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Chapter 20 - A ILHA MORTA

Não me lembro bem em qual momento aceitei o papel de caça.

Lázarus ficou em silêncio por longo tempo, pensando. Era óbvio que cometera um erro. Mas, como poderia ter pensando que Beliel iria fugir? Ele nunca fugira antes, não enquanto ainda possuía grande força.

- Ele não pode sair do planeta – falou Ariel, por fim, também se mostrando chateada por ele ter conseguido escapar. – E na quarta ele não está, nem poderá ir para lá sem que saibamos. Os danatuás deixaram várias pessoas fantasmas e demônios tomando conta daqueles lugares.

- Que bom, Ariel. Eu não esperei que ele estivesse tão mudado. Ele, quando combatíamos juntos, era um guerreiro muito concentrado, que não aceitava recuar com facilidade. Ele, realmente, está muito diferente, para pior.

- Alguma ideia de para onde ele pode ter ido? – perguntou um dranian com cara de poucos amigos, se postando ante os dois.

- Ele não foi para longe. Ele e o exército estavam muito fracos para irem muito longe.

Lázarus e Ariel olharam com curiosidade e satisfação para o dragão. Era a primeira vez que o ouviam. Os dois se voltaram totalmente para ele, que os observava com muita atenção.

- Obrigado, meu amigo – falou Lázarus. – Você falou para todos ouvirem?

- Não, só para vocês dois – contou.

- Obrigada – agradeceu Ariel comovida.

O dragão apenas rulhou suavemente, com prazer. As cores do corpo pareceram fluir com mais suavidade, pois durante a batalha haviam sido tomadas de mais vermelho e preto.

Lázarus parou um momento, os pensamentos perdidos e distantes. Então se voltou para o açoite.

- Meu amigo, posso pedir para você não se envolver nessa guerra?

- Não, não pode – respondeu, como se o assunto já estivesse resolvido.

- Gostei, curto e grosso – riu Ariel.

- Mas você ainda é um filhote. Eu acho que você deveria ficar lá no Jardim e...

- Se quiser, você pode ficar no Jardim – falou o dragão, aumentando ainda mais o divertimento de Ariel.

- É, está bem. Estranho... Já vi muitas descrições de vocês, do oriente, e nenhuma delas falava dessa teimosia. Tem certeza de que seus pais eram da mesma espécie?

- Claro que sim! Me lembro bem deles – falou, se contorcendo preguiçosamente, dando por encerrada aquela conversa.

Lázarus ignorou Ariel, porque parecia muito divertida, e voltou os olhos para o dranian, que estava quieto, esperando. Para ele somente os dois falavam. Sabia que o dragão estava falando com eles, e conteve sua curiosidade. Só entendera que o dragão era bem teimoso, e independente. Por dentro sorria, mas só por dentro.

- Então, vamos ter que caçar – falou se dirigindo para o dranian que observava a conversa deles com um silencioso dragão.

Lázarus se levantou e, junto com os três, se dirigiu para um dos montes, em torno do qual o exército estava postado.

Lázarus subiu o monte e viu, com satisfação, que todos os feridos já estavam sendo tratados. Dranians, pessoas ou vigilantes estavam recebendo os devidos cuidados.

Correu os olhos pelo exército, e viu que ainda tinham imenso poder.

- Nossos inimigos escaparam, pois viram a fúria nos seus olhos, a força com que se empenham em defender a luz. E assim somos nós, e eles não poderão ser contra nós. Eles estão muito enfraquecidos, pois a perda deles foi monstruosa, como é natural que fosse – sorriu confiante.

- E o que vamos fazer? Vamos aguardar que eles apareçam? – ouviu a pergunta vindo de um lobisomem no meio das tropas.

- Isso não será aceitável – ouviu a voz grave, vindo de uma enorme ave, pousada num grosso galho de vinhático.

- Realmente, isso não é aceitável, nobre harpia – cumprimentou. – E, o que vamos fazer – falou, passando os olhos pelo enorme lobisomem, - é caçar, encurralar e destruir – gritou.

- Caçar, encurralar e destruir – gritaram todos em resposta. – Caçar, encurralar e destruir – ecoou o grito pela terra.

- Vocês têm certeza? – perguntou, observando o mapa rabiscado no chão.

O atandé fez um sinal com a cabeça, confirmando a informação.

Lázarus o observou bem, e a seus comandados, dois anhangás, três cainamés e duas harpias, que mostravam os semblantes confiantes.

> Que bom... Vão descansar então. Partimos antes do sol nascer – avisou.

Então se virou para o conselho[1] dos anciãos e para Ariel.

- Eu senti suas afirmações, e eles realmente os descobriram. Eles estão além da Muralha Espinha do Dragão, para dentro do Mar Oculto.

- A Ilha Morta? – perguntou uma harpia grande, a cara séria e concentrada.

- Sim, a Ilha Morta – confirmou.

- Então, devemos atacar logo, com todo o nosso peso. As harpias podem levar aqueles de nós que não podem voar ou correr sob as águas – propôs um lobisomem magro e do tamanho de um ser humano. Lázarus o examinou e viu que, apesar de parecer muito inteligente, a euforia de uma batalha o punha a perder.

- Não somos montaria – reclamou a harpia, os olhos perfurantes no lobisomem, que pareceu diminuir um pouco mais sua altura.

- E não precisará carregar ninguém – atalhou Lázarus, não querendo perder tempo em conversas sem sentido.

- Ora, então temos os dragões. Eles podem nos levar e...

- Os dragões não participam dessa guerra – Lázarus falou, a voz mostrando que não era algo a ser posto em discussão.

- Tá, então tem esse dragãozinho aí... – insistiu o lobisomem, os olhos presos no açoite.

- Quer tentar fazê-lo te levar? – perguntou, a voz séria.

Ante o silêncio viram o dragão com a cabeça erguida, observando atentamente o lobisomem, que murchou visivelmente.

> Olhe, meu amigo. Sei que quer participar, mas há outras formas de extrema importância para o nosso sucesso.

- Alguma proposta, vigilante? – perguntou um tutu-marambá. - Vi que parece já ter tomado as rédeas, dizendo que partirão logo pela manhã e sobre como os danatuás deverão se portar.

Lázarus sentiu a mágoa no ser, e resolveu desconsiderar o modo jocoso e de confronto que usara.

- Respeito as opiniões de vocês, mas não temos tempo para esse tipo de assembleia. Eu, os dranians e as pessoas que podem se locomover pelo ar e pela água vamos atacar a ilha, mas não com a intenção de destruí-los lá, porque não reunimos essa força toda. Nós iremos ocultos, e não iremos volitar, nós, os dranians, e nem as pessoas demônios, porque precisamos estar juntos e dentro da aura de ocultamento, até que caiamos sobre eles. Mas, eles acabarão pensando que somos bem mais, porque para isso trabalharão as pessoas fantasmas e algumas das pessoas demônios. O que iremos fazer será obriga-los a retornar para cá, onde o resto do exército, comandado por Ariel, estará aguardando. Assim que terminarem a volição deverão cercá-los onde surgirem.

- E como vamos impedir que desapareçam novamente, vigilante? Já passamos por isso. Isso não vai dar certo. Eu acho que deveríamos chamá-los para uma reunião e tentar...

O tutu ficou em silêncio, vendo a vigilante se aproximar, os olhos fixos nos seus.

O tutu arqueou as costas, se preparando para um enfrentamento.

- Se aguardarmos mais, se perdermos tempo em planos e conversas, o futuro fará sua cobrança. – explicou Ariel. - Achem um erro, uma falha no que propomos, e iremos ouvi-los. Se quiser, meu amigo, quando eles surgirem, poderá se juntar a eles – falou Ariel, a voz fria e perigosa posta no tutu.

- Ora, eu... Quem você pensa que é? Vocês aparecem e querem ser os comandantes...

Então, subitamente ficou em silêncio, vendo um conselheiro, um caipora, acender perigosamente o braço.

- Essa guerra não deverá ser levada para o futuro – falou o caipora, dando apoio a Lázarus e Ariel. – O conselho os ouve, e o conselho diz que os danatuás os seguirão – declarou, sob a concordância da maioria do conselho. Somente o tutu e o lobisomem pequeno se mostravam contrariados, por se saberem vencidos.

Ariel os guardou em sua mente, para ver como eles iriam agir quando a guerra começasse. Tal como o caipora, também sabia que a escuridão e a falsidade não deviam ser levadas para o futuro.

Os dois se encolheram, ao ver sobre si aqueles olhos negros e ameaçadores.

- Assim que eles terminarem a volição onde descerem, um grupo de dranians irá fazer um bloqueio de energia – Lázarus continuou expondo o plano. - Eles estarão ali só para isso, e assim deverão ser totalmente protegidos por um batalhão de pessoas demônios. Mas, o combate dos que aqui ficarem não deverá ser dirigido para ser decisivo, por causa da força combinada deles. No entanto, quando nós voltarmos da ilha, então, juntos, os destruiremos.

- Alguém quer fazer alguma observação? – Ariel perguntou, passando em revista o conselho e os comandantes presentes.

- Então - ante o silêncio de aceitação das ações propostas, ela se ergueu, - vamos colocar o plano em ação – Ariel falou, a mão alisando o cabo da espada, ansiosa para que tudo começasse.

Lázarus confirmou, com satisfação, que realmente eles estavam na ilha. A maior parte deles estava sob ocultamento, mas já contava que alguns poucos não iriam se ocultar, efeito da queda em que estavam, fazendo com que não conseguissem mais agir como um grupo coeso, porque os objetivos já estavam confusos para eles.

- Lá, perto da montanha de fogo – disse uma harpia que voava ao seu lado e ao lado do dragão.

- Sim, essa é a maior parte do grupo. Há um outro na praia ao norte da ilha.

- Estamos todos aqui – avisou um carcará se juntando a eles.

- O mar?

- A ilha está cercada - ele confirmou. - Ondinas e caboclos d'água a estão rodeando neste momento.

- Faça muita confusão! – orientou ao anhangá logo ao seu lado. - Que eles pensem que o exército que os está atacando é muito maior do que aquele do qual fugiram lá no continente – sorriu.

A um sinal o manto de ocultamento se foi, enquanto caiam sobre a ilha.

Beliel olhou para cima, para as hostes que se abatiam sobre o lugar. Depressa puseram suas defesas em ordem, até que viram as águas borbulhando por toda a volta da Ilha Morta. Depressa recuaram e se agruparam em torno do cone fumegante de Asarb.

Com ímpeto se bateram, a ilha roncando ameaçadora na força do conflito. A montanha se avermelhou mais, tomada de poder. Lázarus viu que eles haviam preparado aquela terra para explodir. Mais que depressa enviou duas cargas de fantasmas para a goela da montanha, que de lá expulsaram vários vigilantes que atacavam sua garganta. Foi um alívio quando confirmou que ela rapidamente se acalmava.

Lázarus, preocupado que os vigilantes descobrissem que seu número não era tão grande, enviou vários demônios como uma cunha contra o coração do exército, enquanto subia bem alto em companhia do açoite, de onde se abateram com fúria quase sobre Beliel que, assustado com tamanha fúria e número dos inimigos, volitou novamente com todo seu exército.

Ariel sentiu o ar se enovelar sobre as Montanhas Sombrias.

Depressa enviou os dranians que, rapidamente, bloquearam toda a energia em torno do lugar.

Os dranians e seus protetores viram, com estranheza, que a energia naquele local não era grande, o que muito facilitou o seu trabalho.

Não havia pior lugar para os vigilantes terem descido, sorriu Ariel, satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos, ainda mais quando viram que Beliel e seu exército, percebendo que aquele não era um bom lugar, tentaram sair de lá, sem sucesso.

Acuados, se preparavam para atacar o cerco quando Lázarus e os seus surgiram sobre as montanhas Sombrias.

Beliel reconheceu o que acontecera. Levantou a espada, parabenizando Lázarus pela armadilha.

Com um grito medonho e cavo Beliel apontou a espada para os atacantes, e comandou a carga.

Com um movimento muito rápido escapou do ataque direto de Lázarus, deixando a espada no seu caminho, do que ele escapou por muito pouco.

Lázarus virou numa curva absurda e se abateu sobre Beliel, agora pego de surpresa pelo movimento súbito do outro.

Beliel sentiu o impacto de Lázarus. Ameaçou um contragolpe, mas foi novamente empurrado para trás, cada vez com mais força, com mais violência, até que sentiu a parede ríspida da face da montanha. Se tivesse um pouco mais de tempo até poderia se afundar dentro dela e tentar escapar, mas a força que fazia para se defender o drenava rapidamente, além de que aquele lugar tinha uma energia estranha com a qual ainda não se acostumara. Era uma energia escura, baixa. Tinha certeza de que poderia usá-la para seus propósitos, se tivesse tempo para isso.

- Eu vou matá-lo, Lázarus... – gritava desesperado enquanto se defendia dos golpes absurdos. – E todos os que aprendeu a chamar de amigos e irmãos eu vou caçar.

Mas Lázarus parecia não ouvir, não se importar com o que ele dizia.

Apavorado viu quando sua espada foi perdendo a cor, enquanto a de Lázarus parecia que ia incendiar-se.

Com prazer viu quando um esporão atingiu Lázarus de lado, mas logo olhou desconsolado quando, num golpe para trás o vigilante estraçalhou o manto, logo voltando a golpeá-lo, cada vez com mais urgência.

Suas esperanças foram renovadas quando viu três dos seus se precipitando pelas costas do vigilante, mas novamente se desesperou, quando viu um dragão do oriente, num fogo intenso, bloquear o caminho deles, enquanto os atacava com uma fúria que poucas vezes vira num dragão.

- Ele sabe – Beliel viu com amargor. – Se eu não morrer ele sabe que tudo o que ama vai ser destruído, que Urântia vai ser destruída – pensou, enquanto se defendia cada vez com mais dificuldade. Sabia que precisava achar alguma forma de sobreviver àquele dia. Nem que tivesse que implorar, tinha que sobreviver, e levar a batalha final para os dias à frente, quando então se prepararia com mais cuidado.

Então, subitamente sua espada se partiu numa explosão oca e ele caiu abandonado contra a montanha.

- Você devia ter entendido – falou Lázarus apontando a espada para o seu peito.

- Me mate e eu volto, desgraçado que um dia chamei de irmão...

- Esqueceu que a morte como um caído faz a queda se tornar ainda mais profunda? - falou, a espada descendo lentamente, perfurando a armadura, rasgando a pele e os músculos. – Querer se lembrar de quem era, ou o que era, já está fora do seu alcance, porque é como homem que irá retornar.

- Espere – Beliel gritou desesperado vendo todo o tamanho da ameaça de Lázarus. – Me redima, me ajude. Somos irmãos e...

- Não tenho tempo para isso – falou empurrando a espada secamente contra o coração dele.

Quando Lázarus girou a espada um terrível tremor percorreu todo o corpo de Beliel, que subitamente silenciou e pendeu mole para a terra.

> Como homem andará no meio deles, e deles não poderá se diferenciar. E sabe por que, Beliel, velho irmão? Porque os anjos vão impor que volte como homem. Mas, isso não terá muita importância, ao final, e algum dia você vai voltar a entender. Não terá importância porque os homens e as pessoas nunca foram diferentes dos anjos – falou puxando a espada e se voltando para encarar a guerra.

Então se virou e, com um movimento curto pegou o caído e subiu vários metros no ar, mostrando-o como um troféu.

Ficou parado um bom tempo ali, com a carcaça de Beliel na mão esquerda. Suspirou aliviado quando viu que tudo parava e, após um curto movimento de indecisão, os caídos se retiravam do campo de guerra.

Quando o último dos caídos virou as costas para seu exército Lázarus lançou Beliel para a terra e desceu suave, totalmente esgotado.

Seu corpo tremia de exaustão quando os que estavam no céu desceram para a terra e, em silêncio, se puseram a guardar aquele chão. Mesmo acreditando que tudo acabara, tinham que se proteger de qualquer surpresa.

- Viu? Isso não é melhor que uma derrota? – riu o anaquera que antes duvidara que pudessem vencer.

- O melhor é quando se está errado em assuntos assim, não é mesmo? – riu por sua vez, vendo-o abanar a cabeça em cumprimento, logo desaparecendo, um sorriso esgarçado na cara.

- Pelo UM, essa foi por pouco – desceu Ariel, coberta de feridas terríveis, cumprimentando o tutu e o pequeno lobisomem, que haviam se postado contra eles frente ao conselho. Com orgulho os vira combater com ferocidade e sem qualquer dúvida no semblante.

Sorriu quando eles, com movimentos agora leves, a cumprimentaram de volta, logo se perdendo no meio dos semblantes luminosos dos seus.

- Sem dúvida, sem dúvida – reconheceu, recusando o auxílio oferecido por FlorDoAr, sinalizando com suavidade que ajudasse Ariel primeiro. Então viu o ardun e ela se aproximarem da vigilante, que já se dava passes de cura.

Não conseguiu não sorrir, pois ali estava tudo pelo que lutara.

Virou-se satisfeito para o açoite, que parecia tranquilamente adormecido ao seu lado, uma aura de paz envolvendo aquele lugar.

- Que bom, não é, açoite? – falou, fazendo menção ao que estava acontecendo por todo o lugar.

Ao lado homens e pessoas se ajudavam, preocupados uns com os outros, em meio aos caititus e queixadas, que se moviam com os curupiras e caiporas de um ferido para o outro, independente se amigos ou inimigos fossem. Com satisfação viu que também havia os pássaros, tal como as majestosas harpias, cuidando e protegendo.

Sorriu, finalmente em paz.

- Muito bom mesmo, vigilante. Mas, o meu nome não é açoite...

Com dificuldade Lázarus tirou o elmo, que logo desamassou. Então retirou a armadura e viu uma grande ferida, sobre a qual começou a aplicar um passe.

- Eu sei, mas é um bom nome, não é?

Não pode deixar de sorrir ao olhar e ver o quanto sua armadura estava realmente em um estado bem deplorável.

- Cuido de você depois – sorriu.

- Sim, seria, se eu já não tivesse o meu nome – retrucou o dragão. Lázarus virou-se para ele. Havia sentido uma pontada de diversão naquela voz.

- Debochando, não é? Aposto que seu nome é muito pior do que açoite.

Feliz ficou quando uma mão pequenina se juntou à sua, curando um grande ferimento.

- Oi, açoite – cumprimentou a pequenina, a voz luminosa para o dragão.

- Viu? Até ela gosta desse nome – riu.

- Fique tranquilo, logo você vai estar curado – ouviu Sol tranquilizá-lo, enquanto que, com o rostinho sério, se concentrava em um outro ferimento. Ela não ouvia a conversa entre eles.

- Eu sei, meu bem. Eu sei.

Quando o ardun se aproximou deles, já estavam bem adiantados com os ferimentos. Mas, sua energia estava baixa, e com um alívio aceitou a ajuda da pequenina Sol, do ardun e de FlorDoAr.

- Tudo bem, tudo bem, açoite. Então, qual o seu nome?

- Yinshenlong, ou apenas Shen – declarou, a voz normal e meio sonolenta.

- E os outros podem saber seu nome?

- Sim, eles podem – aceitou, fechando os olhos, as longas barbatanas do focinho tornando-se levemente azuladas, mostrando que estava bem com aquela decisão.

- Sinto pelo que teve que fazer – falou FlorDoAr. – Ariel me contou que você e o comandante deles, Beliel, eram como irmãos.

Lázarus se virou no momento em que a vigilante fazia o corpo de Beliel afundar no chão.

Sorriu.

- Ele vai estar em boas mãos. Ele vai aprender, como homem ele vai aprender.

- Que lugar é esse? A energia aqui é baixa, é estranha. E parece que afetou pouco as pessoas fantasmas e demônios. Você já o conhecia? – perguntou Ariel se aproximando, quase rindo ao ver o estado da armadura de Lázarus, que fingiu não perceber o exame da vigilante.

- Fui eu quem dei esse lugar para ele – Lázarus declarou com tranquilidade. – Ele ouviu o sussurro enquanto o atacávamos lá na ilha, e veio...

Ariel o fitou por algum tempo. Então deu de ombros, se lembrando que Lázarus estava há muito mais tempo ali do que ela.

> Ah, este é o nosso amigo Shen – falou para todos, mostrando o dragão que parecia adormecido. - E, mesmo que vocês não possam ouvir, ele fala demais – riu, vendo que ele abria um dos olhos, e parecia sorrir quando Sol se deitou feliz e satisfeita sobre seu pescoço.

Suspirou fundo, satisfeito com o rumo que as coisas estavam tomando. Havia uma nova energia, que apontava caminhos novos. Então seus pensamentos correram, tempos e lugares, imagens rápidas que vinham e se desfaziam, como se nunca tivessem sido percebidas.

Lázarus ficou com os olhos ausentes, perdido em seus pensamentos. Então, dentre eles, algo chamou sua atenção, como se ouvisse novamente Safiel sussurrar em seu ouvido, como se perguntasse o que estava diferente ali.

- O que está diferente aqui? Por que os anjos não entraram na guerra? – cismou.

De repente todos viram quando ele e Shen pareceram ficar atentos, os olhos distantes, como se dessem falta de alguma coisa.

[1] Composto pelos mais experientes e respeitados seres (*).