Fugir? De quem? De que? Porque? Muitas perguntas rondavam minha mente e eu só conseguia encarar eles chocada. Fugir com certeza justificava toda aquela loucura, mas uma parte de mim ainda rezava para que eu de alguma forma tivesse entendido errado. Aquilo não podia ser real.
_ Temos que fugir Kathy _ Repetiu ele com pesar _ Carlos aceitou nos tirar daqui escondidos, tive sorte de ainda encontrá-lo hoje, graças a Deus ele atrasou a partida do barco, caso contrário nem sei o que poderia acontecer _ Continuou ele.
_ Como assim? Eu ainda não estou entendendo _ Perguntei nervosa _ Mas o príncipe... _ Não consegui nem terminar. Como será que Edward reagiria ao saber disso? Se eu quebrasse o acordo seria como assinar o decreto de morte para meus pais e a minha sentença de tortura eterna.
_ Kathy, sabemos o quanto você gosta dele... _ Meu pai começou, mas parecia receoso em continuar _ Mas Você não poderá mais ficar com o príncipe _ Seria uma boa notícias se não fosse as consequências _ Sei que vai sofrer, mas precisa superar seus sentimentos por ele _ Continuou ele meio cabisbaixo _ Depois que tudo for descoberto esse relacionamento será impossível. Depois que todos souberem a verdade, mesmo se Edward se tornasse o rei e exigisse o casamento, ainda seria impossível, agora vocês são de mundos diferentes _ Meus pais achavam que eu sofreria por ter que me afastar do príncipe por que eu o amava, não poderiam estar mais enganados. Eu estava com medo de sofrer sim, mas com medo de sofrer pelo que ele faria quando percebesse que fugi. Ainda não entendia o que estava acontecendo, mas sabia que o príncipe não era alguém que aceitava o que tentavam impor a ele. Mesmo se esses casamento se tornasse impossível aos olhos outros outros, mesmo se todos fossem contra, ele ainda daria um jeito, mesmo que isso significasse matar todos os que se oporem. Se ele não fosse o responsável por isso, ele com certeza iria nos caçar e me arrastar de volta, ele jamais iria permitir que eu rompesse o acordo.
_ Mas por que? Porque temos que fugir? _ Perguntei temerosa.
_ É um assunto complicado Kathy, mas resumidamente seremos caçados por envolvimento com piratas _ Respondeu meu pai com uma voz estranha. Envolvimento com piratas? Então a culpa era minha? Meu coração começou se apertar naquele momento. Será que Edward que fez isso? Era minha punição? Ele quebrou o acordo? Só ele sabia do meu segredo, ele se certificou disso da pior maneira possível. As perguntas que surgiam em minha mente me deixaram tonta, o que me fez apoiar na cama próximo a mim _ O decreto para nossa prisão provavelmente chegaria depois de amanhã. Nos últimos meses estava achando estranho algumas situações, inclusive a uma semana fui afastado, me disseram que eu deveria tirar umas férias, mas quando voltei para pegar uns documentos que esqueci vi algo estranho na mesa do Coronel Carter, não acreditei no início e comecei a investigar _ Ele deu uma breve pausa enquanto apertava o punho direito _ Ele nos traiu, depois de tantos anos de confiança ele escolheu uma mera promoção a nossa amizade _ Ele parecia nervoso.
_ Pi… Piratas? O Coronel Carter? _ Nesse momento eu estava desesperada, então Carter que descobriu e me denunciou? Não foi Edward? Então a situação era mais séria ainda, não fomos traídos por alguém que e já esperava, mas por um amigo.
_ Sim Kathy, piratas e Carter que está tentando nos entregar _ Confirmou ele me deixando mais inquieta _ Me desculpe achei que poderíamos passar por mais essa sem muitas preocupações, mas não foi como planejei, quando descobri o que estava acontecendo fiz o que pude para evitar que chegasse a esse ponto _ E dando uma pausa continuou _ Nunca imaginei uma coisa dessa, nunca imaginei que um dia essa situação viria a público _ Eles pareciam ansiosos, me perguntava como eles se sentiam ao descobrir que sua estimada filha andava ajudando piratas _ Sente-se teremos uma longa conversa _ Incentivou meu pai que já se sentava em uma mesa de centro que tinha no quarto.
_ Pai eu sinto muito por causar essa confusão, eu… _ Comecei angustiada, mas não consegui continuar, não me arrependia do que fiz, aquelas pobres crianças seriam enforcadas caso eu fechasse os olhos, segurei minhas mãos a frente do meu corpo e abaixei a cabeça, se não fosse por mim não estaríamos aqui…
Quando eu era mais nova, meu pai às vezes me levava para o seu trabalho quando ia ao palácio, inclusive foi assim que conheci Edward, mas um dia em específico quando eu tinha por volta de nove a dez anos, ele precisou ir resolver uma questão burocrática em uma das prisões e acabou me levando, afinal, nunca teve qualquer problema por lá. Quando chegamos ele pediu para que eu esperasse sentada na sala do guardião daquela unidade. Era um lugar requintado diga-se por passagem, mas ele esqueceu que sua filha era aventureira por natureza e esperta o bastante para driblar os guardas. Acabei na parte do subsolo, lá encontrei os prisioneiros que eram muitas crianças apavoradas. Achei estranho, onde estavam os outros? Por que esse tanto de crianças?
_ Eu quero ir embora, me deixem ir por favor… _ Ouço alguém chorar enquanto soluçava e olhando na direção vejo uma criança de aproximadamente 6 anos agarrada às grades se lamentando.
_ Por quê está aqui pequenina? _ Não resisti e perguntei ao me aproximar.
_ Não sei, meu pai me disse para esperar, mas me pegaram e me levaram para um navio e agora aqui _ Explicou ela de maneira infantil. Percebi que ela tinha sido roubada. Não sei o motivo, não era muito comum piratas roubar meninas, mas a questão é, ela estava aqui por se envolver com piratas.
_ Não se preocupe pequena, meu pai vai te ajudar sair daqui _ Disse com firmeza, afinal, meu pai jamais deixaria uma inocente morrer e claramente ela era inocente.
_ Sério? _ Seus olhos brilhavam.
_ Seríssimo _ Confirmei
Nesse momento ouvi passos e para evitar problemas desnecessários me escondi atrás de uns caixotes que tinham por lá e foi aí que ouvi dos guardas que aquelas crianças que tinha praticamente minha idade ou menos, incluindo a menininha, seriam as próximas a serem enforcadas, por que os adultos tinham ido naquela manhã e só faltava alguns papéis para que eles tivessem permissão para mandá-las para o destino que mereciam. Naquele momento meu coração parou.
_ O que acham crianças? _ Perguntou cruelmente o guarda para as crianças. Mesmo jovem, meu sangue gelou, queria atacá-lo, queria bater nele, mas não podia, nem mesmo deveria estar ali, lembrando que sai escondida voltei apressadamente para a sala do guardião e aguardei meu pai agoniada. Quando ele chegou logo saímos e então perguntei o que acontecia com as crianças que eram encontradas com piratas, sem deixar transparecer minha aventura.
_ Infelizmente a maioria tem o mesmo destino que os piratas _ Falou tristemente _ Tento ajudar da melhor maneira possível, mas não é sempre que consigo arrumar uma forma de libertá-las _ Continuou com pesar. Então o guarda não mentiu, as crianças seriam realmente enforcadas…
Naquele dia comecei a ir mais com meu pai para as prisões, as vezes sem nem mesmo ele saber… Eu me tornei aquela que ajudava as crianças que não tinham culpa de estar no lugar errado.
_ Kathy isso não é culpa sua, do que você está falando? _ Nesse momento voltei ao presente e levantei a cabeça olhando para eles _ Não tem como ser culpada de algo que aconteceu antes de nascer Kathy _ Fiquei chocada. Antes de eu nascer?
_ O quê? _ Questionei, mas ele simplesmente bateu levemente a mão na cadeira próxima a ele e minha mãe, então caminhei até onde ele indicava e me sentei.
_ Primeiramente queria que soubesse que só escondemos isso de você para seu bem, saiba que não importa o que aconteceu, eu te amo e sempre serei seu pai, na verdade… _ Começou meu pai, mas foi interrompido por minha que terminou dizendo:
_ Queríamos esquecer tudo, na verdade eu queria esquecer tudo, tudo envolvido a eles, melhor dizendo a ele _ Seu olhar era vazio, como se as lembranças a ferisse, vi que suas mãos começaram a suar e seu nervosismo ficava cada vez mais aparente o que me deixava cada vez mais confusa.
_ Não se force querida, deixa que conto tudo _ Falou meu pai segurando carinhosamente a mão dela.
_ Não Willians, ela só precisa saber que é nossa filha, que sou a filha dos Grão-Duques de Richiwords e que acabamos nos envolvendo com piratas no passado por situações adversas. Não há nada mais que isso _ Era evidente que ela mentia, era evidente que queria esconder algo, suas lágrimas começaram a cair como cachoeira me fazendo ficar mais nervosa e confusa, minha mãe nunca agiria assim se não fosse algo sério.
_ Ela tem o direito de saber Elisabeth _ Argumentou meu pai enquanto eu só conseguia observar paralisada. O que estava acontecendo afinal? Eles se olhavam profundamente como se discutissem mentalmente algo de extrema importância. Uma guerra silenciosa.
_ É minha história Williams e não quero reviver ela, não quero que Kathy tenha qualquer envolvimento com isso _ Insistiu ela tremendo.
_ Não precisa se forçar mamãe, pode ficar tranquila _ Tentei acalmar os ânimos mesmo que estive tão nervosa quanto. Ela me olhou nos olhos como se agradecendo meu esforço e respirando fundo deu um pequeno sorriso.
_ Acha mesmo que pode esconder isso para sempre? _ Continuou meu pai determinado _ Já descobriram que está viva, mesmo que eu tenha pegado os papéis que provavam isso, só vai atrasar o processo para que mandem nos prender _ Dando uma pausa ele respirou fundo tentando se acalmar _ Não vai demorar para que provém sua identidade, vão nos denunciar e seremos caçados Elisabeth, Carton vai nos denunciar, não entende a situação? _ Quem não entendia nada era eu, como assim descobriram que minha mãe está viva? Mas vendo como eles estavam exaltados resolvi espera que resolvessem entre si _ Não pode mais esconder isso, não podemos mais _ Concluiu meu pai fazendo minha mãe o olhar sem expressão e assentir derrotada dando a palavra ao meu pai.
_ A História é longa Kathy e quero que me ouça sem interromper, está tudo bem? _ Começou ele.
_ Acho que consigo fazer isso _ Concordei com incerteza.
_ Tudo começou quando um pouco mais de 18 anos atrás fui enviado ao Caribe, minha missão era capturar um pirata em específico, O Capitão Jack Rackham _ Eu conhecia essa história, na verdade todos do reino conheciam, esse era o pirata mais conhecido dos sete mares, o mais esperto e escorregadio pirata digasse de passagem. Ninguém nunca conseguiu capturar o mesmo, sequer conseguiam chegar perto do seu navio, mas meu pai mesmo que não tenha o capturado afundou o seu navio e capturou a Capitã Anne Jonny outra grande pirata conhecida por ser impetuosa e companheira de Jack, que morreu em um naufrágio a caminho da justiça. Se fosse em outro momento provavelmente iria encher meu pai de perguntas sobre o capitão, afinal sempre tive muita curiosidade sobre o mesmo pelas histórias que ouvia, mas meu pai apesar de constantemente me contar suas aventuras sempre evitava essa em específico _ Na época estava seguro que conseguiria, nunca tinha falhado em uma missão, nunca havia deixado um pirata escapar e meu ego se recusava a sequer cogitar a falha _ Ele olhou para Minha mãe que o observava com atenção _ Mas não só falhei como acabei me apaixonando por uma pirata.
_ Perdão? _ O olhei chocada, por essa eu não esperava _ O Senhor se apaixonou por uma pirata? _ Perguntei não conseguindo me conter.
_ Pedi que não interrompesse Kathy _ Lembrou ele me fazendo assentir e voltar a ficar quieta _ Continuando, não só falhei, mas me apaixonei por uma pirata e não qualquer pirata, mas a conhecida "mulher" de Jack, a capitã Ana Jonny _ Minha cabeça estava mil, meu pai tinha se apaixonado pela falecida Capitã Ana Jonny a mais temida e habilidosa pirata dos sete mares? Aquela que mesmo anos após sua morte ainda era temida e respeitada? Mil perguntas rondavam minha mente, mas lembrando do desejo do meu pai tentei me conter _ Jack a deixou para trás como isca, era um verdadeiro salafrário _ Meu pai parecia aborrecido _ Se eu não há tivesse encontrado primeiro ela teria sido morta _ E no final ela foi morta, todos conheciam a história do ataque, meu pai a capturou, mas o navio da esquadra que ela estava acabou por afundar também _ Pode perguntar Kathy _ Autorizou meu pai percebendo minha inquietação.
_ O senhor tentou proteger a capitã? É disso que será acusado? Mas se ela está morta que diferença vai fazer? O Coronel Carter não vai conseguir fazer um grande estrago com isso não é mesmo? _ Disse de uma vez umas das diversas perguntas que rondavam minha mente.
_ Calma Kathy, uma de cada vez _ Ele parecia cansado _ Primeiro você está certa, eu protegi a Capitã. No início eu prendi a mesma, iria levar ela a julgamento na corte o que resultaria com certeza no enforcamento como já sabe, mas depois de uns dias no navio acabei por conhecê-la, seu jeito brincalhão, seus medos e incertezas, vi que ela também era uma vítima, então eu a protegi com tudo o que tinha _ Ele parecia estar em outro lugar naquele momento _ E venho fazendo isso todos esses anos, a protejo como posso e é por isso que Carter vai conseguir o que quer.
_ A protege todos esses anos? Então ela está viva? _ Minha cabeça parecia que daria um nó.
_ Sim ela está viva. Aquele dia quando o barco começou a afundar vi a oportunidade perfeita de conseguir ajudá-la de verdade. Para que ninguém mais a persegui-se transamos a sua morte _ Isso com certeza era algo grave, sabotar a morte de uma pirata e salvar a mesma só teria como resultado a morte. Estávamos condenados, mas a situação me fez pensar que talvez eu fosse mais parecida com meu pai do que imaginava _ E não é só isso Kathy _ Ele continuou.
_ Ainda tem mais? _ Perguntei olhando-os surpresa.
_ Naquele dia em que o navio afundou e a Capitã Ana Jonny foi dada como morta, ela de fato morreu _ O olhei sem entender, ela não estava viva? _ Digo sua identidade como Capitã morreu _ Ele completou e deu uma pausa como se esperasse eu absorver as informações _ E saiu de lá como Elizabeth Clark, a filha dos Grão-Duques de Richiwords e futura noiva do Almirante e futuro General Williams _ Disse por fim, me fazendo quase cair da cadeira.
_ Como assim? Elisabeth? A senhora? _ Olhava-os chocada. Minha mãe era a Capitã Ana Jonny? Uma Pirata?