Chereads / Caminho da força / Chapter 3 - Luta

Chapter 3 - Luta

Arthur teve uma ótima noite de sono!

"É a melhor noite de sono que eu já tive! Não me lembro de uma melhor!"

"Tá parei!" Ele pensou gargalhando enquanto olhava para si mesmo no espelho admirando-se logo pela manhã. "Nossa! Eu sou realmente lindo!" Enquanto ria novamente, ele deixou o banheiro e foi para o quarto.

Assim que se vestiu totalmente, Arthur foi em direção ao salão para o café da manhã que Selena havia prometido na noite anterior.

Um sentimento de conforto e satisfação tomou conta de seu corpo enquanto pensava sobre a prolongada conversa que teve na noite anterior. Apesar de ser tudo apenas para poder obter informações, o fato de ter passado algum tempo conversando com uma pessoa desconhecida sobre coisas aleatórias, fez com que suas emoções se tranquilizarem e o deixou de bom humor. Além do mais, Selena era alguém muito alegre e descontraída e tinha uma aura gentil à sua volta, o que deixava Arthur muito confortável quando conversavam.

Na noite anterior, ele soube um pouco da história dela. Foi casada por quase oito anos com um homem que fazia parte das tropas de guarda da cidade, mas acabou morrendo em serviço quando atacado por tropas inimigas. Por três anos, ela vinha cuidando sozinha da pousada pois além de viúva ela não teve filhos. Agora estava com trinta anos, mas parecia que o tempo a havia agraciado grandemente pois tinha uma aparência indiscutivelmente jovem, com até mesmo sendo confundida com uma jovem de vinte e poucos anos. E mesmo que não fosse extremamente linda, ainda tinha uma aparência bastante esbelta e bonita. Mas o que mais chamava a atenção, com toda a certeza do mundo, era seu sorriso caloroso e acolhedor. Até mesmo Arthur se sentiu tocado por seu sorriso.

Então nesta manhã, ele atenciosamente conversou por um bom tempo com Selena enquanto comia. Era algo que o deixou com um humor ainda melhor, pois a sensação de não ter nenhuma boa lembrança, de não lembrar de nada, era muito desconfortável. E além de uma boa conversa, ele também tinha informações mais claras sobre a cidade e sobre pontos importantes que ele deveria saber. E por conta disso, quase uma hora se passou como se fosse minutos.

Então depois disso, ele se levantou, se despediu e saiu para a rua tomando uma direção aleatória.

Selena o olhou sair com um semblante estranho em seu rosto. Depois de conversar por todo aquele tempo com seu hóspede, ela chegou a conclusão de que ele era realmente muito estranho. Sua presença era uma incógnita. Se vestia com roupas bastantes estranhas, mas não era isso o maior problema, pois era relativamente comum ver pessoas vestidas de formas um tanto exóticas. Mas tinha algo em seu comportamento que era um pouco 'incomum'. Ele parecia não querer falar muito sobre ele mesmo, o que também era compreensível, mas havia algo que a deixava desconfortável pois toda vez que tocava em um assunto relacionado a ele mesmo, uma espécie de 'vazio' pairava em seus olhos, como se… as coisas não existissem. E isso aconteceu todas as vezes.

Mas independente disso, ele tinha uma maneira educada e gentil tanto de falar quanto de agir. Essa maneira gentil a deixou com uma boa impressão dele, no geral parecia ser uma boa pessoa.

Sem saber nada do que Selena pensava, Arthur caminhava vagarosamente pelas ruas em direção ao centro da cidade. Era chamada de Vallieri, e estava localizada em uma região próxima a Grande Capital do Reino do Norte. Essa era toda a informação geográfica que ele havia adquirido de Selena sobre a sua localização. Mas por enquanto, tudo que ele precisava saber era sobre a própria Vallieri, pois era por ali que ele começaria a procurar.

Fazendo quase o mesmo caminho que no dia anterior, Arthur passou por algumas ruas escuras e totalmente vazias. Sua memória parecia ser incrivelmente boa quando se tratava de lembrar o caminho que deveria seguir. Talvez o fato de não se lembrar de qualquer outra coisa ajudava um pouco.

Quando passou por uma determinada rua, algo chamou sua atenção. Atrás de si, havia um grupo de pessoas o seguindo. Sem nem mesmo olhar para trás ele focou seus sentidos neles, e como mágica, podia 'sentir' o que estava acontecendo, ouvir seus passos e ter um leve vislumbre de quem eram. Uma sensação incrível realmente, poder sentir as coisas dessa forma.

"Cinco pessoas. Todos homens. Não tem boa intenção com certeza!" Arthur pensou "Merda, dá pra sentir daqui suas intenções"

Ele continuou caminhando normalmente como se não houvesse nada acontecendo, sem entrar em pânico. E depois de mais um tempo, as pessoas que o estavam seguindo pareceram acelerar o passo, e agora uma forte sensação de perigo tomou conta de Arthur. Mas ele não se assustou, apenas continuou, e em vez de pânico, uma calma irrealista pousou em seu coração como se nada fora do normal estivesse acontecendo.

Aquelas pessoas estavam se aproximando rapidamente agora, e estavam realmente perto. E então pararam. A pessoa a quem estavam seguindo tinha parado também e estava agora olhando para eles com um olhar calmo, como se estivesse olhando para árvores em um parque durante um passeio casual. Ele tinha um rosto bonito com traços de realeza, mas não era arrogante, era na verdade um rosto que passava tranquilidade, como um rei gentil que cuidava de seu povo com amor. Essa era a sensação que aquele jovem passava.

Mas seus olhos… ah seus olhos! Aquele olhar era sinistro. Eram vazios, como se não tivessem vida. Mas também eram frios, como a morte.

O homem gordo a frente do grupo hesitou por um instante sentindo um arrepio na espinha. Mas seguiu em frente mesmo assim, pois além de estar em maior número, aquele garoto magrelo não representava muito perigo. Pelo menos era isso que ele achava.

Enquanto isso Arthur estava calmo. Estranhamente calmo. Ele não se sentia ameaçado por aquelas pessoas, apesar de ele sentir que eram perigosos e que três entre os cinco tinham uma presença um tanto diferente, pareciam mais 'mortal' do que os outros dois. Em especial o gordo do meio, que tinha uma cicatriz enorme no meio da cara, ele com certeza representava o maior perigo ali, emitindo uma certa pressão que dava a sensação deixando o ar mais pesado do que o normal. Mas isso não deixava Arthur desconfortável. Ele estava apenas calmo, olhando para as pessoas à sua frente com um único pensamento em mente:

"Esse gordo tem que morrer!" Uma intensa vontade de matar estava em seu coração. "Não sei o por que, mas esse gordo tem que morrer"

A única coisa que realmente o assustou foi o seu próprio desejo de matar aquele homem. Sem saber o porquê, ele começou a sentir raiva daquela pessoa, pois ao redor dele pairava um sentimento criminoso e assassino que era mais forte do que os demais. Ele não entendia o que estava acontecendo, nem o estado em que estava, mas também não se importava, pois tudo o que ele via era o homem gordo e seu olhar cruel. E agora Arthur queria matá-lo.

- O que querem? - Ele perguntou aos cinco.

- Sua espada! - Respondeu o gordo. - E tudo de valor que você tiver.

Arthur puxou seu casaco e deixou a espada à mostra, olhando seriamente para a espada por alguns segundos, depois olhou novamente para o homem fingindo inocência.

- Acho que não vai dar, eu gosto dessa espada! - Ele respondeu com uma calma que não correspondia a situação.

- Não acho que você tenha muita escolha, garoto! - Falou o gordo com um olhar sinistro. - A menos que queira morrer.

- Você é idiota por acaso? Quem iria querer morrer de bom grado? - Ele respondeu rindo.

- Seu maldito! Está caçoando de mim por acaso? - O homem berrou com o rosto já vermelho.

O homem gordo então avançou para frente correndo. E de uma forma incrivelmente rápida para o seu tamanho e peso, ele cobriu quase toda a distância que existia entre os dois.

Arthur não recuou, em vez disso ele avançou em direção ao seu atacante, mas com uma velocidade ainda maior, chegando a sua frente em um pequeno instante, e surpreendendo-o fazendo seu olhar vacilar. O gordo estendeu o braço direito para a frente desferindo um soco em direção a sua cabeça, coisa que o jovem desviou abaixando-se e se impulsionando ainda mais rápido desferindo um golpe que acertou em cheio em sua barriga. O soco fez seu oponente se curvar, e ao mesmo tempo, agora com o braço esquerdo, ele deu outro soco, esse em seu rosto, derrubando-o no chão. O homem então rolou para o lado e se ajoelhou.

Mais do que impressionado, Arthur estava também assustado com a sua própria força e velocidade. Tudo aquilo ocorreu em um espaço de poucos segundos, e ele nem teve tempo para pensar, seu corpo agiu e reagiu puramente por instinto.

O gordo então se levantou apoiado em suas mão, com sangue escorrendo de sua boca por conta da bofetada que levou. Ele tinha agora um olhar maníaco no rosto, e seu semblante retorcido pela cicatriz estava ainda mais feio. Retirando uma adaga de algum lugar que Arthur nem mesmo viu, cuspiu no chão e a apontou para o jovem à sua frente.

- E por isso que estava sendo tão arrogante não é? Tem um pouco de habilidade e já se acha incrível! Mas você não está esquecendo de nada?

Nestes poucos instantes, o grupo todo já tinha avançado cercado-o. Um em cada lado, dois à suas costas e o gordo à sua frente.

Arthur ainda estava calmo, ele de alguma forma 'via' tudo o que estava acontecendo, mesmo sem olhar. Armado com um punhal, o cara que estava na direita avançou. Arthur reagiu rapidamente se abaixando e desviando do golpe feito pela mão direita do oponente, ao mesmo tempo em que desferiu um contragolpe com o punho esquerdo em suas costelas. Um som de ossos quebrando foi ouvido seguido pelo grito de agonia e dor do indivíduo. Mas Arthur nem parou para olhar, dando um chute para trás e acertando no peito mais um atacante, fazendo-o voar dois metros longe, batendo a cabeça no chão. Mais um que estaria definitivamente fora de combate. Os outros dois já estavam quase em cima jovem neste momento. Tudo o que lhe restou foi recuar alguns passos desviados de golpes mortais que vinham de dois lados diferentes.

Quando recuou o quinto passo, uma brecha surgiu quando um dos atacantes perdeu o equilíbrio e abaixou muito seus braços levando um chute diretamente na cara. Além de alguns dentes, ele também perdeu a consciência na mesma hora. O outro estava pronto para um golpe de faca na horizontal, na altura do peito de Arthur, que bloqueou com um braço e ao mesmo tempo desferiu um soco com outro no em seu rosto, atingindo o nariz e parte da boca.

Tudo aconteceu em questão de segundos. Foi tão rápido que o homem gordo nem teve tempo de se recuperar, já que o golpe que havia recebido tinha sido mais forte do que pensara. Ele ainda estava cambaleando tentando se firmar quando Arthur derrubou o último de seus homens.

- Você é realmente forte! - Ele disse olhando torto - Quem é você realmente? Sua força não condiz com sua idade! Ninguém seria tão forte sendo tão novo, mesmo que treinasse apenas o fortalecimento desde que despertasse ele não atingiria o seu nível de força. Então, quem diabos é você?

- Nem mesmo eu sei quem sou! - Arthur falou enquanto caminhava em direção ao homem. - Mas eu sei que é você!

Ele então sacou a espada lentamente, causando um arrepio ao outro.

- Você é um homem morto!

Com um único impulso Arthur chegou à frente do homem, que com um olhar incrédulo, ficou estático, sem mover um músculo enquanto era apunhalado no peito. Ele não esboçou qualquer sinal de reação, ficou parado olhando para os olhos do jovem à sua frente como se estivesse preso. Esse não era o final que ele estava esperando. Nem em seus piores pesadelos poderia imaginar que morreria assim dessa forma, pelas mão de um garoto. Se ele tivesse dado atenção para seus instintos e prestado atenção àquele sinal de perigo mais cedo, então quem sabe seu final seria outro.

Arthur retirou a espada ensanguentada e o corpo já sem vida caiu no chão. Ele tinha acabado de tirar uma vida, mas seu coração estava tão tranquilo quanto antes, sem o menor sinal de culpa ou pena.

Se tinha algo que o deixava impressionado naquele momento, era ele próprio.