Cap 18 -- Eu queria
A comida chega e eu olho para aquele prato de peixe e o cheiro... Que maravilhoso.
Katrina -- Que peixe maravilhoso...
Lance -- Esse lugar é incrível...
Lance admira o lugar. É realmente lindo, tem algumas árvores, o ambiente está fresco, está tudo muito bom.
Puxo assunto e Lance e eu começamos a conversar de trivialidades, ele me fala um pouco do trabalho voluntário, eu falo do conselho estudantil, que ele também faz parte, do clube de dança, de algumas matérias, e o clima segue assim.
Quando terminamos de comer peço um copo de suco.
Katrina -- Suco ou refrigerante?
Lance -- Refrigerante.
Katrina -- Suco é melhor.
Lance -- Discordo, uma coca - cola gelada é tudo!
Katrina -- Um suco de maracujá é perfeito...
Seguimos numa pequena discussão até que concordamos em discordar.
Quando estávamos quase indo vemos que um pouco mais a frente do lugar onde estávamos tinham pessoas acendendo velas.
Nos aproximamos e vemos que estão acendendo mais e mais.
Uma mulher se aproxima de nós, parece ter uns cinquenta anos.
Katrina -- O que está acontecendo?
???-- Eles estão acendendo velas para os entes queridos que já se foram.
Katrina -- É algo religioso?
Pergunto curiosa.
??? -- Não exatamente, é só algo que fazemos antes do Ação de Graças. Todas essas pessoas vivem sozinhas então quando chega Ação de Graças nos juntamos em comunidade e fazemos isso pelos que já se foram e praticamos boas ações pela cidade para honrar eles, mas não é algo ligado a religião, é só um jeito de homenageá-los
Katrina -- Que lindo...
Digo encantada. Olho para Lance.
Katrina -- Não quer deixar uma vela para sua mãe?
Lance -- Claro...
Ele diz meio chocado e parece emocionado.
A mulher nos entrega uma vela e acende para nós.
Entramos no meio das pessoas e uma pessoa chega mais perto e acende nossa vela encostando a dele.
Agradeço com um aceno de cabeça e Lance vai para perto do lugar em que estavam colocando todas as velas.
Katrina -- Quer que eu saia para você falar?
Lance -- Não, não precisa...
Ele respira fundo.
Lance -- Mamãe, de onde quer que você esteja, quero que saiba que jamais vou te esquecer. Meu pai não tem estado nada bem, e só se afasta, mais e mais... Mesmo assim ainda estou sobrevivendo, e encontrei minha vocação, vou orgulhar você... -- Uma lágrima cai no rosto dele, mas não é totalmente tristeza -- Te amo mais do que você imagina, e sinto sua falta todos os dias, mas só queria dizer que vou viver, por nós dois...
Ele pinga um pouco da cera no "altar" montado e coloca a vela lá.
Katrina -- Tenho certeza que ela também te amava Lance...
Passo a mão pelas costas dele e sorrio em conforto.
Ele limpa a lágrima que caiu e pega na minha mão.
Lance -- Amava sim...
Ele me abraça de lado e vamos andando em silêncio até que alguém me chama.
É a mulher que estava com a gente.
??? -- Moça!
Katrina -- Oi.
??? -- Caso queira... -- Ela me entrega um cartão -- Amanhã iremos realizar algumas boas ações por ai, entregar roupa e comida. Se quiser vir, é só ligar e eu te passo o endereço.
Katrina -- Claro! Obrigada!
Voltamos a andar.
Lance -- Quer ir?
Katrina -- A verdade é que queria muito... Mas não sei se vou conseguir, meus parentes vão todos para o churrasco amanhã lá em casa. E aliás o senhorito tem que ir.
Lance -- Pois é, tenho mesmo.
Katrina -- Você que se vire para lidar com eles, não vão pegar leve com você. No meu último namorado pegaram no pé dele até que ele não aguentou e inventou uma desculpa para ir embora.
Lance -- Eu dou conta. Relaxa.
Katrina -- Isso é o que veremos...
Lance -- Eu sou Lance Hidalgo Foster, eu dou conta do recado.
Katrina -- Hidalgo?
Lance -- A família da minha mãe é mexicana.
Katrina -- Não sabia disso...
Lance -- É mais fácil as pessoas me conhecerem pelo Foster...
Ele sai do nosso abraço e entra no carro.
Eu entro também e ele liga o carro.
Lance -- Para casa?
Ele me olha.
Katrina -- Que horas são?
Lance -- 9:47
Katrina -- Acho que temos um tempinho... Eu tenho um lugar que gosto de ir, às escondidas, às vezes... Acho que você ia gostar.
Lance -- Onde é?
Katrina -- Deixa eu dirigir que eu mostro...
Lance -- Okay...
Ele desce e trocamos de lugar.
Deixo uma pulseira cair no meu banco.
Katrina -- Ai! Minha pulseira!
Lance pega e me entrega, nossos dedos se tocam e um calor me sobe.
Fixo nos olhos de Lance e ele nos meus, nos aproximamos um pouco mais e mais, quando de repente o celular de Lance toca, nos afastamos e ele me entrega a pulseira. Ele atende
Lance -- Alo. Sim, sou eu. -- Ele fica pálido do nada -- Alisha? -- Agora é minha vez de não sentir meu sangue correndo -- Agora?! Não, estou ocupado... Não me importa... Tchau!
Ele desliga.
Katrina -- O que ela queria?
Lance -- Queria me ver...
Katrina -- Que bom que disse não então...
Lance -- Que?
Katrina -- Já disse que não fico de corna nessa história Lance. Se quiser... Terminamos aqui e agora, mas cornice eu não aceito.
Quando percebo minhas palavras já era tarde. Provavelmente ele ia acabar com tudo agora...
Lance -- Vou enrolar ela mais um pouco...
Katrina -- Okay então... Vamos.
Dirijo e seguimos em silêncio.
Sabia que Lance precisava pensar.
Quando chegamos ao lugar, que é meio longe, estaciono.
Lance -- Isso é muito longe...
Ele diz quando descemos.
Katrina -- Vale a pena...
Andamos mais um pouco e quando chegamos ao lugar Lance parece deslumbrado.
O lugar é um tipo de montanha afastado da cidade e com uma vista incrível.
É tudo cercado de árvores e o melhor de tudo é a parede.
Um tipo de construção inacabada ficava por ali e tinha uma parede cheia de artes e assinaturas, frases, é o que nós chamamos de "marcas pessoais"
Lance -- Que lugar incrível...
Ele para o centro e da uma volta reparando em tudo.
Katrina -- É mesmo...
Olho para a outra parede, nessa temos "Eu queria...", temos várias linhas com "Eu queria" e depois na frente você escreve algo que você queria, um objeto, uma pessoa, um sonho, qualquer coisa que você queira.
Lance -- Como descobriu esse lugar?
Katrina -- Uma vez, minha avó me pediu para buscar um caderno de receitas na casa da amiga dela, e era bem longe... Bom, eu me perdi e acabei no meio do nada.Depois de andar um pouco eu achei esse lugar. Só que ele estava com um casal de amigos aqui. Expliquei a eles que estava perdida e eles me mostraram o lugar e disseram que vinham aqui. Não é o tipo de lugar que se reúnem pessoas para uma festa, é o tipo de lugar que você vem para descansar e cada um deixa uma coisa... Aquele sofá foi um, os enfeites da árvore foi outro, o tronco que serve de banco foi outro, e por aí vai...
Lance -- O que você trouxe?
Katrina -- Eu não sou uma pessoa típica... Então, o que eu trouxe também não...
Lance me olha confuso.
Katrina -- Tá vendo "O mural da dor"?
Lance -- Você trouxe um martelo gigante?
Ele pergunta divertido.
Katrina -- Sim, e criei o mural da dor, onde todos podem destruir coisas e depois colocar na estante para mostrar a sua dor...
Dou um riso. Estava morrendo de raiva nesse dia, então, sendo a pessoa nada convencional que eu sou, fiz isso.
Lance se aproxima da estante.
Lance -- Uma boneca aos pedaços, uma escultura, ou pelo menos costumava ser, um pedaço de concreto, e... Um coração aos pedaços...
Katrina -- Esse é o meu.
Lance -- Imaginei...
Ele observa as outras destruições.
Depois pego para Lance colocar o "Eu queria..." dele.
Lance -- São tantas mensagens aqui, de esperança, de um mundo melhor... O que eu coloco?
Ele me olha.
Katrina -- Coloque o que quiser, esse é o seu "Eu queria..."
Ele pensa um pouco até que começa a escrever.
Katrina -- Eu queria um mundo onde corações partidos são restaurados, amores fossem para sempre, e pessoas vissem tanto beleza interior quanto exterior... Muito bom Lance...
Lance -- Qual é o seu?
Katrina -- Eu queria dançar até não dar mais, música em todos os lugares e em que houvesse um amor para cada um...
Lance -- Boa pedida.
Sorrimos e eu percebo que preciso ir.
O caminho foi meio longo, mas a conversa foi boa.
Chegando em casa Lance entra, pede desculpas pela demora e depois vai embora.
Entro no meu quarto, tomo banho e relaxo.
Repasso o dia de hoje e sorrio, experiência incrível...
Um pouco depois durmo sem perceber.