Mestre Shankar nos recepciona com o já costumeiro namastê.
Cada um toma o seu devido lugar e pegamos nossos blocos para anotação e mestre nos diz que a aula de hoje seja sobre especificamente sobre o shádi e suas cerimônias, ele nos explica que cada cerimônia tem seu significado e sua importância, além de nos explicar sobre e também nos falar qual o nosso papel em e mediante a essa notícia ficamos animados, porque finalmente saberemos o que os padrinhos deverão fazer.
Em suas mãos está um papel onde ele nos fala que é a programação do evento que entre as cerimônias será intercalado por refeições, que serão café da manhã, almoçar e jantar.
O mestre nos orienta também a sempre interagir e direcionar os convidados junto com os pais dos noivos, pois somos muito próximo dos noivos, com todos concordando o mestre continua já explicando sobre o primeiro ritual que é o roka.
Esse ritual é marcado pelo momento em que os pais dos noivos declaram publicamente a intensão de casamento entre eles, pois como sabemos para os hindus é comum o casamento arranjado.
E é nesse momento que as famílias irão solicitar ao pandith que faça o estudo astrológico dos futuros noivos para ver se eles combinam, além disso também já podem iniciar as propostas de dote que os pais da moça deverão pagar para os pais do rapaz. O noivo sempre será tratado como um príncipe e a noiva uma princesa.
Como uma forma de selar essa intenção a família da noiva manda presentes para o noivo, mas esses presentes são específicos, frutas secas, grãos, roupa nova, uma espada e não pode faltar doces indianos.
Guilherme curioso pergunta sobre o dote, e Dani por sua vez não deixa barato dizendo que nem que pagasse milhões para ele, o mesmo se casaria. Sinto além da ironia muito clara, uma ponta de tristeza e decepção. É triste ver minha amiga assim.
O mestre nos explica que o dote faz parte da cultura, por isso é importante o casamento entre a mesma casta, as famílias fazem um acordo intermediado pelo pandith, tanto a lei quanto a tradição hindu exigem que seja pago um dote, que pode e varia entre dinheiro, joias, propriedades e até animais, e isso tudo demonstra a honra e o valor que os noivos têm para suas famílias.
Todos os meninos caem na risada dizendo que isso deveria virar moda no Brasil. Como o Claudio está sentado hoje ao meu lado e leva um belo de um beliscão. E percebo que ele não foi o único.
— Guruji, e a Dulhana quando entra nessa cerimônia? – me surge essa dúvida e logo pergunto.
O mestre me responde que não é auspicioso a noiva participar dessa cerimônia, não é auspicioso ela entra na casa e nem na presença dos futuros sogros nessa hora.
Dani inconformada pergunta por que não? E como podia as famílias fazerem o pedido de casamento sem a presença da noiva, sem ela ver com quem vai casar, sabemos que com a Weenny será diferente, mas que o Guru estava explicando a cerimônia de forma tradicional.
O Guru responde que um pai sabe o que é bom para seu filho e que esse tipo de decisão deve ser tomada de cabeça fria e sem a influência do coração, eu confesso que é difícil pensar dessa forma quando um casamento se envolve amor, envolve sentimentos, mas o Guru parece que lê os meus pensamentos continua explica do que quando há amor ou paixão envolvida nesses momentos a chance de dar errado e muito grande, e todas nós concordamos e com isso o guru nos pergunta se entendemos essa primeira cerimônia e dizemos que sim.
Com a nossa afirmativa a aula prossegue e ele nos fala que irá nos dar a introdução de um ritual que irá acontecer várias vezes. Que são as pujas ou orações, e elas podem ser realizadas em diversos lugares, rua, em casa, nos templos. As pessoas normalmente se reúnem em dias específicos e montam altares com os deuses e fazem suas oferendas, e são diversas, entre elas, água, flores, tecidos, frutas, alimentos, incensos. A vestimenta nessas ocasiões, são de cores discretas e as mulheres cobrem a cabeça com o pallu, fazem a oração e acendem o fogo sagrado, fazem seus pedidos e no final tocam um sino.
Tento montar essa cena na cabeça. É tudo muito diferente do que estamos acostumados.
O mestre nos explica o porquê de se começar uma cerimônia do Shádi com as pujas, é para trazer proteção e sucesso. E o primeiro dos deuses a ser direcionado as pujas é Vishnu.
Depois dessa explicação o Guru nos mostra como fazer o altar e nos ensina as pujas.
Confesso que como cristã isso pra mim é muito complicado, porque vai totalmente ao contrário daquilo que acredito e prático, mas por amor a minha irmã eu faço esse sacrifício. Mas nunca negando a Jesus a quem escolhi entregar minha vida.
Nessa hora acabo me distraindo nesse pensamento, em quanto a gente se sacrifica por aquele que amamos, e muitas das vezes não somos reconhecidos por isso.
É inevitável eu não pensar do Flavio e na quantidade de vezes que me sacrifiquei por ele, para no final escutar que eu não tinha nunca provado o amor que eu tinha por ele.
Sofri demais e ainda sai como a vilã, a que não se importava, a que não amava. Não era suficiente eu enfrentar mais de quatro horas de transporte público para ir vê-lo, de sacrificar vários horário de almoço pra ajudá-lo, de sacrificar o meu bem estar porque ele não estava bem, estava com o ego ferido. Para no final escutar o que escutei, e agora ele não me deixa em paz de forma alguma, esse sumiço dele, nestes dias está me deixando apreensiva.
Volto meus pensamentos para a aula quando escuto bem de longe a voz do meu amor, fazendo uma pergunta para o mestre, ele pergunta se o Eros como Dulhan terá que fazer o ritual, por conta de ele ser brasileiro e não sabermos que ele tinha esse interesse pela cultura indiana.
O Guru responde que o dever dele é explicar como será o shádi e o que de comum poderá acontece, ele explica que quando o shádi não é tão tradicional pode se escolher alguns rituais e cerimônias, porém o noivo escolheu as cerimônias que inclusive está no cartão do casamento e pergunta se está correto tudo que está dizendo para a Weenny e a mesma confirma.
Com isso ele continua a explicar sobre o Samavartanam, o Brahmachari deve sempre permanecer dentro de casa, do hotel ou do salão até o meio-dia.
Quanto mais o Guru falava mais eu não entendia. Minha mente deu uma viajada. Está longe, ouço que que dizem mas não assimilo nada. Sei que estou anotando tudo no modo automático, mas se me perguntar o que ele acabou de falar, não vou saber responder ao certo. Volto para aula o Guru já está encerrando.
Fico calada o almoço todo. Assim que termino de comer vou para o meu quarto.
Deixo o pessoal no restaurante, sabe aquela saída a francesa, que ninguém percebe quando você saiu.
Quando chego no quarto meu celular começa apitar sem parar, dou uma olhada na tela e vejo que estou sendo bombardeada por mensagem do pessoal perguntando onde eu estou, por que sai sem falar nada, se estou bem. Mas entre tantas uma me chama atenção, só dizia "estou subindo".
Já sei quem é e suspiro, não quero que ele fique preocupado comigo, ainda mais com assunto do passado. Sei o quanto o Claudio fica irritado e triste diante de tudo isso.
Quando menos espero a porta é aberta e ele já logo me abraça e eu desabo de chorar.
Por que estou chorando? Também não sei, mas sabe quando você precisa colocar tudo para fora? Então é esse dia.
— Se arruma vamos dar uma volta na praia você está precisando sair um pouco daqui. Vou até meu quarto me trocar e em vinte minutos eu volto.
Ele me dá um beijo na testa e nem espera resposta, bate à porta em suas costas e eu sento na cama desolada e desanimada.
Olho para o celular quando ouço novamente um toque, e vejo de relance Claudio explicando que eu não estava muito legal, não era para se preocuparem. E as mensagens de melhoras chegam.
Porém uma delas é a que eu menos queria, não ousei a abrir só estava escrito "eu não desapareci, estou mais perto do que imagina."
Minhas mãos começam a tremer e o coração dispara.
Tento me regular pensando que daqui a pouco o Claudio está voltando e eu nem me arrumei.
Levanto, pego um biquíni qualquer e uma saída de praia longa, óculos para esconder os olhos inchados de chorar. Nesse momento desejo secretamente aquele chapéu de praia enorme que esconde seu rosto.
Faço uma trança lateral no cabelo e assim que termino, ele chega. Pego minha bolsa e vamos a praia.
Porém ao chegar na porta do hotel ele pede um táxi.
Não questiono. Entro junto com ele e ele diz para o taxista, praia do mirante.
Fico observando a paisagem de mãos dadas com o Claudio pensando na maldita mensagem.
Quando menos espero meu celular toca e vejo na tela "aproveite bem a praia com ele, logo essa festa acaba", nesse momento toda cor que existe em mim vai embora, começo a suar frio e Claudio percebendo pega meu celular da mão e lê a mensagem.
Também não diz nada. E em quarenta minutos chegamos na praia.
Claudio paga e descemos. Percebo que é o mesmo lugar que vim quando tinha decidido que iria me render ao amor dele. E por coincidência ou não ele me leva para sentar no mesmo lugar.
— Olha eu sei que ele está te pressionando de novo, mas não se preocupe, vamos dar um jeito.
— Eu sei, mas cansa viver com medo, na incerteza, não sei onde ele pode aparecer, como sabe tantas informações assim de mim. Ele aparece onde estamos, como ele sabe exatamente a hora e onde estamos? Será que existe alguém passando alguma informação minha para ele?
— Vida, não entra nessa paranoia, vai deixar você pior do que está.
— Então me dê outra alternativa, porque essa pra mim é a única menos louca, ou não né.
— Vamos pensar em outra coisa, tô pretendendo marcar a data do nosso casamento para depois da lua de mel da Weenny e do Eros o que acha?
— Acho maravilhoso. – digo com um sorriso no rosto. O que mais quero no momento é viver o resto da minha vida ao lado dele e de preferência em paz.
Começamos a conversar, me empolgo, quando percebemos está quase anoitecemos e o lugar está lotado, pois dali que se vê um dos mais lindos pôr do sol, e estamos em um lugar privilegiado. Bem na frente.
Todos param quando o sol está se pondo em silêncio, só escutamos o barulho do mar e das câmeras tirando foto.
Assim que começa todos batem palma, taí uma coisa que não entendo o porquê, mas vou no embalo. Mentalmente faço minha oração de agradecimento a Deus, independente das coisas ruins que acontecem tenho que ser grata a Deus por ele me proteger tanto, por ter colocado pessoas maravilhosas na minha vida, pela oportunidade que Ele tem me dado.
Claudio sugere Lara jantarmos por ali mesmo. E achamos uma churrascaria, comemos bastante, mas foi aí que descobri que ele não come carne vermelha de jeito nenhum. A mais de quinze anos que ele não come carne vermelha e não sente falta, mas ama uma carne de porco, bacon é seu favorito.
Pegamos um táxi para voltar e logo ele me deixa no meu quarto, nos despedimos e vou tomar um banho revigorante.
Coloco meu costumeiro pijama e vou apagar as mensagens do Flavio sem nem abrir, e mais um número dele bloqueado.
Mando mensagem para minha mãe perguntando como andam as coisas, ela me diz que bem e que quando eu tivesse um tempo era para eu ligar pois estava com saudades.
Digo que ligo em breve, desligo a internet e vou dormir.
Acordo e vou para minha rotina matinal e depois para o café da manhã. Peço desculpas a todos por ontem. E recebo os abraços mais gostosos do universo. Amo tanto cada um deles.
May me olha e pelo meu olhar ela já sabe o que aconteceu e me diz que vai ficar tudo bem.
Vamos todos para mais uma aula.
O mestre já começa dizendo que continuará falando sobre os rituais e que está seguindo o cronograma do casamento, e que para o primeiro dia de Shádi faltou falar sobre o Kashi Yatra, que nada mais é que o aconselhamento do noivo sobre os seus deveres de marido no casamento, e a continuação do samavartanam, onde o noivo escutará os conselhos para qual caminho deverá seguir.
Marília pergunta como assim, e Filipe mais rápido reponde que o noivo deverá escolher se deseja ser casado ou não.
Mas como ele sabe disso com tanta certeza, estranho parece que ele sabe mais da cultura indiana que penso, e como é raro ouvir ele falar todos olhamos estranhos e espantados para ele.
E o Guru concorda com o que Filipe disse.
E Guilherme pergunta que se nesse momento o noivo percebe que não está pronto o shádi é cancelado, e o mestre nos diz que para o shádi acontecer precisa de consentimento prévio dos noivos, e que pode acontecer é uma brincadeira durante o Kashi Yatra, que o noivo finge que não quer mais casar, veste o colar sagrado e finge que será Sannyasi, e caberá a família da noiva convencê-lo do contrário.
Sussurramos que Eros jamais desistiria.
O mestre continua nos explicando tudo que irá aconteceu no segundo dia de shádi, e é sobre as refeições que serão servidas entre as cerimônias e cada um tem seu lugar propício, e nós como madrinhas e padrinhos deveremos estar posicionados para recepcionar os convidados na porta e encaminhá-los para o local correto.
O mestre diz mais, que é nossa responsabilidade manter a privacidade e a liberdade dos noivos para que eles possam se alimentar, então devemos ajudar sempre que necessário.
E nós diz que na sequência começa os rituais Muhurat e Griha Shanti, que dão as pujas de preparação.
Ele explica tudo que irá acontecer.
E Claudio no final pergunta se por acaso o estudo do Eros e Weenny não combinarem, todos sabem que eles se amam muito, mas como isso seria.
E o mestre nos explica que isso é bem incomum, porque as famílias se reúnem com o pandith e fazem o estudo e só depois disso o Shádi é formalizado. Mas o que pode ocorrer é descobrir que a noiva é manglik ou no grosso modo de falar, amaldiçoada para o amor, trazendo má sorte ou até a morte para o futuro marido.
Iara e Dani questionam como se descobre isso e como faz se isso acontecer.
Ele explica que se descobre através de estudos astrológicos e nos explica o ritual para a noiva deixar de ser manglik.
E nos acalma dizendo que a nossa amiga não é manglik.
Logo após ele explica sobre o Grahamuk, se logo após desse ritual será dado uma festa onde os noivos, as famílias e os convidados, dançarão o garba, uma dança típica e muito alegre.
Todos começam a ficar agitados e Rafa pergunta se o mestre irá nos ensinar e ele nos diz que aprenderemos no shádi.
Somos liberados para o almoço e finalmente Weenny irá almoçar conosco. Estamos morrendo de saudades dela.
Mas ela no máximo come uma salada e logo sai.
Combinamos entre as meninas de amanhã invadir a suíte da Weenny e todas concordam.
Acordamos cedo e uma vai batendo na porta da outra até chegar ao elevador e todas vamos entrando no elevador e na suíte fazendo muito barulho, assim que Weenny nos ouve diz que logo sai do banho e pede para chamar os meninos também pois vamos todos tomar café juntos ali mesmo. E Mi logo o faz.
Assim que estamos todos reunidos novamente ela pergunta o que temos feito e nós dizemos que quando não temos agenda para cumprir, saímos, mas sentimos a falta dela. Ela nos explica que está fazendo aulas particulares com o Guru e sua equipe ficamos surpresos, mas entendemos.
Terminamos de tomar café e seguimos para mais uma aula.