AAAAA! CAIU ALGUMA COISA! - um ser pequeno gritou depois de ver algo saindo da parede e indo na direção dele - SOCORRO! - cobriu os olhos e esperou, não era grande o bastante para matá-lo mas feri-lo quem sabe…, esperou, esperou e nada, após tirar as mãos do rosto viu que alguém já havia pegado o objeto - … sabia...
-Mais um botão… eu estava precisando mesmo. - o ser que pegou o objeto, o colocou na testa como agradecimento.
-Diê, por que você ainda agradece? - o pequeno que ia ser atingido falou.
-Não sei, deve ser o costume. - pegou uma agulha e uma linha, e sentou-se no canto daquela pequena sala.
O outro apenas olhou, ele não fazia nada que não fosse perturbar os outros, típico de um leprechaun.
Os dois seres mágicos naquela sala eram o completo oposto um do outro. Diê, o duende, é bem tranquilo e educado, além de muito medroso, esse fato contrastava até com sua própria raça em que a maioria é alegre e enérgica. O leprechaun, Tailo é bastante esperto e persistente apenas em algumas ocasiões. Todos que os conhecem não entendem bem a relação entre ambos, como se fosse mágica o leprechaun apareceu ao lado do duende e vive com ele há vários anos.
-Diê! Quando a gente vai sair? Eu estou cansado de ficar aqui dentro! - Tailo disse rolando no chão de um lado para o outro.
-Depois de amanhã. Ainda têm muita comida, não precisamos sair agora. - disse tranquilamente e ao mesmo tempo concentrado na roupa que costurava.
-Por quê não hoje? Aquele seu amigo amarelinho fica muito feliz quando vocês se encontram… - Diê parou um pouco, o leprechaun sabia mesmo como chamar a atenção de alguém - Por que não ir hoje?
-Não há necessidade, eu não terminei o livro ainda. - voltou a costurar de novo.
-Então vá ler! Termine logo! Eu costuro para você! - Tailo empurrou o outro do local, mesmo sendo pequeno a força era a mesma de alguém com a estatura normal. A agulha era um pouco maior que sua mão, mas isso não o impediu.
Diê observou um pouco. Se perguntava sobre o motivo do leprechaun não aumentar seu corpo e sempre ficar daquele tamanho minúsculo ao seu lado. Bem, ele não iria ficar ali apenas vendo o outro costurar e foi ler o livro.
"As causas do meu sofrimento" era uma obra famosa no lar dos elfos e os duendes não tinham a permissão de pegá-la, igual muitas outras coisas, por exemplo, a grama, as plantas, as frutas, a comida, a água, o ar… Os elfos não suportavam ficar ao lado dos duendes nem a uma distância de 5 metros, mas por algum motivo, Diê tinha um elfo como amigo.
Vashjmaebregres, era um elfo do verão considerado popular entre as quatro estações. Possuía cabelos amarelos como girassóis e olhos laranjas grandes que o davam um ar inocente e jovial. Diê o encontrou por acaso perto da fronteira quando voltava de uma visita que tinha feito a um velho conhecido.
Ele aparentava ser um bom ser, já que por algum motivo não o machucou e lhe ofereceu amizade, e parecia ter um grande interesse nele. Melhor dizendo, em algo que ele tem, Diê possui três sinais no rosto que se ligados formam um V, para os elfos é uma benção ter qualquer coisa que lembre um V em seu corpo, por essa razão todos os soldados elfos tatuam o símbolo na parte de trás do pescoço. E Vashjmaebregres como um, tratou Diê como uma divindade assim que o viu.
Diê lia aquele livro sem muita curiosidade, por ser uma obra bem famosa, pensou que fosse algo extraordinário, porém parecia mais uma cópia de "Memórias de uma noite triste", um livro dos duendes que não era tão famoso. O duende insinuava pensar em cópia já que "Memórias de uma noite triste" teria vindo 300 anos antes.
Cansado de ler aquilo, Diê foi até Tailo sem muita vontade de chamá-lo para sair e se dar por vencido, realmente não queria sair mas qual seria a graça ficar em casa olhando o teto.
-Tailo! Vamos! - Diê já abriu a porta olhando para o céu, não havia nenhuma nuvem, não havia nenhum motivo para ficar em casa.
-ESPERA! MINHA CARTOLA! - Tailo gritou lá dentro, correndo para pegar a peça. Outra coisa que Diê nunca entendeu, por que usar uma cartola toda vez que sai?
Quando os outros duendes o viam sempre pensavam que era um boneco, Tailo quase foi raptado por uma jovem duende que pensou que ele fosse uma bonequinha que veio do mundo humano. Diê odiava que ele não movia um músculo para mostrar que era um ser vivo e sempre fazia isso de propósito apenas para testar a própria sorte. O duende ouviu várias histórias de leprechauns mas nunca pensou que fossem realmente reais, depois que Tailo contou as várias vezes que não morreu apenas por sorte, nunca mais duvidou de algo vindo desses seres.
-Pronto! - Tailo apareceu na porta, com suas roupas completas. O conjunto verde, com um pano macio e ondulado de cor branca por dentro, botas verdes escuras e a cartola com o trevo da sorte pendurado na fita de ouro. Tailo diferente das histórias contadas, não ostentava a sua riqueza e Diê acreditava fielmente que ele na verdade não tinha nenhuma, a não ser aquela fita. Não ajudava em nada e nunca mostrou interesse em ajudar, vivia que nem um parasita e muitas vezes causava problemas.
Eles saíram, Tailo como sempre no ombro de Diê e só saía dali se ele ou alguém o tirasse. Andaram sem rumo floresta adentro.
-Você disse que não vinha até terminar o livro? Conseguiu terminar naquele tempinho? - Tailo perguntou desconfiado.
-Eu não vou ler essa história novamente. - mostrou o livro o abrindo - É apenas uma cópia de outro livro que li, nem os personagens tiveram a decência de mudar. - falou indignado.
-E depois vêm dizer que os duendes é que roubam, é muita cara de pau mesmo. - Tailo deixou escapar - Claro, que temos exceções! - acrescentou.
-Eu só desejo que essa rixa idiota termine um dia, Vashjmaebregres me disse que o castelo do General do Inverno é a construção mais extraordinária que ele viu. Eu queria muito ver também…
-Pede pro amarelinho uma ajuda, para você entrar sem ser visto. - Tailo deu uma sugestão, mesmo sabendo que o outro não aceitaria por ser arriscado demais e não confiar em sua sorte.
-Claro que não! Se me pegarem nunca mais verei minha casa! - ele cruzou os braços e olhou ao redor, parecia que havia mais alguém por perto.
-"É o amarelinho." - Tailo sussurrou para Diê, ele havia percebido há um tempo atrás enquanto Diê falava que o livro era uma cópia e ele sem querer disse:' É muita cara de pau mesmo '.
As árvores que estavam próximas, em linha, se mexeram diferente das outras como se algo passasse por elas. Ele percebeu que era Vashjmaebregres porque um pedaço do pano que ele usa como cachecol apareceu entre os galhos, quando o vento soprou de leve. Por sorte Tailo olhou no momento certo e percebeu.
-"Como você sabe?" - Diê sussurou de volta.
-AMARELINHOOO! APARECE! EU VI VOCÊ! - Tailo gritou tão alto que Diê teve que tapar os ouvidos e por extinto fechou os olhos, quando os abriu Vashjmaebregres estava à sua frente.
-Você já me esperava? - Diê perguntou meio zonzo e massageando o ouvido.
-Todo dia eu venho. - falou sério. Diê e Tailo fingiram que não haviam ouvido nada, que resposta estranha.