O olhar de Estel era frio, era possível sentir algumas pitadas de ira e o ar ao seu redor tremulava levemente, deixando claro que a Mana em seu corpo rugia como um dragão querendo soltar-se de suas cadeias.
Merlin até distanciou-se alguns centímetros para o lado no sofá, ele não queria estar perto caso Estel libertasse sua indignação.
"Eu sabia que eles eram implacáveis, mas ao ponto de caçar até mesmo os dois prodígios? Vocês estão facilmente no topo das pessoas mais talentosas nos últimos séculos..." – Estel.
"Eles não se importam com isso, segundo meu pai, o talento corre nas veias de nossa Família, eventualmente alguém extremamente poderoso surgiria e ele não se importava de me matar já que talvez em algumas décadas, no mais tardar séculos, outro como eu surgiria..." – Adam.
"Minha família quando descobriu que nós estávamos juntos tentou me prender para que eu não fosse capaz de o ver, segundo eles, era um crime o que eu estava fazendo e tinha apenas duas escolhas, o largar e ficar em prisão perpétua dentro de casa ou morrer com ele caso continuássemos juntos..." – Sophie.
O olhar de Estel exalava raiva.
"Eles são poderosos e arrogantes para tal, nossas famílias são Antigas e extremamente poderosas, não se constrói uma família milenar sem ter cometido alguns crimes..." – Adam.
Sophie segurou a mão de seu marido.
"Vocês poderiam ter pedido minha ajuda... Nossa ajuda..." Estel falou com um rosto sério apontando para ela e Merlin.
"Eu sei, mas foi uma escolha nossa, não queríamos colocar esse peso nas costas de vocês, nossas ações nos levaram a tal ponto em que precisamos tomar medidas extremas..." – Adam.
"Nós somos amigos há anos, Adam. Vocês realmente acham que eu me importaria de lutar até a morte com vocês?..." O olhar de Estel era sincero.
Merlin também tinha a mesma expressão, ele não podia negar que ficou um pouco triste pelas decisões tomadas por Adam e Sophie.
"Eu sei e vocês sabem muito bem que eu morreria por vocês e Adam também, mas no que vocês estariam se metendo, caso nos ajudassem, não envolveria apenas vocês.
Estel é a Princesa do Reino Élfico, suas ações carregam o peso da realeza, do seu povo, da sua família.
Merlin é um dos pilares que sustentam o seu Reino, caso você se aliasse conosco e nos ajudasse, era óbvio que o Reino Wolfstrong sofreria retaliações..." – Sophie.
Estel olhou para o lado, meio indignada, mas ela não podia negar, Sophie tinha razão.
"Quando descobrimos que Sophie estava grávida de nossa filha, tudo se transformou em um caos. Eles jamais nos perdoariam e muito provavelmente tentariam matar Lily, mesmo que isso significasse que eles precisassem matar Sophie ainda grávida.
Era uma situação desesperadora, mesmo que nós os contatássemos, as pessoas ao redor de vocês pagariam o preço por suas escolhas e pelos nossos problemas..." – Adam.
"O Reino Élfico é forte o suficiente para poder se opor a eles..." O tom de voz de Estel deixava claro que essa era a última argumentação da parte dela.
Adam e Sophie estavam corretos, eles eram pessoas importantes demais para tomarem partido de maneira tão leviana, mesmo que a situação pedisse por um posicionamento.
"Não é, e você sabe disso... Se fosse apenas uma das famílias, sim, mas as duas, impossível, até mesmo para o Reino Élfico. Vocês são poderosos e o Clã Élfico Aera é quase tão antigo quanto nossas famílias, mas não se esqueçam que estamos falando de dois monstros, com segredos que levariam caos para todo o Continente..." – Adam.
A Família de Adam e Sophie eram envoltas em mistérios, muito pouco se sabia sobre elas.
Estel ficou pensativa por um tempo.
Ela não podia negar a realidade por detrás das palavras de Adam.
A Família de Adam e de Sophie eram duas famílias extremamente poderosas, sozinhas, elas já eram quase suficientemente fortes para se opor a um dos Reinos mais poderosos que existiam, o Reino Élfico.
Unidas, seriam uma força imparável.
Apesar de elas serem como óleo e água, uma para com a outra, em casos excepcionais, eles uniriam forças, como para destruir a união de Adam e Sophie, já que isso estragaria a imagem de ambas as famílias, mas não apenas isso, a união sanguínea delas era o que mais os Anciãos e Líderes das famílias temiam.
Afinal, eles não sabiam se poderiam controlar o poder resultante dessa união e era melhor prevenir do que remediar.
"O que vocês vão fazer a partir de agora?..." – Estel.
"Viver... Nós temos uma filha e um filho, precisamos viver por eles e em pouco tempo Lily e Ben-Hur vão passar pelo Despertar, precisamos estar lá por eles..." – Adam.
"É, isso é verdade..." Estel jogou a cabeça para trás e fixou seu olhar no teto, tentando pensar um pouco melhor.
Aquela expressão séria dela era extremamente bela, mas havia uma certa impaciência e rancor naqueles olhos frios.
Ela sabia o peso nas costas de Adam e Sophie.
"Foi até bom você ter vindo aqui, nós estávamos planejando ir lhe encontrar dentro de alguns meses..." Sophie puxou uma cadeira e sentou-se à frente de Merlin e Estel.
Ambos se entreolharam surpresos.
"Eu entreguei a Varinha Divina para Ben-Hur, além disso, eu já separei o Colar da Santidade para Lily, quero dar para ela em breve...." Enquanto Sophie falava, Adam chegou até ela e acariciou o seu ombro, como se tentasse ajudar ela a falar palavras difíceis.
Merlin e Estel se entreolharam novamente, mas agora preocupados.
"Eles eventualmente vão chegar até nós, é inevitável, principalmente quando Lily despertar com doze anos e teremos que lutar com todas as nossas forças quando esse dia chegar. Dependendo de quem e quantas pessoas eles enviarem, é provável que nós iremos morrer..." Adam olhou preocupado para Sophie, a ideia de ele a perder era algo que cortava o seu coração.
"N... Nós gostaríamos de pedir que, caso o pior aconteça, vocês dois cuidem de Ben-Hur e Lily. Não precisa ser de forma aberta, já que isso apenas os faria serem perseguidos e mortos também. Então se puderem apenas os esconder, os levem para algum lugar longe onde ninguém jamais os encontre… Por favor..." O olhar de Sophie era de súplica.
O olhar frio de Estel se quebrou e lágrimas correram por sua linda face, aquele pedido havia partido seu coração.
Ela sabia que Adam e Sophie já haviam aceitado a morte como algo quase inevitável e eles morreriam para proteger suas crianças.
A ideia de perder duas pessoas tão preciosas para ela a corroía internamente.
Estel se levantou abruptamente e foi até a janela, não querendo que a vissem chorar.
Merlin cerrou seu punho e seus olhos marejados deixavam claro a tristeza em seu coração.
"Eu prometo..." Estel disse da janela, sem ter coragem de olhar para trás.
"Eu também..." – Merlin.
"No entanto, não ousem morrer, jamais os perdoarei..." Estel falou e desapareceu, sem falar mais nada, deixando para trás o ar pesado das palavras de Adam e Sophie e um Merlin com olhos cheios de lágrimas.
"Eu... Eu..." Ele não sabia o que falar e apenas saiu pela porta de sua sala.
Adam e Sophie ficaram sozinhos e ambos sabiam o que haviam acabado de pedir para Merlin e Estel.
Porém, as chances de eles morrerem eram grandes demais.
Dependendo de quem tivesse sido enviado atrás deles, era difícil eles saírem ilesos e se os líderes e Anciãos se movessem pessoalmente para lidar com eles, a morte era certa.
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Longe dali, no topo da torre de uma igreja, estava Estel.
Ela chorava de soluçar, suas lágrimas brilhavam com a luz do luar e era possível quase tocar na dor que rodeava a linda elfa.
Ela tinha a mão em cima de seu coração, como se tentasse o acalmar devido a intensidade da angústia.
Ver sua melhor amiga dizer que era provável que ela morresse e pedir para que pelo menos suas crianças fossem salvas não era algo que qualquer ouviria sem quebrar.
No entanto, em meio a toda aquela dor, havia também determinação.
Se chegasse a esse ponto, ela estava mais do que pronta para cuidar de Ben-Hur e Lily, mesmo nunca os tendo encontrado.
Se preciso fosse, ela usaria todos os seus poderes como Princesa do Reino Élfico para garantir que o menino e a menina conseguissem viver suas vidas a salvo.
E, se também fosse preciso, ela morreria os protegendo, honrando a memória de Adam e Sophie.
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Merlin estava jogado em um sofá no seu quarto.
Lágrimas caiam e um baixinho soluçar era ouvido no breu do recinto.
Um copo de uma bebida forte descansava na mão do homem e de vez em quando uma de suas lágrimas se misturavam à bebida, o que não o impedia de continuar a dar grandes goles no copo.