Capítulo 3
--------------------------------------------------------
A silhueta sentada interrompeu sua meditação e abriu os olhos lentamente.
Ao seu redor, uma densa aura roxa de Gou começou a emanar, estremecendo o ambiente.
Com voz calma, ela perguntou:
— Precisa de ajuda?
A sombra de Koji, já desaparecendo na penumbra, respondeu:
— Fique livre para destruir eles. Não preciso de ajuda.
E sumiu completamente.
A figura se levantou e saiu pela porta.
Sob a luz instável do céu em guerra, revelou-se um jovem alto — cerca de 1,87m — de cabelos curtos, pretos e ondulados, bagunçados como se nunca se preocupasse em arrumá-los. Dois brincos dourados adornavam a orelha esquerda, e seus olhos vermelhos cintilavam com intensidade.
Sob seus olhos, duas marcas pequenas e ondulares pareciam cortes antigos.
Vestia roupas escolares comuns em tons de vermelho e branco, destoando completamente da brutalidade da cena.
O jovem começou a se alongar tranquilamente, mesmo com mais de cem inimigos correndo em sua direção.
Quando terminou, flexionou os ombros e disse:
— Espero que estejam prontos.
Com um sorriso de pura empolgação, Yan — seu nome — reuniu o Gou do solo ao redor.
Uma intensa aura roxa emanou de seu corpo, o chão tremendo sob a pressão de sua energia.
Os inimigos hesitaram.
Mas já era tarde demais.
Um deles avançou, desferindo um golpe lateral. Yan desviou com facilidade, esquivando o corpo e, num contra-ataque fulminante, acertou um chute nas costelas do inimigo, lançando-o metros pelo ar, morto antes mesmo de tocar o chão.
Yan abriu um largo sorriso.
— Ah, agora sim! O YAN VAI MOSTRAR COMO SE FAZ!
Ele projetou na mão esquerda uma pequena esfera de vento — uma habilidade comum entre os Dominadores de Vento — e sussurrou:
— Impulso Sombrio.
A esfera explodiu atrás de Yan, gerando uma propulsão violenta que o arremessou como um projétil contra o grupo de inimigos.
No meio do salto, Yan pisou sobre os ombros de dois adversários, usando-os como trampolim. Girou no ar e desferiu chutes simultâneos em suas cabeças, jogando-os longe.
Antes de tocar o chão, reuniu outra esfera de vento e a lançou contra uma concentração de soldados.
— Impulso Impiedoso!
A explosão varreu mais de cinquenta inimigos de uma só vez, jogando-os a trinta metros de distância.
Yan pousou com perfeição, sem um arranhão sequer.
Os inimigos restantes, apavorados, tentaram fugir.
Mas não podiam.
A pressão do Gou ao redor de Yan era esmagadora. Apenas alguns conseguiam se arrastar para longe, trêmulos.
Ainda vibrando de energia e satisfação, Yan avançou outra vez, impulsionando-se com o Gou de vento.
Conforme corria, uma nova esfera começou a se formar — desta vez diferente.
Não era uma simples esfera. Ela se alongava e se transformava em lâminas giratórias que envolviam seu braço direito, brilhando em um tom roxo intenso.
Quando o círculo de inimigos olhou para trás, já era tarde demais.
Yan sorriu, cruel.
E recitou:
— Corte de Zéfiro!
As lâminas se espalharam em velocidade absurda.
Em menos de cinco segundos, dezenas de inimigos foram dilacerados — rostos, braços, pernas, torsos — por cortes profundos e implacáveis.
Quando o massacre cessou, o campo de batalha estava coberto de corpos — poucos vivos, muitos desmembrados, todos em absoluto terror.
Yan observou o resultado com tranquilidade.
Caminhou entre os corpos e, sem remorso, murmurou:
— Espero que os próximos sejam mais fortes.
E seguiu em frente, pronto para o próximo desafio.
17 meses depois.
Agosto, Ano 2331
A próspera e gloriosa Askkadia agora se encontrava em ruínas.
O céu, antes limpo, estava totalmente coberto por nuvens e pela fumaça recente da guerra. Casas destruídas, ruas vazias, incêndios ainda ativos, o solo marcado por crateras das batalhas. Pessoas feridas e crianças eram evacuadas às pressas.
Enquanto isso, no monumento de Askkadia...
Fuyuki e o Conselho de Askkadia discutiam estratégias na Sala dos Reis, no segundo andar, reunidos em volta de uma mesa circular cheia de mapas e anotações, planejando rotas de fuga e outras ações.
Um conselheiro se pronunciou:
— Seria bom se fôssemos pelo caminho mais rápido. Poderíamos interceptar o inimigo em outras rotas se evacuássemos todos rapidamente.
Outro conselheiro, tomando a palavra, rebateu:
— Mas seria perigoso demais. Acho melhor irmos pelo caminho mais estreito. Demoraria, mas teríamos uma garantia melhor de sucesso.
Um dos Reis olhou para Fuyuki e perguntou:
— O que acha disso, Fuyuki?
Fuyuki manteve-se em silêncio por um momento.
Ela trajava uma regata preta com a estampa vermelha de um Oni, marcada por um cinturão dourado na cintura e uma faixa fina vermelha no pulso. Usava uma calça legging preta, com uma grande capa vermelha de padrões geométricos em linhas pretas amarrada na cintura, e botas marrons de cano alto.
Levantando o dedo ao queixo, Fuyuki refletiu por alguns segundos, suando frio. Então raciocinou e, apontando para as rotas no mapa, disse:
— Imagino que seria melhor nos dividirmos em duas equipes. Mandamos uma pelo caminho mais estreito para executar a evacuação, minimizando perdas. A outra seguirá pela rota mais aberta, atraindo a atenção dos inimigos para uma emboscada. Eu também irei por lá.
Os conselheiros ficaram surpresos com a tomada rápida de decisão.
Intrigada com a reação, Fuyuki perguntou, encarando-os com expressão séria:
— O que foi? Não aprovam o plano?
Todos se entreolharam antes de responder em uníssono:
— Não, não! O plano é maravilhoso! Seguiremos ele!
Voltaram a concentrar-se no mapa, ajustando detalhes e se preparando para a execução.
***
Mais tarde, Fuyuki encontrou seu irmão mais novo, Akechi, pensativo, sentado em um murinho e olhando para o céu encoberto.
Ela se aproximou e brincou:
— Já se cansou?
— De quê? — respondeu Akechi, sem desviar o olhar.
— De lutar.
Ele soltou um pequeno suspiro e replicou:
— É sério que você pensou que eu ia me cansar disso?
Fuyuki sorriu, mas logo mudou o assunto:
— Como está a Kalila?
— Torcendo pra esse intervalo acabar e voltarmos logo pro campo de batalha. — disse Akechi, esboçando um leve sorriso.
Após um breve silêncio, Akechi olhou para a irmã e disse, estendendo uma carta branca dobrada:
— Fuyuki... se eu morrer, entregue esta carta para a mãe.
Fuyuki soltou algumas risadas baixas, encarando o céu nublado.
— Para de falar bobagem. Você não vai morrer. Eu não vou deixar! — disse com firmeza. — Quando essa guerra pífia acabar, a gente vai sair pra beber juntos. A sua bebida favorita, lembra?
Akechi a encarou surpreso por alguns segundos, antes de também rir baixinho e voltar a observar o céu.
— Assim espero... — murmurou.
****
Uma semana depois...
No campo de batalha, Fuyuki e o Exército do Fogo aguardavam a chegada do exército inimigo, enquanto os civis eram evacuados pela rota oposta.
Os soldados de Askkadia vestiam armaduras de múltiplas camadas em tons de vermelho e preto, o símbolo de Askkadia estampado em seus peitorais. Estavam armados com diversas armas brancas — katanas comuns, mágicas e tecnológicas — presas às cinturas e costas.
Fuyuki, com sua presença imponente, erguia a moral das tropas de uma forma nada convencional.
Ela trajava sua armadura de guerra: vermelha e negra, o símbolo de Askkadia reluzindo no lado esquerdo do peito. Seu punho esquerdo estava coberto por uma manopla negra de camadas finas até o antebraço, e seu pescoço ostentava fivelas douradas que seguravam sua capa negra — a Sombra do Fogo.
Erguendo a voz, ela gritou para seu exército:
— BELEZA, GALERA! NÃO QUERO VER CORPO MOLE! SE VOCÊS FICAREM COÇANDO O SACO PARADOS NO CAMPO DE BATALHA, NÃO VOU LEVAR NINGUÉM PRA COMER NO FIM DA GUERRA!! — e então completou, com um sorriso desafiador: — TÁ APOSTADO! LUTEM COM VONTADE QUE TODOS VÃO PODER COMER DE GRAÇA DURANTE UM MÊS!
O efeito foi imediato.
Os soldados ficaram extremamente animados, clamando por luta, sentindo-se capazes de derrotar três exércitos de uma só vez. A maneira inusitada de alavancar a moral funcionou perfeitamente.
Logo em seguida, o exército inimigo surgiu no horizonte: Phrygia e Gaia avançavam.
***
O exército de Phrygia usava sobretudo branco com adornos dourados, presos por cintos duplos marrons, com bolsas laterais para munições e coldres integrados ao uniforme. Portavam mosquetes de cano duplo, energizados por joias de Gou que conferiam poder elemental aos disparos. O corpo do mosquete era preto com linhas douradas, a coronha branca, e no cão, o símbolo da Nação de Phrygia brilhava.
Junto deles, marchavam os soldados de Gaia.
Os soldados de Gaia vestiam capuzes de gola alta verde-escuro e túnicas areia de mangas curtas. Braçadeiras metálicas protegiam seus antebraços até as mãos, enquanto cintos marrons prendiam pequenas bolsas. No centro das túnicas, núcleos giratórios de Gou de Terra brilhavam em verde, coletando pequenos pedregulhos e formando crostas de proteção sobre seus corpos — camadas lisas e sólidas de pedra viva.
Os fragmentos orbitavam ao redor deles, prontos para serem usados como armas ou escudos em combate.
****
Fuyuki e seus soldados estavam prontos.
Entretanto, ainda restavam as presenças mais imponentes.
Dentre as tropas inimigas, surgiram:
O Rei de Phrygia, com seu olhar vazio e apático;
O Rei de Gaia, de postura arrogante e olhar determinado.
Ambos trajavam os mesmos uniformes de guerra do ano anterior.
No momento em que o Exército de Fuyuki se preparava para avançar, as pupilas da Rainha brilharam em um laranja intenso, quase engolindo o preto de suas íris.
E com um grito que atravessou os corações de seus soldados, ela ordenou:
— VAMOS QUEIMAR TODOS ELES!!!