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Chapter 2 - O fim do silêncio

Com olhos desolados ela observava todos se afastarem calmamente, apesar do ambiente ser isento de cor a dois dias atrás Lilian percebia claramente a esperança das pessoas quando Lívia se aproximava, — durante muito tempo ela foi a luz daquele lugar, talvez tenha sido por isso que quando a escolheram o edifício entrou em uma eterna festa — mas agora ninguém se atreve a visitá-la.

A notícia de seu fracasso percorreu rapidamente, de um segundo para o outro a esperança morreu e aquela luz foi esquecida. Lilian conseguia ouvir os gritos de Thalia, mãe de Lívia, ecoando pelos corredores, ela implorava com todas as suas forças para que a filha continuasse viva, e ela continuou.

Esse ato de clemência era de certa forma uma demonstração de medo, todos amavam a garota, se a matassem o que poderia acontecer? Aos olhos de Lílian isso era claro, "os fortes temem uma vez que os fracos lutam juntos."

Enquanto a jovem pensava aonde teria lido essa frase aproveitava para se levantar de uma das mesas no refeitório, por não ser alguém importante se acostumou a se sentar lá sozinha, apenas observando as outras pessoas. Lilian estava decidida a visitar Lívia, "já se passaram dois dias" pensava insistentemente, com passos amedrontados se dirigiu ao outro lado da construção, onde a elite morava, onde Thalia deveria estar cuidando de sua filha.

Quando os fortes tomam o controle os fracos ficam obcecados em evoluir, mas nem mesmo o treinamento árduo te faria subir de classe pois foi construído assim, as pessoas não têm opção a não ser que deixem um demônio entrar em seu corpo e fortalece-lo. Lilian era a próxima, queria uma dica, queria saber o que Lívia viu, queria saber como alguém pode se ofuscar tão facilmente em tão pouco tempo, por isso quando chegou em sua porta não bateu ou ficou com receio, simplesmente a abriu e entrou.

"Não tem ninguém", ela não conseguia ver um ser ali, e quanto mais prestava atenção mais uma grande mancha no tapete chamava atenção, ela era vermelha e seca, o vermelho não era uma cor muito usada naquele lugar, é uma cor repudiada pelos poderosos e isso se reflete nos inquilinos.

— No sofá, olha lá...

Essa voz era calma e baixa, Lilian teve a impressão de que quase não conseguiu ouvir a frase inteira, mas certamente achou de onde ela vinha, Lívia estava agachada a olhando por uma fresta, parecia que ela engolia a sua consciência a cada segundo que passava, Lilian deu passos rápidos para se aproximar do objeto, não parecia ter nada de mais no sofá, estava totalmente limpo.

— Atrás...

Mais uma vez aquela sensação de perda, parecia que Lívia estava faminta, mas não por carne, por sentimentos talvez?...

Dando um suspiro Lilian ouve a porta ranger, ao se virar percebe que Lívia abriu um pouco mais a mesma, mas ainda assim a observava sem descanso, Lilian olha rapidamente para trás do sofá, ali consegue ver Thalia, seu rosto estava preso em uma expressão de terror constante, seus braços paralisados em formato de x faziam suas unhas perfurarem a pele de seus ombros, ela tinha espasmos a todo momento, grunia e parecia tentar se comunicar, quando seus olhos encontraram os de Lilian em questão de segundos sua boca parecia um poço sem fundo, Lilian se afastou jogando o seu corpo para trás, perdeu a noção do tempo, não sabia por quantos segundos ou minutos tinha olhado aquela coisa.

Quando se virou novamente Lívia já estava a passos de distância de seu rosto, a faca manchada de vermelho chamava bastante atenção, porém Lilian se prendeu a seu corpo tampado apenas por uma camisola branca transparente, que agora não era tão branca assim, respingos de sangue davam um toque a mais em seu visual.

— Você viu não viu?

Sem conseguir transmitir nenhum som, Lilian balança a cabeça em sentido positivo.

— Todos os escolhidos por eles conseguem ver, mas o que diferencia um sucesso de um fracasso? Me diz, o que você faz que eu não consiga?

Lilian não respondia ou se mexia, continuava em silêncio perdida em seus pensamentos. Isso significa que ela passaria, mas nunca tinha levado isso em consideração, se ela for a escolhida, o que os outros falariam? O que eles pensariam depois de ver o que Lívia se tornou?

Lívia levanta a faca e se prepara para apunhalar um dos olhos de Lilian, para ela pouco importava o destino da garota ou a consequência de sua morte, ela queria vingança, queria matar todos eles pelas mentiras contadas, por terem levado a sua mãe e colocado um monstro no lugar.

Em questão de segundos se ouve o som de um tiro e um grito, Lilian continua parada ao olhar o guarda se aproximar, continua parada ouvindo os gritos agressivos de Lívia, o guarda se aproximou e deu mais dois tiros na garota que se contorcia de raiva no chão, um em sua coxa e outro em seu pulmão, Lívia não parava de gritar até simplesmente se engasgar com o próprio sangue e começar a convulsionar.

O guarda se aproxima de Lilian que se dirige rapidamente às costas do sofá, Thalia agora estava com uma cara diferente, seu tronco estava cortado pelas várias facadas que teria levado, um braço foi quase arrancado, somente o seu rosto estava perfeito, sem nenhum arranhão.

Mateus também olhou aquela cena mas não modificou sua feição, era como se já tivesse visto algo assim antes, sem se preocupar ele segura firmemente o braço da garota e a puxa para fora, Lilian estava tendo uma crise de pânico ou pelo menos achou que estava, ela não conseguia se mexer e sua respiração estava profunda.

O guarda em si decide contatar a central e falar o que aconteceu, quando se tem a resposta segura novamente no braço da garota e começa a puxá-la para longe, em todo o caminho até o laboratório ele a olha preocupado.