Já faz algumas horas desde que eu cheguei nesse mundo, e no momento estou sentado em um banco de praça morrendo de fome. Quando cheguei aqui havia aparecido na entrada de uma cidadela, muito parecida com cidades de iniciantes nos jogos RPG, e como nos jogos, fui a procura de uma guilda mas não encontrava, tentei conversar com as pessoas para pedir informação e percebi logo de cara, eles não falam minha língua.
"Bom dia senhor, poderia me dizer como chegar a guilda?"
"SHASHIN MIRUDI GAMULA ZARA PLOKA GUILDA?" (foi isso o que eu entendi)
"Éhhhh…. guilda?"
O senhor havia apontado para uma construção relativamente grande que possuía um escudo e duas espadas cruzadas em sua entrada, fui à mesma, e lá encontrei muitas pessoas que provavelmente eram aventureiros reunidos e novamente tentei conversar com um deles.
"Olá, sabe como eu faço para me juntar a guilda?"
O homem me olhou confuso, claramente não entendendo o que eu havia dito, então tentei conversar a partir de gestos, apontando para a espada que estava em sua cintura, me colocando em posição de combate com uma espada imaginária e fingindo estar enfrentando um monstro.
"Hahahahahahahahahahaha."
O homem começou a rir, não apenas ele, os outros aventureiros que estavam ali riram também, fiquei sem graça e tentei disfarçar dando uma risadinha, até que o homem me chama e diz algo apontando para uma moça.
"MARA MUGADIRU NA GUILDA NORI LOMI SUELEK OMULE LIA." (foi o que eu entendi)
E novamente irei tentar conversar com uma pessoa que não entende o que eu digo, mas dessa vez tentei falar e fazer gestos.
"Ooolllaaaaaa eeeuuuu queeerruuu meeee juunttarr aaa guilldda!"
Estava parecendo um retardado, mas era o único jeito de talvez ela me entender, mas então ela me respondeu.
"Olá, para se juntar a guilda você precisa pagar uma taxa admissional e passar por um teste para lhe classificar em algum rank, para assim conseguir aceitar missões."
"ESPERA! VOCÊ ME ENTENDE!?"
Sem perceber, eu havia gritado com a moça com a surpresa, e isso deixou todos ali na guilda em alertar me olhando com olhar ameaçador e com a mão em suas armas, por sorte a moça fez um gesto para acalmá-los e assim continuamos nossa conversa.
"Me desculpe, mas é que você foi a primeira pessoa que eu conheci que me entendia, como você faz isso?"
"Nós atendentes de guilda possuímos esse amuleto do qual traduz qualquer língua para podermos nos comunicar com estrangeiros."
Em seu pescoço vi uma joia vermelha presa à um colar.
"Então você possui o dinheiro para se juntar a guilda? O preço é 150 milos."
"Dinheiro? Milos?"
Então me veio a cabeça que eu não possuía dinheiro algum, e pior de tudo, eu estava sem nenhum equipamento e vestindo um kit esportivo da Vodidas.
"Eu não possuo dinheiro."
"(Sorriso) é uma pena senhor, mas não podemos te registrar se não tiver dinheiro."
O sorriso que estava no rosto dela, por algum motivo, me irritava muito.
"Tem alguma forma de eu conseguir dinheiro para me juntar a guilda?"
"Bem o senhor pode fazer trabalhos braçais pela cidade, há muitos lugares contratando, porém não pagam muito, na sorte consegue um que pague 15 milos por dia."
"Só isso?"
"Infelizmente sim. Mas você também pode caçar monstros por conta própria e vender suas partes, porém sem a licença de aventureiro ou de comerciante o preço de venda cai 50%, um exemplo, aqui na região há muitos Jorcos, um animal selvagem com presas inferiores que parecem chifres, essas presas podem ser vendidas por 30M$, mas como você não é um aventureiro, é vendida apenas por 15M$. E no seu estado atual duvido que cace mais de um por dia, isso se conseguir caçar um."
De novo esse sorriso no rosto dela por algum motivo me irrita muito, é como se ela estivesse pensando "Pare de tomar o meu tempo e vá embora logo".
"Tudo bem então, obrigado."
Então eu saí pela cidade procurando por algum emprego, e cá estou eu sentado no banco da praça, sem comer o dia todo, e sem achar um lugar que me aceitasse para trabalhar.
"Eu devia ter perguntado para a Yuu se eu teria algum dinheiro."
Enquanto me perdia em meus pensamentos e murmurava foi anoitecendo, e os guardas me expulsaram do banco, muito provavelmente pensando que eu era um mendigo. E agora estou perdido na cidade sem rumo algum, fui entrando em locais estranhos até que cheguei a uma parte que parecia um subúrbio, e lá todos me olhavam com um sorriso tenebroso, até que encontrei um homem trabalhando em uma forja, provavelmente era um ferreiro, e fiquei impressionado com as habilidades daquele homem, e lá fiquei encarando por alguns minutos até que ele me percebeu e se aproximou para conversar comigo.
"BUIKA HE ZOCA?" (já sabe né)
"Éhhhhh, euuu não te entennndoo."
Tentei novamente conversar fazendo gestos. O homem do qual eu havia percebido que era um anão musculoso com cabelos e barba grandes e brancos, voltou para dentro de casa ficou lá por alguns minutos e então veio falar comigo.
"Precisa de algo?"
Eu consegui entende-lo.
"A sim, estou procurando um local para trabalhar, por acaso o senhor está contratando?"
O senhor olha para o lado demonstrando um olhar decepcionado e com um pouco de raiva e volta a falar.
"Eu não estou contratando, e se não precisa de nada vá embora."
O senhor claramente estava ficando furioso com minha presença, mas antes que eu pudesse sair eu senti minha consciência se esvaziando e desmaiei, a fome foi muito grande.
"Hey, hey garoto acorde, se não acordar vou dar uma marretada na sua cabeça."
"A o que aconteceu?"
"Você desmaiou, aqui toma, um pão e um pouco de água, coma isso e vá embora".
Ele me deu comida mesmo que eu apenas tenha lhe incomodado.
"Me desculpe."
"(Suspiro) entenda garoto, não estou te contratando pois não teria como lhe pagar, os negócios tem sido difícil depois que um certo grupo de bandidos começou a dominar os subúrbios"
"Grupo de bandidos?"
"Sim, antes os subúrbios eram dominadas por um outro grupo de bandidos que eram tão ruim quanto, mas ainda dava para sobreviver, mas agora é impossível, com taxas absurdas para nós pagarmos, os próprios impostos da cidade, não sobra nada para os moradores daqui."
Então nesse mundo também acontece isso.
"Bem agora que você entendeu, coma logo e vá embora."
Termino de comer e vou em direção a porta, mas antes de chegar nela ouço alguém bater nela e gritar como se estivesse chamando.
"HIOOOO NOAAAAAA."
O rosto do senhor ficou pálido, ele estava claramente nervoso, mas antes que eu pudesse dizer algo ele olha para mim e volta a falar.
"Venha esconda-se no armário, você não tem nada a ver com isso."
Assim eu o fiz, sem argumentar nada, então o senhor anão foi até a porta e a abriu, dela entraram três homens dos quais se pareciam muito com aqueles de filme de yakuza, e o do meio do qual provavelmente era o líder começou a falar.
"ZUO MIRUDI ZUONO MILOS."
"Como vou juntar o dinheiro se vocês ficam espantando os clientes e aumentando os preços dos seus impostos."
Eu não conseguia entender o que os homens estavam falando, mas apenas pela parte do diálogo do senhor anão, consegui ter uma ideia, aqueles provavelmente devem fazer parte do grupo dos bandidos.
"SHASHIN JAQUI GRUE EO LOPORTANTI? SHASHIN SAYO GRUE TURAKI ZUONO MILOS JOG!"
"Mas é impossível juntar o din-"
Antes que o senhor anão pudesse terminar de falar dois homens o seguraram e esticaram sua mão para a bigorna
"BRE NOLO WINU MILOS JOG, NUVER LAK BAH WINU"
"SEUS DESGRAÇADOS, TEM IDEIA O QUÃO DIFÍCIL É TRABALHAR COM VOCÊS NESTA REGIÃO?"
O líder não deu bola para as palavras do anão e sinalizou um gesto com a cabeça para o um dos homens, e o mesmo pegou a marreta do anão e bateu com toda força que tinha em sua mão.
"AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH."
Pode-se escutar os ossos da mão do anão quebrando junto com seu grito ensurdecedor de agonia, enquanto isso lá estava eu, vendo tudo do armário, tremendo de medo, sem conseguir fazer nada.
"MORA GA BODRO HANKA."
"SEUS ARROMBADOS."
O líder, desta vez enfurecido, faz novamente o sinal para um de seus homens ,ele pega a outra mão do anão e estende na bigorna, eu continuo lá parado, assistindo tudo, como um covarde.
"ZRA LOPOS ZUONO."
O homem volta a levantar a marreta para cima e eu avanço gritando desesperadamente em sua direção pegando a primeira coisa que encontrei no armário, era uma frigideira, e com ela dou um golpe horizontal na cabeça do homem que está segurando a marreta, acertando seu ouvido, e o mesmo voa em direção a porta, estourando-a e caindo do lado de fora da casa no chão.
"KHO SHASHIN?"
"GAROTO?"
Eu bati em uma pessoa pela primeira vez, eu estou tremendo de medo, mas não posso recuar.
"MARTI GLE"
O outro homem avançou em minha direção usando uma adaga, tentando acertar minha barriga, defendo-o usando a frigideira e empurro para cima sua arma, e dou um ataque na vertical acertando sua cabeça, o golpe foi tão forte que seu rosto bateu no chão de pedra, fazendo um poça de sangue.
"DROU."
Percebo que quem está com medo agora é o líder, tremendo, ele saca sua adaga para mim e fica repetindo coisas.
"GAM ZI."
"Começo a me aproximar lentamente e ele volta a repetir.
"GAM ZI."
Até que ele avança em minha direção tentando acertar meu pescoço, abaixo e viro um golpe em sua perna direita, quebrando-a e fazendo ele girar uma vez antes de cair de rosto no chão
"AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH."
Dessa vez o grito é do líder, eu não consigo controlar o que estou fazendo, apenas levanto a frigideira e quando vou acertar o rosto do líder o anão me segura.
"Se acalme garoto, você já fez o suficiente, ele desmaiou de medo."
"Senhor, me desculpa, eu não consegui ficar no armário, não depois do que eles fizeram com você."
"Eu sei, obrigado, só que agora temos um pro-"
Minha consciência se foi novamente, mas desta vez devido ao estresse causado pelo o que ocorreu.
"Até que enfim acordou"
Ainda estou na casa do anão, sua porta já está concertada e sua mão enfaixada.
"O que aconteceu com aqueles homens?"
"Garoto vou ser sincero com você, os dois bandidos que você acertou na cabeça morreram, o outro eu mesmo matei"
Eu matei, é a primeira vez que faço isso, mesmo que fossem bandidos, eu matei. Fiquei paralisado por alguns momentos e o anão volta a falar.
"Tome coma, depois disso vá embora."
Olho e vejo que em sua mão tem uma tigela de ensopado, eu a pego.
"Mas o que vai acontecer com o senhor?"
"Eu não sei, mas isso não é problema seu."
"Mas eles vão te matar, você não tem medo disso? Eu posso te ajudar."
"Me ajudar? Você quer que façamos o que? Ir até a sede dos bandidos e matar todos eles? Mesmo que consigamos, são eles que impedem esse lugar de se tornar um completo caos."
Eu não pude dizer nada, não tinha argumentos para combatê-lo.
"Tome isso, obrigado por se preocupar comigo."
Ele me dá o colar de tradução que estava usando junto com um saco com algum dinheiro.
"Eu não posso aceitar isso"
"Mesmo que você não aceite, não posso fazer mais nada com esse dinheiro"
Dizendo essas palavras ele coloca o colar em meu pescoço e o dinheiro em minha mão.
"Por favor Sr. Anão, fuja para algum lugar."
"Mesmo que eu fuja, não há nada que eu possa fazer, eu não tenho dinheiro o suficiente para sair dessa cidade, e mesmo que eu me esconda aqui, eles vão me encontrar um hora ou outra"
Realmente não há nada que eu possa fazer? Não tem como eu proteger esse homem?
"Vamos nos tornar aventureiros!"
"O que você disse?"
"Com esse dinheiro poderemos nos tornar aventureiros, e assim podemos ficar saindo em missões, atrasando mesmo que um pouco a busca deles, e nesse meio tempo juntamos dinheiro o suficiente para fugir."
"HAHAHAHAHAHAHAHAHA!"
Fiquei surpreso com sua risada descontraída.
"Por que se preocupa tanto comigo? Sou apenas um velho que lhe deu pão quando você desmaiou"
"E agora está me dando um ensopado, eu não preciso de um motivo em específico para te ajudar, além disso,(sorriso) você foi a primeira pessoa a me ajudar nesse lugar."
"(Cora) Não é c-como se eu q-quisesse ser seu amigo."
Tsundere?
"UHHUM, mudando de assunto, como não me resta mais nenhuma opção vou seguir seu plano, a propósito pare de me chamar de senhor, meu nome é Guberth"
Ele estica sua mão para me comprimentar.
"Meu nome é… Jona."
"É um prazer te conhecer Jona."
"É um prazer Guberth."
Assim fiz meu primeiro amigo nesse mundo.