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Chapter 2 - pousada

O lugar onde Arthur estava era na verdade muito melhor do que aparentava. Logo quando entrou, ele foi recebido por um lugar vazio mas extremamente limpo e bem organizado, com algumas poucas mesas e cadeiras que, apesar de rústicas e simples, estavam bem dispostas no lugar apertado. Do lado direito havia uma lareira apagada e bem a sua frente em um balcão feito de madeira onde uma mulher de aparência triste estava parada olhando para o nada.

Quando ela percebeu que havia um novo cliente, deu um pulo como se tivesse acabado de acordar olhando de cima a baixo a pessoa que tinha acabado de entrar. Quando viu o jovem ali e suas vestes estranhas, a mulher franziu a testa. Ele tinha traços marcantes e bonitos, cabelo um pouco grande que chegava quase até o ombro e também olhos penetrantes e orgulhosos.

- Olá, bem vindo. - ela falou com um sorriso simpático.

- Quero um quarto! - Arthur disse.

- Não temos quarto, apenas vendemos espadas! - disse para o jovem à sua frente. Depois riu de maneira descontraída.

Arthur permaneceu atordoado por um tempo sem entender o que tinha acabado de ouvir. Mas após alguns segundos ele finalmente compreendeu que a mulher estava apenas fazendo uma piada por ele ter feito um pedido idiota, afinal, seria óbvio que se ele estava em uma pousada ele iria querer um quarto.

- Certo, então quero uma espada por três dias! - Ele entrou na brincadeira da mulher e sorriu de volta, pois percebeu que ela não estava zombando dele, mas apenas brincando.

- Qual seu nome? - Ela perguntou.

- Arthur Gyuller! - respondeu. A mulher então anotou seu nome em um papel.

- Meu nome é Selena, sou a dona da pousada. - Ela disse enquanto ainda estava anotando. Então levantou a cabeça. - São nove bronzes. Pagamento adiantado.

Arthur retirou uma moeda de prata da bolsa e a entregou a ela. Selena imediatamente pareceu chocada.

- E-espere um momento enquanto vou buscar seu troco! - Disse atônita. Ela não poderia acreditar que alguém tirou uma moeda de prata assim de forma tão casual.

O sistema monetário funcionava da seguinte forma havendo três tipos de moedas: Bronze, prata e ouro. Cada ouro valia dez moedas de prata, e cada prata valia cem moedas de bronze. Sendo que um salário médio mensal de um trabalhador era de menos de uma prata, a moeda que Arthur entregou valia quase um mês inteiro de lucros para a pobre pousada que carecia de clientes, pois poucas pessoas vinham até ali.

Selena então entrou em uma porta lateral e sumiu por alguns instantes. Quando voltou, estava carregando uma bolsa de couro e dentro dela havia dezenas de moedas, o que lhe dava um enorme peso.

- Esse é todo o dinheiro que posso lhe devolver por agora, não está tudo aí mas posso lhe devolver o restante amanhã depois de trocar a moeda que me deu - Ela disse de maneira humilde quando colocou a sacola com o dinheiro no balcão.

Arthur apenas acenou com a cabeça antes de dizer.

- Tudo bem, não tem importância!

A mulher então acenou com a cabeça, pegou um molho de chaves e caminhou em torno do balcão.

- Venha! Vou lhe mostrar seu quarto.

Arthur a seguiu por uma porta lateral para um dos cinco quartos disponíveis. Quando chegou ele foi recebido por um lugar aconchegante e humilde com apenas uma cama pequena, um pequeno armário e uma mesa de madeira em um dos cantos. Imediatamente ele sentiu um certo sentimento de insatisfação, como se não fosse do seu gosto aquele aposento apertado. E ao mesmo tempo, uma sensação de segurança e conforto tomou conta de seu corpo, fazendo com que seu rosto se contraísse em uma expressão confusa.

Arthur ficou imediatamente desconfortável com as sensação que seu corpo estava sentido pois eram dois sentimentos totalmente opostos e estavam presentes ao mesmo tempo.

A mulher, quando viu a cara que o jovem à sua frente estava fazendo, ficou imediatamente nervosa com a situação. Pois quando ele retirou uma prata de sua sacola que parecia cheia de dinheiro e a entregou como se não fosse muita coisa, deu a impressão de que um jovem muito rico e poderoso estava a sua frente, e isso a deixou imediatamente apreensiva. Além do mais, por apenas um segundo ela teve a visão de uma bela espada presa à sua cintura, mas como estava por baixo do grande casaco que ele vestia, ela não aparecia.

Toda essa situação, transformou o jovem vestido de maneira estranha, em alguém com uma aura misteriosa e perigosa aos seus olhos, e a fez até mesmo se arrepender de ter feito uma brincadeira com ele no começo. Por sorte ele pareceu não se importar.

Mas Arthur nem mesmo percebeu que acidentalmente passou essa impressão na mulher.

- Não gostou do quarto? - Ela perguntou de maneira nervosa.

- Está ótimo! - Ele respondeu um pouco confuso por conta da mudança repentina na sua forma de agir.

- O banheiro fica no final do corredor - Disse Selena apontando para a última porta. - Precisa de mais alguma coisa? - Ela então perguntou.

Arthur acenou com a cabeça um momento depois.

- Não está tudo bem, obrigado! - Ele falou mostrando um sorriso no rosto.

- Se precisar de algo, estarei lá na frente - Selena disse enquanto se retirava, mas depois de alguns passos ela pareceu se lembrar de algo e parou. - Eu tinha esquecido, o jantar é servido às oito.

- Ok. Obrigado - Arthur disse. Depois entrou no quarto e fechou a porta.

Após um breve momento de reflexão, e após permanecer olhando para o nada por algum tempo, ele finalmente se sentou na cama e ali permaneceu por um longo tempo de olhos fechados.

Quando abriu, uma expressão de tranquilidade estava pairando em seu rosto.

Quando acordou pela segunda vez a algum tempo atrás, Arthur tinha entrado em um estado de espírito em que ele pode se manter calmo e racional, então pode finalmente controlar a si mesmo. Mas a verdade é que embora estivesse calmo, ele tinha entrado em uma espécie de 'modo automático' para evitar que sua mente entrasse em colapso outra vez. Agora que todo e qualquer barulho exterior não estavam mais presentes, e ele estava finalmente em um lugar fechado onde ninguém mais poderia tirar sua concentração, Arthur pode finalmente controlar seu estado de espírito.

"Finalmente! Eu finalmente estou com a mente tranquila!" Arthur pensou. "Agora vejamos, qual será meu próximo passo?"

Depois de ponderar por um mais um tempo, um plano foi formulado em sua mente.

"Bom, eu já tenho uma ideia de qual é a minha própria origem, que no mínimo é muito rica, podendo ser até mesmo nobre talvez."

"Agora tenho algumas questões e perguntas que vêm à mente. Primeiro: Se eu venho de origem importante, por que estava desacordado em um beco, e sem nenhuma lembrança? Foi um acidente ou algo aconteceu comigo para eu estar naquela situação?"

"Segundo: Partindo do pressuposto de que foi um acidente, então logo vai haver alguém procurando por mim e é apenas uma questão de tempo até eu ter qualquer informação."

"Terceiro: Agora, partindo do pressuposto de que não foi um acidente, e alguém, por algum motivo está por trás disso, então seria certo eu ficar escondido e me manter assim por um tempo até que tenha alguma nova informação. Além do mais, essa possibilidade explicaria o por que eu instintivamente 'fugi' das áreas mais nobres e ricas."

"Quarto: Independente do que realmente aconteceu, eu preciso reunir informação sobre o lugar onde estou."

"Enfim… a primeira coisa que devo fazer seria descobrir em que cidade estou, quem sabe assim eu acabo tendo alguma lembrança."

Arthur então saiu do quarto e se dirigiu até o banheiro. Havia um espelho ali, e pela primeira vez ele viu seu próprio rosto.

"Eu sou… incrivelmente bonito!" ponderou com um sorriso no rosto.

Na realidade era muito estranho ver seu rosto e nem mesmo reconhecê-lo, pois assim como sua própria voz, era como se estivesse vendo pela primeira vez na vida.

"Nada! Esse meu rosto não me trás nem mesmo uma sensação de familiaridade. Nada!"

Suas características faciais eram bastante marcantes. Seus olhos negros tinham um brilho de orgulho e arrogância, seu nariz e queixo era finos e com e bem proporcionados e quando sorria, trazia consigo um ar gentil que contrastavam com seus olhos arrogantes. Complementando isso, seus cabelos pretos complementam a beleza em seu rosto e traziam um ar nobre.

"Eu realmente tenho o rosto de um nobre rico." Arthur pensou consigo enquanto analisava suas feições por mais alguns momentos.

Após isso, Arthur retirou toda a roupa e entrou em uma banheira de madeira que estava do outro lado do banheiro, podendo assim tomar um bom banho, permanecendo ali por quase duas horas.

Depois disso, voltou ao quarto e organizou tudo o que tinha em cima da cama. A bainha da espada brilhava com seus adornos e detalhes, e agora ele tinha um saco com mais de setenta moedas de bronze e nove moedas de prata. Era uma quantidade exorbitante de dinheiro e seria muito chamativo, o que naturalmente iria atrair bastante atenção de possíveis ladrões.

"Problema à vista!" Arthur pensou suspirando. "Vou ter que me livrar dessa bainha trocando ela por uma mais comum e também achar uma maneira de lidar com esse dinheiro. Se eu por acaso ficar andando por aí com esse peso extra vou ter problemas."

Quando olhou para fora já estava escuro. Já era noite. Arthur se lembrou de Selena falando que haveria jantar, então ele saiu e foi para o salão da frente e se sentou em uma das mesas para esperar. Depois de um tempo a mulher saiu de uma porta lateral e o cumprimentou com um sorriso.

- Oh, boa noite!

Arthur apenas sorriu de volta e acenou com a cabeça.

- O jantar será servido daqui a pouco! - Disse ela.

- Tudo bem! Vou esperar.

"Hum, o aroma está muito bom!" pensou ele quando sentiu o cheiro gostoso e de certa forma familiar quando Selena voltou para dentro da cozinha.

Um tempo de espera depois o cheiro ficou quase irresistível, e Arthur quase avançou para a cozinha se a mulher não aparecesse com um prato em uma mão e uma cesta de pães na outra.

Vendo o olhar ansioso do jovem, Selena sorriu enquanto colocava o prato em sua frente.

- Ensopado de carne e legumes. E pães para acompanhar - Ela falou. - Espero que goste!

- Deve estar delicioso! - Arthur falou de volta.

Quando tomou a primeira colherada, uma sensação indescritível passou por seu corpo.

"Isso é… isso… é maravilhoso!" Depois de provar, ele comeu mais e mais sem parar "É apenas um ensopado de carne com legumes, mas é… indescritivelmente bom! E com o pão fica ainda melhor!"

- Gostou? - Selena perguntou, vendo a velocidade em que sua sopa estava desaparecendo do prato, parecia que o jovem havia gostado.

- Se gostei? Eu amei! - Disse ele quando finalmente parou por um segundo. - Não me lembro de ter comido algo melhor!

Selena deu um belo sorriso depois de ouvir isso satisfeita pelo elogio.

"Há se ela soubesse…" Arthur suspirou se sentindo um pouco culpado. "Mas de qualquer maneira, isso é definitivamente maravilhoso."

Quando finalmente terminou, Selena que havia se sentado em uma cadeira a sua frente, pegou seu prato e lhe serviu mais. Claro, Arthur não reclamou e permaneceu ali até que pudesse saborear a sopa novamente. Depois disso, ambos conversaram sobre coisas aleatórias e Arthur permaneceu atento principalmente para as coisas relacionadas às famílias ricas, mas parecia que ela não sabia de nada importante.

Depois de uma boa conversa, ele se despediu agradecendo pela comida e foi para o quarto.

"Incrível!" Arthur sorria enquanto estava deitado na cama. "É surpreendente a quantidade de pequenas informações que eu consigo reunir apenas com uma conversa casual. Simplesmente incrível!"