A turma ficou em silêncio e estática, ninguém parecia crer no que haviam escutado.
Hakim, incrédulo, testou mais uma vez a poção de Rosetta.
Um talento desse nível, em Alquimia, era algo visto apenas uma vez a cada centenas de anos.
Aos olhos de muitos o que ela acabou de fazer era algo simples, afinal, a poção feita era uma das mais básicas que existia, porém, era preciso um talento excepcional para, na primeira tentativa, atingir níveis acima de 80%.
Acima de 90% apenas alguns poucos gênios espalhados pelo continente eram capazes de tamanho desempenho.
"Incrível..." Disse Hakim olhando para a poção e depois para a garota.
Ele então disse para ela retornar ao seu assento, contudo, após a aula terminar ela deveria esperar e o acompanhar até a Sala do Diretor.
Rosetta pareceu entrar em pânico, mas Hakim rapidamente a acalmou e disse que não era punição ou algo do tipo, era na realidade uma recompensa.
Ela, então, se acalmou e sentou-se no seu lugar, claramente envergonhada, já que as suas bochechas avermelhadas eram incapazes de mentir.
Para a sua sorte, o professor rapidamente chamou os outros plebeus, mas eles não tiveram um grandioso desempenho, tendo eles ficado entre 40% e 50%.
Até que chegou a vez de Ben-Hur, o garoto andou tranquilamente em direção ao palco.
Em sua mão jazia tranquilamente o pequeno frasco com um líquido vermelho vibrante, quase como sangue.
As Poções de Cura tinham vários nomes, como Sangue da Vida ou Líquido Curativo, variava muito da região no qual estava sendo comercializada, mas, o nome mais comum em todo o continente, era simplesmente Poção de Cura.
"Professor..." Disse Ben-Hur entregando o frasco nas mãos do homem à sua frente.
Hakim havia ouvido falar de Ben-Hur, antes de começar sua aula.
Merlin havia enviado uma carta para ele na qual dizia que haviam algumas crianças extremamente importantes no local e que era preciso dar uma atenção especial a elas.
As crianças dos Ducados, a Princesa Sarah e um jovem plebeu, chamado Ben-Hur.
Hakim estava curioso para saber o motivo, já que ele não se importava muito com as notas de entrada e apenas apareceu para dar sua aula.
Sendo assim, ele não fazia ideia de quem foi a maior nota ou algo do tipo.
Enquanto as crianças passavam pelos testes ele estava afundado na sua pesquisa.
"Certo..." Murmurou Hakim pegando o frasco da mão do garoto.
Então, ele levou para testar no pequeno animal e quando pingou o líquido na ferida ele rapidamente surpreendeu-se.
Sarah, ao longe, olhava ansiosa pelo resultado.
Rosetta também admirava muito Ben-Hur, já que ele havia demonstrado um talento assustador.
As crianças se entreolhavam, sem entender muito, já que era difícil ver o que acontecia na bancada por estarem longe.
Apenas aqueles nas fileiras da frente haviam percebido o que havia acontecido.
Não só o ferimento foi curado, como o pelo raspado do animal cresceu alguns milímetros próximo da área onde o pingo da poção caiu.
Ele olhou novamente para Ben-Hur e claramente o garoto não fazia a menor ideia do que havia realizado.
"V... Você já havia feito alguma poção antes?..." – Hakim.
"Não, é a primeira vez, foi bem divertido..." Disse Ben-Hur com um rosto tranquilo.
Hakim parecia não saber muito o que fazer, mas apenas deu os parabéns para o garoto e o mandou retornar para o seu assento.
Ben-Hur assentiu e sentou-se calmamente ao lado da princesa Sarah que virou o rosto e sorriu para ele com uma expressão animada.
"Não esperava nada menos de você..." Disse ela sussurrando ao se aproximar um pouco mais dele.
Com exceção de Milo que claramente já havia marcado Ben-Hur como seu inimigo, as demais crianças dos Ducados o olhavam com uma leve admiração,
Seus pais e mães, antes de eles virem para a Academia Real, os haviam educado para não apenas estudarem, mas criarem conexões e também, se possível, recrutarem talentos para suas famílias.
Não era raro ter Aventureiros e Alquimistas sendo contratados por nobres para viverem em suas terras e ajudarem na proteção ou para ajudar na criação de suprimentos para a família.
A maioria dos ducados tinham dois ou três excelentes Alquimistas de forma exclusiva, já que cada ducado também tinha um pequeno exército ao seu dispor.
Isso acontecia devido ao fato de que as terras dos ducados eram não apenas as maiores em extensão, mas também eram as terras de fronteira e consequentemente a primeira linha de defesa do Reino Wolfstrong.
De qualquer forma, Emily Thyri, Agnes Wood e Lewis Ward claramente estavam interessados em Ben-Hur, porém, como ele parecia já estar bem próximo da família real, seria difícil o convencer a irem para os seus ducados, sendo assim, a melhor opção era tentar recrutar Rosetta.
ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ
Após cada aula havia um pequeno intervalo de quinze minutos.
Ben-Hur estava tranquilamente sentado no seu lugar e comendo alguns pedaços de frutas que sua mãe havia cortado para ele.
"Você quer um pouco?..." Ben-Hur disse para Sarah.
Ela corou um pouco ao perceber que o estava encarando já fazia um tempo.
"C... Cl... Claro..." Disse ela meio sem jeito e levou sua mão delicadamente para a caixa de madeira com o lanche de Ben-Hur.
Ela então pegou um pequeno pedaço de uma fruta cítrica.
"Princesa Sarah, por gentileza, espere testarmos o alimento..." Uma voz feminina e poderosa soou, ela vestia uma roupa que cobria todo o seu corpo e até mesmo o seu rosto, ela era uma das duas Guardas que estavam em serviço no momento.
Além disso, ela claramente possuía a Classe Assassin.
Sarah olhou com um olhar extremamente frio para a guarda.
"Afaste-se..." A voz da garota, apesar de ter apenas cinco anos, soou como alguém digna de ser chamada da realeza, havia um certo tom de comando que apenas os nobres possuíam.
A mulher olhou para a Princesa e depois para Ben-Hur, parecendo tentar decidir o que fazer, mas ela então curvou-se para a Princesa e desapareceu.
Ninguém pareceu notar que ela havia aparecido, muito provavelmente a guarda usou alguma Skill para esconder sua presença.
Sarah então voltou a sua expressão normal e sorriu para Ben-Hur, logo após deu uma mordida no pedaço de fruta em sua mão.
"Essa é a minha fruta preferida..." Disse ela após alguns instantes.
"Nós temos uma árvore na parte de trás da casa onde estamos morando..." Disse Ben-Hur colocando a caixa na frente de Sarah novamente que instintivamente pegou mais um pedaço.
"No Jardim Real também tem algumas, elas são boas, mas não como essa..." Sarah parecia um pouco surpresa, era raro algum alimento de fora ser melhor que aqueles que eram servidos para a família real.
"Minha mãe sabia uma Magia capaz de revigorar a árvore, pois, ela estava quase morta quando chegamos lá, em pouco tempo a árvore se encheu de frutos e eles são ótimos..." – Ben-Hur.
"Sua mãe é uma Maga?..." – Sarah.
"Eu acho?..." Murmurou Ben-Hur com uma expressão meio perdida.
Ele realmente não fazia ideia de qual era a real Classe de sua mãe.
"E o seu pai? O que ele faz?..." – Sarah.
"Meu pai costumava ajudar a caçar e cuidar das lavouras na Aldeia onde nós vivíamos..." – Ben-Hur.
"Entendo, deve ser legal..." Sarah tinha um olhar meio triste por alguns instantes e Ben-Hur reconheceu esse olhar.
Essa expressão era de solidão.
Ele havia experimentado muitas vezes isso, mesmo cercado de fãs e admiradores, houveram momentos em que ele sentiu-se sozinho, muito devido ao fato de o colocarem em um pedestal no qual ele jamais pediu para ser colocado.
ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ
Algumas semanas se passaram e era um dia especial, já que todos alunos foram chamados para irem até um grande salão de eventos dentro da Academia Real.
Merlin estava presente e alguns outros poderosos também, como o Conselheiro Real, o braço direito do atual Rei do Reino Wolfstrong.
Não era apenas ele, alguns nobres também estavam presentes, quatro dos Sete Ducados enviaram seus líderes.
Até mesmo os professores e demais funcionários se fizeram presentes.
"Agradeço a vinda de todos, antes de começarmos, gostaria de agradecer a presença de todos os professores e instrutores, bem como demais funcionários que sem os quais a Academia Real não funcionaria!
Também gostaria de agradecer a presença da Duquesa de Thyri, Duquesa de Lewis, Duque de Ward e Duque de Grannus.
Hoje é um dia muito especial para todos nós, já que temos uma presença ilustre entre nós, que virá servir como Professora Convidada por algum tempo, não apenas isso, ela é uma amiga da minha época na Academia Continental.
Uma salva de palmas para a Princesa Estel Aera!" A voz de Merlin entoou por todo o lugar e todos ficaram surpresos com suas palavras.
Afinal, mesmo os que não sabiam quem era Estel, eles sabiam o que o sobrenome Aera representava.
Aera era o Clã Élfico mais antigo e importante de todo o Continente.
Eram tão poderosos que seriam capazes de varrer o Reino Wolfstrong do mapa sem nem suar.
Estel Aera adentrou tranquilamente no palco e sua presença era colossal, seu olhar cheio de poder e sua beleza inigualável, a tornavam o centro absoluto da atenção de todos.
Mesmo ela tendo suprimido todo o poder que ela possuía, era impossível negar que ela era bem mais forte que Merlin.
Aqueles olhos não mentiam, ela era linda, mas também um monstro mortal.