Sarah foi para a frente, seu olhar era tranquilo e sua delicadeza era algo que apenas uma princesa como ela teria.
No entanto, a espada que residia em sua cintura deixava claro que sua feminilidade não significava fraqueza, pelo contrário.
Andrea curvou levemente a cabeça para a garota quando ela passou perto e a menina também fez o mesmo.
Após isso, Sarah colocou-se no lugar indicado e fechou seus olhos levemente, respirando profundamente algumas vezes e então aos poucos começou a usar a magia ensinada pela professora.
Ondas sistemáticas eram enviadas e todos sentiram um vento atingindo suas faces, conforme a Mana na atmosfera movia-se junto.
Era como leves açoites das rajadas de vento que antecedem uma grande tempestade.
Um cheiro de rosas permeava o ar, devido a Andrea estar bem próxima, o ar a atingia e seu perfume emanava por toda a sala.
Os cabelos de Andrea moviam-se no ar, folhas de papel sobre as mesas começaram a voar devido a intensidade do vento.
Andrea tinha seus olhos tomados pela perplexidade, afinal, era impossível não notar que diante dela havia uma menina com um talento singular.
Andrea havia participado da Academia Continental, mas, até mesmo lá, poucos talentos foram vistos no nível de Sarah.
E por surpreendentes trinta minutos a garota foi capaz de manter seu poder imutável.
Andrea estava boquiaberta, um monstro havia surgido no Reino Wolfstrong.
O último ser monstruoso a aparecer havia sido Merlin e ele abalou todo o Norte do Continente.
Contudo, Sarah parecia ainda mais incrível.
No entanto, Andrea olhou para a lista de alunos em sua mão e percebeu que ainda faltava um aluno ser chamado.
"Ben-Hur... Pode vir..." Disse ela com um olhar curioso.
Antes de ir até a sala de aula, Andrea foi falar com Merlin, por pedido dele.
Na sua sala, ele a avisou para ter cuidado no tratamento de duas pessoas, uma delas era Sarah, a Princesa e filha mais nova do atual Rei do Reino Wolfstrong.
A segunda pessoa, Merlin disse que era preciso cuidar dele com excelência, do contrário, todo o Reino poderia ser destruído.
Andrea sabia que o garoto era um aldeão, mas, ela indagava-se o motivo de Merlin o tratar com um respeito maior do que a princesa.
De qualquer forma, ignorando o olhar pensativo de Andrea, bem como alguns olhares venenosos de alguns nobres, ele foi até o local indicado.
Na hora de descer, passou por Sarah que o parou e disse algo em seu ouvido.
Todos ficaram surpresos pela atitude da garota, até mesmo Andrea.
"Me mostre o seu melhor, eu sei do que você é capaz..." Ben-Hur repassou a fala de Sarah em sua mente, era quase como se ela tivesse percebido que ele estava planejando se segurar.
Não era que ele se importava com a reação dos seus colegas, mas, ele já havia percebido que seu pai e sua mãe estavam se escondendo, e, caso ele demonstrasse um talento muito grande, chamaria a atenção de todos e talvez isso resultaria em sua família entrar em perigo.
No entanto, as palavras de Sarah o instigaram e ele sorriu.
"Que assim seja, se alguém tentar algo, eu apenas preciso proteger minha família..." Os olhos de Ben-Hur demonstraram grande determinação, mas apenas Andrea percebeu uma leve perturbação na Mana da atmosfera.
No entanto, ela ignorou a situação e focou em ver o que o garoto faria.
Ben-Hur respirou fundo.
Fechou seus olhos e aos poucos os abriu e conforme o fazia leves ondas de Mana começaram a mover-se para longe de seu corpo.
Era simples e de extrema delicadeza, quase como uma brisa suave em um dia de verão ou o carinho do abraço de uma mãe.
Aquela sensação quase que espiritual movia-se por dentro de toda a sala e as crianças estavam surpresas com tamanha demonstração de poder.
Sarah havia emanado suas ondas de mana com o furor de um espadachim, que busca o ataque antes da defesa e que sempre está à espreita de uma fraqueza em seu oponente.
Era como o espírito indomável de uma princesa que havia nascido para fazer todos a temerem e respeitarem pelo seu incrível talento e poder.
Algo digno da realeza, deixando claro que ela era superior, seja em poder, beleza ou talento.
Contudo, Ben-Hur emanava algo diferente.
Ele tinha poder e talento incomparável, sua missão era reinar, porém, a delicadeza em seu poder era algo gritante.
Em vez de confrontar, ele contornava.
Em vez de guerrear, ele cultivava a paz.
Em vez de procurar fraquezas, ele buscava os pontos fortes.
Aquele vento era suave e a brisa gerada pelas ondas de Mana eram como o carinho de uma mãe no rosto de sua criança.
Andrea estava surpresa.
Sarah era como uma leoa mostrando suas presas, mas Ben-Hur não precisava mostrar seu poder, ele sabia que todos estavam cientes de que ele era poderoso e não precisava provar ou afrontar ninguém.
E ele assim o fez por incríveis trinta e um minutos.
Ao findar deste tempo, ele levemente suspirou e parou de enviar as ondas de Mana.
Andrea percebeu, ele se segurou, estava claro que ele poderia ir muito além.
Os olhos de Ben-Hur procuraram pelos de Sarah dentro da sala.
Ela tinha um sorriso dançando em seus lábios e seu olhar de menina estava cheio de alegria, curiosidade e animação.
Sarah percebeu, que aquele tempo foi uma resposta ao seu desafio para ele fazer o seu melhor.
Ele não mostrou seu melhor, ele apenas mostrou que era melhor que ela.
Sarah ria por dentro, quando foi a última vez que qualquer criança ou até mesmo um adulto dentro do Reino teve coragem de fazer isso contra ela.
Claro, não era como se ela fosse tolerar caso alguém o fizesse, ela era uma princesa e por isso era exigido que a respeitassem.
Contudo, ela percebeu que a atitude de Ben-Hur não era afronta, mas sim um garoto que aceitou fazer parte da brincadeira que ela criou.
Se ela o desafiasse, ele aceitaria e mostraria que ele era superior, não por seu próprio desejo, mas pelo dela.
Andrea percebia toda essa movimentação e troca de olhares, não apenas ela, a maioria das crianças um pouco mais atentas também notavam.
De qualquer forma, Ben-Hur apenas ignorou os olhares de todos os lados e foi até o seu assento, ao lado da Princesa Sarah.
Ela colocou o cotovelo sobre a mesa e apoiou seu rosto sobre sua mão e olhou para ele com um sorriso em seus lábios.
Sarah era uma criança de cinco anos, mas claramente havia puxado os belos traços de sua mãe.
A Família Real Wolfstrong era formada pelo Rei, a Rainha e cinco crianças, sendo três meninas e dois garotos.
Sarah era a mais nova entre eles, já a Princesa Charlotte com seus vinte e cinco anos era a mais velha entre os cinco.
Ela também assumiria o trono no lugar do seu pai, já que no Reino Wolfstrong o primogênito assumiria o reinado, seja homem ou mulher.
Além disso, ela também era uma poderosa Espadachim, tanto é que foi ela que ajudou pessoalmente no treinamento de Sarah.
Já o Príncipe Leopold, com seus vinte e um anos, era o segundo mais velho.
Ele era um poderoso mago, tendo, da mesma forma como sua irmã mais velha, se formado na Academia Continental.
Leopold havia recebido alguns treinamentos diretamente de Merlin.
Tanto ele como sua irmã eram adorados pela população, já que demonstravam ser moderados e bondosos para com aqueles das posições sociais mais baixas.
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Enquanto isso, nos portões da Academia Real, Adam estava claramente entediado.
No entanto, rapidamente surgiu trabalho para ele fazer.
Ao longe, uma imensa carruagem se aproximava, sendo puxada por quatro Feras Etéreas, bem como escoltada por alguns guerreiros montados em cavalos com mais de dois metros de altura.
A carruagem era adornada com diversas pedras preciosas e brilhava em um tom dourado devido aos raios de sol atingirem o ouro lustrado que havia por todos os lados.
Com tamanho poder advindo das Feras, não demorou mais que alguns segundos para ela chegar diante dos guardas.
"Abram os portões! Sua Excelência, o Marquês Alfred está aqui!" Rugiu um jovem magro que apareceu rapidamente de dentro da carruagem.
O outro guarda estava nervoso.
Ele havia recebido ordens de que durante o primeiro dia de aula ninguém era permitido adentrar na Academia.
Contudo, um Marquês era alguém muito importante e ele não sabia o que falar.
"Desculpe, mas não será possível..." Disse Adam, ao notar que o jovem guarda ao seu lado estava com medo de falar alguma coisa.
"Quem ousa barrar a passagem?!" Uma voz feminina soou de dentro da carruagem e uma mulher de meia idade surgiu.
Ela claramente não conhecia a palavra moderação quando se tratava de sua maquiagem, muito menos das suas roupas extravagantes.
"Minha Senhora! Esse reles guarda ousa dizer que não podemos passar..." Disse o jovem magro que anunciou o Marquês.
"Você! Saia da frente e abra o portão, você tem ideia de quem nós somos?! Nós viemos tratar de assuntos importantes..." Disse a mulher em tom esnobe.
"O que houve meu amor?..." Uma voz masculina e mais velha surgiu quando um senhor de idade avançada colocou a cabeça para fora da carruagem.
Ele claramente era o Marquês, mas, como Adam e o outro guarda notaram, não era ele a real autoridade.
"Esse mero plebeu ousa impedir nossa passagem!" Rugiu ela indignada.