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Chapter 2 - Autoconhecimento

Depois deste leve susto que tomei, resolvi me lavar na intenção de acordar da espécie de sonho que acabara de ter, ao jogar água em meu rosto me dou conta de que já estava acordado a muito tempo e que aquilo realmente era real, eu realmente havia conversado com a Morte e feito um trato com a mesma, se ela poderia me ajudar com a minha doença, não havia motivos para não aceitar a sua ajuda. Tomo um banho e penteio meus cabelos castanhos que cismam em ficar bagunçados me fazendo apenas os prender em um pequeno coque samurai, após isso vou para meu quarto me vestir para ir a escola, o dia podia estar chuvoso e sonolento mas a escola havia de ser minha prioridade no momento, posso ser louco por aceitar algo vindo da Morte mas não serei idiota faltando as aulas e perdendo nota.

Visto minhas roupas monocromáticas e simples de sempre, coloco minhas lentes avelã e desviando das pilhas de lixo espalhadas pelo quarto pego minha mochila e saio em direção ao andar de baixo onde minha família se alimentava em completo silêncio, nossa casa sempre foi assim, não nos comunicamos em momento algum do dia, chega a ser assombroso o silêncio da minha casa que às vezes é quebrado por alguma música ou vídeo que eu coloco no meu quarto, ao passar pelas grandes estantes cheias de livros,remédios e plantas sinto-me observado, ao olhar para trás vejo minha mãe me julgando com o seu pesado olhar,

seus olhos castanhos passavam um ar de preocupação junto ao desespero de um dia me perder, desde que descobrimos sobre o que eu tinha ela me ignora, é como se ela não aceitasse que eu vou partir, a Síndrome de Hermansky-Pudlak foi algo que nos pegou de repente graças aos problemas de funcionamento dos pulmões, intestino, rins e coração que a mesma causara, não tínhamos como tratá-la, a única coisa que podíamos fazer é esperar a grande tragédia.

Aceno para a mesma com um pequeno sorriso que segurava toneladas de sentimentos que eu não poderia dizer e ela me retribui com um abraço.

—Toma cuidado na escola,não se esforça demais e se alimenta direitinho, você pode alongar um pouco mais a sua vida, eu ainda não estou pronta para te perder— Ela diz com a voz carregada e deposita um beijo em minha testa.

— Pode deixar mãe, eu vou me cuidar, benção— Digo indo em direção a porta

— Que Deus te abençoe meu filho.

Passar quase dois anos estudando em casa por conta dos exames não foi fácil, eu sinto falta de ver pessoas, fazer amizades e ser tratado normalmente o que não tem sido comum, todos me olham com dó, algumas pessoas dizem que é um castigo por desobedecer a meus pais, e eles estão certos em partes eu realmente desobedecia a minha mãe mas foram poucas vezes e eu sempre pedia perdão, eu finalmente iria para a escola, iria ser mais um na multidão, eu iria ser normal. Fui a caminho da escola com uma grande esperança do que estaria por vir. Eu era um aluno nerd, não costumava tirar notas baixas, o que infelizmente não continuou a acontecer. Ao chegar na entrada noto um pequeno anel que me chama atenção, ele tinha o formato de um crânio e em seus olhos havia duas jóias que com certeza valem muito dinheiro, talvez dinheiro o suficiente para o meu tratamento, ao pegar o tal anel uma leve brisa congelante passa por minha espinha fazendo-me de súbito arrepiar por inteiro, um sentimento invade minha mente, aquele anel me chamava de um jeito belo, parecia que ele sabia exatamente do que eu precisava. Resolvo guardá-lo em minha mochila e seguir o meu dia que começava a se tornar tedioso, ao entrar na escola sou recebido com uma onda de olhares que julgam toda a sua vida mas não conseguem olhar a própria que está prestes a desmoronar em um grande penhasco de culpas e responsabilidades, continuo andando em busca da minha sala enquanto escuto perguntas idiotas, risadas e comentários que acarretariam a pelo menos dois anos na prisão, ao chegar me sento no fundo onde ninguém viria me incomodar, pelo menos era o que eu pensava, a culpa adentrou junto ao medo e ambos se sentaram ao meu lado, logo atrás entraram os outros alunos conversando sobre seus repetidos e tediosos dias, o sinal acabou tocando com um pouco de atraso por conta dos professores não saberem onde eram para estar, após todos se organizarem e o professor se sentar eu entro em meu próprio mundo o que fez o dia passar rapidamente, felizmente por ser o primeiro dia acabamos por apenas nos conhecer e enturmar.

Ao voltar para casa me sinto perseguido, e ao olhar para trás, vejo uma jovem que pouco a pouco se aproximava, pude notar que havia um olhar de animação e seus dentes milimetricamente alinhados formavam um grande sorriso, ao se aproximar a mesma diz

— Finalmente você achou o anel que eu disse, vamos pois ainda temos muito trabalho pela frente.