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Chapter 78 - Tirando o peso dos ombros

Se havia uma coisa que nunca abandonara os pensamentos de Gabriel Jones, era de que Theodore não era apenas uma pessoa especial para ele. Sentira isso desde o instante em que o vira em frente a loja de uniformes, ajudando um completo estranho com sua gentileza natural. Desde aquele dia, o seu mundo ganhara cores. E Theodore passara a ser constante em sua vida.

Jamais se envolvera com garotos, inclusive jamais encontrara um garoto ômega na escola em todos os seus dezesseis anos de vida. Mas desde o momento em que pisara naquela pequena cidade do interior, tudo havia mudado graças a uma única pessoa.

Era um mundo novo a ser explorado. Com caminhos que o levavam para uma densa neblina o impedindo de enxergar o seu futuro. A única coisa que poderia sentir era de que algum momento desse caminho, encontraria Theodore o esperando com a mão estendida em sua direção. Só que chegar até ele era simplesmente assustador.

— Você tem se dado bem com os Mckenzie? Fiquei sabendo que são boas crianças.

A voz de sua mãe era calorosa, mas Gabriel sentira um frio na barriga quando aquele sobrenome fora mencionado.

— Posso considerar Milles o meu melhor amigo, é fácil de conversar com ele. — Admitia Gabriel ao retribuir o olhar de sua mãe por alguns instantes e retorná-los para o prato na sua frente.

— E quanto a menina? Os funcionários do hotel disseram que o Mckenzie é bem apegado à filha.

Ah, ele sabia qual rumo aquela conversa estava tomando.

Forçando sua máscara, Gabriel cortava o pedaço de carne frita fingindo a maior tranquilidade.

— É da minha sala, a gente chegou a sair juntos com os amigos dela. É uma boa garota.

— É uma ômega não é? — A voz do seu pai esplandecia a sua felicidade. — Sabe que todo alfa tem que cuidar de uma ômega, porque são mais frágeis.

— Eu sei, pai.

— Seja gentil com ela, e a trate muito bem. Não queremos problemas com os Mckenzie, já que nos deram a oportunidade em trabalhar na matriz.

Gabriel já podia sentir o peso em suas costas.

O significado por trás daquela conversa era muito nítido, apesar de seus pais parecerem não ter muita consciência daquilo. Só podia enxergar o sorriso brilhante de Sadie em sua imaginação, como se tivesse manipulado um jogo de tabuleiro criando as próprias regras de um jogo.

— Serei educado com ela, é claro. — Assentia Gabriel deixando os talheres sobre a mesa, já desistindo de comer — Mas me dou bem mesmo é com Milles. Jogamos no mesmo time, então a família dele não vai se sentir ofendida.

— Mas se ela é da sua turma, você pode se dar bem com ela...

— Para ser sincero, eu sei que ela é uma boa garota só que há algumas atitudes dela que não concordo. — Gabriel erguera os olhos para os pais e suspirara — Na minha sala tem um garoto que é ômega.

O silêncio fora convidado para aquele jantar em família. Estupefatos com a novidade, o casal entreolhou-se e voltaram a encarar o único filho deles.

— Um menino? Ômega?

Gabriel assentira calmamente.

— É um bom garoto. Gentil e atencioso, além de ser inteligente pra caramba. Assistente do meu time, consegue criar planos de treinos que tiram o potencial dos jogadores.

— Mas não é...

— Perigoso? Nem um pouco. — Sorria Gabriel. Tal sorriso logo se desfizera ao se recordar do que havia acontecido naquele mesmo dia antes da aula. — Sadie sempre implica com ele. Escuto cada coisa, que chego a me sentir mal. E sou completamente incapaz de fazer algo para ajudar ele.

— Ela o trata mal na escola?

Gabriel concordara com a cabeça.

— Vivem brigando, para falar a verdade. Apesar que Theodore é incapaz de revidar.

A mãe suspirava na mesa e estendia a mão para segurar a semelhante de seu filho. Seu calor era transmitido como um conforto que Gabriel simplesmente necessitava. A conversa não continuou na mesa, porém quando o alfa estava prestes a entrar em seu quarto vira a sua mãe parada na porta o esperando.

Sabia do que se tratava.

Apenas abrira a porta e a deixara entrar em seu quarto, fechando logo após sua entrada. Tendo os dois sozinhos, Gabriel sentou-se na cama constatando o nervosismo da mulher.

— O que foi mãe? Algum problema?

— Sei que seu pai irá te dizer pra manter distância desse ômega, mas eu... Bem, você sabe. — Sussurrava ela, puxando a cadeira da mesa do computador para se sentar em frente ao filho. — Seu tio é um ômega, e fomos criados por um pai ômega. Seu pai nos enxerga como...

— Uma classe que precisa de cuidados. Eu sei. Meu pai nunca se deu bem com o meu avô, não é?

— Nossa geração é complicada demais, tradicional demais. — Sorria a mulher com tristeza, segurando a mão de Gabriel com delicadeza. — Mas se há um garoto ômega na sua escola, seja amigo dele.

— Está tudo bem em ser amigo de um garoto ômega e gay?

Os olhos da mulher marejavam quando concordara com a cabeça.

A história da família de sua mãe era um verdadeiro caos. Certamente ela se apaixonara pelo seu pai quando mais jovem, por ele proporcionar a segurança e amor que ela tanto desejava em um homem. Contudo, o pai era um alfa que foi criado por uma família alfa. Gabriel sempre se sentira mal em visitar a família paterna, que insistiam em repassar os lemas para as gerações mais novas garantindo que uma ômega deveria ser sua parceira por ser vulnerável e fraca. Logo, a esposa ideal para um homem de verdade.

Era simplesmente triste saber que seu pai seguira aquele pensamento. Fora o meio em que cresceu.

Diferente de sua mãe que viera de um lar aconchegante repleto de amor, pois sabiam que homens ômegas não eram bem quistos na sociedade. Seu avô tivera a sorte de encontrar um parceiro que o amasse e respeitasse, mas tiveram de viver escondidos em um sítio para criar duas crianças também ômegas.

Seu tio... Bem. Tinha encontrado um parceiro beta, mas também vivia recluso. Seu pai nunca se dera bem com eles por desaprovar os relacionamentos, mas o amor dele por sua mãe não o fizera desistir de entrar pra família.

— Mãe... Na verdade, eu preciso te contar uma coisa. — Sussurrava Gabriel ao olhar as mãos da mãe.

Quando a encarara, sentira uma profunda tristeza surgir em seu peito. A pele dela já tinha algumas rugas, e seus cabelos na frente estavam grisalhos. Quando ela havia envelhecido ao ponto de jamais notar? Ela ainda era jovem, mas já tinham alguns sinais aparentes.

Chegaria o momento em que não poderia mais ver seus pais, e isso o entristecia. Deveria aproveitar cada momento e ser sincero, pelo menos com sua mãe. Pois, ela o compreenderia.

— O que foi?

Umedecendo os lábios, Gabriel reunira toda a coragem que tinha em admitir aquilo. Ter em mente era algo fácil, mas falar em voz alta era admitir para o mundo, e para si mesmo, que aquilo era verdade. E não teria mais volta. Aquilo o acompanharia para o resto da vida.

— Eu... Me apaixonei por esse garoto ômega.

A mãe ficara muda o encarando. Gabriel, por outro lado, não demonstrara nenhum sinal de nervosismo. Muito pelo contrário, abrira um sorriso mais largo que pudera, só de recordar os seus momentos com Theodore.

— Eu sei, chocante, não? Os Mckenzie me avisaram pra ficar longe dele, deu um rolo com um outro cara que eu nem mesmo entendo. Mas, mesmo assim eu quis me aproximar e ser amigo dele. E...

— Aconteceu de você gostar dele. — Completara a mãe como um sussurro. — Pode me contar melhor essa história? Prometo que não irei brigar ou te interromper. Apenas quero entender.

Seu julgamento em contar para a mãe fora o melhor. Gabriel então contara desde o dia em que se perdera na cidade e recebera a ajuda de Theodore na loja de uniformes. Os boatos, as conversas com Milles e Sadie, a sua entrada para o time e tudo o que veio depois disso. Não exitara em falar sobre como se sentia estranho perto daquele ômega.

Pelos céus, Theodore era simplesmente o sol brilhando com aqueles cabelos loiros. Um anjo do céu.

Apesar de relatar os ocorridos dos últimos meses, Gabriel acabara desabafando para sua mãe a confusão que dominara seus pensamentos. Gostar de outro garoto era amedrontador, como um segredo que precisava ser escondido às sete chaves. Ao mesmo tempo um segredo que o convidava para experimentar, pois, havia algo dentro dele que desejava descobrir e se aventurar.

O beijo dado em Theodore e o desejo despertado eram apenas algumas fagulhas de todo um mundo que se abrira para Gabriel. Junto dela a possessividade. Aquele ômega só poderia ser seu e de ninguém mais. Esses pensamentos eram os mais confusos para o alfa, já que não fazia ideia de como lidar com eles. A única coisa que o amedrontava era o receio do loiro se sentir sufocado e querer fugir dele.

Se Theodore fugisse, o deixasse para trás... Seria doloroso. Muito doloroso.

— Parece ser um bom menino mesmo. — Sussurrava a mãe, ainda apertando as mãos de Gabriel. — Acho que nunca o vi desse jeito, meu filho. Está completamente apaixonado mesmo, não é?

Gabriel rira baixo.

— Está estampado na minha cara, segundo Milles.

— Mas se ele é um ômega, e você disse que aquela menina não gosta dele... É uma situação bastante delicada.

— Tenho medo de que ela diga algo para os pais dela que possam afetar o trabalho de vocês. — Admitia Gabriel, beijando as mãos da mãe. — Ouvi dizer que o conselho de pais e professores da escola tem forte influência dos Mckenzie. Se acontecer algo na escola, eles vão saber.

— Gabriel. Vim de uma família de ômegas, e tudo o que vi foi pessoas boas precisando se esconder pra terem a vida que merecem ter. Esse menino é corajoso em permanecer aqui e enfrentar tudo isso. Acredite, ele é.

— Eu sei, mãe. Tenho orgulho do Theo por isso.

— Eu adoraria dizer pra você não se preocupar com os seus pais e seguir com sua vida. Mas sei que o mundo é bastante assustador. Pense com cuidado e eu te apoiarei.

O alfa assentia com a cabeça e abraçara a mãe. Todo o peso que carregara em seu peito se foi com aquela conversa. Pelo menos teria alguém com quem dividir a sua pequena aventura romântica. Claro, dentro dos limites. Jamais contaria para sua mãe o que fizera na escola de noite com Theodore.

— Quero conhecer esse menino algum dia. Traga-o para casa quando puder. Darei um jeito de lidar com seu pai.

— Obrigado, mãe.

Uma noite agradável que fizera o sol nascer na sexta com plena disposição. Para Gabriel nada abalaria o seu mundo, e até ansiava chegar na escola só para ver aqueles olhos claros e o sorriso mostrando as presas ao lhe desejar bom dia, como de costume.

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