O caminho até casa foi muito silencioso, Izanami até terem chegado á passagem para o submundo manteve-se sempre calada e os dois Shinigamis também não quiseram falar no assunto: era um enorme alívio para eles poderem entregar as almas que estavam ali paradas á semanas para os seus devidos destinos, havia agora muito a fazer, fossem três dias ou não, mas na opinião de Hiro não valia a pena estar á espera que ela respondesse a Izanagi, mais valia ter um plano de reserva.
Ao chegarem ao submundo separaram-se. Izanami voltou para os seus aposentos silenciosamente acompanhada das suas servas, visivelmente mais bem-dispostas e Hiro foi falar novamente com Joshua para saber se ele já tinha alguma novidade para lhe dar, enquanto isso Kado tinha de coordenar o trabalho dos milhares de Shinigamis para que a ordem fosse restabelecida. Não podiam em três dias ceifar as almas todas que nos últimos dias não tinham colhido, mas podiam arranjar eventos em que as mortes não fossem suspeitas, por isso em conjunto com alguns Shinigamis o objetivo ficou bem claro: tinham de ceifar as almas já selecionadas, mas de preferência todas no mesmo local, as que não conseguissem tinham de enviar um Shinigami para as ir buscar, só assim iam conseguir poupar tempo. Os criminosos eram a prioridade deles naquele momento, estavam a chegar relatos de várias almas inocentes que estavam para ser colhidas muito antes do tempo que lhes estava destinado, eram crianças, mulheres, até idosos… A prioridade deles ia ser essa e depois logo se via o que restava, três dias era muito pouco tempo.
Hiro estava quase a chegar á porta do seu antigo trabalho quando Kado lhe apareceu á frente quase chocando um com o outro. Kado pegou nele por um braço:
- Temos de ir agora! – disse apressado e levou-os para o submundo. Hiro só percebeu o que se passava quando viu que parte das almas estavam a desaparecer como se fossem fumo á frente deles.
- O que queres? – perguntou tirando a mão dele do braço dele. Kado apontou para uma das almas: Hidetaka.
- Pensei que te quisesses despedir dele. – disse ele apontando para onde o seu antigo patrão estava á espera de receber o seu destino. Hiro quis ir despedir-se dele, mas Kado disse-lhe que não valia a pena pois ele não o ia reconhecer, mesmo assim Hiro foi ter com ele, ele estava ansioso para sair daquele lugar, estava cansado, e com algumas feridas no rosto, os demónios tinham-no torturado sem nenhum motivo aparente, apenas para seu divertimento, isso deixou Hiro extremamente revoltado. Kado estava perto dele e viu também as ferias de Hidetaka, mas naquele momento optou por não arranjar mais confusão junto dos demónios. Hidetaka também ia seguir o seu caminho, o seu tormento tinha acabado.
- Obrigado. – disse-lhe Hiro fazendo-lhe uma vénia durante breves momentos. Hidetaka também lhe fez uma vénia sem saber o porquê daquele ser lhe estar a agradecer, não o conhecia, aliás da vida dele anterior ele não se recordava de nada.
Após a vénia Hiro voltou costas e seguiu para o portal de novo, tinha de ir falar com Joshua o mais rapidamente possível, e naquele momento não conseguia ficar ali a ver ele desaparecer, embora fosse uma coisa boa, era uma parte da sua vida junto dos humanos a partir, ele estava destinado a ver partir todos os que amava para todo o sempre. Kado não o seguiu, compreendeu que afinal aquele Shinigami ainda tinha traços de humanidade nele, podia não estar longe da salvação.
Hiro tinha voltado ao ponto de partida, estava de novo em frente ao restaurante onde tinha trabalhado. Entrou, sendo recebido por funcionários que ele não conhecia. O gerente ainda era o mesmo e ele temeu o pior.
- Então quando voltas ao trabalho? – perguntou mal o viu entrar.
- Em breve. – voltou ele a mentir ao que iria ser o seu novo chefe caso ele lá voltasse. – Os meus colegas?
- Ah, esses meteram férias, disseram que tinham ficado muito abalados com a morte do Hidetaka. Até parece que eram família! Realmente há pessoas que não sabem o seu devido lugar! – exclamou ele olhando para os novos funcionários como se fossem parasitas.
Hiro olhou para ele, mediu-o, até mesmo o cheiro lhe sentiu, tudo naquele humano era repugnante, ele era um desperdício de espaço, tantos humanos bons como Hidetaka tinham sido colhidos e aquele continuava ali. Esforçando-se para ignorar o comentário dele, Hiro perguntou por Joshua.
- Esse ninguém o vê desde o dia em que cá vieste! Entregou no mesmo dia a carta de demissão e nunca mais o vi! Outro desperdício de pessoa! – disse ele enquanto abria a caixa registadora para começar a contar o dinheiro que continha. Hiro estava sem perceber nada naquele momento: quase todos os dias falava com Joshua através de mensagens, ele dizia quase sempre o mesmo, que ainda estava a tratar das lojas, mas que também estava a fazer o que ele lhe tinha pedido, por isso algo ali não estava certo.
- Tem a certeza? Eu tenho falado com ele e ele disse que estava ainda a tratar dos sistemas das lojas! – o seu coração humano saltou dois batimentos com a resposta do chefe.
- Sim tenho, naquele dia mal saíste passados quinze minutos no máximo ele saiu daqui, parecia que tinha recebido uma má notícia… Mas espera, acho que ele deixou um recado aí para ti… Vou procurar. Não entres! – disse olhando desconfiado para Hiro enquanto fechava novamente a caixa registadora levando consigo o dinheiro que tinha contado.
Hiro estava sem chão naquele momento: será que Joshua o tinha enganado? Ele provavelmente tinha levado a estatueta, mas não ia fazer nenhum trabalho para ele, sim, seria isso, não podia haver ali mais nenhuma preocupação, não podia haver.
Com um envelope na mão com o seu nome escrito, o chefe de Hiro voltou, parecia incomodado por ter de servir de moço de recados, mas ao mesmo tempo estava curioso, ao que parece já tinha aberto o envelope, mas não sabia era o contexto. Hiro abriu o envelope e tirou um bilhete dobrado em dois, tinha apenas uma frase que fez Hiro cair no chão de joelhos quando a leu:
"Já me encontraste, não procures mais."