Quando se questionara se Gabriel agiria estranho, Theodore deveria ter se questionado também. Daria um crédito a si mesmo, pois, não imaginara que ao pisar no pátio da escola o seu estômago se reviraria só de ansiar ver o alfa.
Estava muito ansioso.
Por isso, queria fugir.
Era simplesmente desagradável se sentir daquela maneira. Nem conseguira ficar sentado debaixo da tabebuia como de costume, indo direto para o corredor aguardar na porta da sala onde poderia encarar o chão esperando o tempo passar. Se ficasse no pátio poderia encontrar Gabriel, e não fazia ideia de que cara fazer.
Com certeza ficaria corado. Faria alguma careta estranha? Não queria. Desejava passar tranquilidade, fazer uso da mesma cara de pau que fizera na noite anterior ao se encontrar com o seu melhor amigo. Fingir que nada aconteceu.
Isso seria maldade demais, não seria?
Não poderia fingir. Algo, de fato, aconteceu. E foi muito bom.
Coçando a nuca, o ômega percebia o quão patético estava sendo. Fugir de Gabriel só poderia dizer que algo estava errado. Não fizeram nada de errado.
Talvez fazer aquilo na escola...
É. Fizera alguma coisa certa no ambiente errado.
Mas não era esse o ponto que queria chegar.
— Ei, Theodore! Bom diaaa!
Balançando a cabeça para afastar os pensamentos quando ouvira Sam o chamar, Theodore erguera os olhos e sorria gentilmente para os dois rapazes do primeiro ano que se aproximavam ao longo do corredor.
— Eaí meninos.
— Lilian me passou o recado sobre sábado. — Dizia Sam sorrindo todo alegre. Deveria gostar, e muito, de Lilian para sorrir daquela maneira só de mencioná-la — E estamos pensando em nos reunir nas arquibancadas nesse sábado pra fazer uma torcida organizada. O que acha?
— Uma torcida organizada?
— É... Digo vocês vão competir as quartas de final já, não é?
— Se conseguirmos vencer o time que jogaremos de manhã, acho que de tarde já irão disputar as quartas. — Ponderou Theodore concordando com a cabeça. — Ah, Lilian disse que tinha um colega de classe do time, não é?
— É ele aqui. — Sorria Sam abraçando o outro garoto que lhe acompanhava.
Theodore o olhava atentamente e arregalava os olhos.
— Uou, não fazia ideia, foi mal Bruno.
O garoto de estatura mediana e ombros curvados abrira um sorriso cansado.
— Tudo bem, sou acostumado a não marcar presença.
Theodore queria dizer "eu sei", mas limitou-se em uma careta de pesar. Bruno tinha uma postura semelhante a de Nicolas, tirando o fato de que ele nunca se destacava na quadra. Sua presença era quase invisível durante os treinos. Por não saber trabalhar bem com sua falta de presença, o técnico acabou o colocando no banco dos reservas.
— Está ansioso pra pisar na quadra sábado?
— Nem me fale, sinto que terei um piriri na hora. E isso me deixa ainda mais nervoso.
— Antes da partida começar posso te ajudar a se aquecer, e então farei alguma coisa pra te relaxar. O que acha?
Bruno abrira um preguiçoso sorriso.
— Faria mesmo? Eu ficaria muito grato!
Não tinha como não rir diante da semelhança entre ele e o seu melhor amigo. A aura preguiçosa era grande demais. Será que Bruno teria algum talento escondido como o seu capitão? Theodore sentia que seria o caso.
— Tudo bem. Então, sobre a torcida, o que pretendem fazer?
— Ah, Lilian já tinha bolado alguma coisa essa semana e ficamos ensaiando até o final da aula. — Sussurrando para Theodore, Sam espreitava os olhos desconfiados — Quando perguntei se você já sabia disso ela fugiu do assunto, então saiba que nossa representante é uma ninja disfarçada de anjo.
Theodore reprimira o riso.
— Terei isso em mente e ficarei em alerta com ela.
— Certo. Ah, então resolvi detalhar o que pretendemos fazer, já que Bruno comentou algo sobre o capitão do time não gostar muito de barulhos.
Os três se aproximaram e inclinavam-se sobre os papéis que Sam apresentava. Theodore ficara surpreso que o vice representante de turma do primeiro ano tivesse tanto capricho em detalhar uma simples torcida de time. As posições de cada um, o espaço que pretendiam ocupar nas arquibancadas, os equipamentos que pretendiam levar, a letra da torcida e até os momentos que consideravam oportunos para torcer.
Bruno dava alguns pitacos pontuais sobre os momentos que considerava ideais para certos gritos de terra. Até mesmo o tempo de duração deles fora trabalhado. Tudo isso a partir de sua observação no banco de reservas. Theodore não tinha como se surpreender com aqueles meninos.
Parecia que a sala de Lilian era repleta de pessoas inteligentes e talentosas. Todos esses talentos eram usados e direcionados pela sua representante de turma. Certamente Theodore fizera amizade com uma pessoa que agia feito um ninja... Ou melhor, seria uma líder ninja.
— Acha que podemos fazer isso?
— Vou conversar com Nico e com o professor, e ver o que eles acham. Se Nico souber de antemão da torcida, acho que ele não vá se irritar.
— Foi o que pensei. Mas será que nossa turma vai ser o suficiente? Os times das outras escolas parecem ter torcidas bem maiores.
— Ganharemos no quesito organização, foi o que Lilian disse. — Sorria Bruno, que logo abraçara Theodore pelo ombro o chacoalhando — E além disso, temos o nosso bonitão aqui que com certeza terá sua leva de fãs se juntando a nós.
Leva de fãs? Theodore? O ômega rira. Ele não tinha fãs. Uma ou outra pessoa é que conversara consigo desde a história do Orkut, mas não eram tantas pessoas assim. Duvidava muito que essas pessoas tivessem coragem de juntar à torcida do primeiro ano, que era sua apoiadora oficial.
— O seu irmão bem que poderia se juntar a nós. Já que o representante deles é o Mckenzie.
— Seria bom até se a turma do Theodore se unisse. Mas Lilian disse que essa primeira partida vai ser essencial pras outras turmas nos assistirem e desejarem fazer parte. Eu tô te dizendo, ela pensou em tudo.
— Você realmente gosta dela. — Murmurava Theodore, rindo quando as bochechas de Sam ficaram rosadas.
— Veja só como eles parecem estar se divertindo muito.
Os três garotos ergueram os olhos para o pequeno grupo de Mckenzie parados no corredor. Theodore enrijecera os ombros no mesmo instante em que encontrara Gabriel ao lado de Sadie, tendo seu braço agarrado ao da garota. Um gosto amargo subira em sua boca, o fazendo desviar os olhos só para bufar.
— Algum problema? Estamos conversando com o nosso representante. — Questionava Sam parecendo confiante.
Parecendo.
Pois, Theodore sentia o braço dele tremer, já que ainda estava em seus ombros. Estaria aquele garoto tomando coragem para lhe defender?
— Problema algum. Parece que o Theozinho finalmente fez novos amigos, podendo deixar os outros em paz.
Sadie apertava o braço de Gabriel, descendo os dedos até o pulso do alfa. Observando aquilo com um espreitar de olhos, Theodore retribuíra ao olhar de Gabriel.
Se havia qualquer sinal de nervosismo antes, ele se fora. Havia se esquecido por completo do empecilho que ainda existia em seu caminho.
— Então que tal você deixar o Theozinho em paz também? — Resmungava Sam, apertando o abraço no ômega.
— Por acaso é o novo namoradinho dele? Está o defendendo com unhas e dentes.
Ah... Era aquela história de novo.
Sadie sempre apertaria a tecla do namorado de Theodore. Sempre. Enquanto Theodore não arrumasse alguém para firmar um relacionamento, ela não sossegaria.
Recordou-se da conversa de Lilian na noite passada. Ficava feliz com suas palavras sobre ter o próprio tempo para criar coragem e enfrentar Sadie, ou qualquer outra pessoa que tentasse brigar consigo. E era grato também. Todavia, Theodore queria ser mais forte. Depender menos das outras pessoas, em especial de Nicolas, para se defender.
A briga era sua e de mais ninguém.
Lilian queria que Theodore visse o próprio brilho, e ele também passara a desejar por isso.
Erguendo os ombros em uma atitude corajosa, Theodore retribuía ao olhar de Sadie abrindo um sorriso ladino.
— E você? Já arrumou um namorado para deixar de cuidar da minha vida? — Theodore olhara direto para Gabriel — Ou será que ele ainda não sabe?
Gabriel dera um passo sendo segurado por Sadie, prestes a responder o ômega. Mas sua boca se calara também.
— Não quero que você o seduza como fez com o meu primo. Esperarei que coloquem uma coleira no seu pescoço.
Não se deixe abalar.
Não baixe a cabeça.
Respire fundo e mantenha a calma. Ela quer te desestabilizar.
— Você tem tão pouca confiança assim? Por acaso, está se rebaixando?
— Me rebaixando, se toca viado!
— Então pode arranjar um namorado tranquilamente. Porque mesmo que tenha outra pessoas mais bonitas em sua volta, ele continuará olhando pra você. — Abrindo um sorriso ladino, Theodore cruzava os braços. — Preciso realmente te ensinar esse tipo de coisa? É tão tapada assim, Sadie?
Thunder saíra de trás da garota, segurando a gola do moletom de Theodore com ferocidade.
— É melhor controlar a tua língua, já que teu homem não tá aqui pra te defender.
— Tem certeza?
A resposta de Theodore fora um mero sussurro quando Gabriel surgira segurando o punho de Thunder para afastá-lo. O olhar gélido do alfa certamente causara algum medo no jogador, apesar de não deixar transparecer.
Arrumando o moletom, Theodore sorria vitorioso. Tinha visto o alfa se desvencilhar dos braços de Sadie no mesmo instante que Thunder havia corrido em sua direção. Porém, imaginava que ele o tiraria dali para conversarem, e não que agarraria ao colega de time. Afinal, Theodore também estremecera com aquele olhar.
Virando-se para os dois meninos do primeiro ano, Theodore sorria para eles.
— Vamos conversar com o técnico sobre esses detalhes. Assim vocês conseguem se organizar ainda hoje sobre isso.
— Está fugindo seu bosta? — Gritava Thunder ainda sendo contido por um Gabriel silencioso.
Fora a vez de Theodore olhar friamente para aquele grupo. Um olhar ladino sobre o ombro, apesar da ponta dos lábios sutilmente levantada mostrando um toque de malícia.
— Quem está no banco deveria se comportar, se não jamais pisará na quadra. Seja um bom garoto, Thunder.
Lançara um último olhar para Gabriel, talvez repleto de significados que torcia para o alfa compreender.
Sim, seria aquele mundo que ele entraria. Onde todos iriam falar mal de si. Um mundo onde ficar em silêncio era uma condenação ainda mais penosa. Theodore avisara Gabriel na noite anterior de que ele deveria se posicionar. Avisara, pois sabia que Sadie não esconderia as garras afiadas contra o seu pescoço.
Para a sua tristeza, Gabriel parecia ainda não ter se decidido.
Apesar de na noite anterior ter dado a entender o oposto.
Porra, Gabriel o masturbou até gozar! O excitara tanto que deixou naquele estado. E ainda dissera que provaria seus sentimentos. Seria daquela maneira? Provaria seus sentimentos somente quando estivessem à sós?
Gabriel parecia esconder alguma coisa. Theodore sentia isso. Ao mesmo tempo confiava nele, pois ele sempre estava lá. Como um príncipe encantado pronto para salvá-lo.
Estava ficando confuso demais.
Quando os três garotos se afastaram daquele corredor abafado, Pedro olhara preocupado para Theodore, que tinha seus punhos cerrados e trêmulos. Inclinando-se para lhe sussurrar, Sam tentava afagar os ombros do ômega para acalmá-lo.
— Tem certeza de que está tudo bem em falar aquelas coisas?
— Tá tudo bem. Não fiz nada de errado, nunca dormi com alguém que não quisesse. Então porque eu deveria ficar com o rabo preso entre as pernas?
Um sorriso surgia nos lábios de Sam e de Bruno.
— Estamos contigo, cara.
Dessa vez Theodore sobrevivera com ajuda de seus mais novos amigos. E quando passara pelos corredores para ir até a sala dos professores, um olhar determinado brilhava em sua face.
Se era um jogo intenso que Sadie e Gabriel queriam.. Era o que teriam.