- Eu tenho um amigo imaginário, ele dorme comigo. – diz Luigi, enquanto brincava de massinha na sala.
- Como ele é? – indago incrédula.
- Alto, magro e tem cabelo curto. É adolescente e o nome dele é Luís. – conta tranquilamente.
- Como está vestido?
- Normal. Seus sapatos brilham.
- E o que veio fazer aqui? – questiono, pois queria mais detalhes.
- Ele não tem casa, então veio morar aqui.
- Luigi, ele não pode ficar! – aconselho, mesmo na incerteza.
- Por que não? Ele é meu amigo! – insiste irritado.
Fico pensativa, mas decido não tocar mais no assunto. Se existir algo, com o tempo, perceberei.
Durante noites durmo no quarto do Luigi, ao lado de sua cama, num colchão. Espero poder encontrá-lo.
Certa noite, acordo e vejo a entidade deitada na cama, sobre o Luigi...
Fica de pé, e, enquanto anda por cima de mim, trocamos olhares; percebe que eu o vi. Não tinha aparência maligna. Estava curiosa... qual seria sua intenção? Por que dorme em cima do Luigi? Vou descobrir, é só esperar. Cruzo os braços e durmo novamente. Pouco depois, abro os olhos e o vejo ajoelhado, ao meu lado, observando-me, com a sua cabeça bem próxima da minha...
Trocamos olhares mais uma vez, e, novamente percebe que o vi. Penso em tocá-lo... melhor não. Continuo analisando-o, durmo. Acordo com Luigi chutando-me. Vejo a entidade de pé, na cama dele, com a sua perna dentro da perna de Luigi...
"Ele está usando o corpo adormecido de Luigi para me chutar! Como conseguiu? Isso é demais!" – penso colérica.
Sua feição era de raiva. Queria o Luigi para si. Pretendia me irritar, com os chutes, para que eu fosse embora. Levanto rápido, ajoelho-me no meu colchão e coloco as mãos na cama de Luigi:
- O que você quer? – pergunto com a mente.
- Quero companhia! – responde.
Sinto um arrepio forte nos braços.
- Você não vai ficar aqui! Vai embora, em nome de Jesus! Agora! – repreendo.
Tenho uma visão: um menino com dentes pontiagudos e olhos pretos. Luís é um exu. Oro o "Salmo 91". Ele se vai.
No dia seguinte...
- Luigi! Esse amigo não existe! Você está inventando! – blefo.
- Tô inventado! Ele não existe! Existe só dentro da minha cabeça!
- Se ele aparecer de novo, na sua cabeça, você o manda embora! Ele não é amigo, como diz, então ore assim: vá embora, agora, em nome de Jesus! Jesus envia anjos para me proteger! Entendeu?
- Entendi. Ele foi embora.
- Para onde?
- Para os Estados Unidos. Falou que queria conhecer a Disney.
O tempo passa... Certa noite, estávamos deitados na minha cama:
- Mãe, chamei meu amigo imaginário de novo!
- Luigi, ele tinha ido embora, por que o chamou? – perguntei desolada.
- Porque é meu amigo! – disse convicto.
- Ele não é seu amigo! – exclamo firme.
- Como sabe?
- Eu sei, confie em mim! Você acha que iria mentir? Quando crescer, explico. – falo, querendo encerrar o assunto, pois acho que não iria entender.
- Começou, agora termine! Como sabe? – insiste firme.
- Ele parece seu amigo, mas não é! Está enganando você! Usa um disfarce de bom, mas ele é mau e tem que ir embora!
- Por que não o manda embora?
- Eu mandei, mas se você o chama, não adianta! – explico.
Luigi olha-me pensativo; oramos e adormece.
Na noite seguinte...
- Mandei meu amigo imaginário embora. – confessa.
- Muito bem! E o que disse a ele?
- Que ele não poderia ficar.
- E o que ele respondeu?
- Tudo bem.
- Como você conversa com ele? Como você o vê?
- Dentro da minha cabeça.
Será que desistiu tão fácil? Olho para cima, tenho uma visão...
Ele se aproxima voando e paira sobre mim, bem perto. Seu olhar era desafiador e trazia um sorriso no canto da boca. Uma fúria nasce no meu peito.
- Vá embora desta casa, em nome de Jesus! – repreendo-o mirando nos seus olhos.
Ele desaparece. Oramos.
Na tarde, do dia seguinte, Luigi, assistia um filme sobre caçada de fantasmas:
- Eu acredito em fantasmas! – confessa.
- Eu também!
- Mas no filme são sólidos... eles não são sólidos! – fala intrigado.
- E como eles são, então?
- Meio transparentes, brancos clarinhos...
- Seu amigo imaginário era assim?
- Sim.
"Luigi também vê, agora tenho certeza! Eu o vi assim também! O canal de comunicação de Luigi está aberto, e ele não sabe! Pelo visto, muitas aventuras nos aguardam..." – reflito.