a entregando ao amigo — Quando eu cheguei com o Gabriel já sentimos um cheiro muio forte e quando fomos ao seu quarto a cena... Era bem deplorável.
O ômega moreno soltara um suspiro penoso.
— Que merda. Você não diz que eu sempre durmo feito uma pedra?
— Comigo. — Apressou-se em responder o loiro. — Eu sou um ômega, porque raios os seus instintos iriam querer algo comigo? É claro que eles ignoram minha presença e só dormem. Agora... Você tinha um alfa na sua casa, e ainda mais....
— Minha possível alma gêmea. Por que não pensou nisso antes de falar pra ele vir?
— Me esqueci por completo. — Sussurrava Theodore, tomando cuidado para que ninguém mais ouvisse sua conversa. — Escuta, não é como se eu soubesse que as coisas chegariam nesse ponto. Eu jurava que você dormiria o dia todo, e Milles só precisaria ficar na sala até eu chegar. Se eu soubesse que você ia tentar seduzi-lo, claro que eu manteria o bico calado.
Bagunçando os cabelos, Nicolas suspirava relaxando os ombros em seguida. De nada adiantaria discutirem o que poderiam ou não ter feito para evitar os problemas que tinham em mãos. Já estava feito.
— Não adianta reclamar sobre o leite derramado, não é?
Olhando de canto, estava curioso para saber como o seu melhor amigo se recuperara tão rápido. A cor voltara ao seu rosto, e até mesmo parecia ter se livrado das dores. Será que eles haviam brigado o suficiente para descontar a raiva que sentiam um pelo outro? Não... Theodore não imaginava que uma simples briga fosse resolver tudo.
— Como se resolveram? — Perguntara o loiro receosamente, encarando o melhor amigo curioso.
Suspirando baixo, Nicolas soltara um riso incrédulo.
— Do jeito que menos me agrada, é claro. — Virando-se para o amigo, Nicolas sorria de lado. — Chegamos em um acordo.
— Que acordo?
— Aceitar esse destino enfadonho típico de filme da Disney.
Engasgando com a própria saliva, Theodore tossira recebendo tapinhas em suas costas. Por um instante imaginara ter ouvido errado, afinal era o mesmo que admitir... Pelos céus, ele e Milles estavam juntos agora?
— Espera, Nico... Isso quer dizer o quê?
— Exatamente a merda que passou na sua cabeça. Apesar de sabermos que não vamos com a cara um do outro.
— Como isso poderia funcionar? Quero dizer, não é como se vocês fossem andar de mãos dadas... Ou algo do tipo.
— E eu lá quero andar de mãos dadas com aquele bosta? — Reclamava Nicolas em uma careta. — Se eu sentir necessidade de alguma coisa física, vou procurá-lo. E vice versa. É assim que vai rolar o nosso jogo.
— Tirando o fato de que isso não é um jogo, e sim um relacionamento pro resto da sua vida. — Lembrara o ômega com um suspiro, segurando a mão de seu amigo. — Nico, seja sincero comigo. Você realmente não gosta do Milles?
— Mas é claro que não!
Theodore espreitara os olhos claros desconfiado daquelas palavras. Se havia encontrado a sua alma gêmea, então já seria um sinal do universo de que eles dois eram perfeitos um para o outro. Encontrariam a cumplicidade e a felicidade necessária na outra pessoa. Não seria uma questão de tempo até eles caírem na real e se apaixonarem?
O loiro até poderia citar milhões de filmes românticos das quais assistira, e que poderiam apontar os sinais da doença do amor. Certamente o seu amigo torceria o nariz e fingiria demência não acreditando em nada do que dissesse.
— O que tem de tão ruim nele para você não se entregar?
Rolando os olhos entediado, Nicolas erguia a mão.
— Barulhento, metido, fica te perturbando, a existência dele por si só já é uma ofensa aos seres humanos.
Reprimindo o riso ao ver os dedos serem baixados na medida em que a lista era citada, Theodore empurrara a mão do amigo para o seu colo.
— Ok, ok. É muito fácil você arranjar motivos para odiá-lo, mas isso só pode significar uma coisa.
— O quê, ó senhor da glória?
— Que você reconhece a existência do Milles. — Murmurava Theodore com simplicidade. — Se a existência dele pouco lhe importasse, Milles não ganharia a sua atenção como ganha o seu ódio. Você o reconhece como pessoa talentosa, e se odeia por isso.
Nicolas engolira em seco puxando o capuz de sua blusa de moletom para usar o capuz. Theodore até reprimira o riso diante do familiar gesto de fuga do seu melhor amigo, mas não ousara em dizer algo à respeito. Já o fazia pensar demais naquela simples conversa.
— Pare de falar bobagens.
— Só estou te aconselhando a ver o outro lado da moeda, Nico. Já que vocês pretendem seguir esse acordo por causa da mordida, então o que custa conhecer um lado do Milles que você nunca viu antes? Pode acabar se surpreendendo.
— E você já conheceu o outro lado da moeda de Gabriel?
As orelhas do loiro ficaram vermelhas em instantes. E até desviaria o olhar se os de Nicolas não estivessem tão presos aos seus, o tornando um investigado na delegacia. Ele queria ouvir uma resposta, não ficando satisfeito em não ouvi-la.
Com pesar e desistência, Theodore umedecia os lábios ao concordar com a cabeça.
— Vi algumas coisas que me deixam chocados. Mas admito que estou gostando de desvendá-lo aos poucos.
— Continuo achando que ele é podre por dentro.
— Não que eu seja mil maravilhas. — Ria Theodore, ajeitando a bolsa quando vira o time se organizar encerrando o almoço. — Sou egoísta e acho que ciumento. Apesar de estarmos apenas ficando, descobri que sou ciumento demais.
— É sobre a lacraia?
— Olha esses apelidos, principalmente com sua cunhada.
— Vai tomar no cu antes que eu me esqueça.
Theodore rira bagunçando os cabelos de Nicolas antes de se levantar.
— Vamos, temos uma partida pra vencer.
Bebendo o último gole do suco de laranja, Nicolas jogara a garrafa vazia no lixo e ficara em pé seguindo o seu melhor amigo para dentro do ginásio. Dessa vez a partida ocorreria sem dores de cabeça.