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Chapter 4 - Capítulo II (Treinadas para Mostrar o que a Sociedade que Ver)

Quase duas semana se passaram em uma velocidade surpreendente. No dia seguinte completaria 18 anos e alguma semanas depois iria me casar com o amabilíssimo Sua Alteza Real Príncipe Herdeiro Edward, um sonho de qualquer jovem, mas não o meu.

A incrível novidade de que o casamento tinha sido adiantado, só serviu para me deixar mais ansiosa e devo dizer que não de entusiasmo.

Ser praticamente obrigada a aceitar o pedido me tornou meio que infeliz no grande dia que idealizei diversas vezes.

Sei que nenhum pai dessa sociedade deixaria a filha negar um pedido daquela magnitude, em especial de um pretendente tão cobiçado e que só as jovens da mais alta nobreza teria a chance de conseguir um compromisso, acho que muitos desses pais nem mesmo se importariam com o caráter do mesmo, nem com a felicidade da sua filha, afinal para eles é uma grande honra que o Príncipe pelo menos cogitasse a possibilidade de se casar com alguém, mas os meus eram diferentes, eles não se importavam tanto com isso, só aceitariam algo que acreditassem que fosse seguro e que me traria realmente felicidade. Eles acreditavam que Edward era um bom rapaz, que era respeitador e que me amava.

Lembro-me como se fosse hoje, no dia que recebemos o decreto do rei sobre meu noivado, mesmo que eles achassem que o Príncipe era um bom pretendente já que o mesmo era aos seus olhos responsável, justo e que sempre demonstrava interesse por mim e na frente deles me tratava de maneira amável e respeitosa, meu pai pediu minha opinião, ele garantiu que se esse não fosse o meu desejo ele daria um jeito, minha mãe me olhava com apreensão, eu sabia o que ela estava pensando, "esse é o melhor para o seu futuro Kethy", mas eu também tinha certeza que ela respeitaria minha decisão. Então porque eu estou noiva dele? Simples, ao contrário dos meus pais que acreditavam que Edward respeitaria se eles conversassem com ele, eu sabia que Edward não iria admitir uma recusa, caso contrário por que ele mandaria um decreto? Aquele não era um pedido, era uma ordem.

Assim, sorrindo disse a eles que o Príncipe Edward era de fato um bom futuro marido, minha mãe ainda me olhava preocupada e meu pai desconfiado, então recorri a emoção e disse que eu tinha até mesmo certa afeição por ele e Meus Pais acreditaram...

Perdida em meus pensamentos levo um grande susto quando ouço alguém me chamar quase gritando.

_ Que susto Augusto, quer me matar do coração _ Disse ao me virar e ver que o nosso mordomo estava na porta da biblioteca.

_ Peço perdão Milady, é que a chamei diversas vezes, mas não obtive resposta _ Se justificou calmamente.

_ Compreendo, eu meio que estava perdida em meus pensamentos _ Respondi mais calma _O que deseja? _ Perguntei com um leve sorriso.

_ Ah Claro, Sua mãe está chamando a senhorita Milady para cumprimentar as Senhoras que veio visitá-la antes do baile de amanhã.

_ Entendo, já estou descendo Augusto _ Concordei _ Vocês já preparam tudo? O chá? Os biscoitos? _ Perguntei para confirmar.

_ Está tudo nos conformes, não precisa se preocupar com nada Milady _ respondeu tranquilamente.

Assim fui em direção a sala de visitas para encontrar minha mãe. Chegando perto pude ouvir um conjunto de vozes femininas que pareciam animadas. Percebi naquele momento que a tarde seria bem longa.

Respirando fundo caminhei até a porta de entrada cumprimentando todas de maneira educada já tentando seguir os padrões reais e em resposta todas se levantaram e fizeram uma pequena reverência desejando um futuro próspero para o reino. Em seus olhares pude ver aprovação, admiração, entusiasmo e até mesmo um pouco de inveja.

Sorrindo como manda a etiqueta, caminho até meu lugar desejando que as horas passassem tão rápido quanto os últimos dias. Não demorou muito, logo retornaram para eufórica conversa, fiquei apenas observando e dando pequenas contribuições superficiais, afinal não era educado ficar calada o tempo inteiro. E elas falaram, falaram e falaram, sobre como o baile estava sendo organizado especialmente por Sua Majestade Real Rainha Helena e como tudo estava na mais perfeita ordem, como os vestidos deveriam ser deslumbrantes e sobre o que fariam para parecerem ainda mais belas perante as figuras importantes que estariam presentes para que seus maridos ficassem orgulhosos ou para que pudessem arranjar um bom pretendente.

_ Imagino que esteja ansiosa para amanhã, não minha Jovem? _ Ouço alguém perguntar _ Não é todo dia que se tem um baile em sua homenagem preparado especialmente por Sua Majestade a Rainha, sem falar que se tornara oficialmente noiva de Sua Alteza Real Príncipe Edward, tens muita sorte _ Observo a pomposa figura que sorria como mandava a etiqueta buscando algo além da superfície mascarada por uma quantidade exorbitante de maquiagem, falsa confiança e olhar meigo. Treinadas para não mostrar o que sentam, mais o que a sociedade quer ver. Sorrio de volta e respondo:

_ Devo dizer que ansiosa não é uma palavra que descreve muito bem o que sinto, talvez... _ Dei uma breve pausa procurando um termo mais adequado sem que me achassem louca por revelar minha verdadeira opinião, até que completo _ Nervosa acredito ser uma expressão mais próxima, as festividades de amanhã também incluem o rito da minha maioridade, acho que isso torna tudo um pouco mais intenso _ Ela confirma elegantemente com a cabeça.

_ Ohh é verdade, a Senhorita ainda não passou pelo rito. As vezes me esqueço desse detalhe _ Comentou ela claramente meio sem graça. Ela assim como todas me achava a nobre injustiçada que cedeu seu dia mais importante para ajudar em uma causa nobre. Todas as jovens passam pelo rito de maioridade com 16 anos, quando estreiam na sociedade e começam a frequentar os bailes em busca do futuro marido, mas graças a uma série de questões que mais tarde descobri ser causado por um certo noivo não tive esse momento, depois de tudo preparado ele simplesmente deu um jeito para que eu não aparecesse, isso causou certo desconforto nós círculos sociais, afinal, quando chamaram meu nome eu simplesmente não apareci. Naquele momento apesar da dor de cabeça que causou eu não me importei tanto, mal sabia eu de seu planos.

_ Milady, sua filha é uma jovem dama encantadora, agora que pude ter a ilustre oportunidade de ter um contato direto com ela, devo dizer que compreendo o que sua alteza viu de especial nela _ Comentou a Senhora tentando mudar de assunto.

"Sim, infelizmente não só chamei a atenção de Edward, como acabei me tornando presa a ele, que sorte a minha." Penso quase revirando os olhos, mas me contive. Uma dama deve se manter sempre impecável, assim dei um pequeno sorriso como uma jovem educada deve fazer.

_ Agradeço profundamente seu Elogios, Vossa Graça Eleonor, tais considerações sobre minha filha me enche de alegria _ Agradeceu minha mãe educadamente.

_ Casar com o príncipe deve ser um verdadeiro sonho, não é mesmo Senhorita Kathy? _ perguntou toda sonhadora Alice a jovem filha da pomposa figura Eleonor. Ela parecia encarar meu casamento como um conto de fadas, mau sabia ela da realidade. Mas até que entendia a mesma, como todos de Collins do Norte a pobrezinha acredita que Edward era um perfeito cavalheiro, honrado e amável. Olhei para Jovem que me encarava toda esperançosa esperando por uma resposta, sorrio e respondo:

_ Acredito que se a senhorita acha que é um sonho, deve ser assim considerado _ Agradeço aos céus ao observar que Alice havia dado a resposta como suficiente ao sorrir alegremente concluído que esperava encontrar um marido tão bom quanto o meu. Pobre iludida. Desejo que ela realmente encontre alguém para amar, não um Edward.

A conversa sobre vestidos e bailes retornou e se manteve por uns momentos, mas logo tratei de arrumar uma brecha para escapar daqueles sufocantes assuntos.

Não vou negar, até que gosto de vestidos, de me arrumar, de bailes e de várias outras coisas superficiais que tais mulheres gostam, mas a vida delas pareciam circular somente em torno dessas trivialidades, não sabiam como usufruir de uma boa conversa, com temas relevantes e interessantes percebi que até mesmo minha mãe já se encontrava cansada, uma pena que ela era a anfitriã e teria que acompanhar elas até o fim da visita.

Após me despedir adequadamente das convidadas me retirei da sala e caminhei em direção aos fundos de minha casa onde se encontra o que posso chamar de jardim, com grandes árvores, flores e uma vista mais distante do mar.

Enfim podendo respirar tirei minhas botas e sentei no chão contemplando a maravilhosa paisagem. Depois de um período de contemplação resolvi treinar com minha espada, proferindo contra o ar os golpes recém aprendidos, imaginei as senhoras me vendo treinar e a ideia me fez rir, elas ficariam escandalizadas. Quando dei por mim, o sol já começava a se pôr, então treinei até que a claridade permitiu.