A casa está silenciosa...
A solidão aperta meu coração e me entristece. Sexta-feira fria, anoitece, então visto meu pijama e faço um chá de erva cidreira.
"Por que minha vida sentimental está tão destruída?" – indago-me.
"Ela foi como uma agência de correios, pessoas chegaram e foram despachadas. Fui bombardeada com decepções, e, por dentro sou, agora, como uma cidade em ruínas." – resumo.
Meus finais de semana tem sido assim, Luigi visita o pai, e eu fico só, escrevendo. Não consigo me interessar por alguém. Por outro lado, sinto que meu coração não aguentaria outra decepção, adoeceria.
Luigi chega na tarde de domingo. Conta-me o que fez e por onde passeou com o pai.
- Sabe, Luigi, sinto-me cada dia mais velha.
- Natural, mãe, você este envelhecendo mesmo.
- Obrigada. – respondo, chateada.
- Mas você é bonita, mãe.
- Obrigada pelo consolo.
- Eu queria pedir uma coisa, mas acho que vai dizer que não. – fala diminuído o tom de voz a cada palavra.
- O que é, Luigi?
- Eu queria um cachorrinho! Diga pelo menos que vai pensar! – implora, com as mãos juntas e os dedos entrelaçados.
- Vou pensar.
- Eba!
Não é uma má ideia. Teria uma companhia no final de semana. Entramos na internet para procurar:
- Essa mãe! Que bonitinha!
- Linda!
Conversamos, por videochamada, com a dona do canil, e, no dia combinado a trouxeram. O rapaz abre a portinha da casinha, pega-a com cuidado e olha pra mim:
- A bebê chegou. – fala, enquanto a entrega.
Pego-a com carinho, e a dou para Luigi. Ele sorri feliz e seus olhos se enchem de lágrimas.
Explica-me como cuidá-la e se vai.
- Mãe, eu quase chorei, mas me segurei. – contava-me, abraçando-a perto do rosto, e continua. - O nome dela será Pompom, porque ela parece um pompom.
Era marronzinha e fofinha. Chegando em casa...
- Mãe, ela tá com fome! Foi procurar no potinho de comida, e não tinha nada!
- Não tem ração! O rapaz esqueceu de trazer! – exclamo, colocando a mão na testa.
Lembro que deixou o nome. Corro para o petshop... não tem, vou a outro, acho com um nome parecido... e agora?
Enquanto isso Luigi envia inúmeros áudios...
- Mãe, corre, ela tá morrendo de fome! – avisava, choramingando.
- Mãe, achou?
Envio uma foto do pacote para o rapaz:
- Sim, é essa que ela come!
Compro a ração e corro para casa...
- Mãe, tá chegando? Ela olha para o potinho e chora!
Chego em casa e encontro Luigi cabisbaixo, sentado no chão, com a bebê no colo, do lado do potinho vazio. Ele me vê e sorri:
- Rápido, mãe!
Derramo a ração no potinho e ela come voraz, quase engasgando. Depois dorme.
Entre uma brincadeira e outra, começamos a chamá-la de Pomps, e depois Pamps, porque era menina.
- Gostei de Pamps, mãe! É mais bonito.
Parecia uma raposinha, e era geniosa como tal, mordia e rosnava.
Com o passar do tempo fizemos amizade, e, o seu olhar ficou cheio de amor.
- Mãe, a Pamps te ama mais do que eu! – diz Luigi, sorrindo.
- Como assim? Quer dizer que uma cachorra me ama mais do que meu filho? – pergunto, chateada.
- Vou explicar: eu te amo 100%, mas a Pamps te ama 110%!
Luigi ria de mim, acho que está com ciúmes.
- Eu te amo muito, meu filho!
Abraço-o forte, e dou-lhe um beijo. Ele me abraça e vai assistir desenho. Pego-a no colo:
- Vou cuidar de você para sempre, Pamps. – prometo.
Meus finais de semana nunca mais foram os mesmos! Ela corria, brincava e enchia a casa de alegria!
- Au, au! – latia, feliz.
Pamps se tornou a minha fiel companheira, sempre perto, e, por incrível que pareça, pedia colo!
Passado um tempo, algo começou a me incomodar: enquanto trabalhava e Luigi estudava, ela ficava sozinha. Não é bom ficar só. Aquele seu olhar triste, ao nos ver saindo, comovia-me. Pensando bem, acho que Pamps vai ganhar um cachorrinho...