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Chapter 2 - Capítulo I - Parte I

Espero que gostem!

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O Brasil mais uma vez tinha confiado seu destino a Getúlio Vargas. Na primeira vez foi através de uma ditadura, agora, foi eleito pelo povo de maneira justa.

O Velhinho voltou ao poder, e isso não deixou todo mundo feliz. 

Com o fim da segunda guerra, a ameaça nazista tomou lugar para a ameaça comunista, e seus ideais de poder pelo bem do povo e repleto de Nacionalismo, começaram a obter reações preocupantes.

Os Estados Unidos, que tinha se tornado una grande potência na Segunda Guerra, de pronto odiou o ideal Comunista, começando uma guerra indireta no mundo.

Os ocidentais viam o comunismo como algo sujo e irreal, e consideravam crime aquilo que parecia ser comunista.

Por esse motivo os EUA olhavam para o Brasil com receio.

O Brasil está situado no mesmo continente e é uma grande nação, facilmente conseguiriam subjugar as outras da América Latina. Não só pelo tamanho, mas os ideias do Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, assustava os Americanos.

Na verdade, não só eles, mas um grande números dos brasileiros.

Com um governo Populista e Nacionalista, que visava o desenvolvimento tecnológico do Brasil, sem a necessidade de países estrangeiros intervirem.

Assim o Brasil ficou dividido entre Nacionalismo e Liberalismo; aquele que gostariam de ver o Brasil evoluir com as próprias pernas, e aqueles que viam mais lógico o Brasil pegar empréstimos de outros países para ajudar em sua evolução tecnológica e social.

Após a criação da Petrobrás, ficou claro a escolha de Vargas. A oposição odiou as ideias nacionalistas do Presidente e começaram a chama-lo de comunista e corrupto, tudo para fazer o povo odiar o Velhinho.

Essa pressão política chegou a um estopim com o caso Lacerda, onde Carlos Lacerda, jornalista da oposição sofreu um atentado de morte na rua Tonelero, Copacabana, Rio de Janeiro, Capital dos Estados Unidos do Brasil.

Carlos Lacerda não morreu, mas acabou levando um tiro no pé. A real infelicidade foi a morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz.

Climério Euribes de Almeida, integrante da guarda pessoal do presidente da República foi o responsável pelo atentado.

Tal caso levou a pressões políticas ainda maiores contra Getúlio Vargas, acabando por receber a responsabilidade do atentado.

Posteriormente foi descoberto que, Gregório Fortunado, chefe da guarda pessoal do presidente foi o mandante da operação. Porém não era claro o envolvimento ou não de Getúlio.

O dia é 19 de Agosto de 1954, mais participantes do atentado eram descobertos dia após dia.

Nesse mar de eventos, oposição e república compravam jornais e programas de rádio. Todos os dias mais e mais notícias circulavam pelo público, com quase nenhuma sendo verdadeiramente imparcial.

Os trabalhadores apoiavam Vargas e os banqueiros a oposição.

Vicente trabalhava em um jornal que pendia para Getúlio. Na agência praticavam um árduo trabalho de fazer o povo não odiar Vargas e o separava completamente dos responsáveis pelo atentado.

Não só a defesa, mas também os avanços da Petrobrás e estatísticas sobre economia eram passadas para o povo. 

O trabalho de Vicente envolvia uma redação bem humorada dos acontecimentos recentes.

Ele e outros artistas, como o chargista que trabalhava no jornal, apostavam no humor para ridicularizar a oposição e até influenciar os mais novos para penderem para Getúlio.

Vicente lia de perto e com calma a última folha presente na máquina de escrever. Uma redação de jornal como a dele tinha no máximo trinta linhas, sendo colada uma página antes da página sobre política.

Estava com as costas arqueadas, com o rosto tão próximo da folha que sentia seu cheiro. Terminando de ler, se ajeitou na cadeira.

Arrumou seus óculos de garrafa e viu o que tinha a sua frente.

Uma pequena mesa retangular com tralhas de escritório encima dela. A máquina de escrever ficava no meio, e ao lado direito dela uma pilha de vinte papéis cobertos de palavras. 

Do outro lado da mesa, um lugar exclusivo para o lazer. No canto superior esquerdo, a foto de sua esposa na lua de mel, emoldurada por madeira.

Seguindo o lado esquerdo, uma xícara de café quase vazia, repleta de açúcar escurecido.

Voltando para o lado direito, alguns números limitados de lápis e canetas, usados para revisar e sublinhar os textos, e claro, fazer suas anotações no bloco de notas, que estava ao lado inferior à pilha de papéis.

Lendo aquele documento uma última vez, bufou. Vicente ajeitou seus óculos mais uma vez, pegou os papéis e se levantou da cadeira, indo para uma sala no canto direito.

Andando, deu uma olhada nos colegas de trabalho. Vicente era parecido com todos: branco, de terno e de rosto pelado. Até a idade não desviava num nível alarmante, sendo o mais novo um recém formado em jornalismo, que mais entregava café que trabalhava de verdade. Assim como Vicente, a maioria dos trabalhadores estavam na casa dos 30, entrando alguns poucos anos depois da companhia ser feita.

Assim como tudo em São Paulo, o jornal tinha um nome indígena: A Voz Do Cacique, um pequeno jornal sediado em São Paulo, São Paulo. Não era um grande jornal, visto que sua sede ocupava um número máximo de 40 pessoas.

Em seu caminho a sala de redação, uma cena, do outro lado, chamou sua atenção. Quando ouviu um choro parou de andar e olhou para trás. Era o Chargista com lágrimas nos olhos, saindo da sala do patrão e indo juntar suas coisas no escritório.

O escritório do patrão era um cubículo no canto superior esquerdo, tendo vidro como paredes. Todos podiam ver o patrão arrumando alguns documentos.

Quando Vicente deu de costas, viu o novo jornalista saindo correndo da sala de redação, passando por Vicente e entrando na sala do patrão. 

Vicente não parou, indo à sala de redação entregar os papéis que carregava. 

O estagiário e o patrão conversavam sobre algo, olhando para Vicente entrando na sala que queria.

— Então eu- 

Vicente entrou na sala. 

O grupo da revisão trabalhava enquanto conversavam entre si, isso pela simplicidade de seu trabalho. 

Existia um roteiro para fazer uma boa revisão. Só era preciso cortar partes comprometedoras, palavras-chave e afins. Como a equipe era, em geral, feita por pessoas experientes, um total de 5, a censura seguia com uma facilidade.

O problema naquele setor era a quantidade de documentos. Os próprios jornalistas faziam suas revisões, mas por regra, tinham que entregar todas as anotações e documentos para a revisão final, que era feita na sala de revisão.

Cinco pessoas trabalhavam na sala, conversando enquanto passava um corretivo em cada um de seus papéis. Ao Vicente abrir a porta, o mais próximo estendeu a mão para pegar. Ele entregou e saiu da sala.

Voltou a sua mesa.

Ajeitou os óculos. 

Vicente se formou em jornalismo e tinha como Hobbie fotografar. Ele estudou por amor e respeito à arte e ao seu avô. Se casou aos 20 anos com uma mulher que conhecer durante uma viajem no Rio Grande Do Sul. Teve sorte de ter uma família com contatos e facilmente conseguiu um emprego envolvendo a profissão que se formou. Passou toda sua adolescência estudando e viajando, e sua vida adulta trabalhando. Vicente agora tinha 35 anos, e em poucos dias iria fazer 36. Vicente conseguiu fazer seu sonho, realidade.

Então porque não havia brilho em seus olhos?

Vicente nem pensava sobre isso. 

Olhando para o relógio, 08:36. Devia fazer mais redações por um tempo.

Vicente pegou o bloco de notas e sentiu alguém colocar a mão em seu ombro. Era o novo jornalista, do qual ele nem sabia o nome.

— Sr. Vicente, o patrão está o chamando.

Vicente gelou.

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O Grande Calango Doido vai aparecer

um dia